terça-feira, 6 de abril de 2021

FUGINDO DO ALZHEIMER NAS MADRUGADAS DO ISOLAMENTO - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - ediçao de 6.4.2021)

Nessas madrugadas de isolamento social tenho a mente assaltada por lembranças de figuras incríveis e episódios marcantes vividos nessa Santa Maria da Boca do Monte. E que faço questão de cultivar, escrever e registrar como exercício para evitar o Alzheimer. Os mais jovens talvez ignorem, mas Santa Maria já foi famosa no cenário nacional do basquetebol. Durante muitos anos deteve a hegemonia deste esporte em nível estadual. E tudo graças ao desempenho fantástico da famosa equipe que a diretoria do Corintians conseguiu formar nos anos 60 e 70. Lembro do MAIR, jogador de basquete da seleção brasileira, técnico do Corintians, na época áurea dos campeonatos estaduais de basquete. Era um verdadeiro ídolo na cidade. Os jogos eram no “Alçapão”, quadra de basquete que ficava atrás do Clube Caixeiral, onde hoje existe um estacionamento. Mair inovou o basquete, juntamente com outros vários técnicos, dos quais lembro Maquiline, Nascimento, Lenk, Fumanchu (trazido do Vasco da Gama), etc...Foi a época de ouro do basquete santa-mariense, com inesquecíveis jogadores : Deroci, Queijo, Balaio, Paulinho, Liminha, Nilton Nieves, Mair, Tassinho, Pati, Bibi, Jau e tantos outros. Lembro, emocionado, que o “Alçapão” lotava aos sábados à noite e a torcida enlouquecia. Que fase! Que época ! No início dos anos 60, um grupo de jovens estudantes vestibulandos se reunia todos os sábados no porão da casa da avenida Presidente Vargas, 2067, residência do Dr. Hélvio Jobim, advogado famoso na comarca santa-mariense. Ali se reuniam : Nelson Jobim e Walter Jobim Neto (filhos do dono da casa, que viriam a se formar em Direito, como o pai), Antônio Rossatto (“Padre”, que se formou em Direito), Antônio Carlos dos Santos (“Tonico”, que se formou em Medicina), Luiz Alberto Belém Leite (“Betinho”, que se formou em Medicina), Carlos Horácio Hertz Genro (que se formou em Medicina) e eu (que me formei em Agronomia).Motivo das reuniões: estudar literatura, discutir política, declamar poemas, recitar crônicas. Eu fico me perguntando se haverá, nos dias atuais, algum grupo semelhante em algum recanto do Brasil ? Registro dois Bentos da minha juventude. Bento do Carmo Machado (“Bentinho”),envelhecido, casacão surrado, sempre carregando cadernos com anotações, vivia arrumando jogos entre nossas equipes de futebol amador. Escrevia textos e noticiário completo sobre esporte amador nas páginas de A RAZÃO e tinha um programa esportivo na Rádio Imembui. Era membro da então atuante Liga de Futebol Santa-mariense. E o Ir. Bento José Labre, o segundo Bento do qual me lembro hoje, era padre. Foi diretor da Escola Hugo Taylor e dirigente da Tropa de Escoteiros Tupanciguara, cuja sede era ao lado da agência central do Banco do Brasil. Tradicionalista ferrenho, sempre desfilava no dia 20 de setembro com o CTG Ponche Verde. Outro querido amigo, falecido em março de2002 (acho que no dia 6), foi João Francisco Goldman, provavelmente o maior estilista da moda que a cidade de Santa Maria já teve. Prestou grandes serviços à Escola de Samba Unidos do Itaimbé quando Alfeu Pizarro, Zaira e Luizinho de Grandi (todos falecidos) faziam parte da diretoria, confeccionando as principais fantasias da escola que por vários anos foi campeã do carnaval santa-mariense. Goldman foi frequentador da semanal da sauna do Avenida Tênis Clube, com dezenas de outros saudosos amigos : Antero Scherer, Máximo Knackfuss, Arnaldo Walty, Abdo Mothcy, entre outros tantos. Ficou um vazio na sua arte, onde foi verdadeiro expoente ! Nessas madrugadas silenciosas, isolado há 13 meses, contemplo os morros da cidade e as torres da catedral da janela do meu apartamento. Depois dessa procissão de mortos que passa pela minha mente começa a revoada diária das centenas de garças que vêm da zona oeste rumo a Camobi. Prestes a fazer 79 anos, quando minha alma fará a revoada definitiva desse planetinha azul ?

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