Luiz Glênio Bastos Soares, saudoso Juiz
de Direito na Comarca de Santa Maria, foi meu grande amigo desde criança.
Fui amigo de toda a sua família. Sua mãe, de nome Maria Soares, era
uma famosa cabeleireira em nossa cidade nos aos 50/60. Era uma mulher
ativa, loquaz, vibrante, com enorme círculo de amizades. Seu pai, Teodoro
Brandes Soares, trabalho por décadas a fio na Viação Férrea onde se aposentou no
setor administrativo. Luiz Glênio tem uma irmã, de nome Vera, notável pianista,
compositora e arranjadora, muito conhecida no mundo artístico da cidade.
Tanto eu era companheiro do Glênio e me
dava com a família toda que me recordo dos diversos locais onde moraram :
Andradas (quase na esquina do Colégio Sant*Anna), por muitos anos na Vila Belga
e, depois, na rua 7 de Setembro (perto do Clube Esportivo). Lembro quando o
Luiz Glênio desistiu de ser escoteiro quando menino. E como eu estava
entrando para a então chamada Tropa de Escoteiros Henrique Dias, minha mãe
comprou da D. Maria Soares todo o uniforme do Glênio e demais petrechos
(mochila, cantil, faca de mato, bastão, lenço, cinturão, divisas, meias,
etc...), servindo esta tralha toda de meu glorioso presente de aniversário
naquele ano.
Eu e o Glênio fomos adolescentes e
universitários juntos, em cursos diferentes. Frequentamos as reuniões e bailes
do Caixeiral e Comercial. Ele era cantor de conjuntos musicais da cidade.
Cantava admiravelmente bem em inglês. Foi também um notável contador de
“causos” e piadas. Caminhávamos horas a fio pelas avenidas e ruas de Santa
Maria observando as coisas. Declamando poemas e crônicas. Falando de namoradas.
Traçando planos para o futuro. Imaginando coisas.
Luiz Glênio fez parte, em 1968, a convite
do meu inesquecível amigo e ator Pedro Freire Junior, do Teatro Universitário,
inaugurado pelo embaixador Paschoal Carlos Magno nos porões da Casa do
Estudante, à rua Professor Braga, onde anos depois funcionou a boate
(catacumba). Anos depois também o mesmo Paschoal iria inaugurar o teatro da
USE, na rua do Acampamento, que levou seu nome, de efêmera duração.
Ali na Casa do Estudante, o Teatro
Universitário dirigido pelo Pedro Freire apresentou dezenas de peças. E
uma delas foi justamente o “Auto da Compadecida”, criação de Ariano Suassuna,
glória da inteligência nacional, num dos seus mais férteis e talentosos
momentos de criatividade. Originalmente escrita para o teatro, esta comédia foi
levada às telas em 2000 sob a direção de Guel Arraes. A peça conta
a história de “João Grilo”, um sertanejo muito pobre e mentiroso. E
também de “Chicó”, que vivia enganando todo mundo. No cinema, o “Chicó
foi vivio pelo ator Selton Mello.
Pois o papel de “Chicó”, no Teatro
Universitário de nossa cidade foi entregue ao Luiz Glênio Bastos Soares, então
estudante de Direito da UFSM, onde veio a se formar em Direito em 1968. A
peça teve de ser encenada várias noites seguidas porque o público dava
gargalhadas homéricas do desempenho dele nesta peça. Foi uma coisa
extraordinária !
Luiz Glênio foi morar em Porto Alegre onde se aposentoucomo desembargador . Depois de décadas de convívio, perdi meu amigo de
vista. Até que no dia 23 de abril de 2007 tomei uma bofetada na cara com a
notícia : a morte do meu amigo. Por uns minutos pensei que poderia ser mais uma
piada dele. Ou mais uma brincadeira do “Chicó” para enganar os amigos.
Mas era uma dolorosa verdade.
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