terça-feira, 25 de setembro de 2018

ALBINO SEIBEL, O INESQUECÍVEL MESTRE DE LATIM - James Pizarro (pág.4 do DIÁRIO de S. Maria, edição de 25.9.2018)


O professor Albino Seibel foi meu mestre de Latim durante os quatro anos do então chamado Curso Ginasial, depois chamado Primeiro Grau, hoje designado Ensino Fundamental no MANECO no final da década de 50. Os quatro livros de Latim adotados eram o "Ludus Primus", "Ludus Secundus", "Ludus Tertius" e "Ludus Quartus". Contavam a história de uma família romana, onde despontavam as histórias de Cornelia e Lesbia, recheadas de conhecimentos históricos, ensinamentos sobre Gramática, sobre as Cinco Declinações e milhares de radicais latinos.

Era o prof. Albino uma criatura extremamente bondosa, muito ligado à Igreja Católica, incapaz de uma grosseria. Nos últimos cinco minutos de cada aula costumava abrir um caderno de capa dura, no qual estavam anotadas as suas anedotas preferidas. Ele as contava com uma ingenuidade de santo para uma turma de adolescentes que mais parecia uma horda de bárbaros.

Lecionou também nos primeiros anos de funcionamento da FIC-Faculdade Imaculada Conceição, depois FAFRA-Faculdades Franciscanas, depois UNIFRA, hoje Universidade Franciscana. Nos últimos anos de sua vida corrigia os originais de teses de Mestrado e Doutorado, bem como trabalhos de pesquisa, editando-os em sua própria residência, onde mantinha um excepcional serviço de datilografia, mecanografia e encadernação.

Sua filha casou com um jogador de futebol, meu ex-aluno do curso pré-vestibular Master, tendo o casal ido morar em Portugal, porque o rapaz assinara contrato com um time de futebol daquele país. O Prof. Albino viajou a Portugal para visitar sua filha e seu genro e lá, durante a visita, veio a morrer vitimado por fulminante infarto do miocárdio. O prof. Albino  tinha dois outros filhos, um formado em Engenharia e hoje aposentado da Rede Ferroviária e o outro, popularmente chamado de "Caquinho", formado médico e residente no Rio de Janeiro.

Quando “estive” vereador na legislatura de 1989/1992, fui o autor de lei municipal que colocou o nome de Albino Seibel numa das ruas da COHAB-Tancredo Neves. Procurei, em vão, uma rua sem denominação nas proximidades do prédio do Colégio Estadual Manoel Ribas, mas todas já tinham denominação.

Conservo carinhosamente em minha biblioteca a obra "Phrases e Curiosidades Latinas", edição póstuma de 1952, de autoria do Prof. Arthur Vieira de Rezende e Silva, que me foi presenteada pelo Prof. Albino. Trata-se de alentada obra, de 935 páginas, com 7267 citações, frases e curiosidades latinas. Depois de aposentado, o Prof. Albino chamou-me, estendeu este livro para mim e disse : "Foste um dos melhores alunos de Latim que eu já tive e este livro estará bem guardado em tuas mãos". Esforço-me até hoje para ter merecido este elogio.

Durante os 44 anos em que exerci o magistério na UFSM, cursinhos pré-vestibulares e escolas particulares, diariamente, em minhas aulas de Zoologia, Citologia, Genética, Ecologia e Botânica, tinha o cuidado de desdobrar etimologicamente os termos que designam animais e vegetais, explicando o significado das raízes, prefixos e sufixos latinos. O Latim  jamais deveria ter sido retirado da grade curricular do Ensino Fundamental, pois os alunos ficaram sem saber a origem das palavras, sem saber o esqueleto da língua portuguesa.

Mas eu ainda tive sorte. Que fortuna ter tido o professor Albino como meu mestre !!!

terça-feira, 11 de setembro de 2018

DO TEMPO EM QUE SE USAVA FACA APENAS PARA CORTAR PÃO - James Pizarro (pág. 4 do DIÁRIO SM, edição de 11.9.2018)


CLUBE EXCELSIOR - O chamado "CLUBE EXCELSIOR" era constituído por um grupo de jovens estudantes vestibulandos de Santa Maria, RS, que se reuniam para estudar literatura e política nos anos 60.O clube funcionava nos porões da casa situada à avenida Presidente Vargas, 2067, residência do advogado santa-mariense Dr. Hélvio Jobim, pai de dois dos integrantes do clube. As reuniões eram realizadas aos fins de semana.
Os integrantes do grupo eram : James Pizarro (vestibulando de Agronomia), João Nascimento (vestibulando de Direito), Nelson Jobim (vestibulando de Direito), Walter Jobim Neto (vestibulando de Direito), Antônio Rossato ("Padre", formado em Direito), Antônio Carlos dos Santos ("Tonico", formado em Medicina), Luiz Alberto Belém Leite (vestibulando de Medicina) e Carlos Horácio Hertz Genro (vestibulando de Medicina). Tudo era feito por amor à literatura e à política. Com desejo de crescer intelectualmente. Virar um cidadão útil. Todos se formaram e levam uma vida profissional correta, sendo que muitos já se aposentaram. Lá se vão quase 60 anos.

SEU GENARO - Um dos açougueiros mais populares que Santa Maria, RS, já teve foi o "Seu" Genaro", que atendia toda a clientela com imensa fidalguia. Seu estabelecimento era na rua Silva Jardim, trecho situado no Bairro do Rosário. Genaro tinha prole numerosa. Em todos os filhos e filhas ele colocou nomes indígenas. Um dos seus filhos, de nome Tabajara Gaúcho da Costa, foi reitor da UFSM. Uma das filhas de Genaro, de nome Jacira, foi minha colega de bancos escolares no MANECO. Ubiratan, de apelido "Bira", foi meu colega na UFSM. Docente muito ligado à extensão universitária, coordenou e acompanhou a ida de centenas e centenas de universitários por todo o Brasil, notadamente para o Projeto Rondon e para o Campus Avançado da UFSM em Boa Vista, Roraima. “Bira” e Emílio são meus companheiros diários de cafezinho no calçadão na cafeteria do amigo Ildo (“Café e Doce”). "Seu" Genaro deu notável exemplo no encaminhamento de seus filhos para que os mesmos se transformassem em excelentes profissionais e cidadãos.

NARINHA LEÃO - Quando noivos, eu e minha mulher éramos fãs de carteirinha da Nara Leão. Eu tinha todos os discos dela. Acompanhava suas andanças. Sua participação como musa do movimento da "Bossa Nova". E seu engajamento político. No dia 2 de setembro de 1967 nasceu nosso primeiro filho : uma menina. E que recebeu o nome de Nara, em homenagem à nossa musa. Estou relembrando tudo isso porque no dia 7 de junho de 2018, fez 29 anos que Nara Leão morreu. Vítima de um tumor em região de difícil acesso no cérebro, depois de penar e lutar titanicamente durante dez anos contra a doença, Nara expirou em 7 de junho de 1989. Há um belo livro para todos que querem saber mais sobre esta extraordinária cantora e ativista política : "Nara Leão: uma biografia", de Sérgio Cabral, publicado pelas editoras Companhia Editora Nacional e Lazul.

NOITES INESQUECÍVEIS - Dancei ao som do Conjunto de Norberto Baldauff, Orquestra Cassino de Sevilla, Orquestra Cassino de Santa Cruz, Orquestra Tabajara, Orquestra Vienense, Orquestra de Sylvio Mazzucca. Fui um privilegiado. Grandes bailes. Noites memoráveis. Os bailes começavam às 23h00 e terminavam às 5h00. Das 2 às 2h30min da madrugada a orquestra fazia uma pausa e enquanto os músicos lanchavam, existiam números artísticos com mágicos, atletas de solo, dançarinos famosos. Não posso esquecer dos conjuntos musicais (uns de fora e outros de Santa Maria mesmo) que animavam as reuniões dançantes, que normalmente começavam às 17h00 e terminavam às 22h00, geralmente realizadas no Caixeiral  e  no Comercial. Era uma emoção tremenda quando ligavam as luzes vermelhas do salão do Comercial e a gente podia arriscar-se a dançar de rosto colado e bem lentamente, ao mesmo tempo em que se dizia coisas ao ouvido da parceira. Que fase ! Que tempo ! Que saudade ! Centenas de relações começaram nessas reuniões e terminaram em casamentos.

Infelizmente, tudo acabou.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

CHEGA ! - James Pizarro

Estou com 76 anos. Fui sacudir bandeirinha do Brasil na rua do Acampamento, em Santa Maria, RS, quando o Dr. Getúlio Vargas esteve fazendo campanha eleitoral na década de 50, fui depois disso a dezenas e dezenas de imensos comícios na praça Saldanha Marinho, fui a passeatas de ferroviários em greve que lotavam a avenida Rio Branco em toda sua extensão (algumas delas dispersadas pelos policiais a cavalo), vi ao vivo e a cores o Carlos Lacerda, o Jango Goulart, o Juscelino, o Ulisses, o Tancredo, fui amigo do Leonel Brizola (conversei com ele mais de uma dezena de vezes como aluno, como agrônomo, como vereador) , etc...
Minha formação política se deu assim, sem que ninguém me fizesse a cabeça , eu mesmo tirando minhas próprias conclusões, analisando, ouvindo os mais velhos de minha confiança. Nunca recebi influência de TV e marqueteiros. E posso dizer : a maioria dos políticos de hoje não servem para limpar a sola dos sapatos dos políticos de antigamente que - poderiam ser tudo - menos corruptos. Envelheci assistindo a decadência melancólica da classe política.
Fiquei cansado e puto da cara de acreditar nas promessas mentirosas de segurança, trabalho, saúde e educação. Cansei de ouvir essas promessas por mais de meio século. Mentiras e mentiras. 
Chega ! Não me permito mais ser enganado. Por ninguém. 
Vão todos para a puta que os pariu !!!!