segunda-feira, 30 de julho de 2018

RUMO ÀS TREVAS PELA AVENIDA DO CAOS - James Pizarro (pág.4 do DIÁRIO DE SANTA MARIA, 31.07.2018)


" Segurança, trabalho, saúde, educação ".
Preparem os ouvidos para os tempos que se avizinham. Rádio, TV, carros de som. Um exército midiático poderoso – movido por bilhões de reais – movimentará ruas e avenidas. Invadirá nossa privacidade. Contará histórias mirabolantes. Sempre achei estranha uma coincidência no currículo dos candidatos.  Todos vieram de famílias pobres. Tiveram infância melancólica. Trabalharam duro para ajudar os pais. Não mentem que passaram fome  porque são rosados e rechonchudos. Abraçam velhos professores para depois  não lhes pagar o piso salarial previsto em lei. Pegam criancinhas no colo para as quais meses depois sonegam creches. Morrem de amor pela Natureza para conquistar votos dos ambientalistas e depois permitem que se desmate o país. Beijam idosos e se deixam fotografar com o pessoal da terceira idade e meses depois deixam faltar abrigos de ônibus, remédios de uso continuado e leitos para a terceira Idade.
Só de imaginar essa nojenta cantilena novamente nas propagandas eleitorais me dá urticária e náusea.
Os amigos e ex-alunos sabem que sempre fui contra a reeleição para cargos executivos. Dou de barato que se aumente de quatro para cinco ou seis anos o tempo do mandato de governador e presidente da república, desde que se proíba a reeleição.
O poder vicia. Traz erros. Corrupção. Protege os aliados. A lei passa a valer apenas para os inimigos.
Bilhões de reais gastos para fazer estádios para realizar três ou quatro jogos da Copa do Mundo. Enquanto diariamente assistimos na TV as noticias de escolas em péssimas condições, grande número delas em ruínas.
Milhões de reais são gastos em viagens desnecessárias, em escândalos denunciados pelas redes nacionais de TV.
Há no ar - só os surdos não ouvem e os cegos não enxergam - um oceânico desejo de mudança. Mudança radical. Em tudo. Só quem parece não sentir são os políticos em geral e os poderosos de plantão, em particular.
Ocorra o que ocorrer, nada acontecerá para a casta social monopolizadora do dinheiro e do poder, pois nada lhes faltará.
Ocorra o que ocorrer, a classe pobre seguirá iludida e feliz com a avalanche de esmolas travestidas de bolsas que cumprem a dolorosa, antiética e sublimar "missão" de amortecer consciências e ganhar votos.
Mas e a classe média, onde rebenta quase tudo, pois nem sonegar pode pois o implacável imposto de renda (salário é renda ?) já lhe desconta no contracheque os 27,5 % que equivalem a mais de quatro meses do seu salário anual ?
E a classe média, onde estão os profissionais liberais, os intelectuais, os que têm visão crítica das coisas e que - nas revoluções - são os primeiros a ser presos ou mortos porque incorrem no terrível pecado de ter inteligência e discernimento com os quais podem influenciar pessoas ?
Sim, este ano vai ter eleições.
Basta olhar as badernas nas ruas e estádios, assistir o número de assassinatos que aumenta diariamente e as reclamações de toda ordem para sentir que estamos num clima de desordem e desobediência civil, tudo temperado pela impunidade.
Sim, este ano vai ter eleições.
Estamos caminhando pela avenida do Caos.
Rumo às Trevas.

 


segunda-feira, 16 de julho de 2018

JOVENS : “ON THE ROAD” ! NÃO TENHAM MEDO DE OUSAR ! - JAMES PIZARRO (crônica publicada em 17.7.2018, pág.4, Diário de Santa Maria)


Este livro é praticamente um registro "tupiniquim" da minha geração, só que escrito sob o ponto-de-vista da juventude norte-americana. Eu, pessoalmente, me identifico demais com o narrador do livro (Sal Paradise) pelo seu amor ao jazz, à literatura e pela vontade de escapar de Santa Maria, RS quando jovem para correr o mundo.

Se tivesse saído do interior gaúcho, adolescente e sozinho, não sei se estaria ainda vivo. Depois de formado, fui chantageado a ficar, embora tivesse tido oportunidades para uma bolsa de estudos de dois anos na Holanda. Depois, um convite para dar aula na Universidade da Paraíba e morar em João Pessoa. Depois, ficar em Curitiba dando aula no Cursinho Bardal. E depois...depois...depois... Fui coagido pela família a ficar.

Enfim, fui domesticado pelo sistema vigente à época. E não culpo ninguém. Pois eu me submeti. Não tinha a devida dose de revolta e loucura. Fiquei a vida inteira numa cidade onde muitos ainda praticam o esporte de cuidar da vida de todo mundo. Convivendo com suscetibilidades (para ser bem educado).

E - principalmente - onde a visão curta de muitas pessoas não lhes permite a pacífica convivência com os diferentes. Isso deve ocorrer em todas as cidades interioranas, eu sei. Isso foi muito bem retratado numa série de filmes americanos sob o título “A Caldeira do Diabo”. Tanto é verdade que me tornei – para alguns chatos - um excêntrico, um maldito. Embora fosse considerado um destemido, um desbravador, um polêmico (na visão dos meus alunos).

Sempre terei essa dúvida : se fiz bem ou se fiz mal em ficar tanto tempo. Mas consertei em parte na velhice o meu equívoco, abandonando tudo e todos (exceto minha mulher) e indo morar na praia, com gaivotas livres  e cachorros errantes. Na maravilhosa praia de Canasvieiras, na mágica ilha de Florianópolis, onde fiz uma experiência temporária de uma década. E depois voltando. Com saudade dos amigos, dos morros, dos parentes. E para morrer.

Mas voltando ao "ON THE ROAD", livro que me foi presenteado há muitos anos pelo saudoso amigo e colega da UFRGS, geneticista Flávio Lewgoy, à época presidente da AGAPAN, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. Sal Paradise é o narrador de On the road - "pé na estrada". Ele vive com sua tia em New Jersey, Estados Unidos, enquanto tenta escrever um livro. Ele é inteligente, carismático e tem muitos amigos. Até que em Nova York ele conhece um charmoso e alucinante andarilho de Denver de personalidade magnética chamado Dean Moriarty.

Dean é cinco anos mais novo que Sal, mas compartilha o seu amor por literatura e jazz, e a ânsia de correr o mundo. Tornam-se amigos e, juntos, atravessam os Estados Unidos, deparando-se com os mais variados tipos de pessoas, numa jornada que é tanto uma viagem pelo interior de um país quanto uma viagem de auto-conhecimento - de uma geração assim como dos personagens.

Sugiro a todos os jovens que leiam este livro. E se tiverem vontade de ousar, OUSEM !!! VOEM !!! PARTAM !!!

As estrelas esperam por vocês ...


terça-feira, 3 de julho de 2018

NO TEMPO EM QUE SE USAVA “COM LICENÇA” E “MUITO OBRIGADO” - JAMES PIZARRO - Diário de Santa Maria, edição de 3.7.2018,pág.4


Trem Minuano. Zebrinha da Loteria Esportiva no "Fantástico". Hugo da Flauta. Calça Topeka. Tio Santo. Negativo de foto. Tivico. Língua do "P". Sargento "Farol" da Banda do Sétimo. Emulsão de Scott. Abelin assoviador. Coppertone. Restaurante Moby Dick. Naftalina. Cabaré Balalaika.
Blusa de banlon.  Gruta Azul. Pílulas de vida do Dr. Ross. Restaurante Gruta da Imprensa. Vemaguet.  "Senadinho" do Clube Comercial. Rural Willys. Garçon"Chico" do Clube Caixeiral.
Bobs para o cabelo. Trem Húngaro. Piadas de caserna das "Seleções". Revista "Realidade". Papel carbono. Trem "noturno" para Porto Alegre. Xampu de ovo. Revistaria da gare da estação ferroviária.
Elefantinho da Shell. Stand do Wilson na Segunda Quadra da Bozano. Pó compacto Cashmere Bouquet. Matinê dominical das l3h15 do Cine Imperial. Leque feminino. Álbum de figurinhas "Marcelino, pão e vinho". Piteira para cigarros. Cabaré da Valda. Atirei o Pau no Gato. Retreta na praça Saldanha Marinho. Óleo Singer. Central de Máquinas. Disco de 78 rotações. Relojoaria Péreyron. Cobertor Sonoleve. Casa Feira das Sedas. General Osvino Ferreira Alves. Sabonete Madeira do Oriente. Sibrama. Modess Pétala Macia. Calçados Morisso. Vidal Castilhos Dânia. Elevador Ótis. Brim Coringa Sanforizado. Bel Som. Pyrex. Livraria Dânia. Roy Rogers. Casa Escosteguy. Buck Jones. Casa "A Facilitadora".  Gabriel Abbott.  Tarzã. Guarany Atlântico.
Corante Guarany. Bibelô. Bidê. Revista Intervalo. Revista Sétimo Céu. Revista Grande Hotel. Revista "O Cruzeiro". Heitor Silveira Campos. Revista do Globo. Relógio Cuco. Deocleciano Dornelles. Bomba de Flit. Mimeógrafo. Toca discos. Caminhão FNM. Dom Antônio Reis. Flâmula. Monark. Pneu Balão. Jardim Tropical ao lado da catedral.
Camisa Volta ao Mundo. Café Visita. Amigo da Onça. Café Cometa. Repórter Esso. Goma Arábica. Montanha Russa. Casa Cristal.
Sapato Vulcabrás. Neocid. Enciclopédia Barsa. Tesouro da Juventude. Clube Juvenil Toddy. Escola de datilografia. Corte meia cabeleira. Corte Principe Danilo. Cabaré da Valda e da Geni. Casa das Malas. Joalheria Troian.
Binaca. Envelope verde-amarelo para correspondência aérea. Alpargatas Roda.
Monóculo com foto. Bombril na antena. Enceradeira. Fotonovela. Decalque.
Araldite. Simca Chambord. Galocha. Chaveiro com pé de coelho. Meia-sola.
Máquina de moer carne. Sabonete Eucalol. Maiôs Catalina. Varig na Noite. Casa Aronis.
Sabão Rinso. Dedal. Uniforme de Gala.  Glostora. Leite de Rosas. Leiteiro. Fábrica de Mosaicos  Ângelo Bolsson.
Jogo de futebol de botão puxador. Mingau de aveia Quaker. Jeca-tatu. Saci-pererê. Reizinho.
Drops Dulcora. Penico. Cartão de Natal. Mercurocromo. Espiral contra mosquito. Aluno levantava quando professor entrava na sala.
Talha. Filtro de Barro. Calça faroeste. Toca-fitas. Aqua Velva. Soldadinho de chumbo. Topo Gigio. Os Sobrinhos do Capitão. Kichute. Conga. Tênis Bamba. Manilhas Kozoroski. Casa Herrmann. Usavam-se as expressões “com licença” e “muito obrigado”.
Ovo de madeira para cerzir meia.  Crush. Cyrillinha. Bambolê. Sabonete Lever.
Instituto Universal Brasileiro. Tigre da Esso. Calçadeira. Slide. Quinta Seibel.
Três em Um. Roupa engomada. Revista do Rádio. Cadernos do MEC. Cadernos Avante.  Clube do Bolinha. Casinha na árvore. Cadeiras na calçada. Velar o defunto em casa. Seringa de vidro para dar injeção. Suadouro contra gripe. Escaldapé. Biliquê contra gonorréia.
Rodelas de batata inglesa na testa contra dor-de-cabeça. Gemada com canela.
Manta de lã contra caxumba. Entregador de vianda.
*Se você tiver conhecido 90% disso tudo, certamente terá mais de 70 anos...