terça-feira, 23 de março de 2021

MISSÃO CUMPRIDA, SERVIDORES MUNICIPAIS DA SAÚDE ! - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, 23.03.2021)

Apesar de todos os cuidados com o isolamento social, álcool em gel, uso da máscara e procedimentos afins, é claro que a vontade de qualquer um era tomar logo a vacina contra o terrível vírus que está matando diariamente milhares de pessoas. E o medo se torna mais doloroso quando ele começa a ceifar vidas de amigos, de pessoas próximas a nós. E quando essas tristes notícias começam a virar rotina. Assim é que, quando li nas páginas do nosso DIÁRIO que tinha chegado a data da vacinação para os idosos da minha idade, fiquei feliz da vida. Meu filho foi para a fila do Colégio Santa Maria às 5h da manhã e conseguiu a senha número 036 para mim. Às 7h ele me ligou para que eu fosse com minha mulher. Eu imaginava encontrar uma cena de idosos sentados em banquinhos, cadeiras de pescaria, em pé, etc...talvez com meu cérebro alimentado pelas terríveis cenas dos noticiários de televisão que mostravam as vacinações de idosos no RJ e em SP. Ledo engano meu ! Já no portão da escola um enfermeiro impecavelmente vestido me recepcionou e me indicou gentilmente o caminho. Fui conduzido – junto com os outros idosos que estavam chegando – ao pátio interno do colégio onde centenas de cadeiras nos esperavam, todas separadas cerca de 1,5m uma da outra obedecendo rigorosamente o distanciamento social. TODOS OS IDOSOS FICARAM SENTADOS. Os avisos eram dados por autofalantes e as pessoas – antes das 8h – já eram cadastradas para não haver atropelos. Haviam seis mesas com cadeiras para que o idoso pudesse fazer seu cadastro confortavelmente sentado com um atendente que anotava os dados pessoais, tipo de vacina e data da segunda dose. Tudo sem pressa e na maior simpatia. Os que tinham dificuldade para se locomover eram auxiliados pela enfermeira com a maior polidez. Do cadastramento passavam para a sala seguinte onde haviam cerca de 8 enfermeiras fazendo a vacinação. Que se dispunham ainda, simpaticamente, a chamar uma colega para tirar a fotografia do ato da vacinação, um pedido da maioria dos idosos (inclusive eu). Total de todo procedimento : menos de 15 minutos ! Faço este relato e dou este depoimento pessoal porque a Secretaria Municipal de Saúde, seus funcionários, enfermeiros, enfim – todos seus componentes – executaram um serviço de Primeiro Mundo ! E quando as coisas todas saem bem feitas, raramente elas são reconhecidas. Mas eu penso diferente. A gente tem de ser grato publicamente. Obrigado, Servidores Municipais da Saúde de Santa Maria ! Vocês foram nota 10 ! Até dia 13 de abril, para a segunda dose !

sábado, 20 de março de 2021

HOMENAGEM AO "EXÉRCITO DE BRANCO" QUE SE DEDICA AO CUIDADO DE TODOS NÓS - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, seção MEMÓRIA, edição de 20.3.2021)

Para que os mais jovens possam entender, antigamente a maratona da vida escolar seguia este cronograma sequencial : curso Primário (5 anos), curso Ginasial (4 anos) e curso Científico (3 anos). Depois, os cursos primário e ginasial se fundiram pra formar o hoje denominado Ensino Fundamental, enquanto o curso científico passou a ser chamado de Ensino Médio. Eu estudei o curso primário no Grupo Escolar João Belém quando este funcionava ainda no prédio onde hoje funciona o Colégio Estadual Manoel Ribas. Fiz o temido exame de “Admissão ao Ginásio” e permaneci no mesmo prédio, com a fundação do MANECO. Por que fiz este preâmbulo todo para tratar do assunto de hoje ? Porque tenho bem clara na minha memória a importância que a escola, os professores, os governantes, enfim - as autoridades em todos os escalões da República – tinham da necessidade imperiosa de cuidar com carinho da saúde do aluno ! No final da década de quarenta, início dos anos 50, lembro perfeitamente que numa certa época do ano estacionava em frente ao colégio um vistoso ônibus branco, com a cruz vermelha pintada e no seu interior tinha uma aparelhagem de raio-X. E todos os alunos faziam fila para fazer a sua abreugrafia, radiografia dos pulmões tirada por um método barato inventado por um médico brasileiro chamado Manuel de Abreu para detectar, prevenir e tratar a tuberculose. Isso há 70 anos !!! No MANECO, por exemplo, para praticarmos ginástica ou qualquer tipo de esporte coletivo, o professor de Educação Física fazia a ficha de peso e altura, mais dados pessoais e encaminhava o aluno para os médicos da escola (lembro dos saudosos Paulo Lauda e Miguel Sevi Viero). Cada aluno tinha pressão medida, pulmões auscultados, ficha médica preenchida, finamente liberado. Se tivesse algum problema de saúde a família era chamada à escola para falar com o médico. Os professores orientavam os alunos sobre a necessidade de vacinação (catapora, varíola, paralisia infantil, etc...). E era comum a população encontrar pelas ruas e calçadas da cidade diariamente centenas de filas de pequeninos alunos de mãos dadas, cuidados por zelosas professoras, sendo conduzidos ao Centro de Saúde número 7, que funcionava – naquela época - à rua do Acampamento, onde hoje funciona a sede da Sociedade Italiana. Ali, responsável pela sala de vacina, esteve - durante mais de 40 anos – o enfermeiro Alfeu Pizarro, meu saudoso pai, que vacinou muitas gerações de santa-marienses. Os pais e professores procuravam espontaneamente a vacinação. Seria inimaginável – naqueles tempos – se pensar em movimento antivacinal... Na rua Daudt, transversal da avenida Rio Branco, num terreno doado pelo farmacêutico e literato João Daudt de Oliveira, foi construído o Dispensário, órgão vinculado à Secretária da Saúde do RS, que tratava de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), naquela época chamadas de “venéreas”, além de outras doenças como hanseníase, etc...As profissionais do sexo eram lá atendidas e medicadas com todo respeito há mais de meio século. Ao rememorar este trabalho dos médicos e paramédicos da minha infância e juventude, nestes tempos duros de pandemia, quero registrar publicamente meu profundo agradecimento a este exército de branco que se encontra extenuado, tenso, com uma sobrecarga desumana de trabalho, nem sempre recompensados financeiramente como deviam, arriscando-se diariamente por nós na linha de frente. A todos vocês, desejo que Deus lhes dê glória alta e compreensão entre os homens !

terça-feira, 9 de março de 2021

OS MASCARADOS DA VENÂNCIO AIRES - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - 9.3.2021 - terça-feira)

Completei meu primeiro aniversário de isolamento social. Coisa que jamais pensei que iria conseguir. Mas noto alterações no biorritmo. Fico a lembrar das aulas de Ecologia. Ritmos induzidos pelo foto-período. Ritmos lunares. Ritmos circadianos. Não irei chatear o leitor com esnobismos científicos. Mas o comportamento dos seres vivos altera-se com o número de horas de sol. Com a lua. Com a alternância de dia e noite. Poderia dar exemplo para cada um dos casos. Não o farei. Da janela do meu terceiro andar tenho notado que as centenas de garças têm voado mais tarde do sentido oeste-leste. As centenas de pássaros pretos que voam entre a Galeria do Comércio e a catedral também na direção oeste-leste ao amanhecer também estão voando tardiamente. Tudo porque o sol tem aparecido mais tarde. São os primeiros avisos do fim do verão. Indiferentes diante da pandemia, os pássaros cumprem seu destino de voar. Obedientes ao ritmo do sol. À procura de alimento, água e prazer. Em ordeiros bandos aéreos com formação que lembra a letra V. Onde na ponta do V, capitaneando o bando, vai geralmente a ave mais velha. A que sabe por experiência a melhor rota, velocidade e direção. Porque no mundo das aves os idosos são respeitados. Tenho escancarado as janelas do meu apartamento. Porque os infectologistas avisam que coronavirus detesta ambientes arejados. Os sons da noite sobem com facilidade. E penetram nos meus ouvidos sempre atentos. Ambulâncias passam. Sirenes estridentes. Bombeiros. Carros da polícia. Mas é à noite que minha audição fica mais acurada. Já ouvi de tudo. Automóveis particulares com som a mais de 100 decibéis acordando todo prédio. Conversas em voz alta de bandos de jovens que estão alterados. Brigas de namorados. Já vi um rapaz esbofetear uma moça e cinco minutos depois estarem se beijando. Quase na esquina da avenida Rio Branco a Prefeitura Municipal colocou enorme contêiner para recebimento de lixo. Toda santa noite – e cada vez mais cedo - há disputa pelo lixo reciclável. Jogam todo lixo para fora para catar as latinhas de bebida e outros materiais aproveitáveis. E não devolvem os sacos para dentro do contêiner. Fica tudo esparramado na calçada. E às vezes há brigas entre eles, agressões, ameaças de morte, disputa pelo “ponto”. Na madrugada do último fim-de-semana,ao voltar da cozinha onde fui tomar água gelada, ouvi gemidos estranhos vindos da rua. Sem ligar a luz e preocupado porque poderia ser alguém assaltado e ferido na rua precisando de ajuda, cheguei à janela. E me deparei com uma cena nova para mim em termos de Venâncio Aires. Um casal de namorados estava fazendo amor, em pé, no portão da casa do saudoso reitor Mariano. Pelo menos os dois estavam de máscara...

sábado, 6 de março de 2021

"PINHA", O CARISMÁTICO ATOR DA ESCOLA DE TEATRO LEOPOLDO FROES - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - 6.3.2021 - seção MEMÓRIA - pág. 39 )

Comecei a namorar minha mulher em 1963. Ela residia na rua dos Andradas, 1395, um sobradinho. Onde hoje funciona uma delegacia de polícia. No pátio tinha um campinho de futebol onde, aos sábados, os amigos da família e vizinhos se reuniam para jogar. Pois foi justamente nessas “peladas” que conheci o meu personagem de hoje, com o qual vim a ter uma relação de amizade que durou a vida inteira. Trata-se do Rafael Ernesto Theodorico, que toda a cidade conheceu pelo apelido de “Pinha”. E como tal o tratarei neste texto. A família do “Pinha” morava também na Andradas, quase em frente à casa da minha então namorada. Ele era filho da simpática d. “Riqueza” e do coronel Theodorico, que foi diretor do Hospital da Guarnição Militar do Exército. E também vereador da legislatura de 1958, ano do Centenário do município. Foi nele que a vereadora Helena Ferrari atirou um copo cheio de água em plena sessão, conforme já relatei em outra “Memória”. “Pinha” era uma figura popular, bem-falante, presença constante no centro da cidade, nas rodas de cafezinho da Galeria Chami, nos papos do calçadão. Foi muito ligado à família do Edmundo Cardoso, criador da Escola de Teatro Leopoldo Froes. São declarações da minha cara amiga Gilda May Cardoso, filha do Edmundo : “-Pinha foi uma pessoa muito querida em nossa cidade. Alegre, brincalhão, amigo fiel e um grande ser humano. Inicia sua carreira artística, na Escola de Teatro Leopoldo Fróes, atuando com muito entusiasmo e responsabilidade. Como ator, foi carismático e sempre teve muita empatia com o público infantil e adulto. Foi um ator talentoso, dedicado e admirado pelos seus companheiros de palco. Além de sua participação na Escola de Teatro, surgiu e se consolidou uma forte e duradoura amizade com a família Cardoso, especialmente com Edmundo e Claudio. Torna-se além de amigo dedicado, protetor do Claudio, em todos os momentos e em todos os lugares. Havia uma empatia muito grande entre os dois e um carinho recíproco. Pinha também participa em 2015 do documentário Edmundo - uma vida multifacetada, dirigido pelo cineasta Luiz Alberto Cassol, dando um emocionado depoimento sobre Cardoso. Foi sua última mensagem, tendo partido logo depois. Ao partir, Pinha deixa muitas saudades entre os inúmeros amigos e naqueles que o conheceram e admiraram, e doces memórias e gratidão da família Cardoso”. Graças à gentileza da pesquisa da amiga Terezinha de Jesus Pires Santos, diretora da Casa de Memória Edmundo Cardoso, consegui os dados das participações teatrais do “Pinha”. Sua estreia no teatro foi em 1971, na peça A Revolta dos Brinquedos, peça de teatro infantil de Pedro Veiga e Pernambuco de Oliveira encenada no Cinema Imperial e que obteve grande sucesso na cidade. “Pinha” representou o personagem Soldadinho de Chumbo. Participou em 1972 do II Festival De Expansão do Teatro Infantil, em Santos, São Paulo, onde a Escola de Teatro Leopoldo Froes conquistou dois prêmios: Rafael Ernesto Theodorico recebeu o de “Melhor Ator” e a Aglaia Pavani, o de Atriz Revelação. Nome da peça: A Revolta dos Brinquedos. Representando um operário da construção civil, “PINHA” participou da peça Soraya Posto 2, uma comédia de Pedro Block para adultos montada e encenada fazendo parte das comemorações dos 30 Anos da Escola de Teatro Leopoldo Fróes. Foram encenadas no Cinema Imperial e no Teatro Álvaro de Carvalho em Florianópolis, Santa Catarina Dona Patinha vai ser Miss, peça de teatro infantil de Artur Maia encenada no Cinema Imperial foi a quarta e última peça que “Pinha” trabalhou. “Pinha” trabalhou e se aposentou como funcionário civil do Hospital Militar. Foi casado e teve um filho, estudante de Psicologia, hoje residente em Florianópolis. Durante os dez anos que residi em Florianópolis, por mais de uma vez o querido amigo “Pinha” esteve me visitando na praia de Canasvieiras. Registro também, a bem da verdade e por dever de justiça, o trabalho que o “Pinha” desenvolveu dentro da organização dos AA fazendo palestras, visitando clínicas e fazendas de recuperação para explicar a importância dos grupos de mútua ajuda. Vitimado por complicações cardiorrespiratórias, advindas do tabagismo, o saudoso e querido amigo nos deixou precocemente.