sexta-feira, 20 de novembro de 2020

PAULO LAUDA : médico, professor, político, prefeito - James Pizarro (Seção MEMÓRIA, Caderno MIX do DIÁRIO, edição de 28.11.2020)

Foi meu fabuloso professor de Química Orgânica ! Médico, formado na Universidade Federal do Paraná (a primeira Universidade brasileira, fundada em 1912), clinicava em Santa Maria e tinha grande militância política. Foi eleito Prefeito Municipal pela sigla do antigo PTB. Foi posteriormente cassado pela Revolução de Março de 1964, tendo seus direitos políticos suspensos. Foi professor de Dermatologia do Curso de Medicina da UFSM, onde foi - por várias vezes - escolhido paraninfo e homenageado das turmas de formandos, tal a admiração que os alunos nutriam por ele. Fumante inveterado, espantava aos alunos o fato de durante a aula acender um cigarro no outro para, assim, continuar fumando ininterruptamente durante horas. Morreu por isso, vitimado por um brutal enfisema pulmonar. Ela dava sempre aula no último período, que terminava às 12:30h. Muitas vezes ele me ofereceu carona até minha casa, em seu carro DKW vermelho e branco. Tempos depois, durante muitos anos foi presidente do ATC-Avenida Tênis Clube. Na época de verão, depois de assinar a papelada na secretaria do ATC, sentava-se numa mesa ao lado da piscina para tomar seu whisky. Já casado, formado, muitas vezes lhe fiz companhia nessa mesa para papos intermináveis e grandes recordações. Pesquisando os registros da Escola Estadual de 1º Grau Dr. Paulo Devanier Lauda – CIEP encontrei, com data de 14 de setembro de 2011, um belo registro sobre a vida do meu querido amigo e saudoso professor. Dele extrai esse precioso trecho por entender que resume bem a vida do grande mestre, médico e político : “ Foi em 11 de março de 1928, que nasceu o filho de Pedro e Carolina Lauda. O pequeno Paulo Devanier Lauda, que eles nem imaginavam o quem seria no futuro. Bem jovem, aos 18 anos, foi sócio-fundador de um dos órgãos de maior evidência nas políticas estudantis atuais, a União Santamariense dos Estudantes – USE. Três anos mais tarde, mudou-se para o Paraná para cursar Medicina. Sempre foi um líder em todas as atividades em que se propunha, e assim, foi desenhando a sua vida de universitário. Em 1950, tornou-se diretor do Jornal Acadêmico e no ano seguinte consagrou-se presidente do Diretório Acadêmico Nilo Cairo, órgão oficial dos estudantes de Medicina, Farmácia e Odontologia, de quem se tornou porta-voz. Além disso, foi membro do Conselho Universitário da “Granja Universitária”, ainda na Universidade do Paraná. Muito querido pelos colegas, e acadêmico de destaque, em 1954, foi orador da turma com quem se formou médico. O jovem e sonhador Paulo Lauda, voltou para o Rio Grande do Sul e estabeleceu residência em Restinga Seca, onde começou a exercer a medicina. E foi lá também que conheceu sua esposa, a bela Enyldes Dalla Riva. Restinga Seca ainda lembra com saudade, do médico que sempre apoiou seus moradores. Foi diretor do hospital São Francisco, criou o primeiro ginásio, e ainda militou pela emancipação daquele vilarejo, que já era município quando o doutor voltou para Santa Maria com a família. Em 1960, depois de fazer residência em dermatologia com o Dr. Clóvis Bopp, passou a dar aulas para essa cadeira na Universidade Federal de Santa Maria. Pela qualidade do seu trabalho, foi homenageado de honra naquele ano. Em 61, o querido e dedicado médico e professor, foi escolhido paraninfo da 3ª turma de medicina. “ Mas, ainda havia na alma de Paulo Lauda, a paixão pela política, que havia despertado aos 18 anos, quando brigava pelos direitos dos estudantes na USE. E em 1962, ele filiou-se ao PTB, dando início a uma nova fase de sua trajetória. Carisma, competência, dedicação... não poderia dar outro resultado: em 1963, concorrendo contra 7 adversários, Paulo Devanier Lauda é eleito prefeito de Santa Maria, e passa a governar ao lado de seu vice Adelmo Simas Genro. Mas, naquela época, pessoas que eram proativas, costumavam ser consideradas rebeldes, e sofriam duramente as consequências de um regime militar que se sentia ofendido. E seu mandato foi cassado, em 1964, pelo AI-01 – Ato instituicional nº1, e o médico e professor foi impedido de continuar a frente da prefeitura. “ Durante o afastamento político, dedicou-se a seus pacientes e alunos. Foi professor de química do primeiro cursinho pré-vestibular de Santa Maria, o Instituto Master. Lecionou também, no Instituto Riachuelo e no Curso Científico do Colégio Centenário. Neste período, Lauda se envolveu com a fundação da UNIMED, onde foi um dos diretores; participou da FECOMED, e foi conselheiro da AMRIGS onde idealizou o seguro-saúde para médicos. Além disso foi um dos fundadores do Lions Club Itararé. O clube social Avenida Tênis Clube, também lembra com saudades desse grande santamariense. De 1973 a 1981 foi seu presidente, e na sua gestão foi construído o salão de festas, que hoje leva o seu nome. Mas, apesar de tantas atividades, a veia política de Paulo lauda, nunca deixou de pulsar. Mesmo com o mandato cassado, continuou participando das lutas partidárias. Fez parte de associação trabalhista para a fundação do novo PTB, que mais tarde seria o PDT santamariense, e foi eleito o primeiro presidente, estando a frente do partido por 4 anos consecutivos. Fato que o consagrou Presidente de Honra do Diretório Municipal até 1º de março de 1986, quando veio a falecer.” Este é o registro da querida figura do meu saudoso professor. Lembro que fui levar meu convite de formatura para ele em sua casa no bairro Itararé. Ele agradeceu e prometeu comparecer. Na noite de 10 de dezembro de 1966, quando me formei, lá estava ele com a esposa no hall do Cine Glória para me dar um forte abraço.

MANUAL - JAMES PIZARRO (crônica no DIÁRIO, 17.12.2020, pág. 4)

Fazendo uma limpeza nos meus arquivos e gavetas, encontrei este precioso texto com o título de “MANUAL”, de autoria desconhecida, contendo uma série de recomendações. Li, reli e achei tão importante que resolvi socializar seu conteúdo com meus queridos leitores. Na esperança que lhes possa ser útil. Como foi para mim. Vamos lá Saúde: 1. Beba muita água 2. Coma mais o que nasce em árvores e plantas, e menos alimento produzido pelas fábricas; 3. Viva com os 3 E's: Energia, Entusiasmo e Empatia; 4. Arranje tempo para orar; 5. Jogue mais jogos; 6. Leia mais livros do que tem lido; 7. Sente-se em silêncio pelo menos 10 minutos por dia; 8. Durma 8 horas por dia; 9. Faça caminhadas de 20-60 minutos por dia, e enquanto caminha sorria. Personalidade: 11. Não compare a sua vida a dos outros. Ninguém faz ideia de como é a caminhada dos outros; 12. Não tenha pensamentos negativos ou coisas de que não tenha controle; 13. Não se exceda. Mantenha-se nos seus limites; 14. Não se torne demasiadamente sério; 15. Não desperdice a sua energia preciosa em fofocas; 16. Sonhe mais; 17. Inveja é uma perda de tempo. Você tem tudo que necessita.... 18. Esqueça questões do passado. Não lembre seu parceiro dos seus erros do passado. Isso destruirá a sua felicidade presente; 19. A vida é curta demais para odiar alguém. Não odeie. Odiar alguém é como tomar veneno e esperar que o outro morra ! 20. Faça as pazes com o seu passado para não estragar o seu presente; 21. Ninguém comanda a sua felicidade a não ser você; 22. Tenha consciência que a vida é uma escola e que está nela para aprender. Problemas apenas fazem parte; eles aparecem e se desvanecem como uma aula de álgebra, mas as lições que aprende, perduram uma vida inteira; 23. Sorria e gargalhe mais; 24. Não necessite ganhar todas as discussões. Aceite também a discordância; Sociedade: 25. Entre mais em contato com sua família; 26. Dê algo de bom aos outros diariamente; 27. Perdoe a todos por tudo; 28. Passe mais tempo com pessoas acima de 70 anos e abaixo de 6; 29. Tente fazer sorrir pelo menos três pessoas por dia; 30. Não te diz respeito o que os outros pensam de você, é problema deles. 31. O seu trabalho não tomará conta de você quando estiver doente. Os seus amigos o farão. Mantém contato com eles. A Vida: 32. Faça o que é correto; 33. Desfaça-se do que não é útil, bonito ou alegre; 34. DEUS cura tudo; 35. Por muito boa ou má que a situação seja.... Ela mudará... Tudo passa !! 36. Não interessa como se sente, levanta, se arruma e aparece; 37. O melhor ainda está para vir; 38. Quando acordar vivo de manhã, agradeça a DEUS pela graça. 39. Mantenha seu coração sempre feliz. Por último: 40. Envia para aqueles que você ama ou quer bem e que deseja um fim-de-ano maravilhoso!!!

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

JORGE ADAIME

O personagem que relembro com imenso carinho hoje foi amigo dos meus pais e do meu sogros durante mais de meio século, seguramente. Eu mesmo tive o grande prazer de ser amigo pessoal, vizinho e inquilino, quando meus filhos eram pequenos, pois morei cerca de dez anos num apartamento de sua propriedade à rua dos Andradas. Estou me referindo a Jorge Adaime, filho de Elias Adaime e Amaly Bered Adaime, imigrantes libaneses. Uma curiosidade : apesar de terem morado na mesma rua em Beirute, Elias e Amaly – pais de Jorge Adaime - se conheceram apenas em Santa Maria, onde vieram a casar. Além de Jorge Adaime, o casal teve mais três filhos : José, Emil e Linda Adaime, todos já falecidos. Jorge Adaime nasceu eu 12 de março de 1926 e morou muitos anos na rua Silva Jardim, com seus pais e irmãos, onde o pai Elias tinha depósito de bananas. Estudou no colégio São Luis e Marista Santa Maria, onde formou se contador (técnico em contabilidade) pois sempre teve muita facilidade na lida com números. Ainda jovem lecionava matemática financeira em aulas particulares na sua casa, para interessados em prestar concursos. UMA VIDA DEDICADA AO BANCO Foi funcionário graduado no Banco do estado do Rio Grande do Sul, onde era representante de Letras de Câmbio (títulos ao portador) . Isso o fazia transitar por toda a cidade entregando os títulos vendidos e, com isso, conhecendo muitas pessoas e as ruas de Santa Maria como ninguém, à época. Foi um dos fundadores da sociedade Recreativa Banrisul, em Itaara, lugar aprazível que possui uma cascata e hoje serve de espaço de lazer a todos os associados bancários do Banrisul. FAMÍLIA Jorge Adaime casou-se com Lecy Maria Bohrer Adaime em 1954 e teve quatro filhos: Roberto Bohrer Adaime (falecido em 2012) , veterinário do Serviço de Inspeção Federal; Vera Regina Bohrer Adaime, professora de matemática do município de Santa Maria, aposentada; Jorge Adaime Filho, advogado, vinculado à Advogacia Geral da União, prestando serviços na UFSM e Martha Bohrer Adaime, professora do departamento de Química da UFSM, no momento atuando como Pró- Reitora de Graduação. Teve 8 netos, dois quais 5 residem em Santa Maria e os demais fora da cidade, todos profissionais atuando em suas áreas. VIDA COMUNITÁRIA Amante de uma boa leitura, discutia economia e política em todos os espaços que frequentava, além de conhecer muito bem a história de Santa Maria. Apaixonado pelas rodas de conversa com amigos no calçadão Salvador Isaia ou em frente ao Clube Caixeral, onde os assuntos principais eram economia, política e o mercado imobiliário na cidade. Tinha paixão por aquisição de imóveis de baixo valor, os quais reformava e locava ou usava os terrenos para construção de pequenos residenciais. Foi tesoureiro do Internacional de Santa Maria na década de 1950, na gestão do Dr. Sfredo. Exerceu o cargo de Secretário de Finanças do Município de Santa Maria na gestão do prefeito Heitor Campos, de 1952 a 1955. Gostava de viajar à Buenos Aires e Montevideo, mas tinha a prioridade de proporcionar o veraneio da família em Capão da Canoa, todos os anos e eventualmente passeios na serra gaúcha , Porto Alegre e Uruguaiana, para compras em Passo de los Libres. UM HOMEM DE BEM Tive a oportunidade de conviver com todos os membros da família Adaime. Muitas vezes, inclusive, frequentei a casa do Jorge para almoços e aniversários, onde tive o prazer de saborear pratos árabes. A saudosa D. Lecy sempre cumulou de gentilezas minha mulher e meus filhos quando pequeninos. As filhas Martha e Vera Adaime foram alunas de piano da minha sogra Edith Grau Souza, filha do maestro e compositor Oscar Grau. Quando decidi escrever sobre meu amigo Jorge Adaime, patriarca da família toda, falei muito com a Marthinha e ela, entre outra coisas, muito emocionada assim se referiu a seu pai : “ Meu sentimento como filha caçula é de que meu pai era zeloso da família, preocupado com o futuro e escolhas profissionais dos filhos e filhas, extremamente trabalhador e honesto. Se dizia ateu, mas praticava a melhor religião de todas, fazer o bem e estender a mão a quem precisava.” Meu amigo Jorge Adaime, um homem de bem, faleceu em 31 de agosto de 2000, devido a complicações cardíacas que lhe geravam edemas pulmonares sequenciais.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

AS LABAREDAS DA INSÔNIA E NOSSA SENHORA MEDIANEIRA - JAMES PIZARRO (pág. 4 do DIÁRIO, edição de 3.11.2020)

Compreendo quem tem insônia. Relevo quem tem sono agitado. Quem é atormentado por pesadelos, Porque dos meus nove aos treze anos comi o pão que o diabo amassou. Porque sofria de insônia. Noites mal dormidas. Temores noturnos. Quando o sol ia se pondo e a noite se avizinhava, eu já sentia verdadeiro pavor. Meu pai me levou a médicos. Que me perguntavam coisas. Ouvi pediatras dizerem para meu pai que eram distúrbios da pré-adolescência. Que eu era sensível. Um deles disse que eu era "precoce". Lembro como se fosse hoje que eu fiquei estarrecido quando o médico disse isso. Porque eu não conhecia a palavra. Na minha mente agitada imaginei que fosse um tumor, uma moléstia grave. Fiquei tranquilo quando, ao chegar em casa, consultei o único dicionário que existia na época, de autoria do Fernando Fernandes. E fiquei sabendo o que queria dizer "precoce". A medicina não resolveu meus problemas noturnos. Eu continuava a ouvir ruídos. Ouvia gente cochichando. E via coisas. Principalmente fogueiras. Nunca vi pessoas e nem animais. Tudo que eu via era relacionado com fogo. Minha mãe me levou então a centros espíritas. A sessões de umbanda. Tomei passes de descarga. Sessões de descarrego. E toda uma terminologia que eu não entendia direito. Numa sessão dessas o médium receitou "Kola Fosfatada Soel", um medicamento feito de ervas muito popular naqueles tempos. E disse que eu teria de comer muita alface na janta. Também não adiantou nada. Até que minha vó Olina me levou na romaria de Nossa Senhora Medianeira. A primeira romaria das dezenas que eu iria comparecer depois durante toda minha vida. Lembro que fui todo de branco, com enormes asas de anjo. Carregando uma vela de quase um metro de altura. Minha avó me dizia que eu rezasse com fé. Que aquelas vozes, aquelas visões de fogo iriam desaparecer. E que eu jamais iria sentir medo da noite. As vozes realmente sumiram. Nunca mais tive medo. E quando me perguntavam se eu ainda enxergava fogueiras, labaredas, eu mentia. Porque eu continuei a ver aquele fogo durante alguns anos. Eu não queria decepcionar minha avó e nem a santinha. E nem queria que me chamassem de louco. Até que um dia – como num passe de mágica - nunca mais enxerguei nada. E até hoje durmo que nem uma pedra.