sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

"TIO BINÍCIO", UM VEREADOR LIGADO ÀS CAUSAS DO CAMPO - James Pizarro (DIÁRIO - Página MEMÓRIA, Caderno MIX,13.02.2021)

Conheci Binício Fernandes da Silva em 1988, quando eu e ele – por partidos diferentes – fomos eleitos vereadores em Santa Maria para a legislatura 1989/1992. Como a posse era em janeiro de 1989, no mês de dezembro de 1988, foi realizada uma reunião entre os vereadores para as explicações de praxe, detalhes do cerimonial, sorteio para ocupação dos gabinetes, distribuição de Regimento Interno e Lei Orgânica e outras providências. Os vereadores reeleitos disseram que queriam ficar nos gabinetes que estavam ocupando, e que o sorteio deveria ser feito apenas entre os novos vereadores. Os novos, ainda tímidos, não protestaram (pelo menos publicamente). Resmunguei para o vereador que estava sentado ao meu lado: “Mas isso é uma baita marmelada”. O vereador, a quem passei a chamar com o tempo de “Tio Binício”, me disse baixinho: “Eu acho que o certo era todo mundo entrar no sorteio, mas não vale a pena criar caso, vamos engolir essa.” Ouvi o sábio conselho dele e evitei um primeiro atrito. E no sorteio nossos gabinetes ficaram vizinhos. Outra grande coincidência: ele morava na mesma rua que eu, a Gomes Carneiro, bairro Menino Jesus, a menos de cem metros da minha casa e não nos conhecíamos! Nascia ali uma grande amizade, apesar de adversários políticos. Binício sempre foi ligado às causas rurais, à vida campesina, originário do distrito de Pains. Casado com a Olga, teve quatro filhos: Renato, Luiz Carlos, Vera e Dirce. O assessor de gabinete do Binício tinha sido meu aluno do cursinho pré-vestibular e é um grande amigo, talentoso advogado, Jânio Antônio Farias Rossi. Durante os quatro anos da vereança, eu e o tio Binício tomávamos chimarrão, ora no gabinete dele, ora no meu, para discutirmos problemas dos projetos-de-lei e das comissões da casa, assim como para pedir informações sobre temas que a gente não conhecia bem. Enfim, era uma amizade séria e fecunda. CAUSA RURAL No final da década de 1950 e início dos anos 1960, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (Sitrusma) foi constituído juridicamente, a classe dos trabalhadores rurais passa a ser amparada com muitas conquistas graças ao trabalho do “Tio Binício” que presidiu o sindicato durante mais de vinte anos. As pessoas ligadas à categoria sabem que, àquela época, associados pressionaram “Tio Binício” a se candidatar à vereança diante do belo trabalho que vinha fazendo no sindicato. Ele se candidatou e se elegeu. Sou testemunha de que todas as reuniões, comissões ou viagens que envolvessem comunidades rurais, vinculadas ao homem do interior e às lides campesinas, sempre tiveram a presença incansável do saudoso amigo. Eu poderia elencar aqui neste relato uma série de projetos, viagens, audiências, depoimentos do meu amigo sobre diversos episódios da área rural naquele período. Mas não sou historiador. Sou memorialista. Gosto de discorrer sobre fatos que vivi e falar ao sabor das emoções que as lembranças dessas pessoas me trazem. FIM DA LEGISLATURA No meu discurso de despedida da Câmara – fui candidato à reeleição e não logrei êxito – já no mês de dezembro pouco antes do Natal (nem meu assessor na época ficou no plenário para se despedir de mim), fiz um agradecimento a todos os funcionários da Câmara de Vereadores pelo carinho com que sempre fui tratado e aos demais colegas vereadores. O vereador Binício Fernandes da Silva ao se despedir (ele não se candidatou à reeleição) fez uma emocionada declaração a meu respeito. Mesmo não sendo do meu partido. A todos os descendentes do “Tio Binício”, o meu registro de gratidão e minha homenagem a este homem de grande coração!

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