segunda-feira, 11 de julho de 2022

"SEMPRE ALERTA" - JAMES PIZARRO (DIÁRIO - edição de 10.07.2022)

Numa noite dessas, perdido em minhas costumeiras cogitações, fiquei a pensar de onde tinha vindo a minha predileção pelos seres vivos em geral. O meu afeto pelos animais em particular. A minha vocação pelas coisas da Natureza. O meu respeito pela flora e fauna. O desejo incontido de entender o equilíbrio existente nos ecossistemas. Que acabaram me transformando num estudioso e profissional desta área. Eu me criei numa casa com enorme pátio. Com todo tipo de árvores. Nativas. Frutíferas. Horta. Jardim. Criação de galinhas. Cabritas. Patos. Coelhos. Tinha muitos cachorros. Gatos. Caturritas. Lembro até hoje dos nomes dos animais todos de estimação. Tive, portanto, contato com animais e vegetais desde cedo. Minha casa ficava quase ao lado do chamado arroio Cadena, hoje canalizado e sumido embaixo do Parque Itaimbé. O Cadena era cercado por uma modesta floresta de galeria com muitas taquareiras, vegetação arbustiva, algumas frutíferas. Em suas águas tinha alguns peixes. Haviam cobras. Tartarugas. Aranhas. Pássaros em profusão faziam seus ninhos naquele local. A gurizada fazia cavernas. As turmas tinham esconderijos. O arroio Cadena era o segundo pátio de toda a gurizada da Silva Jardim e adjacências. Na subida da Silva Jardim, esquina com a rua André Marque, existia o Círculo Operário. No térreo do prédio funcionou inicialmente – além das aulas de datilografia e corte/costura, gabinete odontológico – a primeira sede da Tropa de Escoteiros Henrique Dias. Fui escoteiro da Henrique Dias (naquele tempo se chamava “Tropa” e não “Grupo”, como hoje). Fui Noviço, Primeira Classe e Segunda Classe. Fui membro da Patrulha da Pantera. O movimento escoteiro ou Escotismo foi criado por Baden Powel em 1907 com a finalidade de que jovens aprendessem a trabalhar em equipe e tivessem vida ao ar livre. E pudessem cultivar atributos como a responsabilidade, a fraternidade, o companheirismo, a lealdade, o altruísmo e a disciplina. Ainda menino, com meus 14 ou 15 anos, aprendi a ficar de guarda durante a noite do acampamento, zelando pelo companheiros que dormiam e “treinando” a ficar sem medo dos ruídos noturnos, da escuridão e dos uivos dos animais. Aprendi a fazer comida. A preparar café de chaleira. A armar e desarmar barracas. A organizar acampamentos, cozinha, banheiro, latrina coletiva, lavar e estender roupas, repartir alimentos, decorar e cantar hinos pátrios, fazer os mais variados tipos de nós com cordas e saber qual a hora de aplica-los, noções de primeiros socorros, diferenças entre cobras peçonhentas e não peçonhentas, etc... Lembro das dezenas de acampamentos feitos : na barragem do rio Ibicuí, nos lagos existentes na região de Itaara, no passo do Verde, no rio Jacu (Cerro Chato), na Chácara Experimental de Silvicultura (Boca do Monte) e em fazendas da região cedidas por seus proprietários. Os anos em que me dediquei à atividade escoteira, sempre atento ao lema “SEMPRE ALERTA”, foram decisivos na formação da minha disciplina mental, do meu caráter, do meu amor ao próximo e, sobretudo, do meu amor à Natureza. Na base do conjunto de todos os fatores que me levaram a ser um ferrenho defensor da Natureza e professor de Ecologia na UFSM seguramente está minha vida de escoteiro na minha querida Tropa Henrique Dias ! Por isso, a todos os escoteiros da cidade : “SEMPRE ALERTA” !

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