terça-feira, 26 de janeiro de 2021

SILÊNCIO DA GENTILEZA IDOSA DIANTE DO RELINCHO DA GROSSERIA JUVENIL = JAMES PIZARRO (DIÁRIO, edição de 26.01.2021)

Durante o fim-de-semana, batendo papo com amigo pelo Messenger, o tema enveredou sobre a mudança de comportamento. Entre pessoas de gerações diferentes. Diante de situações diferentes. Visões diferentes. Choques de visões. E ele me contou uma coisa que resumirei em poucas palavras. Disse-me ele: - “Certa vez pedi para a moça em que eu estava tendo um encontro para que eu ficasse sempre do lado desprotegido, ou seja, próximo ao meio fio, enquanto andávamos pela calçada. Ela não entendeu o motivo. Quando expliquei que isso faz parte da conduta de um bom homem onde sempre se oferece o lado mais protegido para as mulheres, senhores de idade (avô, avó, pai, mãe) ou qualquer superior hierárquico sendo no ramo profissional. Ela achou ridículo e fez certos comentários onde deixou bem claro o quanto eu sou machista, antiquado e com mente "quadrada". Eu fiquei sem reação, não soube o que dizer e nem como desfazer essa impressão horrível que deixei diante dela simplesmente porque eu quis ser educado. Para tentar lhe dar consolo e ser companheiro, contei o episódio pelo qual passei aqui onde moro. No condomínio da Galeria do Comércio existem três elevadores. Costumeiramente, quase sempre uso o elevador número 1. Eu era o primeiro de uma fila de cinco pessoas. Quando o elevador chegou e os ocupantes desceram, eu não entrei. Segurei a porta e disse para a moça que estava atrás de mim : - Tenha a bondade...pode entrar ! Ela fez a cara mais feia do mundo e, aos brados, disse : - Mas o que o Sr. Está pensando, seu machista ? Entre o senhor ! Confesso que sou conhecido entre meus amigos por ter resposta rápida para tudo. Mas fiquei tão estarrecido que, mudo e chocado, entrei. E ainda reparei numa senhora idosa que me olhou e balançou negativamente a cabeça em sinal de desaprovação ao gesto da moça. Desci no terceiro andar, onde moro, não sem antes dar “até logo” como sempre faço. Lembro que a UFSM tinha uma frota de doze ou treze ônibus na década de 1960 para transporte gratuito de professores, alunos e funcionários entre cidade e campus de Camobi. Os primeiros dois bancos eram reservados aos professores. A partir de 1967 eu já era professor e , portanto, tinha direito àqueles bancos. Muitas vezes me levantei para dar lugar a uma funcionária, uma aluna grávida ou uma pessoa idosa E me oferecia para levar no colo as pastas e mochilas dos alunos que estavam em pé. Fui ensinado a puxar a cadeira para moça sentar-se à mesa. A deixar os mais velhos servirem seus pratos à mesa durante as refeições. A telefonar para a casa da pessoa na véspera sabendo se posso visita-la. A sempre cumprimentar os outros. A beijar meu pai, mãe e avós quando os encontrassem (hábito que consegui transferir para meus filhos netos). Quando estive vereador, na legislatura 1988/1991, meu pai costumava assistir as sessões da Câmara de Vereadores. Quando ele chegava ao recinto das galerias e sentava na sua poltrona predileta, eu saia de minha mesa e ía lá lhe abraçar e dar um beijo. O que causava uma certa surpresa em muita gente. Eu sinto falta do meu pai. Gostaria que ele estivesse por aqui para lhe dar aqueles beijos. Para ele ver como criei bem seus netos. E como seus bisnetos já estão entrando na universidade e alguns se formando. E como ele iria adorar conversar com a Bethânia. Mas a pobre mocinha, infeliz moradora daqui que me chamou de machista apenas porque fui delicado com ela, certamente não teve a sorte de ter tido um pai como eu. Uma educação como a minha. Onde a gente aprendeu que os idosos merecem respeito. E ninguém se arrependerá jamais por ser gentil.

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