sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

MINICONTO DE AMOR - James Pizarro

A jovem esposa nua sentada no fogão prestes a acender uma boca do gás disse ao surpreso marido desempregado que acabara de chegar : - Ué, meu bem, você sempre disse que íamos viver de amor. Eu ía esquentar a janta...

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

SILÊNCIO DA GENTILEZA IDOSA DIANTE DO RELINCHO DA GROSSERIA JUVENIL = JAMES PIZARRO (DIÁRIO, edição de 26.01.2021)

Durante o fim-de-semana, batendo papo com amigo pelo Messenger, o tema enveredou sobre a mudança de comportamento. Entre pessoas de gerações diferentes. Diante de situações diferentes. Visões diferentes. Choques de visões. E ele me contou uma coisa que resumirei em poucas palavras. Disse-me ele: - “Certa vez pedi para a moça em que eu estava tendo um encontro para que eu ficasse sempre do lado desprotegido, ou seja, próximo ao meio fio, enquanto andávamos pela calçada. Ela não entendeu o motivo. Quando expliquei que isso faz parte da conduta de um bom homem onde sempre se oferece o lado mais protegido para as mulheres, senhores de idade (avô, avó, pai, mãe) ou qualquer superior hierárquico sendo no ramo profissional. Ela achou ridículo e fez certos comentários onde deixou bem claro o quanto eu sou machista, antiquado e com mente "quadrada". Eu fiquei sem reação, não soube o que dizer e nem como desfazer essa impressão horrível que deixei diante dela simplesmente porque eu quis ser educado. Para tentar lhe dar consolo e ser companheiro, contei o episódio pelo qual passei aqui onde moro. No condomínio da Galeria do Comércio existem três elevadores. Costumeiramente, quase sempre uso o elevador número 1. Eu era o primeiro de uma fila de cinco pessoas. Quando o elevador chegou e os ocupantes desceram, eu não entrei. Segurei a porta e disse para a moça que estava atrás de mim : - Tenha a bondade...pode entrar ! Ela fez a cara mais feia do mundo e, aos brados, disse : - Mas o que o Sr. Está pensando, seu machista ? Entre o senhor ! Confesso que sou conhecido entre meus amigos por ter resposta rápida para tudo. Mas fiquei tão estarrecido que, mudo e chocado, entrei. E ainda reparei numa senhora idosa que me olhou e balançou negativamente a cabeça em sinal de desaprovação ao gesto da moça. Desci no terceiro andar, onde moro, não sem antes dar “até logo” como sempre faço. Lembro que a UFSM tinha uma frota de doze ou treze ônibus na década de 1960 para transporte gratuito de professores, alunos e funcionários entre cidade e campus de Camobi. Os primeiros dois bancos eram reservados aos professores. A partir de 1967 eu já era professor e , portanto, tinha direito àqueles bancos. Muitas vezes me levantei para dar lugar a uma funcionária, uma aluna grávida ou uma pessoa idosa E me oferecia para levar no colo as pastas e mochilas dos alunos que estavam em pé. Fui ensinado a puxar a cadeira para moça sentar-se à mesa. A deixar os mais velhos servirem seus pratos à mesa durante as refeições. A telefonar para a casa da pessoa na véspera sabendo se posso visita-la. A sempre cumprimentar os outros. A beijar meu pai, mãe e avós quando os encontrassem (hábito que consegui transferir para meus filhos netos). Quando estive vereador, na legislatura 1988/1991, meu pai costumava assistir as sessões da Câmara de Vereadores. Quando ele chegava ao recinto das galerias e sentava na sua poltrona predileta, eu saia de minha mesa e ía lá lhe abraçar e dar um beijo. O que causava uma certa surpresa em muita gente. Eu sinto falta do meu pai. Gostaria que ele estivesse por aqui para lhe dar aqueles beijos. Para ele ver como criei bem seus netos. E como seus bisnetos já estão entrando na universidade e alguns se formando. E como ele iria adorar conversar com a Bethânia. Mas a pobre mocinha, infeliz moradora daqui que me chamou de machista apenas porque fui delicado com ela, certamente não teve a sorte de ter tido um pai como eu. Uma educação como a minha. Onde a gente aprendeu que os idosos merecem respeito. E ninguém se arrependerá jamais por ser gentil.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

ABDO MOTHECY, SAUDOSO VEREADOR EMÉRITO DE SANTA MARIA - JAMES PIZARRO (23.01.2021 - DIÁRIO, Seção MEMÓRIA, CadernoMIX)

Convivi com o amigo Abdo Achutti Mothecy por mais de meio século. Convivi com os familiares todos. Fui ao aniversário e casamento dos filhos (Clarice, Judith, Cleonice, Paulo Roberto). Os netos conheci quando pequeninos (Ângelo, Thiago, Lourenço, Júlia, Nathalia, Nicole). E até hoje me comunico diariamente pela internet com a Terezinha, viúva do Abdo. Abdo nasceu em 9 de maio de 1926, filho de Simão Pedro Mothecy e Jamile Achutti Mothecy. Abdo teve dois irmãos : Antônio Simão e Jorge. O pai de Abdo era da cidade libanesa de Junia, situada na vizinhança de Beirute. Abdo passou a infância com a família que vivia de um armazém de secos e molhados situado na esquina das ruas Barão do Triunfo e Coronel Niederauer. Abdo ingressou na escola aos 7 anos de idade em 1933 (Colégio Marista Santa Maria). Mas estudou também na Escola Olavo Bilac. Terminou sua formação em 1945. E ingressou no Curso de Farmácia em 1946. Formou-se na turma de 1948, que foi a turma pioneira do Curso de Farmácia da UFSM. Exerceu a profissão até 1964 quando passou a dedicar-se exclusivamente ao comércio. Foi dono da Farmácia Probus e da Farmácia Central. Também foi técnico-científico da Farmácia do IPE, tendo anos depois assumido a coordenadoria do IPE em Santa Maria.. Em 1972, o amigo Abdo Mothecy inaugurou – e manteve aberta até sua aposentadoria – a loja SESQUI MAGAZINE, localizada na esquina das ruas Dr. Bozano e Barão do Triunfo. O nome da loja era uma homenagem aos 150 anos da Independência do Brasil. No porão dessa loja ficava o escritório do Abdo, que era frequentado por mim diariamente para tomar cafezinho ou chimarrão, pois lá sempre estavam os companheiros tenistas do Avenida Tênis Clube, os amigos turfistas, os parceiros de pescaria, diversos políticos. Já escrevi sobre essa turma toda numa crônica publicada no DIÁRIO há alguns anos. Abdo foi um exímio desportista. Jogou futebol no 14 de Julho Futebol Clube e no Internacional de Santa Maria. Jogou basquete no Corintians Atlético Clube, sendo campeão estadual em 1947 Aficionado do turfe, foi proprietário de um cavalo – de nome Crotil - vencedor de muitas carreiras pelo interior do RS. Tive a oportunidade de ser parceiro de tênis do saudoso amigo Abdo nas quadras do ATC com um grupo grande de grandes companheiros, seniors e veteranos. Depois das partidas e de uma revigorante sauna, seguiam os festejos em concorridos e alegres churrascos. Também em 1988 fui companheiro do querido amigo na Câmara de Vereadores, legislatura de 1988/1991, ocasião em que ele se elegeu pelo PMDB e eu pelo PDT. Abdo faleceu no dia 30 de abril de 2013, aos 86 anos, no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, em Santa Maria. O prefeito Cesar Schirmer decretou luto oficial no município. Em 2013 eu estava morando na praia de Canasvieiras, em Florianópolis, onde fiquei por 10 anos. Naquele ano recebi telefonema da amiga Terezinha, viúva do amigo Abdo, me convidando para um almoço festivo onde seria lançado o livro de memórias do Abdo, sob o título “ Memórias que o tempo não apagou”. Sem pestanejar, confirmei meu comparecimento. E até hoje guardo com carinho em minha biblioteca o livro e as fotos tiradas com os parentes todos e amigos onde, em 102 páginas, são contados episódios marcantes da ttrajetória de umm homem bom e de caráter. Foi um grande amigo !

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

RECADO DO EDUARDO, O OCEANÓGRAFO DE APARECIDA - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, crônica de 12.01.2021)

Graças ao milagre da internet e das redes sociais, nestes tempos duros de pandemia, conseguimos enfrentar o isolamento social, a distância , a solidão, as carências do contato físico. E também reencontramos pessoas das quais não tínhamos notícias há décadas. Reestabelecemos contato com pessoas que foram importantes amigos de adolescência, colegas de bancos escolares, familiares perdidos. No meu caso, que dei aulas nos cursinhos, colégios e UFSM durante 44 anos, reencontro quase que diariamente dezenas de ex-alunos, muitos deles já aposentados, pais, avós ! Que me escrevem coisas de suas vidas, anseios, projetos, realizações. Recordam coisas que eu dizia em aula e que lhes serviu na vida. Recebi um longo e emocionante e-mail de um ex-aluno muito especial, chamado Eduardo Nascimento Radwanski, oceanógrafo e diretor-proprietário do AQUÁRIO DE APARECIDA, situado na avenida Getúlio Vargas, Centro de Apoio ao Romeiro (Asa Oeste), Santa Rita, Aparecida, São Paulo. Ele era meu aluno no Curso de Ciências Biológicas na UFSM, mas só me falava em coisas do mar e logo notei que estava no lugar errado. Um trecho do e-mail : “Você sempre foi o meu professor mais querido e brilhante cujas aulas instigantes de Ecologia na UFSM me despertaram para a minha profissão de Oceanógrafo. Até hoje me lembro com todos os detalhes da conversa franca e amiga que tivemos em 1982 sobre a minha ideia de abandonar o curso que estava fazendo e cursar Oceanografia n FURG, em Rio Grande : sua reação positiva e imediata foi o empurrão que faltava para eu embarcar em minha odisséia, que hoje me faz residir em Aparecida onde construí, opero e gerencio o Aquário de Aparecida desde julho de 1999.” Diz ele : “ A vida em Aparecida é simples, mas não nos falta nada. Meus dois filhos – Isabella e Yuri – já estão formados. Minhas esposa Paloma me ajuda na administração do aquário e é leitora da Bíblia nas missas no Santuário Nacional. Moramos numa casa espaçosa, jogamos tênis num clube de campo em Guatinguetá. Lembra que eu jogava com o senhor nas quadras do ATC ? Eu aprendi a jogar com meu tio Ivo Pitanguy, já falecido, de quem meu irmão médico foi aluno. Tenho uma irmã mais moça que está gerenciando um projeto de ecoturismo radical na Patagônia chilena.” Pois o Eduardo ficou sabendo que minha filha Cristina mora em Itajubá, sul de Minas Gerais, bem perto de Aparecida. E no final do seu carinhoso e emocionante e-mail diz : “Teria imenso prazer em recebe-lo aqui em Aparecida com sua esposa, professor Pizarro. ! Vamos combinar ! Eu te guardo no coração para sempre, com a esperança de receber a tua visita. Envio meu forte abraço para toda a sua querida família, com amor e carinho.” Sei que pode parecer uma bobagem para muitos. Que casos pessoais não trazem sabor às crônicas. Mas se trata de ilustrar – através de uma singela história verdadeira – de como vale a pena dar importância e atenção ao aluno, orientá-lo, dar um “empurrão” para o futuro. A gente pode estar – assim agindo – encaminhando um jovem para sua plena realização. Existe algo mais comovedor do que receber, anos depois, a gratidão de um ex-aluno ?

sábado, 9 de janeiro de 2021

WILSON AITA, UMA VIDA DEDICADA À COMUNIDADE E A SERVIR AO OUTRO ! - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, edição de 9.1.2021, Seção MEMÓRIA do CADERNO MIX).

Wilson Aita, depois de ter se formado em Engenharia em Porto Alegre, veio morar e trabalhar em Santa Maria. Mas antes esteve em Joinvile, SC, para casar com Cleonice Sada Aita. Fui aluno de ambos no Colégio Estadual Manoel Ribas , onde o Wilson deu aulas de Desenho Técnico e a Cleonice foi professora de História. Wilson e Cleonice tiveram cinco filhos : Carlos Aloísio, Maria Eunice, Maria Regina, Maria Lúcia e Maria Cristina. E cinco netos, dos quais lembro os nomes de quatro : Daniela (médica), Cláudia (advogada), Cleusa (arquiteta) e Marcelo (piloto). Fui amigo do professor Wilson Aita durante décadas (meu pai era enfermeiro particular de toda a família dele) e achava admirável seu jeito calmo de falar, sua capacidade de chamar os alunos e dar conselhos quando notava que estavam com problemas comportamentais. Desempenhou dezenas de atividades durante a vida. Foi engenheiro do DAER (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem), onde chegou a fundar uma cooperativa entre os funcionários, importando através de Porto Lucena farinha argentina, café solúvel e outros produtos. Em 1949, em Santa Maria, Wilson Aita fundou uma empresa de construção civil, pois ele havia se especializado em “cálculo estrutural”. Pouca gente sabe ou lembra, mas a primeira estrutura de concreto armado em edifício em nossa cidade foi de autoria dele : trata-se do edifício Pisani, situado na esquina das ruas Venâncio Aires e Floriano Peixoto. Calculou e construiu a estrutura de outros edifícios , tais como o “Rio da Prata” e o edifício que fica em frente à catedral, na avenida Rio Branco, onde funcionou por décadas o famoso Posto Esso e onde hoje funciona a loja CIMACO. Adepto do radioamadorismo, Wilson Aita fez curso de Código Morse a fim de poder registro de telecomunicador. Construiu dezenas de radiotransmissores, fazendo também a manutenção dos radiotransmissores estrangeiros que existiam na cidade. O engenheiro Luiz Bollick, então diretor da Rádio Imembuí, convidou-o para ser engenheiro da emissora, onde trabalhou consertando válvulas com Quintino Prolla, técnico por demais conhecido na cidade. Ganhou ações na Rádio Imembuí em troca do trabalho, atuando lá por nove anos, chegando a ser vice-presidente da empresa. Também teve importante atuação na criação da Rádio Universidade, na UFSM, pois viajou ao Rio de Janeiro para tratar do projeto da mesma junto ao CONTEL – Conselho Nacional de Telecomunicações, atual DENTEL. O projeto veio do RJ com erros, detectados e sanados pelo engenheiro Fábio Baldissera, pois a torre da rádio foi inicialmente construída no distrito de Boca do Monte, providência desnecessária, anos depois sanada com a transferência da torre para a sede campestre da ABS – Associação dos Servidores da UFSM, perto da Estância do Minuano. Transcorridos mais alguns anos, a torre foi definitivamente construída no campus da própria UFSM. Wilson Aita também foi piloto particular, naquela época denominado “piloto privado”. O aeroclube de Santa Maria ficava na área oeste da cidade, na localidade chamada chamada Boi Morto, onde ficava localizado o Terceiro Regimento de Aviação já que naquela época a aviação pertencia ao Exército Brasileiro. Wilson Aita também exerceu por décadas a função de professor em vários cursos e várias disciplinas. No Colégio Santa Maria, dos Irmãos Maristas, lecionou Matemática e Física. No Curso de Economia da UFSM, lecionou Estatística Mercadológica. No Curso de Filosofia, deu aulas de Mecânica Celeste. E no MANECO, onde fui seu aluno por dois anos, ministrou aulas de Desenho Técnico para o Segundo Grau, hoje chamado Ensino Médio. Nas últimas décadas de vida, o professor Wilson Aita dedicou o melhor dos seus esforços ao Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, exercendo com total dedicação a função de Provedor. A todos atendia coma mesma urbanidade e distinção, tanto ao numeroso e competente corpo médico da instituição, como todos os funcionários e clientes que o procuravam. Durante esse período o hospital iniciou uma fase de notáveis modificações, com novas construções, ampliação de serviços e número de leitos. Nessa época, por mais de uma vez estive hospitalizado para cirurgia e diariamente recebia a visita em meu quarto do querido e saudoso professor Wilson Aita, que queria saber da minha saúde, se estava precisando de algo. São gestos de carinho inesquecíveis e raríssimos no mundo atribulado de hoje. Por isso, escrevo com emoção essa MEMÓRIA de hoje. Para resgatar a história de vida desse homem bom. E para parabenizar à direção do Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo que, num momento de grande inspiração e justiça, imortalizou o nome do seu grande provedor : POLICLÍNICA WILSON AITA !