Meus amigos mais antigos sabem que –
desde os bancos escolares – meu poeta predileto foi o Augusto dos Anjos. Nasceu
em 20 de abril de 1884 no município de Cruz do Espírito Santo, Paraíba.
E faleceu em 12 de novembro de 1914 em
Leopoldina, Minas Gerais. Já perdi o número de vezes que comprei o seu livro
“EU” para dar de presente a amigos. O meu exemplar de “Eu e outros
poemas” está cuidadosamente guardado, encadernado que foi por um querido
amigo padre palotino, exímio nesta arte livreira.
Ouso dizer que treino minha memória, uma
das raras capacidades que a Natureza me deu, guardando e decorando os poemas do
Augusto dos Anjos. Porque exigem muita concentração. E são repletos de milhares
de termos técnicos, geralmente ligados às ciências naturais e biológicas.
Um dos sonetos que adoro atende pelo singelo titulo de “VERSOS A UM COVEIRO” :
Numerar
sepulturas e carneiros
Reduzir carnes podres a algarismos
- Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros.
Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!
Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
dos tábidos carneiros sepulcrais
Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!
Reduzir carnes podres a algarismos
- Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros.
Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!
Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
dos tábidos carneiros sepulcrais
Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!
Existe uma
publicação brasileira onde estão definidas as “ocupações” referentes a
trabalho. E no que tange aos modernamente chamados “SEPULTADORES” (antigamente,
chamados coveiros), lá está : “constroem, preparam, limpam, abrem e
fecham sepulturas. Realizam sepultamento, exumam e cremam cadáveres, trasladam
corpos e despojos, fazem a conservação dos cemitérios, máquinas e ferramentas
de trabalho. Zelam pela segurança do cemitério” Na maioria dos cemitérios
públicos não existe a carreira ou função pública de sepultador. São auxiliares
de serviços gerais ou agentes de construção que executam essas funções.
E para fazer todas essas atribuições, qual a remuneração média
mensal de um sepultador nos cemitérios brasileiros ? Segundo o noticiário
da TV, nos cemitérios de SP ganham ao redor de 1000 reais mensais. Tive a
curiosidade de saber a situação em Santa Maria. Liguei para o Cemitério
Municipal e me informaram que só quem poderia dar informações era a
Secretaria de Obras. A moça foi taxativa :”Eu lhe dou uma informação e
depois sobra pra mim”. Confesso que não entendi o receio.
Liguei para a Secretaria de Obras onde fui gentilmente
tratado. Sem mistério algum me passaram o telefone do Sr. Vagner, titular da
Secretaria Municipal de Obras e este, em poucos minutos, me retornou a ligação
e todos os dados. Em Santa Maria, um sepultador ganha em média 1200 reais que,
acrescidos das demais vantagens, totalizam 1500 reais mensais. Agradeço
ao secretário Vagner pela rapidez e educação !
O papa Francisco fez menção na sua homilia da semana passada ao
trabalho importante e nem sempre valorizado desta categoria de trabalhadores.
Que são praticamente invisíveis na nossa sociedade. E que pretendi lembrar e
homenagear no dia de hoje com este registro.
Vivo fosse, o meu querido poeta Augusto dos Anjos, teria de
alterar o título do seu soneto para : “Versos a um Sepultador”.
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