quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

MANECO, O COLÉGIO PADRÃO GAÚCHO DA DÉCADA DE 60 - James Pizarro (crônica de 19.12.2017, Diário de Santa Maria)

O Colégio Santa Terezinha funcionou no prédio onde atualmente, devidamente reformado, funciona o Colégio Estadual Manoel Ribas. O nome foi dado em homenagem a Manoel Ribas, vulgo "Maneco Facão", que foi governador (leia-se "interventor") do Estado do Paraná durante todo o período da ditadura de Getúlio Vargas. Antes, Manoel Ribas havia ocupado o cargo de intendente de Santa Maria, tendo assumido os destinos do município em 3 de outubro de 1928. Em Curitiba - onde morei quase três anos - ao lado do "Passeio Público", tradicional área de lazer daquela cidade, funciona uma respeitável escola, também chamada Escola Estadual Manoel Ribas.
Causou espanto para a população santa-mariense da época o gigantismo das instalações daquela escola. Depois de extinto o Colégio Santa Terezinha, naquele mesmo prédio foi criado o Grupo Escolar João Belém, que ali ficou até ser transferido para pavilhões de madeira construídos nas proximidades e, anos depois, definitivamente transferido para amplo prédio de alvenaria onde até hoje se encontra, entre as ruas Comissário Justo e José do Patrocínio. Depois da transferência do João Belém para as novas instalações, fundou-se o Colégio Estadual Manoel Ribas, em 10 de outubro de 1953, até hoje popularmente chamado de "Maneco". Era tal a qualidade de ensino do novo colégio, que o mesmo passou a ser conhecido, em todo o território gaúcho, pelo título de "Colégio Padrão do RS".
 Minha vida está indelevelmente ligada aquele prédio, pois minha mãe, Maria Silveira Pizarro, sempre chamada de "Dona Iria", foi aluna do Colégio Santa Terezinha onde, inclusive, iniciou-se no aprendizado do violino.
Entre o prédio e o muro externo do Maneco, fronteira com a Rua José do Patrocínio, existe um pequeno obelisco de um metro de altura, sem placa e sem inscrição de espécie alguma, o que sempre me despertou curiosidade. Um dia, minha avó materna, Olina Correa da Luz, deu-me a explicação. Uma freira estava limpando a parte externa das vidraças do segundo andar e, desequilibrando-se, caiu de uma altura aproximada de 15 metros, vindo a falecer. O obelisco foi construído "in memoriam" exatamente sobre o local onde ficou, inerte, o corpo da infeliz religiosa.
Guri curioso, precoce mesmo em relação a esses assuntos dos mais velhos, surpreendi-me muitas vezes - na hora do recreio - com o nariz esborrachado nas vidraças das janelas das salas de aula a contemplar o obelisco. Lembro que, ao entardecer dos dias nublados, eu olhava rapidamente o obelisco e tratava de sair da janela. Eu sentia apreensão, medo mesmo. Pois, na minha fervilhante e fantasiosa cabeça de guri recém entrado na puberdade, parecia que - a qualquer momento - eu iria enxergar aquela freira voando em minha direção. Sorrindo para mim. Ou me acenando ternamente.
Aquele singelo monumento, até hoje anônimo para todos que ali passam, ainda está lá, já apresentando as marcas inexoráveis do tempo, este consumidor implacável de corpos, vaidades, pedras, juventude e lembranças.
Voltei ao Maneco semana passada para uma demorada visita com meu colega Luiz Fernando Bezerra (Life), que mora no RJ. Nossa turma de científico estava fazendo 55 anos de formatura. Sentamos em nossas classes na nossa sala de aula. Choramos abraçados.
E saímos com a certeza de que um pouco do nosso sangue corre por dentro daquelas parede

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

GANDENSE + COLORADINHO + RIONAL = SAUDADE CORTANTE - James Pizarro (crônica publicada em 5.12.2017 no DIÁRIO DE SANTA MARIA,ág.4)

Sempre fui aficcionado do futebol. Desde piá sempre torci pelo Inter de Santa Maria. E pelo Inter de Porto Alegre. No RJ sempre tive simpatia pelo Flamengo. E em SP sempre torci pelo Palmeiras. Joguei futebol de mesa (“botão”) durante anos a fio. E há mais de cinquenta anos coleciono álbuns de figurinhas de futebol.
Confesso que, apesar de ser torcedor do “coloradinho” – ou alvirubro - como querem os mais modernos, fiquei muito triste quando o Riograndense Futebol Clube encerrou suas atividades, suspenso por dois anos pelo que li na imprensa.
Tenho saudade das centenas de edições que presenciei do tradicional clássico RIONAL. Tanto no Estádio dos Eucaliptos. Como na Baixada Melancólica (Getúlio Vargas). Sempre completamente lotados. Coloridos. Sem brigas. Povo confraternizando alegremente.
Lembro especialmente do dia 1/maio/1958. Neste ano comemorava-se o Centenário do Município de Santa Maria. Eu tinha 16 anos e o velho Alfeu meu pai, era vereador. Fazendo parte dos festejos do centenário da cidade e também da comemoração de aniversário do Riograndense (46 anos de vida), o time periquito enfrentou o Botafogo do RJ nos Eucaliptos. O Botafogo, treinado pelo famoso João Saldanha, perdeu para o “Gandense” por 2 a 1.
Um detalhe curioso : o pontapé inicial da partida Botafogo x Riograndense foi dado pela Rainha do Centenário de Santa Maria, Maria Luján Mariano da Rocha, minha querida amiga Marilu, hoje minha vizinha na Galeria do Comércio.
O Riograndense foi fundado em 2012 na esteira da existência da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, pois da operosa e dinâmica classe dos “ferrinhos” (meu querido avô Fredolino foi ferroviário durante 44 anos) surgiram os atletas, os apoiadores, os dirigentes e os torcedores do clube.
Agradeço ao leitor Wolmar Heringer, atual presidente do Riograndense, que me visitou e me presenteou com a obra “RIOGRANDENSE FUTEBOL CLUBE – No coração gaúcho, 100 anos do rubro-esmeraldino”.
É uma alentada obra de 145 páginas, escrita em 2012 (Gestão do presidente Julio Cesar Ausani), ricamente ilustrada, cujo autor e organizador João Rodolpho Amaral Flores contou com os seguintes coautores : Alexander Rossatto Tittelmeyer, Antonio Augusto Durgante Berni, Candido Otto Haupt da Luz, Henrique Cignachi, Juliana Franchi da Silva, Nathalia Lima Pinto, Rosana Vargas Fraga e Trícia Andrade Cardoso.
Li a obra toda de um só fôlego. Parabenizo a todos os seus autores pelo inestimável serviço de pesquisa histórica e de legado que deixam às novas gerações de santa-marienses que buscam saber coisas do passado da cidade.
Almejo que obras deste tipo sejam feitas em relação a outros clubes, como o nosso saudoso Guarany Atlântico. Nosso Coloradinho. Nossos clubes amadores.
Pesquisadores solitários – cito como exemplo meu querido amigo Candido Otto Haupt da Luz – merecem nosso aplauso e o total apoio das autoridades para publicação de suas pesquisas esportivas.
E que o Riograndense em breve renasça para que nossos netos possam vibrar com futuros clássicos RIONAIS !!!