segunda-feira, 7 de setembro de 2020

OS PÁSSAROS, A CATEDRAL E A PANDEMIA - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, pág.4 edição de 8.9.2020)

Para surpresa dos amigos antigos, tenho revelado uma obediência cega às recomendações médicas quanto à pandemia. E me submetido ao isolamento social preconizado para quem pode faze-lo. Sobretudo, se for do chamado “grupo de risco”. Onde me enquadro, pela idade e pelo sobrepeso. Assim é que, há mais de cinco meses não saio do apartamento. Salvo para fazer a barba de quinze em quinze dias, ainda antes do sol nascer, no Salão Venito. Pagamentos todos com débito em conta. Rancho e compras eventuais minha mulher faz com meu filho. De onde tirei a resiliência necessária para esse exílio ? Longe dos netos, filhos, amigos queridos, conversas no calçadão, cafezinho na lancheria do meu amigo Ildo, mega sena na lotérica da Galeria Roth ? Minha mulher me dá todo suporte possível em casa. Mas me socorro de boa música contínua durante todo dia. Geralmente sintonizo pela ALEXA a rádio NOVA BRASIL FM ou a rádio ANTENA 1, excelentes em música ambiental. Ou quando escrevo, escuto música celta para meditação. Leio muito. Organizo arquivos de fotos, recortes, documentos. Escuto no mínimo dois filmes por dia pela NETFLIX. No final da noite, é sagrada meia hora de meditação e orações antes de dormir. Uso muito a internet. Tenho dois blogs pessoais para alimentar. Participo como moderador, a convite do meu amigo Dr. Norton Soares Gomes, de dois grupos de fotos e vídeos de Santa Maria e Porto Alegre. Converso com muita gente. Faço muitas postagens. Mas para conservar minha saúde mental dentro de limites aceitáveis não entro em controvérsias de modo algum. Assim é que, mesmo provocado, não comento, respondo ou posto nada sobre política, religião e futebol. E quando o vivente invade deseducamente a privacidade da minha “linha do tempo”, no caso do facebook por exemplo, para destilar grosserias ou insistir em pregações que possam agredir a mim ou a terceiros, eu não respondo. Apenas deleto e bloqueio o mesmo. E me sinto sem remorso algum. Porque jamais cometi essa grosseria com os outros. Duas vezes por semana o Wiliam Bernardi, meu competente fisioterapeuta, vem aqui em casa para duas puxadas sessões de uma hora cada para evitar perda de massa muscular, já que não tenho saído para caminhar. Mais exercícios preventivos respiratórios, agachamentos, reflexos etc A fisioterapia, desde que feita por um excelente profissional - como é o caso - opera milagres. Tenho me sentido outra pessoa. Recomendo a amigos da minha faixa etária. Também fico parte do tempo nas janelas do apartamento, pois sou um privilegiado. Moro em frente à casa da família Mariano da Rocha, à rua Venâncio Aires. Vejo o lindo paredão dos morros e sua vegetação. Às vezes com sol brilhando. Outras vezes, coberta de densa cerração. Vejo a cada amanhecer centenas e centenas de garças, aos bandos, que voam na direção oeste-leste (desconfio que vão em direção à barragem do DNOS ou a açudes na zona para lá de Camobi). Acordo com uma sinfonia de passarinhos a cantar. Com o frio eles andavam meio calados. Começaram de novo esta semana, aos poucos, a ensaiar seus lindos e envolventes trinados. Que são hinos de amor à vida em meus ouvidos. E que me enchem de esperança de uma futura primavera cheia de novas notícias. Talvez – quem sabe – até com a chegada da esperada vacina definitiva e comprovada que acabe a pandemia. E que me permita um retorno seguro ao abraço dos netos. Ah...daqui também vejo as torres lindas da nossa Catedral. Onde fui batizado, crismado e me casei. E muito provavelmente onde mandarão rezar a missa pelo meu sétimo dia...

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