Nos anos 70 aprendi a jogar
tênis nas quadras do ATC - Avenida Tênis Clube, de Santa Maria. E durante os
anos 80/90, praticamente todos os dias, passava as minhas horas de folga nas
dependências do clube, ora fazendo sauna, ora jogando tênis, ora fazendo
churrasco, ora jogando bocha. E os familiares juntos.
Na quadra número 1 jogavam
somente os tenistas veteranos. Na quadra 2, os "Seniors A". Na quadra
3, os "Seniors B". Nas quadras 4, 5 e 6, os juvenis, as mulheres e os
demais tenistas que não disputavam o ranking.
Grande número disputava por
puro lazer, entretenimento e pouco estavam se importando para o resultado da
partida. Já outros, principalmente entre os veteranos, se concentravam, dormiam
cedo, e entravam na quadra como se fossem disputar uma final em Wimblendon.
Lembro de dois exemplos : Jarbas Cunha e o médico Heitor Silva, coronel do
Exército, apelidado de "Fofo", pois assim o chamava sua esposa.
Lembro – exercitando apenas a
memória - de dezenas daqueles queridos amigos, a maioria deles já não mais
entre nós, o que enche meu coração de melancolia.
Anterinho Scherer, médico,
ex-prefeito de Cacequi, famoso por suas folclóricas histórias. Máximo
Knackfuss, professor do Curso de Engenharia da UFSM, que se emburrava facilmente
mas cinco minutos depois esquecia do motivo da zanga. Ênio Ferraz,
representante de laboratório médico, apelidado de "Nonô", que teve a
capacidade aeróbica tirada pelo tabagismo. Alberto Leitão, de pavio curto,
principalmente nos jogos de duplas, pois já no primeiro erro do seu companheiro
começava a reclamar. Arno Böhrer, era o alvo predileto das brincadeiras do
Jarbas Cunha e, ignorando sua avançada idade, jogava várias horas por dia. Abdo
Achutti Mothecy, farmacêutico, ex-jogador de basquete, dono de uma loja de
aviamentos militares - e também de cortinas - na praça Hector Menna Barreto
(ex- praça da República), mais conhecida por "pracinha dos
Bombeiros". De origem libanesa, Abdo foi casado com Tereza dos Santos
Mothecy, mais conhecida por "Terezinha" ou "Tereca". Lembro
que o térreo da loja do amigo Abdo era quase uma extensão do ATC, pois ali se
reuniam para tomar cafezinho os veteranos do clube, às vezes atrapalhando as
atividades comerciais do dono. O Abdo sempre foi generosamente um pacificador,
um aglutinador. Adorava pescarias e histórias antigas da cidade.
Adaí Bonilha, dentista, esposo
da também tenista, Dona Olga, que por muitos anos também foi professora de
tênis das crianças iniciantes. Álvaro Pfeifer, corretor de imóveis, professor de
Matemática, dotado de notável espírito de humor. Arno Werlang, juiz, diretor do
forum de Santa Maria, hoje desembargador em Porto Alegre, pai do Gerson Werlang
(integrante da banda "Poços e Nuvens" e professor universitário de
música). Arlindo Mayer, engenheiro, professor do Centro de Tecnologia da UFSM.
Armando Vallandro, grande jogador de basquete do passado, apelidado de
"Picolé", ex-reitor da UFSM. Alnei Prochnow, também professor da
UFSM, sempre alegre e disposto a uma brincadeira). Claudio Morais, coronel do
Exército. Dalmo Kerling, engenheiro, dono da Construtora Dikrel, que transferiu
depois residência para SC. Dalton Kortz, ex-funcionário da Livraria do Globo,
vendedor autônomo, hoje pastor metodista, talvez o mais brincalhão de todos.
Darkson Cunha, professor do Centro de Educação Física da UFSM. Evaldo
Morais, coronel do Exército, morador da faixa velha de Camobi, gostava de tocar
violão e cantar músicas de seresta).
Gerson Morais, funcionário da
agência central do Banco do Brasil, à avenida Rio Branco. Heitor Silva, campeão
de tênis do Exército Nacional, cheio de estilo até no caminhar, tinha
consciência exacerbada de que era um grande atleta. Jorge Merten, médico traumatologista.
Carlos Pithan, dentista e professor da UFSM). Luiz Carlos Lang, dono de
um reputado escritório de contabilidade, apreciador de vinhos chilenos. Luiz
Carlos Pistóia Oliveira, engenheiro e professor da UFSM. Luiz Carlos Morales,
advogado, hoje residindo em São Vicente do Sul. Luciano Rocha, cearense,
professor da UFSM, dentista especializado em Odontopediatria. Manoel Argentino
Sissy, oriundo de São Borja, de apelido "Fanha", notável contador de
casos. Manoel Vianna, dentista, professor da UFSM, também de pavio curto. Paulo
Roberto Oliveira, professor de Química da UFSM, ex-jogador de basquete. Simão
Sampedro, coronel do Exército, irmão do também tenista, Renan Sampedro,
professor de Educação Física da UFSM. Roberto Bisogno, dentista, radialista,
professor da UFSM, anos depois presidente do ATC. Roberto Leitão, engenheiro,
professor da UFSM). Eng. Lang, dono das piscinas "Golfinhos". Cel.
Bins, comandante da Base Aérea de Santa Maria). James Souza Pizarro, meu filho,
que foi um talentoso tenista da categoria infanto-juvenil e disputou alguns
torneios no RS defendendo o nome do ATC, na companhia de Álvaro Pfeifer, Máximo
Knakfuss, Roberto Bisogno e Arnaldo Valty (médico mineiro, oncologista, que
trabalhava no Serviço de Cobaltoterapia da UFSM).
Foram anos e anos felizes, com
jogos diários, seguidos quase sempre de churrascos. Infelizmente, com o passar
dos anos e no "curso natural dos acontecimentos" (como diria meu
amigo e colega de rádio, Joel Abílio Pinto dos Santos, já falecido), a morte
vai levando os companheiros. Outros se mudam de cidade ou de clube. Outros
simplesmente deixam de jogar. Outros, premidos pelas exigências profissionais,
se distanciam.
Dia desses, vendo minha
netinha Bethânia de 2 anos brincando na piscina do ATC, olhei para os lados e
dei falta de todos os meus amigos mortos. Tive de disfarçar rapidamente para
que ninguém percebesse que eu estava chorando.
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