segunda-feira, 4 de abril de 2022

Passos lentos. olhar perdido, ardência no peito - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - 5.4.2022)

Não deboche / agrida / brigue / ofenda seus colegas / amigos/ parentes / conhecidos /vizinhos por causa das eleições presidenciais. Com estas atitudes você não vai conseguir nada, a não ser inimizades / má vontade / distanciamento / desamor / solidão. Seja qual for o ganhador, eles jamais saberão da sua existência e de seus problemas. Tenha sua opinião / candidato / partido. Mas aceite que os outros também possam ter. Ninguém tem o monopólio da ética / moral / verdade. Portanto, é hora de pensar várias vezes antes de falar / escrever / vociferar ! Quase octogenário, não escrevo mais há décadas sobre política, futebol e religião. Mesmo porque existe gente muito mais preparada do que eu para tratar destes temas. Resolvi investir na saúde das minhas coronárias. Para conviver mais tempo com meus netos. E escrever sobre amenidades, O cotidiano. Contar coisas perdidas na memória. Reviver coisas. Falar até sobre filmes. Noite dessas – num dos canais da TV a cabo (acho que no Paramount) – assisti a um filme muito antigo O título era “Clamor de Sexo” (de Elia Kazan) e “Eva” (de Joseph Losey). Filme feito há mais de 60 anos, é sobre a família e seus conflitos. Sobre o amor e sexo entre os jovens. Pais que são contra namorados dos filhos. Professores e pais que jamais aprenderam a ajudar seus filhos e alunos. Famílias que eram ricas e a depressão econômica tornou pobres. Mas o que mais me chamou a atenção no filme é uma cena melancólica. Os dois namorados, cujo amor não deu certo por causa de múltiplos fatores, se encontram muitos anos depois. E é uma decepção total. O grande objeto de desejo de outrora não significa absolutamente mais nada. Tudo terminou. Eles estão secos por dentro. São estranhos. É um encontro pungente. Que remete à solidão. À melancolia. Os mais jovens que fazem leitura dos meus textos experimentarão esta mesma sensação futuramente. Pode ser com uma colega de infância. Uma namoradinha que ocupou seu cérebro e sua alma com sofreguidão. Uma colega de faculdade. Pessoas que foram importantes no seu mundo afetivo. Passarão os anos. E ao rever aquela pessoa que deixava seu coração em chamas, ela se transforma num borrão na paisagem. Não lhe diz mais nada. Tudo virou uma oceânica decepção. E você vira as costas. E saí caminhando. Passos lentos. Olhar perdido. Uma ardência no peito. E uma certa estupefação diante do mundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Professor. Tenho boas recordações do Sr. Eu era infantil e meu pai em São Gabriel ouvia o "Antes que a natureza morra" todos os sábados pela manhã. Não sei se pela Nativa ou Imembuí naquela época. De alguma forma seu nome veio e resolvi dizer que meu pai, ainda vivo, com 86 anos, tinha muita admiração pelo seu programa de rádio. Belos tempos. Um abraço e fique bem.
Holvery Bonilha, filho de Daury Souza Bonilha que o escutava como um apaixonado pela natureza como ainda o é até hj.