terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

QUE SAUDADE PUNGENTE DA "JOVEM GUARDA" - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - edição de 8.2.2022)

"O futuro pertence à jovem guarda porque a velha está ultrapassada". Os ligados à política e à História devem conhecer a frase. Que é de autoria de Lenin. Mas não é desta jovem guarda quequero falar hoje. Baseada na expressão "Jovem Guarda" é que a TV RECORD, no ano de 1965, lançou um programa de auditório que iria revolucionar e influenciar uma geração inteira. A geração da qual eu fiz parte. A minha geração. A geração dos que têm 70 ou 80 anos hoje. Nas célebres reuniões dançantes do Clube Comercial e Caixeiral, em Santa Maria, a gente dançava de rosto colado ao som das baladas românticas do "rei" Roberto Carlos. Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa comandaram o programa “Jovem Guardas” nas saudosas “Tardes de Domigo” da Record. E se encarregavam de, além de cantar, apresentar todos os artistas que comungavam com eles o mesmo ideal. O programa teve a duração de três anos (terminou em 1968) e lançou dezenas e dezenas de cantores. Devem ser lembrados (além de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa) os seguintes cantores : Celly Campelo, Vanusa, Eduardo Araújo, Silvinha, Martinha, Arthurzinho, Ronnie Cord, Ronnie Von, Paulo Sérgio, Wanderley Cardoso,Bobby di Carlo, Jerry Adriani, Rosemary, Leno e Lilian, Demétrius, Os Vips, Waldirene, Diana, Sérgio Reis, Sérgio Murilo, Trio Esperança, Ed Wilson e Evaldo Braga. Faziam parte do movimento as bandas : Os Incríveis, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys e The Fevers. Não existia violência. Drogas. Rachas. Gangs. E o máximo que ocorria era se tomar uma ou duas doses de vodka com Cirillynha, o refrigerante famoso feito na cidade mesmo há pouco ressucitado. Rostos colados. Corações disparando. Dançar abraçadinho. Tudo às escondidas. Porque mães vigilantes estavam sentadas às mesas cuidando todos os movimentos. Dezenas de namoros começaram ali. Ao som da "Jovem Guarda". Muitos dos cantores já morreram. Outros caíram no ostracismo. Outros sumiram sem dar notícia. Roberto Carlos - num extraordinário exemplo de vitalidade e talento - continua sendo o "rei". Não mais agora da minha geração. Mas de todos os românticos do país. Assim também, muitos casamentos acabaram. Sonhos. Carreiras. Vidas. Amores. Muitos amigos morreram. Muita coisa acabou. Teimosamente sigo lembrando duma época em que o amor nascia ao som de uma canção. O romantismo existia. E o amor perseverava. Através de poemas. Cartas. Telefonemas. Doce espera nas portas dos colégios. Hoje tudo mudou. As pessoas fazem amor pelo computador. Chats. E-mails. Messenger. Web cam. Vídeos. Nudes. Quando se ama através de uma máquina é sinal que algo está errado. Ou então eu - que já fui da "jovem guarda" - estou ultrapassado. E não me dei conta que há anos já faço parte da "velha guarda". É bem possível. E melancólico. Por derradeiro : naquela época a gente saia dos bailes do Esportivo, no sopé do morro, de mãos com a namorada e pela rua 7 de setembro e avenida Rio Branco atravessava toda a cidade a pé até a presidente Vargas sem medo de nada e sem ser molestado na madrugada. Não haviam assaltos, estupros, violência. Quem tentar fazer algo semelhante hoje – andar algumas poucas quadras a pé em pleno centro da cidade – pode ser considerado um abençoado se não for assaltado. Que saudade das pacíficas madrugadas santamarienses de outrora...

2 comentários:

JOAO MARQUES disse...

E vero!

JOAO MARQUES disse...

Eu morava na Ernesto Beck, saia de madrugada a pezito, 4 da manha, la do Esportivo, levava uma namorada que saimos junto na Valdemar Rdrigues, la no fim da Floriano Peixoto, andava por toda cidade a pé. Qualquer hora, nunca fui assaltado..
Imagine hoje, com esse bando de zumbis movidos por Crack que imperam nas madrugadas dessa cidade.
Os brigadianos dem dupla andando a pé, ou a cavalo, coisas que nao se ve nunca mais.