sábado, 3 de outubro de 2020

ARMANDO VALLANDRO E A COOPERATIVA DOS SERVIDORES DA UFSM - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - Caderno MIX - Seção MEMÓRIA - edição 3.10.2020)

Quando casei em 1966 aluguei uma casa à rua Duque de Caxias, a poucos metros da praça da CORSAN e da casa onde residia o meu ex-professor Adelmo Simas Genro. Era um corredor com várias casas. E todas as casas eram de propriedade da dona Guilhermina Arens e seu esposo. Na primeira casa, de alvenaria, morava o filho único da dona Guilhermina, de nome Ernesto Arens, casado com Ruth Lippold, filha do casal Fritz e Elza Lippold, tios da minha esposa. Fiquei muito amigo do Ernesto, que era formado em Administração e professor na UFSM. E que tem relação com a história que passo a contar hoje. Eu trabalhava em três empregos quando casei. E seis meses depois de casado fui contratado como professor da UFSM, já em 1967. Numa conversas casual, o Ernesto Arens me disse : “Funcionários da UFSM ligados aos setor administrativo e da contabilidade outros fundaram uma Cooperativa e tu podes te associar como professor e comprar gêneros, fazer rancho, descontar no salário no final do mês”. Foi assim que fiquei sabendo da existência essa entidade que desempenhou um papel tão importante na vida de tantas pessoas. E quero resgatar parte dessa história para os mais moços da cidade. A CRIAÇÃO A Cooperativa dos Servidores da Universidade Federal foi criada na década de 60 e instalada atrás do “Garajão” em 1967/68. Naquela época aquela zona era quase deserta, com raras construções ligadas à UFSM, pois existiam terrenos baldios na rua 24 horas e nos fundos da Antiga Reitoria, assim como na esquina com a Floriano Peixoto. Para fazer justiça à verdade, devo dizer que a ideia da Cooperativa nasceu na DCO - Divisão de Contabilidade e Orçamento da UFSM, hoje modernamente denominada DCF - Departamento de Contabilidade e Finanças. O grande idealizador foi Hélio Rodrigues da Silva, então Diretor da DCO, e que também revolucionou as iniciativas locais com a ADMINISTRAÇÃO/70, movimento que consolidou o Curso de Administração na UFSM. Outros dirigentes da UFSM que foram importantes devem ser registrados por uma questão de justiça nessa nossa terra tão sem memória : Walter Calil, Vinicius McGinity, Carlos Augusto Cunha, Ney Ramos Penna, Antônio Carlos Arbo, Antônio Carlos Machado, Ayrton Vallandro Marçal, Ernesto Guilherme Arens, Waldyr Pires da Rosa, dentre outros. Conheci todos, muitos dos quais infelizmente já falecidos. Mas desejo fazer uma especial e afetiva referência à enfermeira Ione Rocha Lobato que, enquanto pacientemente aguardava o término das obras do Hospital Universitário, dedicou sua capacidade e parte de seu tempo na consolidação da cooperativa. OS ASSOCIADOS Nos anos 60 a UFSM tinha no seu corpo técnico-administrativo 217 funcionários e 250 docentes. Mas tinha 900 operários de obras que trabalhavam como celetistas da UFSM na execução direta das obras, pois não haviam empresas empreiteiras contratadas. E tinham também os empregados da ASPES - serralheria, pedreira, marcenaria - contingentes de operários que faziam seus suprimentos ou pagando com “bônus”. Esses eram vales os famosos vales” com descontos em folha controlados severamente pelo Moacyr Rocha. A área do armazém da Cooperativa que fornecia secos e molhados, bazar, confecções, açougue e mercearia, estava sempre repleto de consumidores. AUGE DA COOPERATIVA Além do reitor Dr. Mariano, mais quatro outros membros da Administração Superior da UFSM foram essenciais: Hélios Homero Bernardi, Derblay Galvão e Armando Vallandro. Aliás, o Prof. Armando Vallandro foi um operário desta causa e o grande sucesso da cooperativa se deve a ele. Na área financeira deve ser feito um registro especial ao talento de Adelino Ribeiro de Moraes e seus auxiliares mais diretos, dirigentes institucionais tinham autonomia de gestão. Em relação à contabilidade da cooperativa deve ser feito um registro : o meu amigo Rubem Höher desempenhou durante muitos anos, voluntariamente, as funções de Contador da instituição. Até o momento em que os serviços e o movimento da cooperativa se avolumaram tanto que foi necessário profissionalizar a contabilidade, ocasião em que foi contratado o escritório de Luiz Carlos Lang. Também registre-se a participação inestimável de José Pereira Ritzel. Gerenciava a cooperativa o seu Homero, chefiava os caixas a Amábili, supervisionava o açougue e mercearia o Didi e no Escritório trabalhavam o Renato Höher, o Antônio Carlos Flores, o Capitão e o Décio Flores. As cobranças e a conciliação dos bônus e dos descontos em folha era supervisionado pelo controlador da folha de obras, o Bica. O FINAL A cooperativa não teve condições de sobrevivência quando suas relações comerciais foram equiparadas às redes de supermercados, quando o Trevisan abriu mercado na Uglione - Chevrolet ao lado da Reitoria - e as grandes redes nacionais começaram agredir o mercado. Coube, ao professor Vallandro as iniciativas de encerramento. Sem traumas, sem passivo, sem alarde emocional. Apenas uma história encerrada após cumprida com honradez seu propósito. Já era final da década de 1970.

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