terça-feira, 28 de junho de 2022

AS FESTAS DESÃO JOÃO DE ANTIGAMENTE - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - edição de 28.6.2022)

Nasci e me criei na rua Silva Jardim, entre as ruas Dutra Vila e a Benjamim Constant. Lembro quando as máquinas escavaram toda a rua e movimentaram toneladas de terra, deixando as residências dos moradores – antes situadas no nível da rua – numa nova situação : à beira de enormes barrancos. Moradores tiveram de improvisar escadas de madeira para poder ter acesso às suas csas. Tenho fotos dessa época clicadas com um velha máquina Kodak, modelo “caixão”. Os moradores tiveram de enfrentar enormes dificuldades econômicas para construir muros imensos para conter a erosão da terra dos barrancos e evitar a queda de suas casas. Foi uma época difícil para todas aquelas famílias. Eram ferroviários, funcionários públicos, professores, comerciantes, militares. Sei até hoje o nome de todos e fui amigo de todos. Meu pai era enfermeiro do Centro de Saúde (e anos depois, também do SAMDU) e nossa casa era a única nos anos 50 que possuía telefone naquela região. De sorte que, para injeções, curativos, primeiros socorros e telefonemas para parentes, nossa casa era ponto de referência. Eu me criei naquele meio, respirando um excelente e revigorante convívio de amizade e solidariedade entre vizinhos. Todos os aniversários eram comemorados e todos compareciam trazendo seus pratos de frios e doces, carregando suas bebidas. Tudo para não sobrecarregar o orçamento do dono-da-casa e do aniversariante. Porque o que importava era o convívio, as conversas, a alegria, a felicidade, o bem-querer. Lembro que nas doenças as pessoas abrigavam os filhos dos outros para almoçar. Quando alguém morria, os móveis eram tirados da sala e o defunto era velado na própria residência. E os parentes do falecido recebiam o calor humano de todos os amigos e vizinhos. Havia solidariedade total verdadeira. Lembro da casa do meu amigo Marino, apelido “Tomate”, onde ensaiava e era sede do bloco de carnaval “Bota que eu Bebo”, que anos depois serviria de embrião para a fundação da Escola de Samba Unidos do Itaimbé. Ao lado da casa do Marino existia um campinho gramado, bem na esquina da Silva Jardim com a Dutra Vila, onde a gurizada toda da vizinhança jogava futebol. As gurias brincavam de roda. E a gente se reunia de noite para intermináveis conversas. Um capítulo especial eram as festas de São João... No mês de junho este campinho da esquina era local da nossa monumental Festa de São João ! Durante semanas fazíamos rifas, juntávamos dinheiro, pedíamos doações. Comprávamos barbante e papel colorido para confecção das bandeiras do “arraial”. Vinho para o quentão. Pipoca. Amendoim. Foguetes. Balões. Tinha música com caixa de som. Com toca-discos. Discos de vinil. Toda a gurizada passava as semanas anteriores catando e trazendo galhos de árvores, tocos, lenha, pneus velhos. Para a armação da tradicional fogueira. Que alegria ! Que deslumbramento ! A festa começava as 19 horas e terminava quando a fogueira apagava. As famílias todas compareciam. Todos dançavam. Todos comiam e bebiam. Puxando pela minha memória não consigo me lembrar de uma só bebedeira ou briga ! Tudo na mais absoluta paz e clima de solidariedade ! Como a gente era feliz, meu Deus ! De repente, tudo aquilo acabou ! Por quê ?

terça-feira, 14 de junho de 2022

"JOGO DE CINTURA" - James Pizarro (DIÁRIO - edição de 14.6.2022)

Você vive ao ritmo da alegria ou da tristeza? Conforme Rubem Alves conviver com ambos é ser sábio. Você concorda ? Envelhecer com intervenções estéticas ou deixar o tempo agir livremente em nosso corpo? O que você prefere (ou pode)? Cartas e bilhetinhos enviados e/ou recebidos. Você já escreveu alguma carta ou bilhetinho à mão para alguém? Você lembra qual foi a sensação por escrever ou receber? Ou você cultiva este hábito? Dos cenários pandêmicos e pós-pandêmicos: Você vive um novo normal? Atitudes minimalistas: o que você já simplificou na sua vida, em todos os âmbitos? E quais foram os resultados ? Liberdade da mulher: entre a conquista de novos espaços e a reafirmação de sua objetificação. O que dói mais? O tapa na cara ou a traição? Tempos difíceis produzem homens/mulheres/pessoas fortes e corajosas. Tempos menos desafiadores e exigentes geram pessoas mais frágeis e menos resilientes. Que geração/filhos estamos entregando ao mundo? Os dois primeiros parágrafos da crônica de hoje são exemplos que serviram de pauta dos temas ou assuntos tratados no programa “JOGO DE CINTURA” – do qual sou telespectador cativo diariamente ! Convido o leitor para assistir : acompanhe o programa a partir das 13h30, pela 93.5 FM, canais 26 e 526 da NET e aplicativo Grupo Diário, disponível para smartphones Android e IOS. O programa é uma produção e apresentação de Carla Torres e tem como participantes Fabiana Sparremberger, Daniela Minello, Daniele Bressan e Deborá Evangelista. Na técnica : Fernando Barcelos e Thomas Pippi. Exemplos de outros temas já abordados pelo programa : Temos um radar para afinidades e antipatias instantâneas? O que pode explicar isto em nossas relações cotidianas? Racismo na UFSM: Precisamos falar sobre isto e também esperamos ações efetivas. A sociedade contemporânea empurra mulheres para longe da maternidade? Páscoa: Como você vive essa e outras datas? Disciplina: Você tem? Como é na sua vida? O que acontece quando o programado dá errado? Comidas/pratos que passo adiante e histórias engraçadas relacionadas a eles Como ficam os vínculos familiares quando a comunicação é difícil? De quem você depende na vida? Ou o peso de precisar dar conta de tudo sozinhas(os) ? Medo de falar em público: Você tem? Como lida com ele ? A quantidade e o tipo de tarefas domésticas já colocou você e sua família em perigo dentro de casa? Autoconfiança é sexy: Você tem? Somos seres humanos, mas… O que é, mesmo, humanidade?! Como se percebe, os temas tratado são instigantes. Fogem da superficialidade e frivolidade da maioria dos programas que se vê nas telinhas das grandes redes nacionais televisivas, que alimentam a ignorância e a violência do nosso povo. É um programa sério, que faz o telespectador refletir e se questionar. Induz à reflexão de novos olhares e caminhos. Em certos momentos realiza uma terapia virtual com o telespectador. É um programa sério. Que deve orgulhar a grade de programação do complexo de comunicação do DIÁRIO. Pois programas desse nível e desse conteúdo é que fazem Santa Maria ter o título de “Cidade Cultura”. Parabéns, gurias ! Vida longa ao “Jogo de Cintura” !