sábado, 1 de fevereiro de 2020

CHICOTIM, UM CAIXEIRO-VIAJANTE EXEMPLAR - James Pizarro (DIÁRIO, Caderno MIX, edição de 1.2.2020)


Você sabia que até 1941 existiam apenas 48 quilômetros de estradas pavimentadas no Rio Grande do Sul ? E que, até 1930, só existiam 30 pontes em todo nosso Estado ?

Uma porção de curiosidades como estas, entremeadas de gostosíssimas histórias, além de dados estatísticos e considerações sobre a evolução dos costumes, são encontrados no livro “50 ANOS DE VIAGEM (trabalhos, peripécias e alegrias)”, de autoria de Francisco da Rocha Timm, mais conhecido pelo apelido de “Chicotim”.

O autor, nascido e 24 de julho de 1893, em São Pedro do Sul, é filho de Jorge H. Timm e Amélia Angélica Timm e casado com D. Alda Borges. Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro – eis os desejos de um homem – como diz o adágio popular.  Pois o Chicotim plantou muitas árvores. Tem três filhos : Jorge, cirurgião-dentista; João Renato, advogado e Juarez, bioquímico.

E aos 79 anos de idade, Chicotim escreveu um livro, um alentado volume de 300 páginas : “50 ANOS DE VIAGENS”. No qual retrata toda uma época através das viagens feitas pelo próprio autor.

Mário Napoleão, ao prefaciar o livro , escreveu :

“Apresentar Chicotim – meio século de viagens como caixeiro-viajante cruzando coxilhas e serras do pago gaúcho, deixando por onde passava marcada sua presença insinuante por gratas recordações que o faziam benquisto dos colegas, amigo conceituado dos seus fregueses, pelo correção dos seus atos e critério nas transações de seu comércio – julgo desnecessário escrever, pois ele é vastamente conhecido e considerado, um legítimo representante da classe”.

O livro é ilustrado por algumas fotografias antológicas. Pois não mostra o avião, o trem, o automóvel último tipo. Foi duro ser viajante naquela época como Chicotim foi. Viajando de carreta. Ou de Ford de bigode. Comendo arroz de carreteiro na beira da estrada. E inclusive correndo o risco de ser emboscado e assaltado em qualquer curva mais escura da “estrada”.

Infelizmente, nunca cheguei a conhecer pessoalmente o  Chicotim, mas apenas seus parentes.  Mas lhes afirmo que este livro – publicado em 1972 pela editora A Nação – talvez tenha sido uma iniciativa inédita na literatura cá dos pagos pois não  me recordo que (pelo menos até 1972) algum caixeiro-viajante tenha escrito um livro de memórias.

Como encontrei este livro em 1972 ? Nas livrarias ? Não. Ele me foi presenteado pelo Dr. Luiz Osvaldo Coelho, médico e professor aposentado da UFSM, onde foi diretor da Faculdade de Medicina, que é tio dos meus filhos e foi pediatra dos  mesmos. O Luiz Oswaldo, que é parente do Chicotim, disse que eu gostaria do livro pois sabia que gostava de livro de memórias. Logo depois de devorar o livro, escrevi uma crônica sobre o mesmo que foi publicada no jornal A RAZÃO na edição do dia 22.12.1972. Chicotim enviou amável carta agradecendo a minha publicação.

O livro pode ser encontrado nas bibliotecas. E segundo pesquisei na internet, existem exemplares à venda nos sebos do país, como na Estante Virtual e SeboBis, para os interessados.

Sempre nutri verdadeira admiração pela classe dos caixeiros-viajantes. Pelo singular e difícil trabalho que exerceram. Roubavam precioso tempo das suas famílias para empreender suas longas viagens. Algumas delas perigosas. A própria SUCV -  Sociedade União dos Caixeiros Viajantes – com seu lindo prédio à praça Saldanha Marinho lembrada importância que a classe teve em nosso RS.

Mas o tempo, em sua marcha inexorável, vai avançando. Mas livros como o de Chicotim nos deixam essas doces lembranças.

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