Pois minha amizade com o Pedro Mauá Duarte
Pinto Freire Jr - conhecido tão somente por Freire Jr - durou coisa de meio
século. Desde os tempos gloriosos do mais famoso bar/restaurante que já teve
Santa Maria nas décadas de 60/70 : o saudoso MOBY DICK !
Depois das minhas aulas na UFSM e cursinho
pré-vestibular (e ele, depois do trabalho na Câmara de Vereadores ou dos
ensaios no teatro), nos reuníamos TODAS as noites no Moby Dick para comer o
famoso bife à milaneza do Cláudio. E tomar chope. E ali ficávamos a
discutir poesia, teatro, declamar, recitar, discutir acontecimentos sociais do
país.
Foi ali que, sob a liderança do Freire, se
formou o GVC - Grupo de Vanguarda Cultural, formado pelo T. Genro, J.
Nascimento, T. Trevisan, D. Agostini, J. Pizarro, E. Pacheco, Z. Pujol, L.
Entges, C.A. Robinson, A. Costa e outros. O GVC chegou a publicar várias
edições de uma revista cultural, produziu recitais de poesias, concursos de
oratória.
O grupo se desfez ao natural depois que seus
membros se formaram nos seus cursos superiores e foram tocar a vida. Muitos já
eram noivos. Outros tinham casado e estavam trabalhando. Outros eram de fora de
Santa Maria e, uma vez formados, regressaram às suas cidades de origem.
Mas minha amizade com o Freire continuou para
toda a vida. Fui professor de Biologia no curso pré-vestibular dos dois filhos
dele e da Ivone, que era proprietária e professora da concorrida e famosa
escola de ballet que levava seu nome. Fui durante anos cronista dos programas de
rádio do programa do Freire : ele me telefonava e eu fazia o comentário
pelo telefone onde eu me encontrasse, mesmo fora de Santa Maria.
Em 2006, eu e o Freire planejamos ensaiar e
apresentar uma peça de teatro : apenas dois atores, que faziam o papel de dois
homossexuais. A peça tem um ato só, de 70 minutos, com os dois sentados num
banco de praça, à noite, conversando. Era de autoria do Edward Albee e se
chamava "O Zoológico". Chegamos a ler juntos o texto por mais de uma
vez. Ele estava me ensinando a chorar em cena. Palavras dele : “Chorar é mais
fácil do que rir em cena...eu te ensino a chorar, vai ser fácil porque tu és um
sentimental e deixa que eu dou as risadas”.
Freire, às gargalhadas, me dizia :
"Vai ser o maior sucesso teatral de S. Maria...e também um
escândalo, eu uma bicha velha e histérica e tu fazendo o papel duma bicha gorda
e escandalosa ! A cidade vai falar horrores de nós. “
Infelizmente, Freire faleceu em 2007, vítima de
complicações pulmonares advindas do tabagismo. Fui visita-lo dois dias antes de
sua morte. Nas vésperas de levar à cena sua peça de número 100, deixou a cidade
culturalmente mais pobre. E os amigos íntimos aflitos. Saudosos. E
melancólicos.
Além de ter perdido meu rico amigo, perdi a
minha única oportunidade de ser ator !
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