Existem palavras nunca usadas.
Ou poucos conhecidas. Ou totalmente ignoradas.
A palavra LOTÓFAGO é uma
delas. Ainda mais porque está relacionada à Mitologia Grega, tema que as novas
gerações ignoram ou nunca dela tomaram conhecimento, infelizmente.
Os LOTÓFAGOS constituíam um
povo, habitante de uma ilha da África Setentrional, que se alimentava de flor
de lótus. Estas flores tinham um princípio ativo de efeito sonífero,
narcotizante, produtor de um manso sono aos habitantes da referida ilha.
Na celebérrima ODISSÉIA, de
Homero, Ulisses aporta a essa ilha, desembarca e come lótus. Ele e toda a
tripulação, como consequência da ingestão do lótus, fica acometida de
permanente amnésia. Todos esquecem totalmente seu passado. E ficam
com desejo de renascer.
Ah...se existisse lótus em
quantidade suficiente em nosso meio, multidões fariam uso da flor de lótus como
alimento. Esqueceriam os amores frustrados. Os atos inconsequentes. As traições
e ofensas. As palavras ditas em momentos impensados. Os rancores. As invejas.
As ambições desmedidas.
Todos teriam - zerada a
memória - chance de renascer para a felicidade.
Fiquei a cogitar sobre este
assunto porque este é um ano eleitoral. E muito em breve nossos lares serão
invadidos por promessas mirabolantes através da mídia. Mesmo que a gente não
aceite os santinhos dos cabos eleitorais nas ruas, mesmo que desliguemos o
rádio e a televisão, o som dos autofalantes entrará por nossas janelas com
palavras melífluas. Promessas inebriantes. Anunciando o paraíso.
Eu tenho nos meus arquivos as
centenas de recortes de entrevistas, panfletos, santinhos, plataformas e
assemelhados das últimas eleições municipais e estaduais. Até lhes afirmo
que memorizei quase todas de quase todos os candidatos. Vou lembrar algumas...
“Meu primeiro ato de governo
será acabar com as filas nas unidades de saúde com a contratação IMEDIATA de 50
médicos, 50 enfermeiros e 50 técnicos de enfermagem.”
“Abertura IMEDIATA do Hospital
Regional, mutirão fila zero, programa Mãe santa-mariense de apoio pré-natal e
às crianças recém—nascidas.”
“Cercamento eletrônico da
cidade para controlar o fluxo de veículos que entram e saem no município.”
Mais inúmeras promessas sobre
segurança, guarda municipal, construção de creches, núcleo de atendimento ao
professor, recuperação das escolas, etc...
Quanto à remodelação e obras
do calçadão, por exemplo, nosso jornal anunciou com destaque o início das obras
para 8 de janeiro, portanto, há 60 dias. Um excelente período para obras porque
não choveu e a cidade estava vazia. Foram retiradas as mudinhas de flores e as
grades de ferro nesse período. Agora começaram as aulas. O que dizem os
proprietários das lojas comerciais ? Os usuários do calçadão ? Os vereadores ?
Será que a população da cidade
anda ingerindo em sua água extrato de flor de lótus ?
E ficou esquecida, zonza,
abobalhada e...”feliz” ?
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