sábado, 20 de março de 2021

HOMENAGEM AO "EXÉRCITO DE BRANCO" QUE SE DEDICA AO CUIDADO DE TODOS NÓS - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, seção MEMÓRIA, edição de 20.3.2021)

Para que os mais jovens possam entender, antigamente a maratona da vida escolar seguia este cronograma sequencial : curso Primário (5 anos), curso Ginasial (4 anos) e curso Científico (3 anos). Depois, os cursos primário e ginasial se fundiram pra formar o hoje denominado Ensino Fundamental, enquanto o curso científico passou a ser chamado de Ensino Médio. Eu estudei o curso primário no Grupo Escolar João Belém quando este funcionava ainda no prédio onde hoje funciona o Colégio Estadual Manoel Ribas. Fiz o temido exame de “Admissão ao Ginásio” e permaneci no mesmo prédio, com a fundação do MANECO. Por que fiz este preâmbulo todo para tratar do assunto de hoje ? Porque tenho bem clara na minha memória a importância que a escola, os professores, os governantes, enfim - as autoridades em todos os escalões da República – tinham da necessidade imperiosa de cuidar com carinho da saúde do aluno ! No final da década de quarenta, início dos anos 50, lembro perfeitamente que numa certa época do ano estacionava em frente ao colégio um vistoso ônibus branco, com a cruz vermelha pintada e no seu interior tinha uma aparelhagem de raio-X. E todos os alunos faziam fila para fazer a sua abreugrafia, radiografia dos pulmões tirada por um método barato inventado por um médico brasileiro chamado Manuel de Abreu para detectar, prevenir e tratar a tuberculose. Isso há 70 anos !!! No MANECO, por exemplo, para praticarmos ginástica ou qualquer tipo de esporte coletivo, o professor de Educação Física fazia a ficha de peso e altura, mais dados pessoais e encaminhava o aluno para os médicos da escola (lembro dos saudosos Paulo Lauda e Miguel Sevi Viero). Cada aluno tinha pressão medida, pulmões auscultados, ficha médica preenchida, finamente liberado. Se tivesse algum problema de saúde a família era chamada à escola para falar com o médico. Os professores orientavam os alunos sobre a necessidade de vacinação (catapora, varíola, paralisia infantil, etc...). E era comum a população encontrar pelas ruas e calçadas da cidade diariamente centenas de filas de pequeninos alunos de mãos dadas, cuidados por zelosas professoras, sendo conduzidos ao Centro de Saúde número 7, que funcionava – naquela época - à rua do Acampamento, onde hoje funciona a sede da Sociedade Italiana. Ali, responsável pela sala de vacina, esteve - durante mais de 40 anos – o enfermeiro Alfeu Pizarro, meu saudoso pai, que vacinou muitas gerações de santa-marienses. Os pais e professores procuravam espontaneamente a vacinação. Seria inimaginável – naqueles tempos – se pensar em movimento antivacinal... Na rua Daudt, transversal da avenida Rio Branco, num terreno doado pelo farmacêutico e literato João Daudt de Oliveira, foi construído o Dispensário, órgão vinculado à Secretária da Saúde do RS, que tratava de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), naquela época chamadas de “venéreas”, além de outras doenças como hanseníase, etc...As profissionais do sexo eram lá atendidas e medicadas com todo respeito há mais de meio século. Ao rememorar este trabalho dos médicos e paramédicos da minha infância e juventude, nestes tempos duros de pandemia, quero registrar publicamente meu profundo agradecimento a este exército de branco que se encontra extenuado, tenso, com uma sobrecarga desumana de trabalho, nem sempre recompensados financeiramente como deviam, arriscando-se diariamente por nós na linha de frente. A todos vocês, desejo que Deus lhes dê glória alta e compreensão entre os homens !

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