terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

QUANDO TUDO VIRA UMA OCEÂNICA DECEPÇÃO - James Pizarro (DIÁRIO, edição de 9.2.2021)

Noite dessas num programa de debates na televisão, foi dito que o século XX foi uma época de cobrança de desempenho. Que pais, professores e escolas se tornaram - na melhor das boas intenções - algozes dos filhos e alunos. Cobrando-lhes sucesso a qualquer preço. Os debatedores do programa diziam que a gente era obrigado a buscar (e alcançar) o sucesso. Ser reprovado no vestibular, por exemplo, era um satânico fracasso. Por isso, o grande número de ansiosos e angustiados na minha geração, segundo o programa. Lembraram das guerras dos vestibulares e cursinhos. Das disputas pelos melhores professores. E até pelo fornecimento de bolsas aos melhores alunos das escolas estaduais e particulares. Passou um filme pela minha cabeça. Pois vivi estas experiências todas. Na segunda parte do referido programa trataram do século XXI. E do surgimento depressão da precoce. Da tristeza. A apatia. O desânimo. A autopiedade. Mesmo naqueles jovens e adultos que têm todas as condições materiais resolvidas. Apareceu uma coisa dantesca e desconhecida no mundo civilizado: a depressão infantil. Por isso, o grande número de jovens no ensino médio e universitário que sofrem de depressão. Imagino que isso deva ter se agravado com a pandemia... Eu me encorajo a dizer : se você passa por sentimentos semelhantes a esses - que são emoções paralisantes – procure ajuda sem medo algum, sem preconceito algum. Procure um psicólogo ou psiquiatra de sua confiança e faça terapia. Se não tiver um plano de saúde ou não tiver condições financeiras de pagar o profissional, procure os ambulatórios dos cursos de Medicina e de Psicologia em que existem estágios onde os alunos recém-formados estão fazendo especialização ou mestrado nessa área, com supervisão de seus professores de renomada competência. Nestes locais você fará terapia gratuitamente. Tomar esta decisão é importante : investir em sua própria saúde para ser mais feliz ! Como estou em isolamento social desde fevereiro de 2020 me valho muito da TV, de música, meditação, escrevo, vejo filmes, séries, leio muito. Revi o “Clamor do Sexo”, feito há 60 anos. É um filme sobre a família e seus conflitos. Sobre o amor e sexo entre os jovens. Pais que são contra namorados dos filhos. Professores e pais que jamais aprenderam a ajudar seus filhos e alunos. Famílias que eram ricas e a depressão econômica tornou pobres. Mas o que mais me chamou a atenção no filme é uma cena melancólica. Os dois namorados, cujo amor não deu certo por causa de múltiplos fatores, se encontram muitos anos depois. E é uma decepção total. O grande objeto de desejo de outrora não significa absolutamente mais nada. Tudo terminou. Eles estão secos por dentro. São estranhos. É um encontro pungente. Que remete à solidão. À melancolia. Os mais jovens experimentarão esta mesma sensação futuramente. Pode ser com uma colega de infância. Uma namoradinha que ocupou nosso cérebro e nossa alma com sofreguidão. Uma colega de faculdade. Pessoas que foram importantes no nosso mundo afetivo. Passam-se os anos. E ao rever aquela pessoa que deixava nosso coração em chamas, ela se transforma num borrão na paisagem. Não nos diz mais nada. Tudo virou uma oceânica decepção. E a gente vira as costas. E sai caminhando. Passos lentos. Olhar perdido. Uma ardência no peito. E uma certa estupefação diante do mundo.

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