segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O PISO SALARIAL DA ENFERMAGEM - James Pizarro (DIÁRIO - 4.10.2022)

Tenho bem clara na minha memória a importância que a escola, os professores, os governantes, enfim - as autoridades em todos os escalões da República – tinham da necessidade imperiosa de cuidar com carinho da saúde do aluno ! No final da década de quarenta, início dos anos 50, lembro perfeitamente que numa certa época do ano estacionava em frente ao colégio um vistoso ônibus branco, com a cruz vermelha pintada e no seu interior tinha uma aparelhagem de raio-X. E todos os alunos faziam fila para fazer a sua abreugrafia, radiografia dos pulmões tirada por um método barato inventado por um médico brasileiro chamado Manuel de Abreu para detectar, prevenir e tratar a tuberculose. Isso há 70 anos !!! No MANECO, por exemplo, para praticarmos ginástica ou qualquer tipo de esporte coletivo, o professor de Educação Física fazia a ficha de peso e altura, mais dados pessoais e encaminhava o aluno para os médicos da escola (lembro dos saudosos Paulo Lauda e Miguel Sevi Viero). Cada aluno tinha pressão medida, pulmões auscultados, ficha médica preenchida, finamente liberado. Se tivesse algum problema de saúde a família era chamada à escola para falar com o médico. Os professores orientavam os alunos sobre a necessidade de vacinação (catapora, varíola, paralisia infantil, etc...). E era comum a população encontrar pelas ruas e calçadas da cidade diariamente centenas de filas de pequeninos alunos de mãos dadas, cuidados por zelosas professoras, sendo conduzidos ao Centro de Saúde número 7, que funcionava – naquela época - à rua do Acampamento, onde hoje funciona a sede da Sociedade Italiana. Ali, responsável pela sala de vacina, esteve - durante mais de 40 anos – o enfermeiro Alfeu Pizarro, meu saudoso pai, que vacinou muitas gerações de santa-marienses. Os pais e professores procuravam espontaneamente a vacinação. Seria inimaginável – naqueles tempos – se pensar em movimento antivacinal ! Na rua Daudt, transversal da avenida Rio Branco, num terreno doado pelo farmacêutico e literato João Daudt de Oliveira, foi construído o Dispensário, órgão vinculado à Secretária da Saúde do RS, que tratava de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), naquela época chamadas de “venéreas”, além de outras doenças como hanseníase, etc...As profissionais do sexo eram lá atendidas e medicadas com todo respeito há mais de meio século. Ao rememorar este trabalho dos médicos, enfermeiros, auxiliares e paramédicos da minha infância e juventude, nestes recentes tempos duros de pandemia, quero registrar publicamente meu profundo agradecimento a este exército de branco que se encontra extenuado, tenso, com uma sobrecarga desumana de trabalho, arriscando-se diariamente por nós na linha de frente. A todos vocês, desejo que Deus lhes dê glória alta e compreensão entre os homens ! O piso salarial dos trabalhadores da Enfermagem é uma luta justa, fruto de muitos anos de batalha da classe. Foi uma luta ganha à custa de milhares de horas de discussões, lutas, passeatas, assembleias, viagens, convencimento de políticos. Na hora de colocar em prática a lei aprovada, a mesma é questionada nos tribunais da República, sob a alegação de que as instituições não têm condições de efetuar o pagamento do piso aprovado aos enfermeiros. E que certamente o Brasil iria quebrar por causa disso... Quanta insensibilidade, meu Deus !

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