quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

MANECO, O COLÉGIO PADRÃO GAÚCHO DA DÉCADA DE 60 - James Pizarro (crônica de 19.12.2017, Diário de Santa Maria)

O Colégio Santa Terezinha funcionou no prédio onde atualmente, devidamente reformado, funciona o Colégio Estadual Manoel Ribas. O nome foi dado em homenagem a Manoel Ribas, vulgo "Maneco Facão", que foi governador (leia-se "interventor") do Estado do Paraná durante todo o período da ditadura de Getúlio Vargas. Antes, Manoel Ribas havia ocupado o cargo de intendente de Santa Maria, tendo assumido os destinos do município em 3 de outubro de 1928. Em Curitiba - onde morei quase três anos - ao lado do "Passeio Público", tradicional área de lazer daquela cidade, funciona uma respeitável escola, também chamada Escola Estadual Manoel Ribas.
Causou espanto para a população santa-mariense da época o gigantismo das instalações daquela escola. Depois de extinto o Colégio Santa Terezinha, naquele mesmo prédio foi criado o Grupo Escolar João Belém, que ali ficou até ser transferido para pavilhões de madeira construídos nas proximidades e, anos depois, definitivamente transferido para amplo prédio de alvenaria onde até hoje se encontra, entre as ruas Comissário Justo e José do Patrocínio. Depois da transferência do João Belém para as novas instalações, fundou-se o Colégio Estadual Manoel Ribas, em 10 de outubro de 1953, até hoje popularmente chamado de "Maneco". Era tal a qualidade de ensino do novo colégio, que o mesmo passou a ser conhecido, em todo o território gaúcho, pelo título de "Colégio Padrão do RS".
 Minha vida está indelevelmente ligada aquele prédio, pois minha mãe, Maria Silveira Pizarro, sempre chamada de "Dona Iria", foi aluna do Colégio Santa Terezinha onde, inclusive, iniciou-se no aprendizado do violino.
Entre o prédio e o muro externo do Maneco, fronteira com a Rua José do Patrocínio, existe um pequeno obelisco de um metro de altura, sem placa e sem inscrição de espécie alguma, o que sempre me despertou curiosidade. Um dia, minha avó materna, Olina Correa da Luz, deu-me a explicação. Uma freira estava limpando a parte externa das vidraças do segundo andar e, desequilibrando-se, caiu de uma altura aproximada de 15 metros, vindo a falecer. O obelisco foi construído "in memoriam" exatamente sobre o local onde ficou, inerte, o corpo da infeliz religiosa.
Guri curioso, precoce mesmo em relação a esses assuntos dos mais velhos, surpreendi-me muitas vezes - na hora do recreio - com o nariz esborrachado nas vidraças das janelas das salas de aula a contemplar o obelisco. Lembro que, ao entardecer dos dias nublados, eu olhava rapidamente o obelisco e tratava de sair da janela. Eu sentia apreensão, medo mesmo. Pois, na minha fervilhante e fantasiosa cabeça de guri recém entrado na puberdade, parecia que - a qualquer momento - eu iria enxergar aquela freira voando em minha direção. Sorrindo para mim. Ou me acenando ternamente.
Aquele singelo monumento, até hoje anônimo para todos que ali passam, ainda está lá, já apresentando as marcas inexoráveis do tempo, este consumidor implacável de corpos, vaidades, pedras, juventude e lembranças.
Voltei ao Maneco semana passada para uma demorada visita com meu colega Luiz Fernando Bezerra (Life), que mora no RJ. Nossa turma de científico estava fazendo 55 anos de formatura. Sentamos em nossas classes na nossa sala de aula. Choramos abraçados.
E saímos com a certeza de que um pouco do nosso sangue corre por dentro daquelas parede

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

GANDENSE + COLORADINHO + RIONAL = SAUDADE CORTANTE - James Pizarro (crônica publicada em 5.12.2017 no DIÁRIO DE SANTA MARIA,ág.4)

Sempre fui aficcionado do futebol. Desde piá sempre torci pelo Inter de Santa Maria. E pelo Inter de Porto Alegre. No RJ sempre tive simpatia pelo Flamengo. E em SP sempre torci pelo Palmeiras. Joguei futebol de mesa (“botão”) durante anos a fio. E há mais de cinquenta anos coleciono álbuns de figurinhas de futebol.
Confesso que, apesar de ser torcedor do “coloradinho” – ou alvirubro - como querem os mais modernos, fiquei muito triste quando o Riograndense Futebol Clube encerrou suas atividades, suspenso por dois anos pelo que li na imprensa.
Tenho saudade das centenas de edições que presenciei do tradicional clássico RIONAL. Tanto no Estádio dos Eucaliptos. Como na Baixada Melancólica (Getúlio Vargas). Sempre completamente lotados. Coloridos. Sem brigas. Povo confraternizando alegremente.
Lembro especialmente do dia 1/maio/1958. Neste ano comemorava-se o Centenário do Município de Santa Maria. Eu tinha 16 anos e o velho Alfeu meu pai, era vereador. Fazendo parte dos festejos do centenário da cidade e também da comemoração de aniversário do Riograndense (46 anos de vida), o time periquito enfrentou o Botafogo do RJ nos Eucaliptos. O Botafogo, treinado pelo famoso João Saldanha, perdeu para o “Gandense” por 2 a 1.
Um detalhe curioso : o pontapé inicial da partida Botafogo x Riograndense foi dado pela Rainha do Centenário de Santa Maria, Maria Luján Mariano da Rocha, minha querida amiga Marilu, hoje minha vizinha na Galeria do Comércio.
O Riograndense foi fundado em 2012 na esteira da existência da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, pois da operosa e dinâmica classe dos “ferrinhos” (meu querido avô Fredolino foi ferroviário durante 44 anos) surgiram os atletas, os apoiadores, os dirigentes e os torcedores do clube.
Agradeço ao leitor Wolmar Heringer, atual presidente do Riograndense, que me visitou e me presenteou com a obra “RIOGRANDENSE FUTEBOL CLUBE – No coração gaúcho, 100 anos do rubro-esmeraldino”.
É uma alentada obra de 145 páginas, escrita em 2012 (Gestão do presidente Julio Cesar Ausani), ricamente ilustrada, cujo autor e organizador João Rodolpho Amaral Flores contou com os seguintes coautores : Alexander Rossatto Tittelmeyer, Antonio Augusto Durgante Berni, Candido Otto Haupt da Luz, Henrique Cignachi, Juliana Franchi da Silva, Nathalia Lima Pinto, Rosana Vargas Fraga e Trícia Andrade Cardoso.
Li a obra toda de um só fôlego. Parabenizo a todos os seus autores pelo inestimável serviço de pesquisa histórica e de legado que deixam às novas gerações de santa-marienses que buscam saber coisas do passado da cidade.
Almejo que obras deste tipo sejam feitas em relação a outros clubes, como o nosso saudoso Guarany Atlântico. Nosso Coloradinho. Nossos clubes amadores.
Pesquisadores solitários – cito como exemplo meu querido amigo Candido Otto Haupt da Luz – merecem nosso aplauso e o total apoio das autoridades para publicação de suas pesquisas esportivas.
E que o Riograndense em breve renasça para que nossos netos possam vibrar com futuros clássicos RIONAIS !!!

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

"SEU" GENARO - James Pizarro


Um dos açougueiros mais populares que Santa Maria, RS, já teve foi o "Seu" Genaro", que atendia toda a clientela com imensa fidalguia. Seu estabelecimento era na rua Silva Jardim, trecho situado no Bairro do Rosário.
Genaro tinha prole numerosa. Uma curiosidade : em todos os filhos e filhas ele colocou nomes indígenas. Um dos seus filhos, de nome Tabajara Gaúcho da Costa, foi reitor da UFSM. Uma das filhas de Genaro, de nome Jacira, foi minha colega de bancos escolares no MANECO. Ubiratan, de apelido "BIRA", foi meu colega na UFSM. Docente muito ligado à extensão universitária, coordenou e acompanhou a idade de centenas e centenas de universitários por todo o Brasil, notadamente para o Projeto Rondon e para o Campus Avançado da UFSM em Boa Vista, Roraima.
"Seu" Genaro deu notável exemplo no encaminhamento de seus filhos para que os mesmos se transformassem em excelentes profissionais e cidadãos.

CLUBE EXCELSIOR - James PIZARRO


O chamado "CLUBE EXCELSIOR" era constituído por um grupo de jovens estudantes de Santa Maria, RS, que se reuniam para estudar literatura e discutir política. O clube funcionava nos porões da casa situada à avenida Presidente Vargas, 2067, residência do advogado santa-mariense Dr. Hélvio Jobim, pai de dois dos integrantes do clube. As reuniões eram realizadas aos fins de semana durante os anos 60.
Os integrantes do grupo eram : James Pizarro (vestibulando de Agronomia), João Nascimento (vestibulando de Direito), Nelson Jobim (vestibulando de Direito), Walter Jobim Neto (vestibulando de Direito), Antônio Rossato ("Padre", formado em Direito), Antônio Carlos dos Santos ("Tonico", formado em Medicina), Luiz Alberto Belém Leite (vestibulando de Medicina) e Carlos Horácio Hertz Genro (vestibulando de Medicina).
Tudo era feito por amor à literatura e à política. Com desejo de crescer intelectualmente. Virar um cidadão útil. Todos se formaram e levam uma vida profissional correta, sendo que muitos já se aposentaram.
Lá se vão quase 60 anos...

terça-feira, 21 de novembro de 2017

LÁGRIMAS E SAUDADE ESCORREM PELOS TRILHOS DA VIAÇÃO FÉRREA - JAMES PIZARRO (crônica publicada em 21.11.2017 no Diário de Santa Maria)

A gare da estação da Viação Férrea do RS foi local frequentado pela elite da sociedade santa-mariense, por mais incrível que isso possa parecer hoje aos mais moços, testemunhas da decadência da categoria ferroviária. Ali estavam os escritórios das chefias. A sala do diretor da estação (chamado de "Agente"). O amplo e completo "stand" de revistas (a chamada "Revistaria da Estação"). O higiênico e confortável restaurante, onde serviam-se desde refeições "à francesa" até rápidos lanches. A fantástica sorveteria com inimagináveis guloseimas servidas em finas taças de prata. O competente serviço de carregadores de bagagens ("mensageria"), com os servidores vestidos de azul, com colarinho e gravata, portando carrinhos de ferro para o transporte das malas. O serviço de autofalantes com as publicidades (chamadas "reclames") ditas por um locutor cego, que tinha a fantástica capacidade de memorizar tudo. Entre um "reclame" e outro, valsas de Strauss e sambas de Ary Barroso...


Para ter acesso à gare da Viação Férrea, era necessário comprar ingresso. Vendido sob a forma de um papelote duro, numerado, metade branco, metade verde. Que era picotado pelo porteiro engravatado na roleta numerada que dava acesso ao interior das instalações.

Rapazes e moças, acompanhados de seus pais, costumavam formar fervilhante torvelinho de gente nas horas de chegada e partida dos trens de passageiro. Trens que atendiam por nomes especiais : "Noturno", "Fronteira", "Serra", "Porto Alegre". A gente ficava abanando para as pessoas que partiam naquela "composição" formada por dezenas e dezenas de carros. Puxada por barulhenta e folclórica máquina a vapor, carinhosamente chamada de "Maria Fumaça". Pouco depois substituídas pelas máquinas movidas a diesel e pelos trens húngaros, que tinham até ar condicionado e lanche gratuito.

Todo fim-de-ano lá ía eu com minha família - pelo trem da "Serra" - curtir férias escolares na cidade de Getúlio Vargas, situada depois de Carazinho e antes de Marcelino Ramos. Íamos no vagão-leito, composto de duas camas beliche, o máximo em conforto para a época. Existiam carros de "Primeira Classe", com poltronas estofadas. E carros de "Segunda Classe", com bancos de madeira, ocupados pelas pessoas mais pobres, gaúchos de bota e bombacha que levavam desde galinhas enfarofadas até gaiolas com seus passarinhos de estimação. Havia o "Carro-Restaurante", onde os mais abastados faziam suas refeições, servidas por garçons de gravata borboleta. Os dois últimos carros dessas composições eram para uso dos funcionários que estavam trabalhando no trem e para uso dos Correios e Telégrafos, já que os malotes de cartas e encomendas eram predominantemente transportados pela Viação Férrea.

Meu tio, João Cassal Pizarro, era   ferroviário e agente da estação de Getúlio Vargas. Um homem admirável, simpático, gordo, que tinha uma  incrível propriedade : falava  e se fazia entender com um canário de estimação !

As lágrimas escorrem pelo meu rosto quando me lembro daquele período  de ouro dos ferroviários. Dos trens que cortavam as madrugadas da minha infância. E do meu adorável tio que falava com seu cardeal.

Tudo – infelizmente – morreu.


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

BAILES E ORQUESTRAS - James Pizarro


Dancei ao som do Conjunto de Norberto Baldauff, Orquestra Cassino de Sevilla, Orquestra Cassino de Santa Cruz, Orquestra Tabajara (do Maestro Severino Araujo), Orquestra Vienense, Orquestra de Sylvio Mazzucca, etc...realmente, fui um privilegiado...grandes bailes, noites memoráveis...os bailes começavam às 23 horas e terminavam às 5 h da madrugada...das 2 às 2,30 da manhã a orquestra fazia uma pausa e enquanto os músicos lanchavam, íam ao ...banheiro, etc...existiam números artísticos com mágicos, atletas de solo, dançarinos famosos.

Ainda não posso esquecer dos inúmeros conjuntos musicais (uns de fora e outros de Santa Maria mesmo) que animavam as reuniões dançantes, que normalmente começavam às 17h e terminavam às 22h, geralmente realizadas no Caixeiral e no Comercial. Era uma emoção tremenda quando ligavam as luzes vermelhas do salão do Comercial e a gente podia arriscar-se a dançar de rosto colado e bem lentamente, ao mesmo tempo em que se dizia coisas ao ouvido da parceira. Que fase ! Que tempos ! Que saudade !


Recordo com muita saudade do conjunto "Paulinho e seus Rapazes", com Paulo Cruz (assassinado anos depois), Alceste Almeida (na gaita), Glênio Bastos Soares (cantava músicas em inglês), etc...


Nada a ver com essa maluquice de decibéis, drogas e bebida de hoje !

terça-feira, 7 de novembro de 2017

UM SINGELO VELÓRIO AO SOM DE BACH - James Pizarro (Diário de Santa Maria, edição de 7.11.2017)


Com a passagem do dia de Finados, na semana passada, ocorreu-me deixar registrada minha vontade de ser cremado. Embora seja eu o “feliz” proprietário de dois túmulos no cemitério ecumênico municipal. Aliás, rigorosamente em dia com a anuidade devida aos cofres da Prefeitura Municipal.
Provavelmente, meu velório será na Câmara de Vereadores, uma vez que “estive” vereador no passado e nada cobrarão dos meus familiares (suponho). Porque serão apenas algumas poucas horas de velório. Pois, como desejo ser cremado, certamente me levarão para Santa Rosa, Caxias ou Porto Alegre. O grau “evolutivo” da minha querida cidade ainda não permitiu ter aqui este avançadíssimo requinte tecnológico...
Quero um velório singelo. Sem alardes. Os amigos e parentes que me amaram poderão se sentir em casa e chorar comedidamente. Porque chorar demais é pornográfico.
E enquanto minhas tripas e meus ossos fossem consumidos e a gordura da minha obesidade fosse sendo derretida eu pudesse escutar lá não sei de onde
a "Air - Suíte no. 3" do meu amado Johan Sebastian Bach.
Espero que gostem do meu velório. Terá bolachinhas e cafezinho. E livro de assinaturas para minha família ficar devendo obrigação social de agradecer pela presença de todos, inclusive dos FDPs que me caluniaram em vida. Embora meus filhos e netos estejam bem recomendados para impedir a entrada desses canalhas, na medida do possível, em meu velório. Mas se for impossível, deverão servir a eles cafezinho frio...
Podiam colocar minhas cinzas nas flores do campus de Camobi, talvez até no Jardim Botânico já que ele não vai mais ser fechado. Pensei em mandar esparramar as cinzas no gramado no Beira Rio que anda judiado de tantos shows artísticos. Seria minha derradeira homenagem para eternizar meu amor pelo time e festejar o retorno à série A. Mas daria muito trabalho à família. Muita burocracia. E correria o risco de, a cada derrota ou má fase futura do time, criar-se o mito da torcida amaldiçoar minha alma com argumentos do tipo: “a culpa é daquele pé-frio lá de Santa Maria”.
Poderiam espargir minhas cinzas no Morro do Cechella. No passo do Verde. Nos gramados da SOCEPE. No Vacacai. Na subida do Perau. Atira-las ao vento na Garganta do Diabo.
Ou num gesto de suprema humildade ecológica, joga-las num vaso sanitário. Se derem uma boa descarga acabarei no Arroio Cadena. Onde serei reincorporado à cadeia alimentar. E devolvido a algum ser vivo.
Mas não esqueçam do Bach, por favor. Este som fará a delícia dos meus tímpanos explodindo pelo calor do forno crematório. E fará coro com os estalidos das labaredas.
Num prenúncio metafórico do Inferno. Onde me reencontrarei com todos os meus conhecidos. Amigos. E outros nem tanto.
Porque até hoje não tive o prazer de conhecer nenhum santo.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O JARDIM BOTÂNICO DA UFSM VAI FECHAR !? - James Pizarro (Diário de Santa Maria, edição do dia 24.10.2017, pág.4)


A Fundação Zoobotânica do RS, era um órgão da Secretaria da Agricultura do Estado do RS (na época do governo Collares), constituída de quatro unidades operacionais: Jardim Botânico/RS (em Porto Alegre), Parque Zoológico/RS (em Sapucaia do Sul), Museu de Ciências Naturais/RS (em Porto Alegre) e Parque Estadual Delta do Jacuí (composto pelas 30 ilhas do Guaíba).
Durante o governo do Dr. Alceu Collares e a pedido deste, a Reitoria da UFSM efetivou minha cedência para o governo do RS com ônus total para a UFSM para que eu assumisse o cargo de Diretor-Superintendente da FZB/RS, uma vez que a presidência da mesma se tratava apenas e tão-somente de um cargo honorífico.
Assim, assumi durante três anos a real administração da FZB/RS para ordenar despesas, sanear finanças, estabelecer prioridades, editar revistas/jornais/livros, atualizar biblioteca científica/periódicos, proporcionar excursões/viagens/coletas científicas, realizar exposições públicas/palestras/entrevistas, regularizar situação trabalhista de funcionários, produzir eventos (concertos musicais, venda de mudas, exposição de selos, exposição de animais taxidermizados), proporcionar dezenas de estágios para alunos universitários de Veterinária e Ciências Biológicas, etc...
Colaborei intensamente com milhares de mudas para o jovem Jardim Botânico da UFSM chegando a doar – por minha iniciativa - de uma só vez um caminhão de mudas raras para a instituição santa-mariense. Implementei um programa chamado “Um domingo no parque”, através do qual recebi no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul mais de 200 ônibus de excursões de escolas de dezenas de cidades gaúchas que, além da entrada gratuita, ganhavam lanche. Enfim, interiorizei a FZB/RS, pois a mesma até então era praticamente desconhecida no interior gaúcho.
Periodicamente, percorria todos os programas de grande audiência da mídia porto-alegrense (rádio e TV) dando entrevistas, explicando com detalhes a vida da FZB, distribuindo livros/camisetas/panfletos e estabelecendo com os comunicadores uma excelente parceria de divulgação. Foi profissionalmente um período fértil e feliz em minha vida. Saí da FZB deixando um amigo em cada um dos mais de 300 funcionários existentes à época, com muitos dos quais me comunico até hoje.
Agora, o governador Sartori quer matar a FZB/RS. Que gasta apenas 0,4 % do orçamento estadual. Uma insignificância diante dos excessos de gastos não prioritários que existem! Não faça isso com a FZB/RS, governador! Não faça esse serviço selvagem de predador!
Como se a morte anunciada da FZB/RS não bastasse, leio à página 2 do jornal do SEDUFSM, edição de setembro/outubro de 2017, matéria com o título “JARDIM BOTÂNICO CORRE O RISCO DE FECHAR”. A matéria se refere ao Jardim Botânico da UFSM, que ocupa 13 hectares no campus de Camobi, fundado em 1981 e implantado por uma comissão de professores do Departamento de Biologia (da qual me orgulho de ter sido integrante) liderada pelo querido colega eng. agr. Santo Masiero.
É muita notícia ruim para um dia só !!!

terça-feira, 10 de outubro de 2017

QUE SAUDADE PUNGENTE DO MISTÉRIO DOS QUINTAIS...- James Pizarro (crônica no Diário de Santa Maria, edição de 10.10.2017)



Corriam os anos 80 quando conheci os irmãos Dimitri e Negendre Arbo. Ao redor da piscina do Avenida Tênis Clube. Tocando violão. Cantando e tocando músicas renascentistas. Em pouco tempo nos tornamos grandes amigos. Para sempre. Ainda mais quando fiquei sabendo que eram filhos do meu amigo Antônio Carlos Arbo. Poeta e colega da UFSM. Autor do livro “Tempoema”. A mãe, professora estadual, talentosa pintora, fazia telas de pandorgas. Enfim, uma família de artistas.
Os dois irmãos formavam um duo conhecido pelo nome de “QUINTAL DE CLOROFILA”. Dimitri e Negendre tocavam múltiplos instrumentos. E eram compositores também. Costumavam cantar apenas o que compunham. As letras geralmente eram feitas com o auxílio do pai.
Dimitri tocava viola 12 cordas, saxofone e quatro tipos de flauta (transversa, doce, soprano e contralto), ocarina, percussão. Negendre tocava violão, casio, banjo, guitarra, bandolim, percussão, metalofone, microharpa, porongo.
Resolveram gravar um disco. As pessoas adquiriram o mesmo antecipadamente a fim de que o sonho pudesse ser realizado. O que ocorreu em 1983. O disco se chamou “O MISTÉRIO DOS QUINTAIS”. Tinha 10 faixas. Todas de autoria dos irmãos. Lembro de todas : As alamedas, Jornada, Drakkars, Liverpool, Gotas de Seresta, Viver, O último cigano, Jardim das delícias, Balada da ausência, O mistério dos quintais.
Eu tinha um programa de Ecologia na Rádio Universidade, chamado “Antes que a Natureza Morra”, que ficou 26 anos no ar. E levei o Dimitri e o Negendre para tocarem as músicas de fundo ecológico no meu programa, mesmo antes deles terem gravado o disco. Foi a primeira vez que eles se apresentaram em rádio.
Também quando eu promovi em Santa Maria o primeiro EEEE – Encontro Estadual de Entidades Ecologistas do RS, convidei o “Quintal de Clorofila” para se apresentar para mais de 150 ecologistas gaúchos, políticos, estudantes e imprensa que cobria o encontro. Também levei os mesmos para se apresentarem para os alunos do cursinho pré-vestibular MASTER, onde eu ministrava aulas de Biologia.
Teve grande repercussão o lançamento do disco devido ao inusitado das músicas, das letras, arranjos, pois tudo era muito avançado para a época. Lembro que houve uma apresentação da dupla no encerramento da edição dominical do FANTÁSTICO.
Até hoje não sei porque não saiu o segundo disco do QUINTAL DE CLOROFILA. O Antônio Carlos Carlos Arbo faleceu, infelizmente. Os familiares – e também os irmãos Dimitri e Negendre – foram morar em Foz do Iguaçu. E a cidade ficou órfã desta dupla que fez um tipo de música visionária, revolucionária para seu tempo, que encantou nossa cidade. E que faz a gente sentir saudade até hoje.
Principalmente diante da mediocridade musical que a TV despeja na nossa cara diariamente.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

AS LEIS EMPANTURRAM AS TRAÇAS E AS BARATAS - crônica de 26.09.2017 no Diário de Santa Maria

Em boa hora e com grande repercussão pública, o Diário de Santa Maria publicou reportagem sobre leis municipais que nunca tinham sido cumpridas, apesar de devidamente discutidas e aprovadas e – portanto – vigentes. Entre as dezenas citadas na bem elaborada matéria, foi citada a Lei Municipal 3240, de 1990, de minha autoria, que cria o “Setor de Conservação e Cadastramento de Monumentos da cidade e dá outras providências”.
Lembro bem que à época – legislatura 1988/1991 – tive enorme trabalho para elaborar o texto dessa lei, pois precisei me socorrer do auxilio de professores e alunos dos cursos de História e Geografia para mapear todos os monumentos então existentes na cidade e sua localização. Lembro que o projeto foi vetado pelo prefeito e o veto derrubado na Câmara, sendo a lei sancionada pela unanimidade dos vereadores.
Mas os monumentos – objeto da minha atenção – estavam azarados ! Pois a lei, aprovada em 1990, ate hoje não foi cumprida e o cadastro não foi criado. Desconfio que muitos dos monumentos citados na minha lei não existam mais. Tenham sido trocados de lugar, surrupiados, derretidos ou estejam mofando em algum depósito ou almoxarifado desta cidade “cultura”.
Mas fui consultar meus arquivos e me deparei com outras leis de minha autoria que – salvo melhor juízo – acho que jamais foram cumpridas. E que por curiosidade histórica resolvi lembrar, pelo menos de algumas.
Obriga vendedores de mel a apresentarem resultado de análise química do produto. (LM 3199/90).
Obriga empresas estabelecidas em Santa Maria com comercio de agrotóxicos a dar destinação final às embalagens dos mesmos. (LM 3206/90).
Obriga os proprietários rurais com atividades agrícolas comprovadamente agressivas ao meio ambiente a apresentarem projetos de medidas mitigadoras e compensatórias de recuperação. (LM 3287/1990).
Cria o plano de arborização urbana e rural e dá outras providências. (LM 3287/90).
Estabelece normas para a manutenção de animais destinados a comercialização em lojas e outros estabelecimentos comerciais. (LM 3237/90).
Obriga freqüentadores de academias de ginástica e musculação a apresentarem Teste Ergométrico para detecção de cardiopatias. (LM 3313/91)
Proíbe o uso de lajotas vitrificadas na construção de calçadas no município. (LM 3363/91).
Obriga a promoção de reflorestamento em áreas degradadas nas encostas dos morros do município. (LM3269/91)
Obriga o Poder Público e a iniciativa privada a apresentarem relatório de impacto ambiental (RIMA) como pré-requisito para instalação de obra ou atividade potencialmente poluidora ou causadora de degradação ambiental. (LM 3290/91).
Dispõe sobre a arborização obrigatória das faixas de domínio das rodovias municipais. (LM 3498/92).
Trago em coleção apenas estas poucas leis porque são dezenas de outras porque – meticuloso que sou – as tenho arquivadas. Muitas vezes o legislador pode estar cheio de boa vontade. Pesquisar. Estudar. Cercar-se de técnicos. Redigir. Buscar apoio de seus pares. Conseguir a aprovação das leis.
Para que depois, melancolicamente, elas fiquem mofando numa gaveta. Alimentando traças e baratas.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

A BIODIVERSIDADE TRIBAL DO CALÇADÃO - James Pizarro (edição de 12.09.2017 do Diário de Santa Maria)

Há mais de ano frequento o calçadão diariamente.  Nos mais variados horários. Pela manhã costumo ficar às vezes – se a companhia estiver boa – cerca de três horas.  E mesmo sozinho fico apreciando o movimento. Cumprimentando as pessoas. Prestando atenção em tudo. E em todos. Volto pela tarde e faço a mesma rotina.

Claro que não fico estático. Vou ao cafezinho. Sempre com o Modesto Dias da Rosa, companheiro inseparável de todas as manhãs. Aparecem outros : Horst Oscar Lippold, Alfeu Scalcon. Mas tomado o cafezinho e dissolvida a roda de conversa, volto à minha  rotina no “PO” (Posto de Observação), como o jornalista Fabrício Minussi apelidou o banco onde fico no calçadão em frente à Galeria Roth.

Costumo ficar ali com olhos de lince. De observador do cotidiano. Vendo o destino dos passantes. As frases soltas. As discussões acaloradas. Quem me vê pensa sou apenas um ancião aposentado. Distraído.  Alma perdida. Esperando a morte chegar. Nem suspeita que liguei meus sensores. Para aprender coisas. Aumentar o aprendizado sobre a cidade.  Recolher material para minha crônica quinzenal. Aprender a biodinâmica de interações humanas na selva de cimento e suor.

E uma coisa que me saltou aos olhos é a variedade de “tribos” que habitam o calçadão Salvador Isaia. E todas mais ou menos fazem a ocupação de seu território seguindo um ritual de horário. Quem é da área das ciências ditas sociais ou humanas tem um prato cheio para estudar ou recolher material para escrever artigos especializados.

Posso listar as dezenas de pedintes pelo nome e seus pedidos preferenciais (dinheiro para o pastel, para passagem do ônibus, remédio, cigarro avulso, cafezinho). As simpáticas indiazinhas descalças, com 2 ou 3 anos de idade, sempre pedem moedinhas enquanto correm de banco em banco.

Às 9h00 horas abre a Lotérica Zebrão e suas simpáticas atendentes preparam-se para atender longas filas. Às vezes, ouvem coisas do arco da velha. Coisas que os clientes gostariam de dizer para os políticos e autoridades descarregam sobre as  funcionárias que pacientemente ouvem. Sorriem. E na maioria das vezes, calam.

Dezenas de militares reformados também têm cadeira cativa no calçadão. Conheço quase todos. Assim como os funcionários aposentados da UFSM, do governo do RS e do município de SM. Todos trocam informações sobre política. Existem também cidadãos que oferecem dinheiro a juro. Existem grupos de adolescentes munidos de mochilas em pleno horário escolar que dão a nítida impressão de estar gazeando aula. Existem artesãos que ocupam o solo do calçadão a partir de certo horário da tarde. Outros trocam os bancos de lugar sem que ninguém reclame com medo de se incomodar. Outros passam voando de skate.

Alheia a tudo, minha amiga dona Vera chega com sua bolsa cheia de saquinhos de ração. E distribui para os cachorros do calçadão. E fornece água a eles também. Depois junta os potes e saquinhos, deixa tudo limpo e vai embora. Os cachorros ficam felizes sacudindo a cauda.


E eu fico feliz também. Porque fico otimista. Fico achando que a humanidade ainda tem saída. 

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A PRIMEIRA AULA, A GENTE JAMAIS ESQUECE - James Pizarro (edição de 29.08.2017, Diário de Santa Maria)

Sou do tempo em que o então chamado Grupo Escolar João Belém funcionava no prédio onde hoje está o MANECO, em Santa Maria, RS. E ali fui matriculado - com 6 anos de idade - no Jardim da Infância.
Assim é que, nos primeiros dias do mês de março de 1948, comecei a estudar. Agarrado à mão de minha mãe, fui levado e entregue na penúltima porta do corredor do primeiro andar à mestra Luiza Leitão, uma professora afrodescendente, de cabelos brancos, que foi minha primeira professora e da qual guardo enternecedora lembrança. Ela me recebeu carinhosamente. O que fez dissipar-se do meu assustado espírito qualquer resquício de medo. Muito embora eu tenha sentido um inesquecível aperto no peito quando vi minha mãe me abanar e desaparecer pelo corredor.
Lembro detalhadamente desse primeiro dia de aula ! Sentei-me numa mesinha, junto com duas meninas e um menino, de nome Cleómenes, que usava óculos. Inexplicavelmente, não guardei o nome das duas meninas, que eram simpáticas e puxavam conversa. A professora Luiza Leitão bateu palmas, pediu silêncio. E colocou no aparelho de som (que era chamado de "vitrola") um enorme disco de vinil. Daquele disco, como num passe de mágica, brotou a emocionante novela intitulada "As Aventuras do Coelhinho Joca", a primeira história infantil gravada que ouvi em minha vida. Eu gostei tanto que, meses depois, quando ganhei meu primeiro cachorro de presente, um fox preto e branco, o mesmo recebeu o nome de "Joca".
Corria o ano de 1948, ano em que o Botafogo foi campeão carioca. O time alvinegro entrava em campo com sua mascote "Biriba", uma cadela também fox preta e branca.
Num relance e passaram-se décadas desde a minha primeira aula, pois estou hoje com 75 anos. Lembro detalhadamente de tudo. Desde a disposição dos móveis na sala. Dos quadros. Dos rostos. Dos sons. Do sino batendo para o meu primeiro recreio. Da primeira merenda. À noite, custei muito a dormir. Pois recapitulava mentalmente tudo o que me havia acontecido naquele dia memorável.
A professora Luiza Leitão, e depois a professora Léa Balthar, foram as duas responsáveis pela minha alfabetização. Não posso deixar de registrar a querida professora Fátima Mesquita, responsável por ter me preparado para o exame de admissão ao ginásio no MANECO.
A outra diretora do João Belém, que substituiu a professora Edy Maia Bertóia, foi a Professora Heleda Diquel Siqueira. Que também foi minha professora de Trabalhos Manuais. Dona Heleda era exímia jogadora de bolão. Viajava muito pelo RS disputando campeonatos femininos de bolão. Faleceu recentemente.
Nas datas importantes - principalmente nas datas cívicas - aconteciam no João Belém as chamadas "audições". O que era isso ? Todo o corpo docente e discente era reunido no salão de festas da escola. E havia apresentações artísticas : danças, corais, declamação de poesias, números musicais, mágicas, bandas. Tudo isso era precedido pela fala do locutor. Que lia uma sinopse do número que ía ser apresentado.
Devido ao desembaraço, desenvoltura ou "cara-de-pau" - seja lá que nome tenha isso - sempre fui escolhido para ser o locutor das "audições". O que me conferia um certo "status" com os professores. Simpatia com as meninas. E uma certa ciumeira dos meninos.
Dou-me conta, agora, da influência que tais experiências da meninice podem ter na formação da nossa personalidade. E até nas nossas escolhas profissionais de adulto.
É um mistério ! Que estranho fermento a vida semeia na sensibilidade da gente ! E ao longo do tempo aquilo vai se metamorfoseando em pão.
Esse mistério foi inoculado em meu espírito pela dedicação de meus professores do João Belém e do Maneco.
E por isso serei eternamente grato a todos eles. Até o último dia da minha vida.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

O VENTO SOPRARÁ FEITO UM HINO SOBRE AS FLORES - James Pizarro (Diário de Santa Maria, página 4, edição de 15.08.2017)


domingo, 6 de agosto de 2017

SAMDU-SAMU - autor : Moacir da Rosa Alves

SAMDU-SAMU 

SAMDU-SAMU. Final dos anos 50 inicio de 60 Santa Maria inauguráva o seu Serviço de Atendimento Médico Domiciliar de Urgência.-SAMDU, implantado no país por iniciativa de João Goularte. Um de seus postos situado na Vila Belga a rua Dr.Wauthier numa bela casa branca,quase esquina com a rua Daudt.O então Prefeito de Santa Maria, Sr. Vidal Castilho Dânia sanciona a leiN°611 de o6 de dez de 1957 aprovada pela Câmara para aquisição de medicamentos e outros.. para aquele posto ,que possuía uma ambulância e seu corpo clinico e administrativo chegou a ter mais de uma centena de servidores. Entre eles o 1° enfermeiro o Sr. Alfeu Pizarro pai do ilústre professor James Pizarro que lá também trabalhou na administração. Tendo como 1°médico chefe o Dr.Raimundo Braga, sucedido pelo Dr. Clândio Marques da Rocha,entre tantos renomados médicos que lá prestaram serviços a população os ,Drs. Ronald Bossemeyer, Eugênio Streliaev,Agostinho,Mazza e … O SAMDU á sua época foi um serviço de excelência que possuía como referência ao atendimento pré hospitalar, a Casa de Saúde e o Hospital de Caridade. Demostrando já naqueles tempos a necessidade da referência para atendimento pré hospitalar. Certamente nossa população mais do que duplicou neste período, aumentando em muito as necessidades de serviços médicos para o povo, que busca no SUS nascido em 1988; a cura para suas doenças . Em setembro de 2003,o Ministério da Saúde,através  portaria nº 1864/GM cria o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência-192)já implantado em muitos municípios do Brasil.Engatinha em nossa cidade embora já possua a meses as ambulâncias e tem fisicamente pronta a UPA. Diz a secretaria´de saúde que o serviço estará implantado no inicio de abril será?? Aqueles que puderam assistir o recente debate na TV Santa Maria em seu programa análise Santa Maria em debate, certamente perceberam que á necessária integração não existe entre os setores. Mas foi uma aula ministrada pelo médico dr. Cláudio Azevedo e do médico capitão dos Bombeiros sobre a legislação que é claríssima no sentido da CAPACITAÇÃO , da REGULAÇÂO MÉDICA, da CONCIENTIZAÇÃO da população e da UPA (Unidade de pronto Atendimento)como referência para o atendimento AH e medicamentos!! o SAMDU Tinha ambos há 50 anos ! E então quando vem o SAMU?!!  Inicia Hoje 20 de Maio de 2010 nosso SAMU ,desejo sucesso a toda equipe e empenho especial no atendimento de nossa população! .Att, Dr Moacir
SAMDUSAMDU
BENVINDO SAMU!!BENVINDO SAMU!!

REVIVENDO O CAMPUS | TEMP. 1 EP 01 | JAMES PIZARRO

terça-feira, 1 de agosto de 2017

A ESPADA DOS CÉUS CONTRA OS CANALHAS ! - James Pizarro (Diário de Santa Maria, edição de 01.08.2017)


Nos últimos dias fui a seis velórios. Acompanhei seis enterros. Queridos amigos meus. Alguns deles amigos há de mais de cinqüenta anos. Contemporâneos de universidade. Pensei até em citar os nomes de todos. Fazer uma síntese de suas vidas. Como forma de homenagem derradeira. Uma forma de lembrar aos familiares que foram importantes. Numa época de corações duros. De memórias fracas. Onde as instituições e as pessoas olvidam dos outros em menos de semana. Esses amigos – ao cabo de tudo – ficarão vivos no coração de suas viúvas. De algum filho mais sensível. Um netinho mais chegado. No coração do cronista patologicamente chorão.
Mas desisti de falar sobre a vida particular de cada um. E resolvi lembrar o assunto que mais falávamos em nossas conversas. Tanto no calçadão. No cafezinho. Nas filas da lotérica. Nos bancos da praça. O assunto preferencial de nós todos acabava sendo sempre o Brasil. A situação do país. Os políticos. A corrupção. Os escândalos sem fim. A Lava Jato. Os cargos de confiança. As assessorias.
Os meus amigos morreram sem saber que as universidades federais brasileiras só têm verbas até setembro. E que já estão demitindo funcionários. Extinguindo bolsas de ensino e de extensão. Gente da portaria, copa, garagem, jardins. Na UFSM já demitiram mais de meia centena de vigilantes.
Os meus amigos – alguns deles funcionários públicos federais – morreram sem saber que o (des)governo federal está planejando dar um calote e adiar para o segundo semestre do ano que vem o aumento prometido para algumas categorias, já que outras foram esquecidas.
Os meus amigos morreram sem saber que os ministros do governo já realizaram este ano (até segunda-feira, dia 24.07) 1112 viagens em jatinhos da FAB, que fazem parte do chamado GTE - Grupo de Transporte Especial, responsável pelas viagens de autoridades no Brasil.
Os meus amigos morreram sem saber que o “Impostômetro” registrou até a semana passada o recolhimento recorde de impostos no Brasil : este ano o nosso povo já pagou para o governo 1 TRILHÃO E 400 BILHÕES DE REAIS !!!
Os meus amigos morreram sem saber que a gasolina subiu de novo, um juiz mandou baixar mas o governo federal recorreu e prontamente ela subiu de novo ! E que agora virá a ciranda de aumentos de passagens de ônibus, taxis, fretes.
Os meus amigos morreram sem saber da pesquisa do IBOPE que deu um percentual de aprovação ao presidente de apenas 5 %.
Os meus amigos morreram sem entender como arrecadam tanto imposto nesta fúria tributária – alegando faltar dinheiro em caixa – e abrem os cofres do Brasil para as emendas dos parlamentares às vésperas da votação que decidirá o futuro do presidente.
Os meus amigos morreram na esperança de ver um Brasil feliz. A maioria deles não tinha partido, assim como eu. Calejados. Aposentados. Céticos. Contavam apenas com a esperança. A fé. O desejo íntimo de que surja um milagre.
Os meus amigos morreram acreditando que a espada dos céus vai se abater sobre os canalhas.
Que Assim Seja !

terça-feira, 18 de julho de 2017

SALÃO VENITO : O CLIENTE ENTRA FEIO E SAI BONITO ! - James Pizarro ( crônica no Diário de Santa Maria, edição de 18.07.2017)


Há muitas décadas acompanho o nascimento e desaparecimento dos salões em nossa cidade. Entenda-se “salões” como os locais de trabalho dos barbeiros. Estes dedicados profissionais que tratam, prioritariamente, dos cabelos e barba masculinos. Falo “prioritariamente” porque existem senhoras idosas e também mocinhas que são clientes e  pedem cortes bem masculinos, curtinhos.

Lembro de dezenas de salões de Santa Maria. Um que funcionava na gare da Viação Férrea na época áurea dos ferroviários. Outro no início  da avenida Rio Banco que atendia aos viajantes  hospedados nos hotéis e pensões. Outro no Círculo Operário, perto do Bispado. Mais um em frente ao Regimento Gomes Carneiro. Outro ao lado da quadra do Atlético, na André Marques. O Salão  Lord, na Primeira  Quadra (hoje, calçadão).

Mas o mais antigo de todos, ainda em pleno funcionamento, onde vou diariamente bater papo e três vezes por semana para fazer a barba é o famoso SALÃO VENITO. Está localizado na Galeria do Comércio e atualmente os proprietários do ponto são o Roni e a Madalena.

O Salão Venito começou a funcionar em 1953 nas dependências no antigo Hotel Kroeff, localizado onde hoje está  construída a Galeria do Comércio. Mudou-se para sua segunda sede um pouco abaixo da agência central dos Correios. Até que em abril de 1962 se estabeleceu em definitivo onde está, na Galeria do Comércio. Portanto, o salão está em funcionamento há 64 anos !

Conheci dezenas de barbeiros que trabalharam no salão  entre eles o próprio Venito, falecido em 1983, era barbeiro do meu pai. Há poucos meses faleceu o Nelson, que era barbeiro do meu sogro.  Outros que também se foram : Adão, Pedro, Nei, Urias, Laudelino, Álvaro Mendonça.

A equipe atual do salão é composta por sete excelentes profissionais : Amadeo (é o decano, o mais antigo de todos), Julio, Gilmar, Clândio, Francisco, Vilmar e Eduardo (o mais novo integrante da equipe).

O primeiro a chegar todas as manhãs, responsável pela abertura do salão às 6h30, é o Clândio. Providencia na limpeza, água quente, toalhas, lâminas, térmicas e cuia para chimarrão. Porque logo cedo tem uma turma de clientes e amigos que chegam para conversar, saber das novidades do dia e saborear o chimarrão cuja erva é semanalmente rateada por todos.

O Salão Venito têm clientes de dezenas de cidades situadas ao redor de Santa Maria. Profissionais de todos os tipos cortam o cabelo e fazem sua barba ali, alguns desde o tempo em que faziam  seus curso superior quando só existia a UFSM em nossa cidade. Hoje estes mesmos clientes trazem seus filhos e netos para  continuar a tradição.

O barbeiro de certa forma é um terapeuta, um psicanalista, um psicólogo pois - dependendo da situação e do estado emocional do cliente – tem de ouvir, concordar, sugerir, aconselhar, acalmar. Muitos clientes chegam tristes. Outros têm problemas de doença na família. Outros têm problemas econômicos. Outros  estão irritados com a situação econômica, as autoridades, o governo. E o barbeiro tem de ter a palavra amiga. O gesto solidário. Uma palavra de estímulo. Um abraço fraterno. Ou até um silêncio  compreensivo se o cliente estiver de pouca conversa.


E isso tudo tem no Salão Venito !!!

terça-feira, 4 de julho de 2017

AFETOS E QUEIXAS ALIMENTAM A CIDADE - James Pizarro (Diário de Santa Maria, edição de 04.07.2017)



O cronista não tem pretensão outra qual não seja a de partilhar emoções. Contar histórias. Rememorar. Colaborar com os arquivos da cidade. Dizer para alguns moços que o planeta não começou no dia em que eles nasceram. Registrar a memória da sua geração antes que – sem avisar – chegue o canalha do Alzheimer. Ou simplesmente falar sobre o cotidiano. As estações. O humor. O amor.
Os leitores também fazem reivindicações. Abordam na rua. Pelo telefone. Encaminham e-mails. Cartas. Deixam bilhetes. Esperam na portaria na condomínio . Fazem sugestões. Reclamam. Corrigem. Colaboram. Muitos são amigos. Colegas. Vizinhos. Mas a grande maioria é de desconhecidos.
Jamais deixei de atender um telefonema. Ou responder um e-mail ou carta. Ou acatar uma sugestão quando a mesma é pertinente. Ou dar uma explicação quando houve um mal entendido. Ou mesmo um pedido de desculpa no caso de uma grosseria involuntária.
Hoje vou sintetizar e colocar alguns pedidos em dia. O leitor prescreve. O cronista escreve.
Taxistas do Ponto Central, que têm ponto secundário na “boca” da Galeria do Comércio à rua Venâncio Aires queixam-se que o local destinado ao estacionamento dos taxis está quase sempre ocupado por carros particulares e carros fazendo entrega de mercadorias. E quando eles ligam para os guardas da Prefeitura Municipal para tomada de providências (multa e guincho) eles sempre informam que estão ocupados.
Dois professores da UFSM que costumam fazer caminhada (exercício) pela cidade reclamam que as pedrinhas portuguesas que foram usadas na revitalização dos canteiros centrais da av. Rio Branco estão soltas, o piso está cheio de buracos e as pedras, que custaram alto preço, estão amontoadas e sendo roubadas.
Minha crônica “Calçadão agonizante à espera de um socorro que nunca vem”, mereceu envio de atencioso e-mail do meu querido amigo de tantos anos Luiz Gonzaga Binato de Almeida, arquiteto e professor universitário aposentado. Binato concorda com todas as colocações que fiz a respeito da necessidade da “revitalização” do calçadão (termo usado pela Prefeitura) ou “restauro” (termo técnico usado por ele, Binato). Registre-se para a posteridade que o Calçadão de Santa Maria, hoje chamado “Calçadão Salvador Isaia, foi concebido e projetado pelo meu amigo Luiz Gonzaga Binato de Almeida.
Quem vai de carro pela Acampamento e dobra à direita na Pinheiro Machado corre o risco, naquele cruzamento, de ter os órgãos da cavidade abdominal trocados de lugar tal a quantidade de buracos existentes naquela esquina. Urge que se tomem providências naquele local principalmente porque é caminho para o Hospital de Caridade, Hospital Alcides Brum e dezenas de edifícios de consultórios. Qualquer dia uma maca vai saltar de dentro de uma ambulância e sair rolando sozinha pela rua. Ao melhor estilo “pegadinha” de programa dominical de TV.
Quem viver, verá !

terça-feira, 20 de junho de 2017

HUMANÓIDES "ONE-WAY" - James Pizarro

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Em Ecologia, "one-way" é uma embalagem sem retorno. Geralmente garrafa ou pote de vidro...o consumidor usa o produto e bota fora a embalagem. As pessoas estão sendo tratadas assim também...você é "amado" (kkkkkkk) enquanto é útil aos interesses do "amigo", da empresa, se tem dinheiro, poder, influência, beleza, se exerce cargos...se perdeu essas coisas, é deletado. É bagaço. Laranja que não tem mais suco. Caneta esferográfica que não tem mais carga. Lâmpada que começou a "piscar". O destino é o lixo do esquecimento. Mas se você ganhar a Mega Sena sozinho, prepare-se que todos os antigos "amigos" tentarão voltar. Até aqueles que desfizeram as amizades no facebook. e os que nunca mais responderam seus e-mails. Ou retornaram seus telefonemas. Terá chegado a doce hora de mandar todos TNC !!!

HOMEM DE DEUS CUMPRE SUA TAREFA NO CALÇADÃO - James Pizarro (DIÁRIO DE SANTA MARIA, 20.06.2017)

O orador ou artista que se apresentar no novíssimo Centro de Eventos da UFSM terá a garantia de uma seleta platéia. Ótima acústica. Excelente aparelhagem. Talentosos técnicos de som. Poltronas confortáveis. Ambiente climatizado. Propício à atividade intelectual. Artística. Cultural.
Assim também será na sala de espetáculos do complexo do Hotel Morotin. E no requintado Teatro 13 de Maio. E na sala de sessões da nossa Câmara de Vereadores. E nas salas de solenidades cívicas dos quartéis. Escolas. E Universidades. Sempre platéias de nível intelectual muito acima da média. Atentas. Educadas. Disciplinadas.
De certa forma, estes ambientes apropriados facilitam o trabalho dos oradores. Professores. Artistas. Políticos. Militares. Palestrantes. Cantores. Declamadores. Conferencistas. Pregadores.
Por que este preâmbulo ?
Porque meu personagem de hoje nunca freqüentou estes ambientes sofisticados. Seu palco é a rua. Sua sala de espetáculos é o Calçadão Salvador isaia !
Estou falando daquele moço moreno claro que diariamente se encontra no calçadão. Em frente à Galeria Roth. Empunhando seu violão afinadíssimo. E que canta durante várias horas por dia. Músicas todas de sua autoria.
Mas a novidade impressionante é que são músicas religiosas. De cunho evangelizador. Composições de métrica perfeita. Melodias lindas. Entoadas com voz potente. Sem uma única nota desafinada. Todas – qual fábula – com uma moral educativa a ser meditada. Refletida por quem ouve.
Na sua frente, um banquinho verde de plástico com uma caixa para coleta de doações dos passantes. Na caixa, um cartaz : “DEUS É FIEL”. Ao lado, duas pilhas dos seus dois CDs já gravados. E que ele vende aos interessados.
Há várias semanas observo o Luiz Roberto. Este e o nome verdadeiro dele. Primeiro ficava em pé. Longe. Escutando atentamente as letras. Com o passar dos dias, me aproximava mais. Comecei a colocar contribuições na caixa. Comprei os dois CDs para ouvir melhor em casa.
Sentei no banco a seu lado na semana passada. E nos intervalos das músicas, eu puxava assunto. Ficamos amigos. Ele me contou que há muitos anos foi dependente químico (e não me pediu segredo, conta isso nas suas palestras nas pregações que faz na igreja de sua devoção e sua fé). E que conseguiu se livrar do vício prometendo consagrar o resto de seus dias em louvar a Deus através do seu talento : a música.
Eu me senti tão pequeno diante da simplicidade daquela confissão e daquela alma ressurgida das cinzas pela bondade de Deus, que chorei em pleno calçadão. Para surpresa de alguns estranhos que passavam. E não entendiam o que estava ocorrendo.
Afinal, eu estava sentado ao lado de um ressucitado ! Que voltou à vida pela graça da conversão !
Um professor universitário que tantas vezes, idiotamente reclamou da qualidade do som nas suas palestras, sentado ao lado de um cantor humilde que tem a suprema coragem de cantar na rua a palavra de Deus ! Quantos teriam este destemor ?
Luiz Roberto é um homem de Deus. Ele merece nosso respeito !

quinta-feira, 8 de junho de 2017

VAMOS TRATAR MELHOR OS MORTOS ENQUANTO AINDA ESTAMOS VIVOS !? - James Pizarro (Diário de Santa Maria, 06.06.217)

Quando rapazote eu tinha certas manias. Talvez preconceitos. Ou quem sabe, medos. De três deles pelo menos lembro bem. Não visitava doentes em hospital.   Não ia a velórios e enterros. Não ia a cemitérios. E para justificar, costumava dizer “quem não é visto não é lembrado”.

Os anos passaram velozmente. A maturidade chegou. Os medos se foram. A solidariedade se tornou um valor fundamental. O acolhimento na hora da dor e da doença passou a ser um imperativo de prática cristã. E o que a gente acaba mais fazendo aos 75 anos é visitar amigos doentes. Frequentar velórios de amigos, vizinhos, parentes e colegas.

Nos últimos anos  passei  pela dolorosa experiência de muitas mortes familiares. Perdi meus pais. Sogros. Avós. Tios. Sobrinhos.  Nos últimos meses tenho perdido dezenas de amigos, colegas, vizinhos, ex-alunos. 

E no silêncio de cada velório, sempre me lembro do poeta Manuel Bandeira. Nas aulas de Literatura do MANECO, a saudosa professora  Mariazinha Antunes Bernardes me ensinou um poema dele, intitulado “CONSOADA” :

“ Quando a indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.”

Foi nesse poema que aprendi o que significa a palavra “caroável” : amável, afetiva, carinhosa. Foi nesse poema que aprendi o significado da expressão “indesejada das gentes”...

Nestas minhas andanças cemiteriais observo coisas do arco da velha. Sujeira por todo canto. Lixo. Macegas. Arbustos altos. Túmulos mal conservados. Galhos de árvores com abelhas e vespas. Indivíduos com atitudes suspeitas andando pelo interior do cemitério. Até cobras já vi (por sorte, não venenosas, que conheço a diferença). Já ocorreram assaltos no interior do cemitério municipal.

A impressão que se tem é que há falta de funcionários. A capacidade física do cemitério municipal, por exemplo, está esgotada. Onde ficaram os planos de verticalização do cemitério ? E a terceirização do mesmo teve ou não interessados ?

Também muito já se falou da construção de capelas no âmbito do próprio cemitério. Seriam evitados os cortejos que atrapalham o trânsito. Guardas municipais fariam a vigilância dos velórios e todos teriam absoluta segurança.


Na legislatura de 1988/91 chegou a ser discutido projeto na Câmara de Vereadores para concessão de licença de construção de um crematório no município de Santa Maria. Mas houve pressões, contestações de toda ordem, incompreensões e o projeto foi derrotado. Mas já se passaram quase 30 anos !!! O mundo evoluiu. Hoje, todo mês assistimos famílias de santa-marienses levarem os corpos de seus entes queridos para cremação em Santa Rosa, Canoas ou outras cidades.  Isso causa transtornos de toda ordem e ainda leva dinheiro de nossa cidade para outras comunidades. Não está na hora de repensar isso ?

CALÇADÃO AGONIZANTE ESPERA SOCORRO QUE NUNCA CHEGA - James Pizarro (Diário de Santa Maria, 23.05.2017)

Testemunhei toda a construção do primeiro  calçadão em cidades brasileiras.  No período 1970/72 residi em Curitiba, quando fiz meu curso de especialização em Ecologia na  Universidade Federal do Paraná, já como docente da UFSM e bolsista da CAPES. 
Acompanhei a titânica luta do então jovem prefeito Jaime Lerner que – contra forte oposição, sobretudo do comércio – no dia 20 de maio de 1972 transformou a rua XV de Novembro no mundialmente  famoso Calçadão de Curitiba ou “Rua das Flores”. Desde aquela época tornei-me adepto dos calçadões.

Lembro com satisfação da instalação do calçadão de Santa Maria, na outrora “Primeira Quadra” durante a gestão do prefeito Osvaldo Nascimento. Das luminárias redondas. Das árvores. Enfim, do projeto original todo.

Passaram-se os anos. Vieram as reformas ao projeto original do calçadão.  Consulto um trabalho intitulado “Equívocos no Planejamento Urbano de Santa Maria”, de autoria dos arquitetos Cássio Lorensini, Larissa Carvalho Trindade, Luiz Guilherme Aita Pippi e Marcos Cartana.  Com a palavra os arquitetos a respeito das reformas :

A reforma, propagandeada amplamente pela Prefeitura, mostrou-se inadequada desde sua inauguração: as poucas árvores ainda existentes foram removidas, causando um aspecto árido e desconfortável; os canteiros elevados foram desenhados com ângulos pontiagudos, dificultando a circulação de pedestres; os materiais empregados no revestimento de piso além de possuírem baixa estética paisagística são inadequados para o grande fluxo e o mobiliário urbano foi disposto de maneira aparentemente aleatória, prejudicando os espaços de convivência e a própria iluminação noturna.”

Aspectos técnicos a parte, como morador e frequentador diário do calçadão, conheço suas mazelas. Suas deficiências. O abandono a que foi relegado nos últimos anos. Converso com seus frequentadores. Os aposentados que fazem fila na lotérica. Os militares reformados. Os cantores de música pop, americana ou evangélica.

Os bancos não estão chumbados, isto é, parafusados ao chão. As pessoas trocam os bancos de lugar. Nos assentos e encostos dos bancos  faltam ripas ou estas estão quebradas. As floreiras são depósitos de milhares de “bitucas” de cigarros e latas de refrigerantes.

Lajotas quebradas não são repostas e, em seu lugar, é colocado cimento tornando o piso irregular. O que deveria ser um local de passeio é uma tortura para idosos que usam bengala, andador ou cadeirantes. O calçadão precisa de guardas permanentes e de um jardineiro fixo. Faltam lixeiras novas.


O calçadão deveria ser nosso cartão postal. Assim como está, é um borrão na paisagem !!!