segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

ECOLOGIA, UM RESGATE HISTÓRICO - James Pizarro (DIÁRIO, pág. 4 de 11.02.2020)

Em 1983, a Secretaria Especial do Meio Ambiente, conhecida pela sigla SEMA, era uma subsecretaria colocada dentro do Ministério do Interior. Seu ativo titular era o Dr. Paulo Nogueira Neto, que foi cedido para o governo federal pela USP - Universidade de São Paulo, onde era fundador e titular da cátedra de Ecologia.

Fiquei muito amigo do Dr. Paulo Nogueira Neto ao longo  dos anos por várias razões. À convite dele, várias vezes fui a Brasília participar de simpósios e seminários sobre meio ambiente, algumas vezes até como palestrante sobre “Educação Ecológica pelo Rádio”, pois o Dr. Paulo era admirador do meu trabalho pioneiro na Rádio Universidade da UFSM  com o programa “Antes que a Natureza Morra” que ficou quase 30 anos no ar. Ele inclusive, numa época de poucos recursos na emissora, fez uma doação ao meu programa de 400 fitas BASF de rolo de duas horas de gravação cada para que o programa pudesse manter sua memória.
Por determinação da SEMA, em maio de 1983 foi decretado que todas as prefeituras brasileiras deveriam comemorar, de 1 a 7 de junho, a “Semana Nacional do Meio Ambiente”. Em Santa Maria, fui convidado pelo prefeito Dr. José Haidar Farret para coordenar, planejar e fazer realizar este evento. Resolvi aceitar o desafio uma vez que certa parcela da comunidade e da imprensa acusava os ecologistas de apenas criticarem e jamais executarem algo de prático.
Passei cerca de 20 dias arregimentando forças. Pretendo lembrar de todas aqui. Direção, funcionários e alunos do SENAC deram notável apoio, confeccionando belíssimo cartaz com a programação, horários, local e nome dos palestrantes. Ainda fizeram as vezes de recepcionistas no Centro de Atividades Múltiplas, local do evento, 12 moças elegantemente trajadas, alunas do Curso de Recepcionistas do SENAC.
Os escoteiros da Tropa Henrique Dias distribuíram 10 mil folhetos convidando a população (folhetos pagos pela Prefeitura Municipal e distribuídos nas ruas, avenidas e nas escolas, de sala em sala de aula).
Meus alunos da disciplina de Ecologia dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e Engenharia Florestal ministraram dezenas de palestras nas escolas municipais e, junto com os escoteiros da Tropa Henrique Dias, plantaram dezenas de mudas de árvores ao longo do Parque Itaimbé, muitas delas transformadas hoje (37 anos depois) em frondosas árvores.
Durante as sete noites de palestras, cerca de 2000 pessoas lotaram completamente as dependências do Centro de Atividades Múltiplas, o popular “Bom-Bril”. Houve necessidade de que a Rádio Universidade instalasse caixas de som do lado externo do prédio para que cerca de 500 pessoas pudessem ouvir as palestrantes. O impressionante era o silêncio e a disciplina de todos.
Os palestrantes foram: James Pizarro ( “A Má Qualidade de Vida no Planeta”), José Salles Mariano da Rocha (“Desertos e Áreas de Desertificação no Rio Grande do Sul”), Gustavo Quesada (“Comunidades Agro-energéticas”), Horst Oscar Lippold (“Aspectos da Fauna Silvestre do Rio Grande do Sul), Dr. Arnaldo Walty ( “Câncer e Meio Ambiente”), Amaury Silva (“A Verdade sobre as Drogas”) e Mesa Redonda com os professores João Radünz Neto, Brandão, Ilka Bossemeyer e Paulo Ary Moreira (“Piscicultura e Aspectos Ecológicos da Água”).
Foi feito, como ato final, um plantio de árvores no centro da cidade, com a presença do prefeito municipal, José Haidar Farret, e grande número de autoridades, escolares, universitários e populares. Registro para a memória da cidade esta iniciativa, de intensa repercussão cultural, técnica, científica e popular. E numa época de incompreensões e injustiças resgato o papel histórico de apoio que a causa ecologista santa-mariense recebeu do Dr. José Haidar Farret.

Eventos dessa magnitude e dessa duração com tal frequência nunca mais se repetiram.

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