O século XX foi uma época de
cobrança de desempenho... pais e professores se tornaram - na melhor das boas
intenções - algozes dos filhos e alunos, cobrando-lhes sucesso a qualquer
preço. A gente era obrigado a buscar (e alcançar) o sucesso. Ser reprovado no
vestibular, por exemplo, era um satânico fracasso. Por isso, o grande número de
ansiosos e angustiados na minha geração. Já neste século XXI surge depressão
precoce, a tristeza, a apatia, o desânimo, a piedade de si próprio... mesmo
naqueles jovens e adultos que têm todas as condições materiais resolvidas.
Apareceu uma coisa dantesca e desconhecida no mundo civilizado: a depressão
infantil. Por isso, o grande número de jovens no ensino médio e universitários
que sofrem de... digamos... melancolia. Eu me encorajo a dizer: se algum de
vocês passa por sentimentos semelhantes a esses - que são emoções paralisantes
– procure ajuda sem medo algum, sem preconceito algum. Procure um psicólogo ou
psiquiatra de sua confiança e faça terapia. Se não tiver um plano de saúde ou
não tiver condições financeiras de pagar o profissional, procure os
ambulatórios dos cursos de Medicina e de Psicologia em que existem estágios
onde os alunos recém-formados estão fazendo especialização ou mestrado nessa
área, com supervisão de seus professores de renomada competência. Nestes locais
você fará terapia gratuitamente.
Não existe ressonância magnética
nem tomografia computadorizada que diagnostique a infelicidade. A tristeza. O
mau humor. A melancolia. O aperto no peito produzido por uma paixão não
correspondida. A gente não pode entrar numa farmácia e comprar um quilo de bom
humor. Ou quinze centímetros de felicidade. Mesmo porque a felicidade não existe.
A felicidade vai. E vem. A felicidade é peregrina! O que nós temos são momentos
de felicidade. Entremeados de momentos neuróticos. O resto é ficção científica.
E a terapia pode ensinar isso a quem ainda não percebeu que a Vida não é um
permanente mar de rosas.
Lembrei de escrever sobre isso ao
rever o filme “Clamor do Sexo”, feito há 60 anos. É um filme sobre a
família e seus conflitos. Sobre o amor e sexo entre os jovens. Pais que são
contra namorados dos filhos. Professores e pais que jamais aprenderam a ajudar
seus filhos e alunos. Famílias que eram ricas e a depressão econômica tornou
pobres. Mas o que mais me chamou a atenção no filme é uma cena melancólica. Os
dois namorados, cujo amor não deu certo por causa de múltiplos fatores, se
encontram muitos anos depois. E é uma decepção total. O grande objeto de desejo
de outrora não significa absolutamente mais nada. Tudo terminou. Eles estão
secos por dentro. São estranhos. É um encontro pungente. Que remete à solidão.
À melancolia. Os mais jovens experimentarão esta mesma sensação futuramente.
Pode ser com uma colega de infância. Uma namoradinha que ocupou nosso cérebro e
nossa alma com sofreguidão. Uma colega de faculdade. Pessoas que foram
importantes no nosso mundo afetivo. Passam-se os anos. E ao rever aquela pessoa
que deixava nosso coração em chamas, ela se transforma num borrão na paisagem.
Não nos diz mais nada. Tudo virou uma oceânica decepção.
E a gente vira as costas.
E saí caminhando. Passos lentos. Olhar
perdido.
Uma ardência no peito.
E uma certa estupefação diante do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário