quarta-feira, 29 de novembro de 2017

"SEU" GENARO - James Pizarro


Um dos açougueiros mais populares que Santa Maria, RS, já teve foi o "Seu" Genaro", que atendia toda a clientela com imensa fidalguia. Seu estabelecimento era na rua Silva Jardim, trecho situado no Bairro do Rosário.
Genaro tinha prole numerosa. Uma curiosidade : em todos os filhos e filhas ele colocou nomes indígenas. Um dos seus filhos, de nome Tabajara Gaúcho da Costa, foi reitor da UFSM. Uma das filhas de Genaro, de nome Jacira, foi minha colega de bancos escolares no MANECO. Ubiratan, de apelido "BIRA", foi meu colega na UFSM. Docente muito ligado à extensão universitária, coordenou e acompanhou a idade de centenas e centenas de universitários por todo o Brasil, notadamente para o Projeto Rondon e para o Campus Avançado da UFSM em Boa Vista, Roraima.
"Seu" Genaro deu notável exemplo no encaminhamento de seus filhos para que os mesmos se transformassem em excelentes profissionais e cidadãos.

CLUBE EXCELSIOR - James PIZARRO


O chamado "CLUBE EXCELSIOR" era constituído por um grupo de jovens estudantes de Santa Maria, RS, que se reuniam para estudar literatura e discutir política. O clube funcionava nos porões da casa situada à avenida Presidente Vargas, 2067, residência do advogado santa-mariense Dr. Hélvio Jobim, pai de dois dos integrantes do clube. As reuniões eram realizadas aos fins de semana durante os anos 60.
Os integrantes do grupo eram : James Pizarro (vestibulando de Agronomia), João Nascimento (vestibulando de Direito), Nelson Jobim (vestibulando de Direito), Walter Jobim Neto (vestibulando de Direito), Antônio Rossato ("Padre", formado em Direito), Antônio Carlos dos Santos ("Tonico", formado em Medicina), Luiz Alberto Belém Leite (vestibulando de Medicina) e Carlos Horácio Hertz Genro (vestibulando de Medicina).
Tudo era feito por amor à literatura e à política. Com desejo de crescer intelectualmente. Virar um cidadão útil. Todos se formaram e levam uma vida profissional correta, sendo que muitos já se aposentaram.
Lá se vão quase 60 anos...

terça-feira, 21 de novembro de 2017

LÁGRIMAS E SAUDADE ESCORREM PELOS TRILHOS DA VIAÇÃO FÉRREA - JAMES PIZARRO (crônica publicada em 21.11.2017 no Diário de Santa Maria)

A gare da estação da Viação Férrea do RS foi local frequentado pela elite da sociedade santa-mariense, por mais incrível que isso possa parecer hoje aos mais moços, testemunhas da decadência da categoria ferroviária. Ali estavam os escritórios das chefias. A sala do diretor da estação (chamado de "Agente"). O amplo e completo "stand" de revistas (a chamada "Revistaria da Estação"). O higiênico e confortável restaurante, onde serviam-se desde refeições "à francesa" até rápidos lanches. A fantástica sorveteria com inimagináveis guloseimas servidas em finas taças de prata. O competente serviço de carregadores de bagagens ("mensageria"), com os servidores vestidos de azul, com colarinho e gravata, portando carrinhos de ferro para o transporte das malas. O serviço de autofalantes com as publicidades (chamadas "reclames") ditas por um locutor cego, que tinha a fantástica capacidade de memorizar tudo. Entre um "reclame" e outro, valsas de Strauss e sambas de Ary Barroso...


Para ter acesso à gare da Viação Férrea, era necessário comprar ingresso. Vendido sob a forma de um papelote duro, numerado, metade branco, metade verde. Que era picotado pelo porteiro engravatado na roleta numerada que dava acesso ao interior das instalações.

Rapazes e moças, acompanhados de seus pais, costumavam formar fervilhante torvelinho de gente nas horas de chegada e partida dos trens de passageiro. Trens que atendiam por nomes especiais : "Noturno", "Fronteira", "Serra", "Porto Alegre". A gente ficava abanando para as pessoas que partiam naquela "composição" formada por dezenas e dezenas de carros. Puxada por barulhenta e folclórica máquina a vapor, carinhosamente chamada de "Maria Fumaça". Pouco depois substituídas pelas máquinas movidas a diesel e pelos trens húngaros, que tinham até ar condicionado e lanche gratuito.

Todo fim-de-ano lá ía eu com minha família - pelo trem da "Serra" - curtir férias escolares na cidade de Getúlio Vargas, situada depois de Carazinho e antes de Marcelino Ramos. Íamos no vagão-leito, composto de duas camas beliche, o máximo em conforto para a época. Existiam carros de "Primeira Classe", com poltronas estofadas. E carros de "Segunda Classe", com bancos de madeira, ocupados pelas pessoas mais pobres, gaúchos de bota e bombacha que levavam desde galinhas enfarofadas até gaiolas com seus passarinhos de estimação. Havia o "Carro-Restaurante", onde os mais abastados faziam suas refeições, servidas por garçons de gravata borboleta. Os dois últimos carros dessas composições eram para uso dos funcionários que estavam trabalhando no trem e para uso dos Correios e Telégrafos, já que os malotes de cartas e encomendas eram predominantemente transportados pela Viação Férrea.

Meu tio, João Cassal Pizarro, era   ferroviário e agente da estação de Getúlio Vargas. Um homem admirável, simpático, gordo, que tinha uma  incrível propriedade : falava  e se fazia entender com um canário de estimação !

As lágrimas escorrem pelo meu rosto quando me lembro daquele período  de ouro dos ferroviários. Dos trens que cortavam as madrugadas da minha infância. E do meu adorável tio que falava com seu cardeal.

Tudo – infelizmente – morreu.


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

BAILES E ORQUESTRAS - James Pizarro


Dancei ao som do Conjunto de Norberto Baldauff, Orquestra Cassino de Sevilla, Orquestra Cassino de Santa Cruz, Orquestra Tabajara (do Maestro Severino Araujo), Orquestra Vienense, Orquestra de Sylvio Mazzucca, etc...realmente, fui um privilegiado...grandes bailes, noites memoráveis...os bailes começavam às 23 horas e terminavam às 5 h da madrugada...das 2 às 2,30 da manhã a orquestra fazia uma pausa e enquanto os músicos lanchavam, íam ao ...banheiro, etc...existiam números artísticos com mágicos, atletas de solo, dançarinos famosos.

Ainda não posso esquecer dos inúmeros conjuntos musicais (uns de fora e outros de Santa Maria mesmo) que animavam as reuniões dançantes, que normalmente começavam às 17h e terminavam às 22h, geralmente realizadas no Caixeiral e no Comercial. Era uma emoção tremenda quando ligavam as luzes vermelhas do salão do Comercial e a gente podia arriscar-se a dançar de rosto colado e bem lentamente, ao mesmo tempo em que se dizia coisas ao ouvido da parceira. Que fase ! Que tempos ! Que saudade !


Recordo com muita saudade do conjunto "Paulinho e seus Rapazes", com Paulo Cruz (assassinado anos depois), Alceste Almeida (na gaita), Glênio Bastos Soares (cantava músicas em inglês), etc...


Nada a ver com essa maluquice de decibéis, drogas e bebida de hoje !

terça-feira, 7 de novembro de 2017

UM SINGELO VELÓRIO AO SOM DE BACH - James Pizarro (Diário de Santa Maria, edição de 7.11.2017)


Com a passagem do dia de Finados, na semana passada, ocorreu-me deixar registrada minha vontade de ser cremado. Embora seja eu o “feliz” proprietário de dois túmulos no cemitério ecumênico municipal. Aliás, rigorosamente em dia com a anuidade devida aos cofres da Prefeitura Municipal.
Provavelmente, meu velório será na Câmara de Vereadores, uma vez que “estive” vereador no passado e nada cobrarão dos meus familiares (suponho). Porque serão apenas algumas poucas horas de velório. Pois, como desejo ser cremado, certamente me levarão para Santa Rosa, Caxias ou Porto Alegre. O grau “evolutivo” da minha querida cidade ainda não permitiu ter aqui este avançadíssimo requinte tecnológico...
Quero um velório singelo. Sem alardes. Os amigos e parentes que me amaram poderão se sentir em casa e chorar comedidamente. Porque chorar demais é pornográfico.
E enquanto minhas tripas e meus ossos fossem consumidos e a gordura da minha obesidade fosse sendo derretida eu pudesse escutar lá não sei de onde
a "Air - Suíte no. 3" do meu amado Johan Sebastian Bach.
Espero que gostem do meu velório. Terá bolachinhas e cafezinho. E livro de assinaturas para minha família ficar devendo obrigação social de agradecer pela presença de todos, inclusive dos FDPs que me caluniaram em vida. Embora meus filhos e netos estejam bem recomendados para impedir a entrada desses canalhas, na medida do possível, em meu velório. Mas se for impossível, deverão servir a eles cafezinho frio...
Podiam colocar minhas cinzas nas flores do campus de Camobi, talvez até no Jardim Botânico já que ele não vai mais ser fechado. Pensei em mandar esparramar as cinzas no gramado no Beira Rio que anda judiado de tantos shows artísticos. Seria minha derradeira homenagem para eternizar meu amor pelo time e festejar o retorno à série A. Mas daria muito trabalho à família. Muita burocracia. E correria o risco de, a cada derrota ou má fase futura do time, criar-se o mito da torcida amaldiçoar minha alma com argumentos do tipo: “a culpa é daquele pé-frio lá de Santa Maria”.
Poderiam espargir minhas cinzas no Morro do Cechella. No passo do Verde. Nos gramados da SOCEPE. No Vacacai. Na subida do Perau. Atira-las ao vento na Garganta do Diabo.
Ou num gesto de suprema humildade ecológica, joga-las num vaso sanitário. Se derem uma boa descarga acabarei no Arroio Cadena. Onde serei reincorporado à cadeia alimentar. E devolvido a algum ser vivo.
Mas não esqueçam do Bach, por favor. Este som fará a delícia dos meus tímpanos explodindo pelo calor do forno crematório. E fará coro com os estalidos das labaredas.
Num prenúncio metafórico do Inferno. Onde me reencontrarei com todos os meus conhecidos. Amigos. E outros nem tanto.
Porque até hoje não tive o prazer de conhecer nenhum santo.