sábado, 10 de abril de 2021

GARAJÃO DA UFSM E O TRANSPORTE GRATUITO DE ESTUDANTES - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, Seção MEMÓRIA, 10.4.2021)

Prestei vestibular para a então chamada Faculdade de Agronomia da UFSM em janeiro de 1963. As provas foram realizadas no prédio da Antiga Reitoria, na rua Floriano Peixoto. Quatro disciplinas eram exigidas em prova escrita: Língua Portuguesa (uma redação, correção de 10 frases e análise sintática), Biologia, Química e Física. Três disciplinas ainda tinham prova oral. Enquanto aguardava em pé, no corredor do segundo andar do prédio a chamada do meu nome para prestar o exame oral, pela primeira vez observei com atenção pela janela aquela construção de metal situada à rua Astrogildo de Azevedo, contígua ao prédio da Antiga Reitoria. Aprovado no vestibular, vim a saber que se tratava do famoso “Garajão”. Tema sobre o qual me debruço hoje. O saudoso reitor Dr. José Mariano da Rocha – entre tantas medidas pioneiras que teve – estabeleceu uma linha regular de ônibus entre o campus de Camobi e o centro, para o transporte gratuito dos estudantes, funcionários e professores da UFSM. Nada mais, nada menos do que 13 ônibus faziam o transporte ininterrupto centro/campus/centro das 7h às 21h. Lembro que me formei em 1966 e nunca – durante os quatro anos do curso – paguei um centavo pela condução. Os ônibus ficavam abrigados no Garajão ao final do dia. Durante a manhã e início da tarde formavam-se imensas filas em frente a ele aguardando o vai-vem dos ônibus pintados de azul e branco, com o quero-quero estampado nas laterais, ave-símbolo da UFSM. Uma vez formado, comecei a dar aula na UFSM e continuei a usar os ônibus por alguns anos. O meu querido e saudoso amigo professor Luiz Gonzaga Isaia, meu vizinho na Galeria do Comércio e companheiro de longos papos, teve a oportunidade de registrar nas suas memórias o seguinte: “Em 1970 o Serviço de Transporte da UFSM já possuía uma estrutura com garagem, oficina e posto de lubrificação e abastecimento e uma frota com 13 ônibus, 2 automóveis e 21 utilitários, além de 29 motoristas, 4 mecânicos e 3 funcionários do posto de gasolina”. E, também, lamentou o professor Isaia: “Houve a tentativa da administração central de introduzir uma linha ferroviária que facilitasse o transporte de servidores e estudantes, mas devido às dificuldades alegadas pela direção da Rede Ferroviária o pedido não obteve sucesso; assim a solução foi investir no transporte rodoviário”. Mas nessas lembranças eu gostaria de registrar alguns nomes de motoristas que ficaram no meu coração e na minha memória. Muitos deles que me transportaram não só como aluno. Mas me conduziram com zelo e segurança para fazer palestras em congressos e simpósios durante minha vida docente de quase quarenta anos. De alguns lembro do nome inteiro: Ademar Sitoni Fraga, Paulo Farias, Antônio José Pedroso da Rosa, Aurélio de Souza, Reno Schmidt, Nilson Silveira, Jesus Pujol. De outros lembro apenas do primeiro nome ou do apelido: Carioca, Bordim, Miro, Fraga, Paulinho, Pedroso, Adão. Muitas excursões fui com os alunos. Muito chimarrão tomei no Garajão com os motoristas. Ao lado, funcionava a primeira sede da Cesma. Aos fundos, funcionava a sede da Cooperativa dos funcionários da UFSM. Pelo Garajão passaram milhares de pessoas. Projetos de vida. Sonhos. Hoje, ao passar por ele, abandonado, pichado, enferrujado, apresso o passo. Sem olhar para trás. Com medo de começar a chorar na rua.

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