terça-feira, 20 de abril de 2021

ESTOU ENCANTADO COM ENCANTADO ! - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, crônica, edição de 20.04.2021)

Num lance fulgurante de inteligência, visão turística, fé religiosa e poderosa união comunitária, os habitantes da pequena e simpática cidade gaúcha de Encantado deram uma lição de como fazer as coisas. E Encantado passou nos últimos dias a ocupar páginas e páginas de jornais e revistas em todo o país, além de ser motivo de grandes reportagens nos principais programas das grandes redes de TV do Brasil. Tudo porque a comunidade se uniu e resolveu construir o monumento denominado Cristo Protetor, uma obra de 43 metros de altura, a terceira do mundo em altura. Relembro trecho de crônica que publiquei no DIÁRIO na edição de 6 de novembro de 2018, à página 4 : “ Em 2007, a Secretaria Municipal de Turismo de Santa Maria – leia-se Paulinho Ceccin – pensou em construir um monumento em homenagem à N. S. Medianeira, padroeira do Rio Grande do Sul (muita gente pensa que é São Pedro). O monumento seria construído no Morro do Cechella e teria todos os equipamentos modernos em seu entorno, como vias de acesso, capela, lancheria, mirantes, museu para contar a história da santa, restaurantes, vendas de lembranças e postais, policiamento. Seria uma obra gigantesca que atrairia milhares de turistas brasileiros e estrangeiros, pois seria o maior monumento brasileiro do gênero, planejada por artistas e técnicos santa-marienses, sob a direção do J. Amoretti. A prefeitura municipal não gastaria nada, pois todo dinheiro viria de doações, captação de recursos particulares e verbas do Ministério do Turismo. Na edição de 28/29 de julho de 2007 (sábado/domingo) de A Razão, publiquei e assinei matéria de página inteira sob o título “Até a Medianeira é repudiada aqui !? “. Fi-lo porque tão logo foi lançada a ideia pela construção do monumento setores obscurantistas iniciaram feroz campanha contra a iniciativa do então secretário Paulinho Ceccin. Essas pessoas nem se deram conta da vocação que Santa Maria tem para o turismo religioso. E ficaram contra a ideia mas não fizeram proposta alternativa em seu lugar. Nunca falei sobre isso com o Paulinho Ceccin. Nem com dom Hélio. Nem com ninguém. E ninguém me pediu para escrever a favor à época porque nunca aceitei escrever coisas por encomenda. Nem tão pouco apoiei a iniciativa por ser católico apostólico romano, praticante e convicto. Quisessem os umbandistas construir monumento semelhante em homenagem à Iemanjá, estaria eu a favor. Quisessem os meus amigos espíritas homenagear Allan Kardec com um monumento de igual tamanho, contariam com meu apoio. Sou de profunda formação ecumênica. E sempre fui A FAVOR DO DESENVOLVIMENTO E DO TURISMO DA MINHA CIDADE NATAL !!! Tivesse o projeto sido aprovado e construído teríamos hoje no morro do Cechella o maior monumento religioso do Brasil iluminando a noite santa-mariense: a santinha em sua posição original, de braços abertos, feericamente iluminada, maternal e generosamente acolhendo em seu seio todos os santa-marienses e gaúchos. Além do turismo rendendo divisas para nosso município. Que Nossa Senhora Medianeira ilumine a cabeça burra dos muitos que teimam em lutar contra o progresso de nossa querida cidade natal.” Meus parabéns à comunidade de Encantado !

sábado, 10 de abril de 2021

GARAJÃO DA UFSM E O TRANSPORTE GRATUITO DE ESTUDANTES - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, Seção MEMÓRIA, 10.4.2021)

Prestei vestibular para a então chamada Faculdade de Agronomia da UFSM em janeiro de 1963. As provas foram realizadas no prédio da Antiga Reitoria, na rua Floriano Peixoto. Quatro disciplinas eram exigidas em prova escrita: Língua Portuguesa (uma redação, correção de 10 frases e análise sintática), Biologia, Química e Física. Três disciplinas ainda tinham prova oral. Enquanto aguardava em pé, no corredor do segundo andar do prédio a chamada do meu nome para prestar o exame oral, pela primeira vez observei com atenção pela janela aquela construção de metal situada à rua Astrogildo de Azevedo, contígua ao prédio da Antiga Reitoria. Aprovado no vestibular, vim a saber que se tratava do famoso “Garajão”. Tema sobre o qual me debruço hoje. O saudoso reitor Dr. José Mariano da Rocha – entre tantas medidas pioneiras que teve – estabeleceu uma linha regular de ônibus entre o campus de Camobi e o centro, para o transporte gratuito dos estudantes, funcionários e professores da UFSM. Nada mais, nada menos do que 13 ônibus faziam o transporte ininterrupto centro/campus/centro das 7h às 21h. Lembro que me formei em 1966 e nunca – durante os quatro anos do curso – paguei um centavo pela condução. Os ônibus ficavam abrigados no Garajão ao final do dia. Durante a manhã e início da tarde formavam-se imensas filas em frente a ele aguardando o vai-vem dos ônibus pintados de azul e branco, com o quero-quero estampado nas laterais, ave-símbolo da UFSM. Uma vez formado, comecei a dar aula na UFSM e continuei a usar os ônibus por alguns anos. O meu querido e saudoso amigo professor Luiz Gonzaga Isaia, meu vizinho na Galeria do Comércio e companheiro de longos papos, teve a oportunidade de registrar nas suas memórias o seguinte: “Em 1970 o Serviço de Transporte da UFSM já possuía uma estrutura com garagem, oficina e posto de lubrificação e abastecimento e uma frota com 13 ônibus, 2 automóveis e 21 utilitários, além de 29 motoristas, 4 mecânicos e 3 funcionários do posto de gasolina”. E, também, lamentou o professor Isaia: “Houve a tentativa da administração central de introduzir uma linha ferroviária que facilitasse o transporte de servidores e estudantes, mas devido às dificuldades alegadas pela direção da Rede Ferroviária o pedido não obteve sucesso; assim a solução foi investir no transporte rodoviário”. Mas nessas lembranças eu gostaria de registrar alguns nomes de motoristas que ficaram no meu coração e na minha memória. Muitos deles que me transportaram não só como aluno. Mas me conduziram com zelo e segurança para fazer palestras em congressos e simpósios durante minha vida docente de quase quarenta anos. De alguns lembro do nome inteiro: Ademar Sitoni Fraga, Paulo Farias, Antônio José Pedroso da Rosa, Aurélio de Souza, Reno Schmidt, Nilson Silveira, Jesus Pujol. De outros lembro apenas do primeiro nome ou do apelido: Carioca, Bordim, Miro, Fraga, Paulinho, Pedroso, Adão. Muitas excursões fui com os alunos. Muito chimarrão tomei no Garajão com os motoristas. Ao lado, funcionava a primeira sede da Cesma. Aos fundos, funcionava a sede da Cooperativa dos funcionários da UFSM. Pelo Garajão passaram milhares de pessoas. Projetos de vida. Sonhos. Hoje, ao passar por ele, abandonado, pichado, enferrujado, apresso o passo. Sem olhar para trás. Com medo de começar a chorar na rua.

terça-feira, 6 de abril de 2021

FUGINDO DO ALZHEIMER NAS MADRUGADAS DO ISOLAMENTO - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - ediçao de 6.4.2021)

Nessas madrugadas de isolamento social tenho a mente assaltada por lembranças de figuras incríveis e episódios marcantes vividos nessa Santa Maria da Boca do Monte. E que faço questão de cultivar, escrever e registrar como exercício para evitar o Alzheimer. Os mais jovens talvez ignorem, mas Santa Maria já foi famosa no cenário nacional do basquetebol. Durante muitos anos deteve a hegemonia deste esporte em nível estadual. E tudo graças ao desempenho fantástico da famosa equipe que a diretoria do Corintians conseguiu formar nos anos 60 e 70. Lembro do MAIR, jogador de basquete da seleção brasileira, técnico do Corintians, na época áurea dos campeonatos estaduais de basquete. Era um verdadeiro ídolo na cidade. Os jogos eram no “Alçapão”, quadra de basquete que ficava atrás do Clube Caixeiral, onde hoje existe um estacionamento. Mair inovou o basquete, juntamente com outros vários técnicos, dos quais lembro Maquiline, Nascimento, Lenk, Fumanchu (trazido do Vasco da Gama), etc...Foi a época de ouro do basquete santa-mariense, com inesquecíveis jogadores : Deroci, Queijo, Balaio, Paulinho, Liminha, Nilton Nieves, Mair, Tassinho, Pati, Bibi, Jau e tantos outros. Lembro, emocionado, que o “Alçapão” lotava aos sábados à noite e a torcida enlouquecia. Que fase! Que época ! No início dos anos 60, um grupo de jovens estudantes vestibulandos se reunia todos os sábados no porão da casa da avenida Presidente Vargas, 2067, residência do Dr. Hélvio Jobim, advogado famoso na comarca santa-mariense. Ali se reuniam : Nelson Jobim e Walter Jobim Neto (filhos do dono da casa, que viriam a se formar em Direito, como o pai), Antônio Rossatto (“Padre”, que se formou em Direito), Antônio Carlos dos Santos (“Tonico”, que se formou em Medicina), Luiz Alberto Belém Leite (“Betinho”, que se formou em Medicina), Carlos Horácio Hertz Genro (que se formou em Medicina) e eu (que me formei em Agronomia).Motivo das reuniões: estudar literatura, discutir política, declamar poemas, recitar crônicas. Eu fico me perguntando se haverá, nos dias atuais, algum grupo semelhante em algum recanto do Brasil ? Registro dois Bentos da minha juventude. Bento do Carmo Machado (“Bentinho”),envelhecido, casacão surrado, sempre carregando cadernos com anotações, vivia arrumando jogos entre nossas equipes de futebol amador. Escrevia textos e noticiário completo sobre esporte amador nas páginas de A RAZÃO e tinha um programa esportivo na Rádio Imembui. Era membro da então atuante Liga de Futebol Santa-mariense. E o Ir. Bento José Labre, o segundo Bento do qual me lembro hoje, era padre. Foi diretor da Escola Hugo Taylor e dirigente da Tropa de Escoteiros Tupanciguara, cuja sede era ao lado da agência central do Banco do Brasil. Tradicionalista ferrenho, sempre desfilava no dia 20 de setembro com o CTG Ponche Verde. Outro querido amigo, falecido em março de2002 (acho que no dia 6), foi João Francisco Goldman, provavelmente o maior estilista da moda que a cidade de Santa Maria já teve. Prestou grandes serviços à Escola de Samba Unidos do Itaimbé quando Alfeu Pizarro, Zaira e Luizinho de Grandi (todos falecidos) faziam parte da diretoria, confeccionando as principais fantasias da escola que por vários anos foi campeã do carnaval santa-mariense. Goldman foi frequentador da semanal da sauna do Avenida Tênis Clube, com dezenas de outros saudosos amigos : Antero Scherer, Máximo Knackfuss, Arnaldo Walty, Abdo Mothcy, entre outros tantos. Ficou um vazio na sua arte, onde foi verdadeiro expoente ! Nessas madrugadas silenciosas, isolado há 13 meses, contemplo os morros da cidade e as torres da catedral da janela do meu apartamento. Depois dessa procissão de mortos que passa pela minha mente começa a revoada diária das centenas de garças que vêm da zona oeste rumo a Camobi. Prestes a fazer 79 anos, quando minha alma fará a revoada definitiva desse planetinha azul ?