sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ACORDA PARA VIDA REAL, NEYMAR !

Caro Neymar :

Tu ganhas num mês o que a maioria da população brasileira não ganha durante toda uma vida. Tens assistência médica, odontológica, jurídica, psicológica. Tens massagista, nutricionista, fisioterapeuta. Tens advogados e familiares para cuidar do teu dinheiro e contratos. És cobiçado por grandes clubes de todo o mundo e, se vendido, ganharás milhões de dólares de participação na venda. Tens divulgação gratuita pela midia como cientista de renome jamais terá. Viajas de avião e te hospedas nos melhores hotéis do mundo gratuitamente.

Ofereces em troca brincadeiras de mau gosto pelo Twitter. Deboches em campo contra os adversários. Demonstrações de onipotência pelo Orkut e pela Web Cam. Ofensas e brincadeiras de mau gosto contra os adversários. Atrasos nos treinos. Indisciplina de toda ordem. Agressões verbais públicas contra teu técnico.

Foste multado em dinheiro. Teu técnico, que sempre te protegeu, foi demitido. Ganhaste a antipatia dos teus colegas de equipe. Parte da crônica esportiva já te olha com desconfiança. O preço de venda do teu passe para clubes do exterior já ficou depreciado. O Santos saiu perdendo com isso, pois és patrimônio do clube. O técnico da Seleção Brasileira, Mano Menezes, já disse claramente que indisciplinados não terão vez e não te convocou. E o Tribunal de Justiça Desportiva ainda vai te julgar. Provavelmente vais pegar vários jogos de suspensão, prejudicando tua ficha profissional e o clube ao qual tu serves.

Se queres ser tratado com respeito e como adulto, não podes te comportar como criança mimada. Alguém precisa te ensinar limites, que pareces desconhecer. Corres o risco de destruir teu futuro. Não podes botar fora com a cabeça o dinheiro que ganhas com os pés. Convenhamos que, com 18 anos, já não és mais uma criancinha. És um homem. Trata de te comportar como tal. As pessoas estão te perdoando por enquanto. Mas não te perdoarão sempre.

Portanto, trata de acordar para a vida real !

****************************
AUTOR : James Pizarro

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"JOVEM GUARDA", UMA DOCE LEMBRANÇA

"O futuro pertence à jovem guarda porque a velha está ultrapassada".
Os ligados à política e à História devem conhecer a frase. Que é de autoria de Lenin.
Baseada na expressão "Jovem Guarda" é que a TV RECORD, no ano de 1965, lançou um programa de auditório que iria revolucionar e influenciar uma geração inteira. A minha geração.
Nas célebres reuniões dançantes do Clube Comercial, de Santa Maria, a gente dançava de rosto colado ao som das baladas românticas do "rei" Roberto Carlos.
Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa comandaram o programa. E se encarregavam de, além de cantar, apresentar todos os artistas que comungavam com eles o mesmo ideal.
O programa teve a duração de três anos (terminou em 1968) e lançou dezenas e dezenas de cantores. Devem ser lembrados (além de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa) os seguintes cantores : Celly Campelo, Vanusa, Eduardo Araújo, Silvinha, Martinha, Arthurzinho, Ronnie Cord, Ronnie Von, Paulo Sérgio, Wanderley Cardoso,Bobby di Carlo, Jerry Adriani, Rosemary, Leno e Lilian, Demétrius, Os Vips, Waldirene, Diana, Sérgio Reis, Sérgio Murilo, Trio Esperança, Ed Wilson e Evaldo Braga.
Faziam parte do movimento as bandas : Os Incríveis, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys e The Fevers.
Não existia violência. Drogas. Rachas. Gangs. E o máximo que ocorria era se tomar uma ou duas doses de vodka com Cirillynha, um refriferante famoso feito na cidade mesmo.
Rostos colados. Corações disparando. Dançar abraçadinho. Tudo às escondidas. Porque mães vigilantes estavam sentadas às mesas cuidando todos os movimentos. Dezenas de namoros começaram ali. Ao som da "Jovem Guarda".
Muitos dos cantores já morreram. Outros cairam no ostracismo. Outros sumiram sem dar notícia.
Roberto Carlos - num extraordinário exemplo de vitalidade e talento - continua sendo o "rei". Não mais agora da minha geração. Mas de todos os românticos do país.
Assim também, muitos casamentos acabaram. Sonhos. Carreiras. Vidas. Amores.
Muita coisa acabou.
Teimosamente sigo lembrando duma época em que o amor nascia ao som de uma canção. O romantismo existia. E o amor perseverava. Através de poemas. Cartas. Telefonemas. Doce espera nas portas dos colégios.
Hoje tudo mudou.
As pessoas fazem amor pelo computador. Chats. E-mails. Messenger. Web cam.
Quando se ama através de uma máquina é sinal que algo está errado.
Ou então eu - que já fui da "jovem guarda" - estou ultrapassado. E não me dei conta que há anos já faço parte da "velha guarda".
É bem possível.
E melancólico.
**************************
AUTOR : James Pizarro

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ADEUS, MARCELO !

O único irmão homem da Vera Maria, minha mulher, reside em Rio do Sul (SC) onde, há 40 anos, exerce a profissão de veterinário e tem participação comunitária grande. Lá teve seus filhos com a esposa Magda : duas mulheres e um homem, nossos 3 sobrinhos, todos casados e lá trabalhando.
Quis a fatalidade que Marcelo, nosso querido sobrinho, filho de Nelson e Magda, morresse no domingo último (19/setembro) - depois de uma pneumonia seguida de falência múltipla dos órgãos, aos 31 anos de idade, deixando 2 filhos pequenos. Tudo isso ocorrido de forma fulminante em apenas 3 dias, o que deixou todos os parentes e amigos abalados, uma vez que Marcelo era um rapaz alegre, pacifico e pacificador, com vasto circulo de amizades, principalmente na comunidade luterana de Rio do Sul, na qual atuava fazendo parte da juventude. A família foi consolada por um número incontável de pessoas da cidade, de jovens luteranos e recebeu assistência espiritual constante dos dois pastores luteranos. Marcelo foi velado no necrotério situado atrás da Igreja Luterana e foi sepultado no cemitério luterano situado também no pátio da igreja. Imediatamente eu e a Vera embarcamos para Rio do Sul, depois de esperarmos demais parentes no aeroporto de Florianópolis. Minha filha Nara e meu genro Carlos vieram de Panambi, RS; minha filha Cristina (Piti) veio de Minas Gerais; Carmem (irmã da Vera Maria), Luiz Osvaldo (marido) e Carlinhos (filho) vieram de Porto Alegre. Outros parentes, por parte de Magda vieram de Brasília e muitos amigos da família vieram de várias cidades de SC e RS.
Meu cunhado Nelson e esposa Magda, pais de Marcelo, se encontram por demais abalados, inconsoláveis, necessitando de orações de todos nós, razão pela qual redigi esta postagem. Humildemente rogo a ti - seja qual for teu credo - que reze ao Senhor Jesus Cristo, implorando sua misericórdia pela alma de Marcelo e pela saúde de sua esposa Sirlei, seus pais,filhos,irmãos e demais parentes.
Fraternalmente, agradecemos !

James e Vera Maria

Florianópolis, 21 de setembro de 2010.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

TARZAN MORREU

Tinha eu uns 9 ou 10 anos. Nem para os escoteiros eu havia entrado.
E já lia sofregamente. Livros de aventuras.

Devorei toda a coleção do Tarzan publicada no Brasil.
Histórias fantásticas escritas por Edgar Rice Burroughs.
Livros de papel jornal. Capa colorida e ilustrada.
Todos publicados pela Editora Nacional. Eram livros já antigos, do tempo de menino do meu pai.

Lembro de alguns títulos. "Tarzan, o Rei da Selva".
"Tarzan e as Jóias de Opar". "Tarzan e o Império Perdido".
"Tarzan, o Magnífico". "Tarzan e a Legião Estrangeira".

Não perdia também nenhum filme de Tarzan.
Todos exibidos aos domingos, no matinê, das 13,15h no Cine-Teatro Imperial.
Chamado pela gurizada de "sessão da uma e quinze".
Nos filmes mais antigos Tarzan era representado pelo ator Johnny Weissmuller. Mas o Tarzan mais famoso da minha infância era representado pelo ator Lex Barker.

Eu ficava emocionado com Tarzan. Com a macaca Chita. Com Jane, a namorada de Tarzan. Com as mil peripécias enfrentando os caçadores de animais.
Depois dos livros e dos filmes de Tarzan, vieram os "gibis" (histórias em quadrinhos) publicadas pela Editora EBAL. E os "comics" (tirinhas de jornal).

Até que os editores inventaram um filho para Tarzan.
E passaram a surgir os livros da série "Korak, o Filho de Tarzan".
Fiquei tão decepcionado que me recusei a ler.
Tarzan nunca poderia ter tido filhos.
Ou ter casado com Jane.
Foi uma traição à minha infância.

Nas sessões da madrugada, quando por acaso passa um velho filme de Tarzan, eu desligo a televisão. E vou prá cama.
Custo a dormir.
Porque fico resmungando uma certa mágoa.

*********************************
AUTOR : James Pizarro

ANTES QUE A NATUREZA MORRA - James Pizarro

Este é o primeiro artigo da série
"Antes que a História Morra", série escrita
por mim na revista digital da UFSM, RS, chamada
"Conexão UFSM" (14/08/2010), a convite do jornalista
Miltom Oliveira, webmaster da Rádio Universidade
Conferir no link : http://coralx.ufsm.br/radio/conexaoufsm/numero01/pizarro.html
*****************************************
ANTES QUE A NATUREZA MORRA

Entre as minhas dezenas de arquivos, encontro um recorte da extinta Folha da Manhã, de Porto Alegre, datado de 22 de agosto de 1978, contendo matéria com o seguinte título : "Há um ano, emissora fala em Ecologia". Reproduzo um trecho da matéria do jornal porto-alegrense : "O primeiro programa radiofônico do Brasil sobre Ecologia, comemora este mês um ano
de existência. ANTES QUE A NATUREZA MORRA é apresentado todos os sábados pela rádio da Universidade Federal de Santa Maria, sendo considerado pelo Ministério de Educação e Cultura e pela RADIOBRAS como o programa pioneiro no país no sentido de conscientizar ecologicamente o povo. O programa é produzido e apresentado pelo professor James Pizarro, docente do Departamento de Biologia da UFSM".

Registro que alguns colegas de rádio e da própria UFSM duvidavam que um programa deste tipo ficasse meio ano no ar. Pois ele ficou 26 anos no ar, ininterruptamente, sendo apresentado inclusive durante os meses de férias e durante os períodos de greve. Somente saiu do ar com a minha aposentadoria da UFSM.

Durante meus anos de serviço na UFSM e na rádio da instituição, sempre recebi apoio de todos os reitores. Sempre me permitiram usar o aparelho de telex instalado no gabinete da reitoria (era coisa moderna na época). Remexendo meus guardados, encontro cópia do telex datado de 12 de agosto de 1982, de número 0735, dirigido ao meu amigo pessoal Dr. Paulo Nogueira Neto, então titular da SEMA-Secretaria Especial do Meio Ambiente, órgão existente dentro do Ministério do Interior. O telex diz o seguinte : "Receba V. S. total apoio dos alunos da disciplina de Ecologia da UFSM e meu apoio pessoal, enquanto docente universitário, à carta enviada por V. S. ao Dr. Henrique Bergamin Filho, diretor do INPA-Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica. O público gaúcho é dotado de notável consciência ecológica e repudia experiências e estudos para a utilização de desfolhantes na Floresta Amazônica. Se tal se concretizar, coisa que espero não ocorra,o dedicado trabalho de V. S à testa da SEMA ficará totalmente desfigurado diante da opinião pública. Embora encravado no centro do Rio Grande do Sul, distante dos centros decisórios do país, este modesto professor universitário da área da Ecologia, tenta por todos os meios dar sua parcela de colaboração à causa do meio ambiente, certo de que o ecologismo é a única guerra santa deste final sombrio de século vinte".

Por três vezes, tempo depois, o Dr. Paulo Nogueira Neto me convidou para ir à Brasília para participar de mesas redondas e seminários, pois ele sempre foi admirador da minha proposta de rádio ecológico educativo. A criação das "Estações Ecológicas" é idéia dele, sendo que a primeira delas a ser criada, em homenagem ao movimento ecologista gaúcho, foi a Estação Ecológica do Taim. Numa época de verbas curtas na UFSM, com dificuldade para a aquisição das famosas fitas de rolo para a gravação do Antes que a Natureza Morra, me socorri do Dr. Paulo Nogueira Neto, tendo ele prontamente me atendido. Recebi em tempo recorde cerca de 500 fitas de rolo, marca BASF, de uma hora de duração, o que valia naquela época uma pequena fortuna.

OS MORROS DE SANTA MARIA VÃO DESLIZAR - James Pizarro

Este é o segundo artigo da série
"Antes que a História Morra", série escrita
por mim na revista digital da UFSM, RS, chamada
"Conexão UFSM" (14/09/2010), a convite do jornalista
Miltom Oliveira, webmaster da Rádio Universidade.
Confira no link : http://coralx.ufsm.br/radio/conexaoufsm/numero02/pizarro.html
**************************************************

OS MORROS DE SANTA MARIA VÃO DESLIZAR

A cidade de Santa Maria, RS, onde nasci e me criei, é cercada por lindas montanhas. Muitas com áreas de degradação e desmatamento, além de pedreiras que consegui paralisar na justiça quando estive vereador, em 1988/1992. E com o apoio da Rádio Universidade, através de entrevistas e denúncias.

Morro da Televisão, Morro do Cechella, Vila Bilibio, etc...têm ocupações irregulares que começaram naquele período, ao arrepio do código florestal e sob a complacência dos políticos. Dei dezenas de entrevistas e escrevi um longo artigo para o jornal "A Razão", que intitulei "A favelização de Santa Maria já começou". No artigo eu previa os deslizamentos, as mortes, etc... A cidade caiu de pau em cima de mim, enquanto colegas de docência da UFSM me chamavam de catastrófico. Outros me chamaram de histérico. Os colegas da Rádio sempre ficaram do meu lado.

Li dia desses nos jornais de Santa Maria que no Morro do Cechella já houve erosão e alguns pequenos deslizamentos, felizmente sem mortes (por enquanto).

Retorno ao tema por causa do desmoronamento e das mortes da Favela do Morro do Bumba, em Niterói, com dezenas de mortes e famílias inteiras soterradas.

Quem são os responsáveis pelo uso do solo em Santa Maria, a não ser a Prefeitura Municipal?

Existe uma espécie de plano diretor para as áreas de risco da cidade?

Essas áreas estão sendo monitoradas? Se positivo, por quem, quando e onde estão os relatórios do monitoramento?

Existem autoridades, secretários, vereadores ou políticos sob qualquer título que estimularam - principalmente em anos eleitorais - a ocupação ilegal de áreas de risco? Existem loteamentos clandestinos? Áreas de preservação permanente estão sendo ocupadas? Os mananciais do município estão sendo protegidos?

Nesta catástrofe de Niterói, o ilustre prefeito daquela cidade, Jorge Roberto Silveira (PDT) teve a cara de pau de fazer uma ridícula comparação, ao dizer que "ninguém culpou os governos da Ásia pelos tsunâmis". Sem ao menos ficar vermelho, o prefeito culpou São Pedro pelas chuvas excessivas e pelos desmoronamentos.

Agora mesmo, em Goiás, a justiça liberou da prisão um psicopata de bom comportamento e que tratou logo de matar e estuprar seis adolescentes. As autoridades apenas disseram aos parentes indignados que ocorreu um "lamentável equívoco na avaliação psiquiátrica". E tudo ficou por isso mesmo.

Se futuramente ocorrerem desmoronamentos e mortes nos morros de Santa Maria, o que dirão as autoridades?

Que a culpa é do "El Niño"? De Nossa Senhora Medianeira e do diácono Pozzobon que não velaram pela cidade?

Ou culparão o Pizarro e me acusarão de ave de mau agouro?

O que dirão?

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"CIC - CENTRO INTEGRADO DE CULTURA" DE FLORIANÓPOLIS : VAI PERMANECER FECHADO ATÉ QUANDO ?

Reproduzo abaixo o flyer de divulgação de ato/manifesto de amor ao CIC (Centro Integrado de Cultura) de Florianópolis que está abandonado há quase dois anos. Espero que todos os leitores/seguidores deste blog divulguem a matéria. Abaixo, na íntegra, o manifesto que me foi enviado assinado pelo grupo "ARTISTAS INDEPENDENTES DE FLORIANÓPOLIS".
**************************************
Não era sem tempo. Um ato em protesto ao fechamento do Centro Integrado de Cultura da Capital (CIC) deverá reunir mais de 100 artistas, além de servidores. A data ainda não foi divulgada, mas sabe-se que ocorrerá nos próximos 20 dias. A mobilização será pacífica e cultural, incluindo ações artísticas e exibição de vídeos, em frente ao CIC, fechado há quase dois anos para as intermináveis reformas. Até que demorou essa reação. O governo do Estado e a Fundação Catarinense de Cultura jogaram com a “infinita” paciência e a falta de iniciativa da classe para se mobilizar. Está na hora de dar um basta neste “blefe”.

A situação degradante do maior equipamento cultural do Estado é reflexo da política esquizofrênica e risível empreendida nos últimos oito anos pelas gestões encasteladas no governo do Estado. Durante esse tempo, o CIC passou por infindáveis reformas, todas inconclusas. Imaginem o quanto se enterrou de dinheiro ali nestes oito anos sem que os resultados fossem notados. A atual reforma já consumiu R$ 8 milhões, sendo não estão incluídos aí os gastos com o Teatro Ademir Rosa e o Cinema (estes ainda em licitação). Não seria assunto para uma Comissão Parlamentar de Inquérito?

Sabendo da precariedade e da urgente necessidade de uma readequação do local, o governo anterior resolveu investir o dinheiro do contribuinte na construção de um outro teatro, anexo ao Centro Administrativo, na rodovia de acesso ao Norte da Capital. Espaço este menor e que vive com constantes problemas de infiltração. Convenhamos, aquilo não é um teatro, é apenas um auditório construído para atender ao capricho do “rei nu” da época.

ass. ARTISTAS INDEPENDENTES DE FLORIANÓPOLIS

Bis da apresentação "Música para o Cinema" da Camerata Florianópolis.
Dia 23/11/07 no teatro do CIC, Florianópolis, SC.
Claro, isso quando o CIC funcionava e cumpria seu papel...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

AH, OS VENTOS DA ILHA...

Lembrei das aulas de geografia logo que vim morar na beira do mar. Das lições aprendidas quando fui escoteiro da Tropa Henrique Dias, em Santa Maria, RS. Quando era imprescindível saber os pontos cardeais. Norte. Sul. Leste. Oeste.

Pois aqui na praia, décadas depois, isso tudo me foi útil. Afinal, estou numa ilha. A ilha da magia de Florianópolis. Na praia de Canasvieiras tive logo de saber onde era o leste e o oeste. Foi fácil. Pois o sol nasce no Leste e se põe no Oeste.

E logo pude aprender sobre os dois ventos básicos : o "terral" e o "maral" (também chamado "lestada") O vento terral sopra de oeste para leste, isto é, da terra para o mar, quase sempre quente. O vento maral ou lestada sopra de leste para oeste, quase sempre frio e anunciando chuva.

Os surfistas da Praia Brava e da Praia da Armação me passaram também a lição : vento terral não deixa a onda explodir rapidamente, ela fica perfeita e ótima para a prática do esporte (vento chamado "offshore wind"). Já o vento maral deixa o mar mexido, impróprio para o esporte, com ressaca (vento chamado "onshore wind").

E o Nilzo Ivo Ladwig, professor universitário da UNISUL, nascido em Restinga Seca (na Grande Santa Maria) complementou as explicações sobre ventos numa das conversas pós-almoço no Bar do Chico, na beira da praia. O "alemão Nilzo" - como é carinhosamente chamado - é casado com a Diuris, santa-mariense formada em Geografia na UFSC. Estão em Florianópolis há muitos anos e são, junto com outros amigos, nossos grandes "orientadores" sobre como decodificar o "modus vivendi" na ilha. Como entender a história e geografia daqui. Como compreender o simpático povo manezinho. Que tão bem recebe a quem chega para somar.

Quando um homem quer aprender até sobre os ventos da nova terra é porque ele veio para construir. E ficar.

Para sempre !

*****************************
AUTOR : James Pizarro

Mar de lestada com mais de dois metros de tamanho. Altas ondas no começo do verão na praia do Matadeiro, no sul da ilha de Floripa-SC. (Vídeo :http://www.youtube.com/user/surftownn)

sábado, 11 de setembro de 2010

EL VINO - Alberto Cortez

Dedico este poema aos meus amigos argentinos
que residem em Canasvieiras e também
às centenas de turistas argentinos que se tornaram meus amigos,
sobretudo aos residentes em Rosario (Santafe) e Buenos Aires.
Um carinho especial para Suzana e Lorena Orieta, Daniel Simo e família, Daniel Anania e Agustina Anania, Graciela Anania, Horacio Oscar Giordano e família, Mónica Montanaro e esposo.
*****************************

EL VINO

Composição e interpretação : Alberto Cortez

"Sí señor... el vino puede sacar
cosas que el hombre se calla;
que deberían salir
cuando el hombre bebe agua.

Va buscando, pecho adentro,
por los silencios del alma
y les va poniendo voces
y los va haciendo palabras.

A veces saca una pena,
que por ser pena, es amarga;
sobre su palco de fuego,
la pone a bailar descalza.

Baila y bailando se crece,
hasta que el vino se acaba
y entonces, vuelve la pena
a ser silencio del alma.

El vino puede sacar
cosas que el hombre se calla.

Cosas que queman por dentro,
cosas que pudren el alma
de los que bajan los ojos,
de los que esconden la cara.

El vino entonces, libera
la valentía encerrada
y los disfraza de machos,
como por arte de magia...

Y entonces, son bravucones,
hasta que el vino se acaba
pues del matón al cobarde,
solo media, la resaca.

El vino puede sacar
cosas que el hombre se calla.

Cambia el prisma de las cosas
cuando más les hace falta
a los que llevan sus culpas
como una cruz a la espalda.

La puta se piensa pura,
como cuando era muchacha
y el cornudo regatea
la medida de sus astas.

Y todo tiene colores
de castidad, simulada,
pues siempre acaban el vino
los dos, en la misma cama.

El vino puede sacar
cosas que el hombre se calla.

Pero... ¡qué lindo es el vino!.
El que se bebe en la casa
del que está limpío por dentro
y tiene brillando el alma.

Que nunca le tiembla el pulso,
cuando pulsa una guitarra.
Que no le falta un amigo
ni noches para gastarlas.


Que cuando tiene un pecado,
siempre se nota en su cara...
Que bebe el vino por vino
y bebe el agua, por agua."

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"O ROM-ROM DO GATINHO"

O que vale no artista é a sua capacidade de captar o cotidiano.
E transforma-lo numa obra-de-arte.
Quantas pessoas teriam condições de ouvir o rom-rom de um gato e fazer uma música como Adriana Calcanhoto fez para o poema do Ferreira Gullar ?
Escrita originalmente para um público infantil, esta música ganhou também o coração dos adultos.
Eu sou um cachorreiro assumido, amo cães.
Como sempre fui honesto nos meus textos, confesso que gatos não conquistam meu coração. Embora jamais tenha tratado mal algum deles, não consigo manter relações de afeto com os mesmos.
Porque meu coração é dos cachorros.
Mas essa música da Adriana (que casou dia 9/de setembro em Paris, com Suzana Moraes, filha do poeta Vinicius de Moraes) é linda demais.
Só uma artista como Adriana poderia fazer poesia do rom-rom dos gatos.
Não interessa que esta música não esteja na mídia.
Ela está no meu coração.
Só por isso quis repartí-la com vocês.
***************************
AUTOR : James Pizarro

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho

terça-feira, 7 de setembro de 2010

" EL AROMO "

Registro aqui, com grande alegria, este precioso texto assinado por DIEGO BARONI GUTERRES (Alegrete, RS). Este texto me foi repassado pelo grande amigo de tantas décadas MAURO MENEZES, de Santa Maria, RS. Mauro foi Juiz de Direito na comarca de Santa Maria e reside em Florianópolis, há 15 anos. Ele e a Beth, sua esposa, nos receberam de braços abertos aqui nesta ilha da magia. Para melhor ilustrar o texto faço a postagem da gravação de Athaualpa Yupanqui declamando e cantando "El Aromo".
***************************************

"Nas minhas andanças rotineiras entre a Campanha e a Fronteira Oeste, parei um dia para apreciar uma árvore que existe no costado de um cerro na margem da BR-290. Voltava numa tarde de domingo para Alegrete, cidade onde atualmente resido, e chamou a minha atenção uma pequena árvore enraizada na fenda de uma pedra, com o caule contorcido e com a copa verdejante. Parei o carro e fiquei contemplando ela e o cenário à sua volta. Depois, tirei uma foto para guardar como recordação daquele momento e daquele iluminado ser. Sendo mais preciso, o local está situado na metade do caminho entre Alegrete e Rosário do Sul, perto de onde tem uma placa que indica faltarem 55 km para chegar em Alegrete. A árvore está ao norte da estrada.

Pois bem, enquanto contemplava aquele “arbolito”, lembrei do tema “El aromo”, de Romildo Risso (o mesmo autor de Los Ejes de mi Carreta) e de Atahualpa Yupanqui. O Aromo, como é chamado na Argentina, é o mesmo Espinilho (Acacia caven (Mol.) Molina) que temos aqui no RS, leguminosa da família Mimosaceae. Embora não tenha relação alguma com a árvore que relato, pois se tratam de espécies diferentes, o contexto de vida do Aromo do poema é o mesmo da árvore que lá na costa do cerro passa os seus dias:

Hay un aromo nacido
en la grieta de una piedra.
Parece que la rompió
pa’ salir de adentro de ella.

Está en un alto pelao
no tiene ni un yuyo cerca
viéndolo solo y florido
tuíto el monte lo envidea.

Lo miran a la distancia
árboles y enredaderas,
diciéndose con rencor
¡pa’ uno solo, cuánta tierra!

En oro le ofrece al sol
pagar la luz que le presta
y como tiene de más,
puñao por el suelo siembra.

Salud, plata y alegría
tuíto al aromo le suebra
asegún ven los demás
desde el lugar que lo observan.

Pero hay que dir y fijarse
cómo lo estruja la piedra,
fijarse que es un martirio
la vida que le envidean.

En ese rajón el árbol
nació por su mala estrella,
y en vez de morirse triste
se hace flores de sus penas.

Como no tiene reparo
todos los vientos le pegan,
las heladas lo castigan,
l’agua pasa y no se queda.

Ansina vive el aromo
sin que ninguno lo sepa
con su poquito de orgullo
porque justo es que lo tenga.

Pero con l’alma tan linda
que no le brota una queja
que no teniendo alegrías
se hace flores de sus penas.
Eso habrían de envidiarle
los otros si lo supieran.

Pero con ‘l alma tan linda
que no le brota una queja,
que no teniendo alegrías
se hace flores de sus penas.

Essa poesia diz muita coisa, transmitindo uma grande mensagem de vida. Muitas vezes julgamos as pessoas a partir das nossas pressuposições, sem conhecer a realidade das suas vidas. Atrevemo-nos a concluir que determinadas pessoas são “isso” ou são “aquilo”, mas não nos preocupamos em tentar entender o porquê das coisas. Sem saber a história da vida dos outros, sem saber das suas experiências, não há como entender aquilo que eles externam através das suas atitudes. Por essa razão, estamos sujeitos a confundir timidez com antipatia, extroversão com insegurança, entre tantos outros comportamentos. E o que nem sempre fazemos é admirar as virtudes. Às vezes, uma pessoa está fazendo o melhor de si, e, por um defeito seu, rotulamo-la por essa falha, desconsiderando os tantos valores que ela talvez possa possuir. Esse tipo de julgamento está expresso na mensagem do Risso: “Lo miran a la distancia / árboles y enredaderas, / diciéndose con rencor / ¡pa’ uno solo, cuánta tierra!”.
Todavia, sabemos que existem muitas pessoas que possuem circunstâncias de vida difícil, árdua, de sofrimento, mas que procuram ser alegres, bondosas, justas, honestas, educadas, etc. E é isso que devemos apreciar e buscar praticar no nosso dia-a-dia. Quantas vezes nos encontramos em meio a lamentações por coisas tão simples, das quais fazemos um problemão, esquecendo de tudo de bom que temos? Quantas vezes reclamamos da vida e sem uma verdadeira razão? Talvez devêssemos levar bem clara na alma a história do Aromo: “Ansina vive el aromo / sin que ninguno lo sepa / con su poquito de orgullo / porque justo es que lo tenga. // Pero con l’alma tan linda / que no le brota una queja / que no teniendo alegrías / se hace flores de sus penas. / Eso habrían de envidiarle / los otros si lo supieran”.
Nesse contexto, podemos perceber a grandiosidade de Romildo Risso e também de Atahualpa Yupanqui e entender o motivo da imortalidade das suas obras: deixaram mensagens universais através da arte, da poesia, da música, do sentimento. A brilhante analogia do Aromo enraizado na fenda da pedra, fazendo flores das suas dores, faz refletir sobre a vida, sobre as atitudes do cotidiano, faz olhar para a natureza com mais profundidade. Vale parar para apreciar esta árvore ao passar naquele lugar, vale muito ouvir o tema “El Aromo” (do disco “A que le llamaman distancia” de Atahualpa Yupanqui), vale parar para observar a natureza e pensar na vida.

Diego Baroni Guterres
Alegrete, 22 de agosto de 2010."
*******************************

domingo, 5 de setembro de 2010

VALDIR AGOSTINHO : "Sereia Manezinha" ou "Reggae da Tainha "

Letra : Julio Cesar Cruz
Cantor : Valdir Agostinho
Música : Gazu e Luiz Maia
Os músicos (todos da banda "Coletivo Operante) são :
Guitarra e backing vocal : Ulysses Dutra
Baixo e engenharia de som : Luiz Maia
Bateria : Guilherme Ledoux.

Ouça/veja este belo vídeo e preste muita atenção na talentosa letra, cheia de inteligentes trocadilhos que só podem ser percebidos em toda sua plenitude por quem convive e adora a população nativa da ilha, entre os quais me incluo.
Para melhor curtir esta linda música, ouça e acompanhe a letra :

“Sereia manezinha”
(Letra: Júlio César Cruz / Música: Gazu e Luiz Maia)

Eu quero você na minha
Minha sereia manezinha
Vou te fisgar na minha linha
Enquanto isso eu cantando
O Reggae da Tainha

Eu quero beijar a sardinha do teu rosto
E me perder nas curvinas do teu corpo
Hoje nem que enchova eu vou fazer
Um beijo de linguado vou robalo de você

Ser seu namorado, peixe-espada só pra ver
Tirar tua garoupa e um sargo pra valer
Pra amariscolhi você e vou te prometer
Serei o primeiro dos que camarão você

Eu quero você na minha
Minha sereia manezinha
Vou te fisgar na minha linha
Enquanto isso eu cantando
O Reggae da Tainha

Elagosta muito é de aparecer
Para aquele polvo que trabalha na TV
Mas uma cavala assim como você
Eu não dou de badejo pra ninguém que aparecer

Não penso em ostra coisa que não seja você
Até arraia o dia eu quero te ter
Mas se ta tu irada não fique assim mais não
Pois foi de cara peva que eu fiz essa cação

Eu quero você na minha
Minha sereia manezinha
Vou te fisgar na minha linha
Enquanto isso eu cantando
O Reggae da Tainha
****************************************
AUTOR : James Pizarro

sábado, 4 de setembro de 2010

A VIDA QUE SE ESVAI...

A turma entrou na UFSM em 1963. Quase todos pobres. Ou de classe média baixa. Dois ou três de famílias bem postas financeiramente.
Mas todos amigos. Alegres. Parceiros de caminhada.
Cheios de vontade de mudar o mundo.
Nunca alguém sentiu qualquer diferença de classe social.

Veio a formatura. Ano de 1966. Cinema Glória cheio. Reitor Mariano da Rocha e seu discurso costumeiro. Enaltecendo a UFSM. Fazendo profissão de fé nos formandos. Tocando no sentimento dos familiares.

Passaram-se os anos. A turma tomou por hábito fazer encontros periódicos.
De cinco em cinco anos era certo o almoço e janta no Restaurante Augusto.
Todos vinham de todos os rincões do país.
Alguns casados. Com filhos. Felizes. Assim foi nos dez anos de formatura.
Vinte anos. Trinta anos. Quarenta anos.

Na reunião dos quarenta anos de formados quinze já haviam morrido. Uns estavam aposentados. Outros haviam abandonado a profissão. Outros estavam doentes. Uns viraram alcoólatras. Outros estavam no segundo ou terceiro casamento. Um tinha assumido sua homossexualidade. Outro não tinha dinheiro para pagar o galeto e a bebida. Pediu emprestado para os colegas. O mais pobre da turma tinha se transformado em prefeito e defendia o Maluf. Logo ele que, quando estudante, era ardoroso defensor do Brizola. Ficou calado durante o encontro. Engravatado. Empertigado. Solene. Logo ele, que assistia as aulas no campus da UFSM de sandálias.

Chegou a época da festa dos cinquenta anos de formatura. Ninguém mais entrou em contato. O mentor das festas, organizador dos encontros, morreu.
Os ideais morreram. A juventude se foi. O carater mudou. O quadro de formatura na parede do prédio da faculdade está cheio de mofo.

E pelos corredores apenas o silêncio.

********************************
AUTOR : James Pizarro

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ADEUS, JB !

Morreu ontem (31 de agosto de 2010),
aos 119 anos de idade,
depois de insidiosa moléstia econômica
o "Jornal do Brasil".
Mais conhecido pela alcunha de "JB",
alquebrado e esquecido,
finou-se aos poucos
sem receber auxílio de ninguém.
As patricinhas de outrora
- hoje vetustas senhoras que sacodem suas graxas
e que disputavam a tapa uma fotografia
na coluna do Zózymo Barroso do Amaral -
se lembraram do velho "JB" ?
Os políticos - que bajulavam a condessa Pereira Carneiro, sua proprietária -
mandaram uma miserável coroa de flores baratas e murchas ?
Os cursos de jornalismo terão lembrado ?
As belas estagiárias das redações saberão sua história ?
Talvez Carlos Drummond de Andrade,
nosso poeta maior,
- que durante décadas publicou seus poemas nas páginas do "JB" -
tenha chorado pela sua morte
em algum canto do céu.
O mais triste de tudo
é que Drummond não acreditava em céu.
O que torna a morte do "JB"
ainda mais melancólica...

**********************
AUTOR : James Pizarro