Vou relatar este episódio para que Santa Maria não o perca.
Principalmente as pessoas ligadas à UFSM. Professores, funcionários e alunos mais
jovens da instituição. Ocorreu em 1966. Há 52 anos.
Em frente ao planetário da UFSM, no campus, existe um conjunto de
ipês-amarelos. Que enfeitam o ambiente. Principalmente quando chega a
época da floração. Por que aqueles ipês estão ali ? Quem os plantou ? Por
que estão plantados naquela disposição ?
O primeiro nome da universidade era USM - Universidade de Santa
Maria. Anos depois é que passou a ser chamada de UFSM - Universidade Federal de
Santa Maria. O reitor-fundador Mariano da Rocha teve a ideia de plantar
ipês-amarelos naquele local. Pois, pelo plano diretor da então UFM, ali
deveria ser erguido o planetário da universidade, fato que se concretizou anos
depois.
Detalhe : o professor reitor Mariano da Rocha queria que as mudas
fossem plantadas numa disposição tal que formassem a sigla UFM. E assim foi
feito.
Com a mudança de nome anos depois para UFSM, novo arranjo foi
feito para que fossem introduzidas mudas grandes formando a letra
"F".
Numa fotografia aérea, ou numa visão feita a bordo de um
helicóptero da Base Aérea poderá ser vista a sigla UFSM quando os ipês-amarelos
estão floridos.
O plantio dos ipês-amarelos foi feito por alunos, professores e
funcionários do Curso de Agronomia, naquele tempo chamado de Faculdade de
Agronomia, dirigida pelo saudoso professor Ary Bento Costa.
Minha turma se formava em 10 de dezembro de 1966 e, na condição de
formandos fizemos o plantio junto com alguns professores. Recordo dos
professores presentes à cerimônia, além do professor-reitor : Erb Veleda (prof.
de Zootecnia), Armando Adão Ribas (prof. de Zoologia Agrícola, disciplina da
qual fui monitor e, anos depois, professor), Mário Bastos Lagos (prof. de
Fitotecnia e que foi paraninfo de nossa turma), Mário Ferreira (prof. de
Climatologia e Meteorologia), Dilon Lima do Amaral (prof. de Matemática e
Cálculo) e Santo Masiero (prof. de Botânica Sistemática).
Com a prodigiosa memória que o poderoso Deus me deu de presente (e
pela qual agradeço comovidamente todos os dias em minhas orações) sou capaz de
repetir, na íntegra, a bela peça oratória – feita de improviso – pelo Dr.
Mariano na ocasião. Fez uma alocução belíssima – entre poética e ecológica –
sobre a importância das árvores na vida dos homens.
De todos os professores citados, permanece vivo apenas o prof.
Santo Masiero, meu grande amigo e residente à rua Silva Jardim, entre a avenida
Rio Branco e Floriano Peixoto, em frente ao Banco da Esperança. Ah...eu também
estou vivo...
Fui ao campus semana passada buscar documentos para minha
declaração de Imposto de Renda. Pela janela do carro que me levou vi os ipês
que ajudei a plantar. A poucos metros a construção onde repousarão os
restos mortais do Dr. Mariano.
Pássaros cortavam o céu do campus. O dia estava mormacento. Duas
mornas lágrimas correram pelo meu rosto. O motorista perguntou se eu estava me
sentindo bem.
Sorri. E não respondi nada.
Um comentário:
Professor James Pizarro, fui teu aluno no cursinho Constantino, eu ainda era um bobalhão, mas não esqueço de tuas aulas. Hoje moro em Caxias, sou Cientista Político e não sou mais bobalhão. Quando eu for a Santa Maria, gostaria muito de poder falar contigo. Que belo texto. Não me fez chorar mas a emoção por imaginar os teus sentimentos foi grande.
Afonso Pires Faria.
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