Acabo de reler um livro – comprado
em 2012 – escrito por uma enfermeira australiana chamada Bronnie Ware. Sua
especialidade : era acompanhante de pacientes terminais. Geralmente, fazia
companhia em suas próprias casas a essas pessoas que sabiam que estavam
marcadas para morrer. E durante esses plantões e essas conversas, ela – entre
outras coisas – fazia cinco perguntas básicas. Colecionou as respostas.
Compilou e tabulou os dados. Comentou. E disso tudo resultou um livro chamado : “Os Cinco Maiores Arrependimentos à Beira da
Morte”. Para variar, a editora
brasileira traduziu o título para : “Antes de Partir”...
Quais foram os cinco maiores
arrependimentos que os doentes confessaram quando estavam prestes a morrer ?
Disparado, em primeiro lugar, o primeiro
arrependimento foi este : “Eu
gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira para mim, e não a
vida que os outros esperavam de mim. “
Os outros quatro arrependimentos, pela
ordem citada no livro, foram :
“Eu gostaria de não ter trabalhado tanto.”
“Eu gostaria de ter tido a coragem de expressar
meus sentimentos.”
“Eu gostaria de ter mantido contato com meus
amigos.”
“Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz.”
Eu fico imaginando – entre os leitores –
quantos estão trabalhando em serviços ou profissões que detestam. Ou jovens
universitários que optaram por um curso superior e, já estando na metade do
mesmo, apesar de sentirem que não são talhados para aquela profissão, lhes
falta a necessária coragem para desistir e tentar novo vestibular. Ou pessoas
que estão vivendo casamentos de mentira, de fachada, onde o amor há anos já
fugiu pela janela, mas não há a ousadia para chutar o balde, mandar tudo às
favas e tentar a felicidade novamente. Em nome de que ou de quem essas
pessoas sacrificam suas vidas, crucificam seu futuro ?
Eu fico imaginando os viciados em
trabalho, ano após ano, década após década. Tirando talvez apenas meia
dúzia de dias de férias por ano. Tudo em nome da empresa, do capital, dos bens,
da ânsia de amealhar. Perdendo o convívio do crescimento dos filhos e netos. As
festinhas no colégio. As pescarias. As conversas descompromissadas na praia.
Tudo em nome da conquista do dinheiro, do poder, da liderança. Morrer
enforcado numa gravata sem ser super-herói do próprio netinho.
Eu fico lembrando dos que morrerão
sozinhos. Com poucos ou nenhum amigo. Os que nunca transigem. Não pedem perdão.
Não se desculpam. Jogam os melhores amigos fora por frivolidades.
São capazes de cortar amizades por causa de partidos políticos. Brigam e
odeiam motivados por lideranças corruptas muitas vezes. Quem nem
suspeitam de suas existências. Matam por torcidas organizadas. Por motivos
fúteis.
Não visitamos mais os amigos. Alguns nem
se cumprimentam nos elevadores. Outros baixam a cabeça na rua para não
perder tempo numa conversa de dois minutos. Ninguém mais telefona para
cumprimentar pelo aniversário. Chegam ao hospital para visitar o doente já
avisando que só podem ficar dois minutos.
Um dia estaremos na horizontal. Num leito
de hospital. Frágeis. Talvez com dores lancinantes. Tudo que iremos querer é
uma mão amiga. Um rosto amado. Palavras de consolo. Ou um silêncio cúmplice de
companhia.
Vamos ser assim como os outros
...enquanto é tempo ?