segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Crônica publicada no "Diário da Manhã", de Goiânia, Goiás.

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PERSPECTIVA 2019 - JAMES PIZARRO (página 4 do DIÁRIO, edição de 31.12.2018)


A palavra RETROSPECTIVA vem do latim “retrospectare”, que significa “olhar para trás”.  Palavra muito usada  pela mídia nesta época do ano para rever e recordar as principais ocorrências do ano, geralmente  tragédias ou mortes de pessoas ilustres. O cronista bem que é tentado a fazer uma retrospectiva nesta época. Mas por se tratar na primeira crônica do ano, ouso fazer o contrário, tentando quase a ficção. Isto é, fazer uma PERSPECTIVA. Elaborar uma visão ao longe, influenciado por seu tipo de personalidade, calcado em suas experiências, tentar adivinhar o mundo como será no futuro próximo. De sorte que, convido o leitor a me acompanhar nesta PERSPECTIVA 2019, com coisas grandiosas e otimistas !!!

Hospital Regional funcionando com total capacidade, abundância de leitos nos demais hospitais, ausência de filas nas UPAS e prontos socorros, creches para todas as crianças possibilitando que as mães possam trabalhar, cidade apontada no “Fantástico”  como a primeira cidade brasileira a ter abolido doentes idosos gemendo em macas em corredores superlotados.

Tomógrafo do Hospital Universitário consertado e funcionando a todo vapor, concursos abertos para preencher todas as vagas de funcionários aposentados em todas as unidades universitárias suprindo as defasagens históricas desde vigilantes para cuidar do patrimônio à contratação de novos docentes.

Término das obras e funcionamento do Ginásio Esportivo do Colégio Estadual Manoel Ribas, há quase uma década emperrado em trâmites burocráticos.

Cobertura e conserto do telhado do Clube Caixeiral, que voltará a funcionar com seus tradicionais bailes e seu restaurante.

Término das obras da Casa da Cultura, em pleno centro da cidade-cultura.

Remodelação da praça Saldanha Marinho, com plantio de novas árvores, novos bancos, chafariz funcionando.

Uma reforma completa – espera-se que definitiva – do nosso Calçadão Salvador Isaia, com presença de guardas durante as 24 horas, dando segurança à população.

Um plantio colossal de árvores na época adequada (meses de maio, junho, julho  e agosto) nas ruas, avenidas e praças de Santa Maria.

Conserto das pedras portuguesas dos canteiros centrais da avenida Rio Branco, pois as mesmas estão sendo arrancadas diariamente do piso depois da reforma feita há poucos  anos.

Maior policiamento daquele deveria ser motivo de orgulho da cidade : nosso Parque Itaimbé.

Volta do funcionamento da usina asfáltica para o conserto dos buracos das ruas e avenidas da cidade.

Solução para o problema da delinquência noturna na praça Saturnino de Brito onde até mortes já ocorreram.

A lista seria por demais extensa.

Mas, por derradeiro, do fundo do meu coração e movido com todo espírito otimista e ainda bafejado pelo clima natalino, desejo que Deus dê a todas às nossas autoridades muita saúde, energia e grande vontade política para realizar estas tarefas todas. Porque assim agindo eles terão o respeito da comunidade, glória alta e compreensão entre os homens.

Que assim seja !

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

E JESUS CHOROU...- JAMES PIZARRO (página 4 do DIÁRIO de S.Maria, edição de 18.12.2018)

No capítulo 11 de João, encontramos o versículo 35, um dos mais curtos de toda a Bíblia: “E Jesus chorou”. Não vou pontuar aqui o momento histórico que suscitou este versículo. Mas, contextualizando para os dias de hoje e num esforço de síntese, poderia resumir dizendo que Jesus chorou - e chora até hoje - por compaixão.
Jesus chorou quando, a cada três ou quatro dias, uma pessoa foi assassinada nas ruas de Santa Maria com balaços na cara pelos motivos mais torpes e vis. Jesus chorou quando crianças foram abusadas sexualmente dentro de suas próprias casas ou em suas escolas, por pessoas que teoricamente deveriam protegê-las. Jesus chorou quando mulheres fragilizadas e doentes foram abusadas por religiosos em templos onde ingenuamente foram em busca de socorro.
Jesus chorou quando uma jovem mulher grávida foi, em plena luz do dia, estuprada no Bairro do Rosário sem que ninguém visse ou pudesse lhe auxiliar. Jesus chorou pelo número de doentes que não puderam ter o atendimento merecido porque aparelhos estavam quebrados e nem leitos suficientes existiam, tendo de sofrer o martírio e a humilhação da espera nas macas dos corredores dos hospitais.
Jesus chorou diante de funcionários desesperados que tiveram seus salários parcelados, suas contas atrasadas, seu crédito cortado, sua comida racionada e o pior – muitos deles chegaram ao suicídio. Jesus chorou diante do aumento das doenças sexualmente transmissíveis, algumas tidas como controladas, devido ao comportamento descuidado e a falta de respeito das pessoas para com seu próprio corpo.
Jesus chorou pelos animais abandonados, torturados, mortos à míngua, explorados, envenenados, agredidos sem que nenhuma autoridade constituída tenha deles a mínima piedade. Jesus chorou pelos trilhões de reais roubados por políticos que só pensam em amealhar dinheiro para si e só têm olhos para seus próprios umbigos.
Jesus chorou pelas viúvas que ganham pensões ridículas, aposentados doentes que são submetidos a perícias numerosas para seguir ganhando tostões, doentes que precisam de remédios pagos pelo governo e estes sempre faltam nas farmácias oficiais. Sim, Jesus chorou muito em 2018. Talvez esteja quase “desidratado” devido à insanidade dos homens. E à insensibilidade dos políticos e autoridades.
Jesus chorou pelos hospitais não concluídos, pela falta de leitos, pelos doentes amontoados em macas, pelas mães implorando por creches, pelos mortos em acidentes automobilísticos em estradas cheias de buracos, pela falta de remédios de uso continuado para pacientes carentes.
Jesus chorou pela fúria comercial e mercantilista em que se transformou a data do seu nascimento. E só pensam em trocar presentes. E se empanturrar de comida e beber em demasia.
Vamos rezar por Jesus neste Natal ?
Ele precisa do nosso carinho também.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

A VIDA DESFILA NO CALÇADÃO...- JAMES PIZARRO (página 4 da edição de 4.12.2018 do DIÁRIO de SM)

Sou frequentador assíduo do centro da cidade. Diariamente converso com pessoas da portaria do condomínio da Galeria do Comércio. Bato papo longamente com os amigos do Salão Venito. Converso com os funcionários de várias lojas da galeria. Vou à lotérica Zebrão da Galeria Roth fazer minhas megasena e quina. E depois assumo minha mesa no “Café & Doce”, com o gentil amigo Ildo e as gentis garçonetes para o saboroso café e bate-papo com dezenas de amigos.
Estou querendo dizer que, diariamente, falo com quase uma centena de pessoas. Ouço relatos. Queixas. Pedidos. Observo a vida desfilar no calçadão. Ouço as mais variadas histórias da cidade sobre saúde, segurança, educação, desemprego. Ouço não só as histórias que me são contadas pelos amigos que sentam à minha mesa. Ouço – como quem não quer nada – as histórias das mesas vizinhas, contadas por estranhos. Que, às vezes, são discussões amorosas. Mas, outras vezes, são pungentes histórias de doenças incuráveis, velórios, morte, separações, divórcios.
Como sou assíduo ouvinte da TV Justiça e ouço de cabo a rabo os longos votos dos onze juízes do nosso ilustrado STF, eu fico imaginando como eles estão distantes da realidade. Brasília é uma ilha da fantasia. Eles nem imaginam a vida real que existe e que eu assisto desfilar diante de mim diariamente no centro da cidade. As sôfregas indiazinhas de canelas finas – outrora donas do Brasil - pedindo moedinhas com seus olhos negros assustados. Vovós com máscaras cirúrgicas, alegando estar fazendo quimioterapia, pedindo dinheiro. Uma moça visivelmente drogada com seios à mostra pede pastel a todos e confessa ter feito sexo selvagem na noite anterior. O Brasil em preto e branco desfilando à minha frente, enquanto o cantor desafinado teima em cantar na parede da Caixa Econômica Federal : “Que país é este ? “
Como gosto de guardar documentos e recortes de jornal, dia desses levei para o “Café & Doce” o recorte de um artigo do meu amigo Carlinhos Costa Beber, publicado em 23 de abril de 2011 e que, entre outras coisas, elencava 13 problemas já existentes em nossa cidade naquela época :
(01) Trânsito infernal nas horas de pique;
(02) Rede de coleta de esgotos deficiente (metade da cidade não é atendida, sendo inexistente em toda a Camobi);
(03) Insuficiente cobertura vegetal (nunca houve preocupação com o plantio de árvores em nossas ruas);
(04) Estradas do interior, como para Santa Flora, que nunca receberam investimentos definitivos;
(05) Rede de Internet que não privilegia áreas comerciais importantes;
(06) Obras do PAC que não tiveram sequência, como a perimetral do Cadena;
(07) Ruas importantes com piso asfáltico vencido ou simplesmente de terra-batida, como em Camobi ;
(08) Calçadas públicas em estado lastimável (os caminhantes que o digam....)
(09) Poluição visual do centro da cidade, com painéis, luminosos, e placas das empresas e de prestadores de serviços;
(10) Problemas de vandalismo e depredação do patrimônio público e privado;
(11) Falta de fiscalização em todas as áreas de responsabilidade da Prefeitura;
(12) Falta de diálogo entre as lideranças locais;
(13) Segurança pública que precisa do apoio de uma Guarda Municipal armada.
Passados sete anos do artigo do amigo Carlinhos, pergunto-lhes : quantos dos 13 problemas apontados foram resolvidos, pelos menos parcialmente ?
Enquanto converso com meus amigos na cafeteria “Café & Doce”, todos sempre me chamam a atenção para o imenso cartaz publicitário colocado na entrada do calçadão já há quase dois anos. É um cartaz convidando a população para a FEISMA de...2017 !!!
É dose para elefante !

terça-feira, 20 de novembro de 2018

A DURA LUTA ECOLÓGICA EM S. MARIA NOS ANOS 70/80 - JAMES PIZARRO ( jorna DIÁRIO de SM, pág 4,edição de 20.11.2018)

No final dos anos 70/80 tentei explicar à comunidade através da mídia, com clareza e sem rodeios, o verdadeiro impacto ambiental provocado pela construção civil, sem controle, em nosso município. Eu tinha a intenção de fazer com que as empresas construtoras exigissem dos fornecedores certificados de que estes estavam agindo de acordo com as normas ambientais (leis, códigos, certificados de impacto ambiental, etc...). Muitos engenheiros e construtoras foram sensíveis ao tema, tendo entrado em contato comigo num primeiro momento. Mas a maioria das pessoas ligadas à área tratou de me ridicularizar, acusando-me de ser contra o progresso da cidade.
Lembro de uma declaração do saudoso Dr. Wilson Aita, docente do Curso de Engenharia Civil da UFSM, que disse - em meu socorro - "que era necessário que a exploração dos recursos naturais fosse feita de maneira racional e organizada, dentro da Lei". Eu entendia que essa transformação iria precisar de tempo, de compreensão, de paciência e que, principalmente, estruturas mínimas deveriam ser criadas para permitir a adequação dos exploradores, tais como linhas de financiamento, custos compatíveis. Nunca fui cretino nem catastrófico para querer paralisar a construção de edifícios ou algo nesta linha. Mas queria que a cidade raciocinasse sobre a utilização dos recursos da Natureza para o bem-estar do homem, utilização adequada e dentro das normais ambientais vigentes, ações que minimizassem os danos e, também, meios de reparar os danos causados.
Na realidade, eu queria expor - há quase meio século - para um público de visão paroquiana, sem cultura ecológica, uma série de indagações... A madeira usada naquela época na construção civil vinha de onde ? Esta madeira possuia "selo verde" ? Ou grande parte dela representava uma gigantesca fatia retirada de florestas que estavam em extinção acelerada ? Rochas usadas no piso e no revestimento das construções (granito, ardósia, quartzitos) são degradação em estado bruto. De onde vinha este material ? Onde são extraídos não se formam crateras lunares, montanhas de rejeitos, desmatamento e assoreamento dos cursos de água ? O que falar do processo de extração e beneficiamento do calcário, que dá origem ao cimento, principal insumo da construção civil ? Já tinha sido feito um levantamento criterioso da destruição de grutas, de cavernas, da poluição dos rios e do ar ? Quais os responsáveis pela fiscalização desse setor de mineração, que relatórios públicos a população poderia consultar ?
Uma particularidade curiosa em tudo isso é que esta poluição causada, direta ou indiretamente, pela construção civil não lhe produz o ônus social da degradação. Os impactos são, em sua grande maioria, invisíveis aos que moram na cidade. Mas existem os danos diretos, visíveis, causados pelos canteiros de obras, encontrados nas ruas e avenidas dos centros urbanos. Os danos são múltiplos, tais como a destruição do patrimônio arquitetônico, onde casas antigas, tradicionais, tombam como se fossem árvores na floresta. Há o carreamento dos resíduos de construção para os sistemas de drenagem urbana, entupindo bueiros, bocas-de-lobo, galerias, poluindo margens de córregos, ajudando a aumentar enchentes, alagamentos e derrubando casebres e ferindo gente.
Cito um exemplo que me ocorreu. A repórter Elen Almeida publicou em "A RAZÃO" reportagem sobre a destruição de centenas de árvores em pleno centro da cidade para que, em seu lugar, fosse construído um imenso conjunto de prédios residenciais. O empresário Carlinhos Costa Beber fez coro aos meus protestos no programa "Sala de Debate", da rádio Antena Um, saindo em minha defesa. Mas a destruição estava feita. E nem ao menos se ficou sabendo, à época, se havia licença para que aquilo fosse feito.
Poderia citar o vidro empregado nas construções, a extração de areia e a alteração da paisagem, com assoreamento dos cursos de água e destruição da paisagem. O alumínio e a fantástica quantidade de energia usada em sua fabricação, além da poluição causada pela extração da bauxita. A brita e os problemas causados pelas pedreiras, com destruição de áreas de preservação permanente, explosões que perturbam o sossego público, o desmatamento muitas vezes produzido. A fabricação de tijolos e a fantástica quantidade de lenha que é consumida em sua fabricação, além do que a extração de argila afeta as zonas baixas, lagoas e matas ciliares. Além da construção civil, o setor moveleiro e as indústrias de embalagens poderiam ajudar a frear a retirada ilegal e indiscriminada de madeira das florestas se passassem a exigir com firmeza de seus fornecedores a certificação ambiental. Mas tudo isso passa por sensibilidade, por educação ambiental, por vontade política, por diminuição de ganância, por mudança de comportamento.
Graças ao apoio da Promotoria Pública, numa grande campanha que promovi contra as pedreiras instaladas dentro do perímetro urbano e que destruíam áreas de preservação permanente, os morros que cercam a cidade estão preservados. Consegui, mediante denúncia sistemática em Porto Alegre e Brasília, com apoio da Justiça local, na década de 80, o fechamento da pedreira da UFSM (onde eu era professor de Ecologia do Departamento de Biologia), pedreira Link, pedreira do Morro do Cechella, pedreira da Viação Férrea, etc...Mas a maior vitória nesse sentido foi o fechamento da pedreira do Morro do Cerrito, explorada pela Prefeitura Municipal no governo Evandro Beher, atividade proibida por lei municipal e pelo Código Florestal vigente na época, por constituir-se aquele morro no último resquício de mata nativa situado dentro do perímetro urbano. Foi talvez, a maior vitória que consegui quando “estive” vereador nessa cidade, com uma proposta ecologista de mandato.
Dia destes, ouvindo uma rádio local, fiquei a escutar atentamente uma entrevista dada pelo Dr. Walter Bianchini, dono das fábrica de facas Coqueiro, de Arroio do Só, professor aposentado da UFSM e ex-secretário dos governos do Rio Grande do Sul e de Roraima. Ele dizia claramente : "Os morros de Santa Maria continuam de pé por causa da obstinação do professor James Pizarro". Tão acostumado a levar somente bordoadas, fiquei emocionado em ouvir este reconhecimento público. E fui dormir feliz aquela noite...

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

PERDOAI A BURRICE, MÃE MEDIANEIRA E ROGAI POR NÓS ! - JAMES PIZARRO (página 4 do DIÁRIO DE SM, edição de 6.11.2018)


Em 2007, a Secretaria Municipal de Turismo de Santa Maria – leia-se Paulinho Ceccin – pensou em construir um monumento em homenagem à N. S. Medianeira, padroeira do Rio Grande do Sul (muita gente pensa que é São Pedro). O monumento seria construído no Morro do Cechella e teria todos os equipamentos modernos em seu entorno, como vias de acesso, capela, lancherias, mirantes, museu para contar a história da santa, restaurantes, vendas de lembranças e postais, policiamento.

Seria uma obra gigantesca que atrairia milhares de turistas brasileiros e estrangeiros, pois seria o maior monumento brasileiro do gênero, planejada por artistas e técnicos santa-marienses, sob a direção do J. Amoretti. A prefeitura municipal não gastaria nada, pois todo dinheiro viria de doações, captação de recursos particulares e verbas do Ministério do Turismo.

Na edição de 28/29 de julho de 2007 (sábado/domingo) de A Razão, publiquei e assinei matéria de página inteira sob o título “Até a Medianeira é repudiada aqui !? “. Fi-lo porque tão logo foi lançada a ideia pela construção do monumento setores obscurantistas iniciaram feroz campanha contra a iniciativa do então secretário Paulinho Ceccin. Essas pessoas nem se deram conta da vocação que Santa Maria tem para o turismo religioso. E ficaram contra a ideia mas não fizeram proposta alternativa em seu lugar.

Nunca falei sobre isso com o Paulinho Ceccin. Nem com dom Hélio. Nem com ninguém. E ninguém me pediu para escrever a favor à época porque nunca aceitei escrever coisas por encomenda. Nem tão pouco apoiei a iniciativa por ser católico apostólico romano, praticante e convicto. Quisessem os umbandistas construir monumento semelhante em homenagem à Iemanjá, estaria eu a favor. Quisessem os meus amigos espíritas homenagear Allan Kardec com um monumento de igual tamanho, contariam com meu apoio. Sou de profunda formação ecumênica. E sempre fui A FAVOR DO DESENVOLVIMENTO E DO TURISMO DA MINHA CIDADE NATAL !!!

Tivesse o projeto sido aprovado e construído teríamos hoje no morro do Cechella o maior monumento religioso do Brasil iluminando a noite santa-mariense: a santinha em sua posição original, de braços abertos, feericamente iluminada, maternal e generosamente acolhendo em seu seio todos os santa-marienses e gaúchos. Além do turismo rendendo divisas para nosso município.

Que Nossa Senhora Medianeira ilumine a cabeça burra dos muitos que teimam em lutar contra o progresso de nossa querida cidade natal.

Oremos, pois, nessa nova edição da romaria que as luzes divinas iluminem os neurônios cerebrais das nossas autoridades e de todos aqueles que – independentes de partido político ou credo religioso – possuam poder e amem nossa Santa Maria.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

COM OLHOS DE AMOR DO TEMPO ANTIGO - James Pizarro (página 4 do DIÁRIO de SM, edição de 23.10.2018)


Família da classe média do interior gaúcho.
Pai comerciário. Caçador de perdizes. Dono de um carro antigo. Um velho Ford "de bigode".
Mãe professora de piano e dona de casa. Três filhos pequenos. Duas gurias e um piá.
Durante as férias viajavam para a pequena cidade de Cacequi.
Estrada de chão batido. Mar de lama quando chovia. O valente Ford atolava. O pai descia. Botava correntes ao redor dos pneus.
A mãe puxava a cortina de couro das janelas. As três crianças encolhidas no banco traseiro. Frio de renguear cusco. Chuva inclemente.
Chegavam ao destino horas depois. Passar alguns dias na "casa" do irmão do pai. Na realidade, uma hospedaria. No recinto da estação ferroviária. Abrigava passageiros do trem. Dava comida. Servia lanches.
Os irmãos maiores toleravam essas "férias". A menor das gurias detestava. Ficava olhando aquela gente estranha. Velhos gaúchos pilchados. Fumando palheiro. Tomando seu gole de cachaça. Chimarreando. Comendo o prato feito que a tia servia aos hóspedes. Enquanto a mãe ajudava na cozinha. E o pai conversava fiado.
A menina odiava sobretudo o corvo. Sim, um corvo de estimação ! Que ficava pousado na janela da cozinha.
O corvo ficava esperando tripas de galinha. Restos de carne dos pratos. Vísceras. O corvo saia caminhando entre as mesas. Festejado pelos hóspedes. Orgulho do tio. Que acariciava o pescoço pelado do corvo. Que crocitava, agradecido.
Introspectiva nos seus oito anos, a menina ficava olhando aquilo. Com seus olhos de espanto.
Além do asco pelo corvo, ficava comparando o tratamento que recebia. Os tios davam mais atenção ao corvo do que a ela.
Esta cena jamais sairia da sua memória.
Para o resto da vida. Vida que ela continua a olhar com seus grandes e lindos olhos.
Agora, não mais de espanto. Mas de encantamento.
Do alto da Galeria do Comércio, onde mora com o marido, só contempla passarinhos coloridos do pátio da casa do Dr. Mariano. Os morros da cidade. As torres da catedral.
As nuvens que passam formando desenhos lindos.
E o bonito morro da Caturrita. Com as antenas da TV.
Seus olhos lindos aguardam os netos que chegam para visitas.
O corvo ficou sepultado no passado.
O marido septuagenário ainda a olha com olhos de adolescente.
Olhos de amor do tempo antigo.
De amor para sempre.

sábado, 13 de outubro de 2018

COCÓ, A PATA DE ESTIMAÇÃO - James Pizarro (página 4, edição do DIÁRIO de S. Maria,RS - 13.10.2018)


Corria a década de 50. Eu estudava no curso primário (hoje, ensino fundamental) do Grupo Escolar João Belém. A diretora era a professora Edy Maia Bertóia. Depois substituída pela professora Diquel Siqueira.

Os tempos eram difíceis. Meu pai trabalhava em dois empregos. Minha mãe fazia doces para fora. Meu avô, ferroviário, sempre ajudava. A Viação Férrea do RGS naquela época estava no auge e seus funcionários ganhavam os mais altos salários da cidade.

Meu pai estava construindo uma casa com todas as dificuldades inerentes a um funcionário público que se metesse numa empreitada dessas. No nosso pátio tinha horta, canteiro de flores, duas cabritas (passei minha infância tomando leite de cabra), dois cachorros, um gato, uma caturrita, laranjeiras, bergamoteiras, figueira, limoeiros, bananeiras. E tinha um grande galinheiro, com mais de 100 galinhas, cujos ovos eram recolhidos diariamente.
 
No pátio, criada livremente a meu pedido, andava feliz uma pata simpaticíssima chamada por mim de "Cocó". Foi um dos meus primeiros animais de estimação. A pata andava atrás de mim por onde eu andasse, emitindo o som característico da sua espécie. 

Quando as finanças apertaram na parte final da conclusão da construção da nossa nova casa, meu pai anunciou que - para fins de economia na compra da carne - passaríamos a comer as galinhas todas, o que realmente ocorreu. Era galinha frita, galinha na panela, risoto, pastelão de galinha desfiada. Isso me fez enjoar tanto de carne de galinha que até não gosto de comer dessa carne.

Num domingo, chegando da missa na catedral diocesana de Santa Maria, onde sempre ía em companhia de minha avó, achei estranho a "Cocó" não ter me esperado no portão como sempre fazia.

Na hora do almoço falei sobre o desaparecimento da pata e veio a verdade nua e crua, anunciada por minha mãe : "Teu pai mandou matar e assar a Cocó".

Saí vomitando pelo pátio, chorando e, aos gritos, maldizendo a família inteira. Não comi naquele maldito domingo.

Até hoje, mais de meio século depois, lamento não ter uma foto com a minha patinha "Cocó".

Devo ter sido o único menino do mundo que chorou pela morte de uma pata.

Desde aquela época eu já era uma pessoa esquisita.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

DESTINO EDIFICANTE PARA TAMPAS E LACRES DE AUMÍNIO ! - JAMES PIZARRO (crônica no DIÁRIO de Santa Maria, pág.4, edição de 9.10.2018)

“ Em 1948, Ludwig Guttman organizou uma competição esportiva que envolvia veteranos da Segunda Guerra Mundial com lesão na medula espinhal. O evento foi realizado em Stoke Mandeville, na Inglaterra. Quatro anos mais tarde, competidores da Holanda uniram-se aos jogos e, assim, nasceu um movimento internacional. Este fez com que jogos no estilo olímpico, para atletas deficientes, fossem organizados pela primeira vez em Roma, em 1960. Em Toronto, 16 anos depois, foram adicionados na competição outros grupos de pessoas com deficiência. A partir daí, surgiu a ideia de fundir estes diferentes atletas em um grande torneio esportivo internacional. Naquele mesmo ano, 1976, a Suécia organizou os primeiros Jogos Paralímpicos de Inverno. ” Esse é o resumo da pesquisa que fiz nos arquivos do PC-Comitê Paralímpico Internacional e CPB-Comitê Paralímpico Brasileiro.
Moro na Galeria do Comércio. No saguão de entrada do condomínio existe um grande recipiente de plástico onde os moradores são convidados a depositar os lacres de alumínio e as tampas plásticas de garrafas. Fiquei sabendo tratar-se da uma campanha da ASSAMPAR – Associação Santa-mariense Paradesportiva. Nome da iniciativa : CAMPANHA PARATLETA. Entrei em contato com o amigo Flávio Correa, cadeirante e sócio ativo da ASSAMPAR e ele me contou detalhes, até então, desconhecidos para mim.
A ASSAMPAR reúne cerca de 20 cadeirantes, amputados, autistas e portadores de outras deficiências crônicas, além de grande número de colaboradores. O criador/idealizador da entidade é o sr. Denilson Souza, militar reformado, cadeirante, que sempre foi preocupado com a reinserção social do portador de necessidades especiais através da prática do esporte.
Flávio Correa foi enfático ao me dizer: “O paradesporto como ferramenta de reinserção social para pessoas com algum tipo de deficiência física e/ou motoraé a razão da existência da Assampar. Nossa prioridade não é a busca por troféus e não há cobrançaspor resultados em competições. Despertar no paratleta a simples vontade de praticar algum tipo de atividade físicae conviver com outras pessoas na busca de novas amizades é o verdadeiro objetivo da Associação. Nesse processo, fazemos questão da participação não apenas do paratleta, mas o envolvimento de pais, irmãos, amigos e cônjuges, para uma completa integração. “
Vale ressaltar a compreensão e incentivo do Clube Cruzeiro do Sul, CTG Sentinela da Querência e Centro de Equoterapia Integração, valorosos estimuladores da ASSAMPAR.
Em 2018 foi lançada a "Campanha Paratleta", que consiste na arrecadação de tampas plásticas de garrafas e lacres de alumínio visando arrecadar recursos para a compra de material paradesportivo (além da questão ecológica com a reciclagem de material plástico). Até então, Denilson Souza, o atual Presidente da Associação, usou de recursos próprios para a compra do material esportivo disponível para uso. Com o aumento da demanda, fez-se necessária a criação da campanha para arrecadar fundos. Cada cadeira custa cerca de 4000 reais. E para conseguir 4000 reais são necessárias toneladas de lacres de alumínio ! A cidade precisa colaborar ! Os locais de coleta estão disponíveis no Facebook na página "Paradesporto e Lazer SM"
Os interessados em colaborar podem entrar em contato por e-mail : assampar2018@outlook.com Ou podem ligar para o Denilson Sousa : 55.99941.4467

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

QUANTO À CAMPANHA ELEITORAL...- James Pizarro (publicado no Facebook)

Tenho cumprido rigorosamente os ditames da Justiça Eleitoral (leia-se Lei Eleitoral) por causa dos veículos de comunicação onde escrevo e falo (DIÁRIO e RÁDIO MEDIANEIRA), não escrevendo e nem falando nem ao menos subliminarmente ou por metáforas a cerca de partidos, candidatos ou eleições. Faço o mesmo nas redes sociais, em respeito às centenas de amigos, colegas e parentes que pensam e votam diferente de mim. No início da campanha, sob o título "DERRADEIRO PEDIDO", implorei a todos que não colocassem comentários político-partidários e nem propagandas na LT do meu facebook. Os que insistiram, invadindo minha privacidade, foram deletados. Foi a maneira simplória que achei de, aos 76 anos, colaborar para diminuir com a onda de ódio e sectarismo que tomou conta de boa parte das pessoas.
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terça-feira, 25 de setembro de 2018

ALBINO SEIBEL, O INESQUECÍVEL MESTRE DE LATIM - James Pizarro (pág.4 do DIÁRIO de S. Maria, edição de 25.9.2018)


O professor Albino Seibel foi meu mestre de Latim durante os quatro anos do então chamado Curso Ginasial, depois chamado Primeiro Grau, hoje designado Ensino Fundamental no MANECO no final da década de 50. Os quatro livros de Latim adotados eram o "Ludus Primus", "Ludus Secundus", "Ludus Tertius" e "Ludus Quartus". Contavam a história de uma família romana, onde despontavam as histórias de Cornelia e Lesbia, recheadas de conhecimentos históricos, ensinamentos sobre Gramática, sobre as Cinco Declinações e milhares de radicais latinos.

Era o prof. Albino uma criatura extremamente bondosa, muito ligado à Igreja Católica, incapaz de uma grosseria. Nos últimos cinco minutos de cada aula costumava abrir um caderno de capa dura, no qual estavam anotadas as suas anedotas preferidas. Ele as contava com uma ingenuidade de santo para uma turma de adolescentes que mais parecia uma horda de bárbaros.

Lecionou também nos primeiros anos de funcionamento da FIC-Faculdade Imaculada Conceição, depois FAFRA-Faculdades Franciscanas, depois UNIFRA, hoje Universidade Franciscana. Nos últimos anos de sua vida corrigia os originais de teses de Mestrado e Doutorado, bem como trabalhos de pesquisa, editando-os em sua própria residência, onde mantinha um excepcional serviço de datilografia, mecanografia e encadernação.

Sua filha casou com um jogador de futebol, meu ex-aluno do curso pré-vestibular Master, tendo o casal ido morar em Portugal, porque o rapaz assinara contrato com um time de futebol daquele país. O Prof. Albino viajou a Portugal para visitar sua filha e seu genro e lá, durante a visita, veio a morrer vitimado por fulminante infarto do miocárdio. O prof. Albino  tinha dois outros filhos, um formado em Engenharia e hoje aposentado da Rede Ferroviária e o outro, popularmente chamado de "Caquinho", formado médico e residente no Rio de Janeiro.

Quando “estive” vereador na legislatura de 1989/1992, fui o autor de lei municipal que colocou o nome de Albino Seibel numa das ruas da COHAB-Tancredo Neves. Procurei, em vão, uma rua sem denominação nas proximidades do prédio do Colégio Estadual Manoel Ribas, mas todas já tinham denominação.

Conservo carinhosamente em minha biblioteca a obra "Phrases e Curiosidades Latinas", edição póstuma de 1952, de autoria do Prof. Arthur Vieira de Rezende e Silva, que me foi presenteada pelo Prof. Albino. Trata-se de alentada obra, de 935 páginas, com 7267 citações, frases e curiosidades latinas. Depois de aposentado, o Prof. Albino chamou-me, estendeu este livro para mim e disse : "Foste um dos melhores alunos de Latim que eu já tive e este livro estará bem guardado em tuas mãos". Esforço-me até hoje para ter merecido este elogio.

Durante os 44 anos em que exerci o magistério na UFSM, cursinhos pré-vestibulares e escolas particulares, diariamente, em minhas aulas de Zoologia, Citologia, Genética, Ecologia e Botânica, tinha o cuidado de desdobrar etimologicamente os termos que designam animais e vegetais, explicando o significado das raízes, prefixos e sufixos latinos. O Latim  jamais deveria ter sido retirado da grade curricular do Ensino Fundamental, pois os alunos ficaram sem saber a origem das palavras, sem saber o esqueleto da língua portuguesa.

Mas eu ainda tive sorte. Que fortuna ter tido o professor Albino como meu mestre !!!

terça-feira, 11 de setembro de 2018

DO TEMPO EM QUE SE USAVA FACA APENAS PARA CORTAR PÃO - James Pizarro (pág. 4 do DIÁRIO SM, edição de 11.9.2018)


CLUBE EXCELSIOR - O chamado "CLUBE EXCELSIOR" era constituído por um grupo de jovens estudantes vestibulandos de Santa Maria, RS, que se reuniam para estudar literatura e política nos anos 60.O clube funcionava nos porões da casa situada à avenida Presidente Vargas, 2067, residência do advogado santa-mariense Dr. Hélvio Jobim, pai de dois dos integrantes do clube. As reuniões eram realizadas aos fins de semana.
Os integrantes do grupo eram : James Pizarro (vestibulando de Agronomia), João Nascimento (vestibulando de Direito), Nelson Jobim (vestibulando de Direito), Walter Jobim Neto (vestibulando de Direito), Antônio Rossato ("Padre", formado em Direito), Antônio Carlos dos Santos ("Tonico", formado em Medicina), Luiz Alberto Belém Leite (vestibulando de Medicina) e Carlos Horácio Hertz Genro (vestibulando de Medicina). Tudo era feito por amor à literatura e à política. Com desejo de crescer intelectualmente. Virar um cidadão útil. Todos se formaram e levam uma vida profissional correta, sendo que muitos já se aposentaram. Lá se vão quase 60 anos.

SEU GENARO - Um dos açougueiros mais populares que Santa Maria, RS, já teve foi o "Seu" Genaro", que atendia toda a clientela com imensa fidalguia. Seu estabelecimento era na rua Silva Jardim, trecho situado no Bairro do Rosário. Genaro tinha prole numerosa. Em todos os filhos e filhas ele colocou nomes indígenas. Um dos seus filhos, de nome Tabajara Gaúcho da Costa, foi reitor da UFSM. Uma das filhas de Genaro, de nome Jacira, foi minha colega de bancos escolares no MANECO. Ubiratan, de apelido "Bira", foi meu colega na UFSM. Docente muito ligado à extensão universitária, coordenou e acompanhou a ida de centenas e centenas de universitários por todo o Brasil, notadamente para o Projeto Rondon e para o Campus Avançado da UFSM em Boa Vista, Roraima. “Bira” e Emílio são meus companheiros diários de cafezinho no calçadão na cafeteria do amigo Ildo (“Café e Doce”). "Seu" Genaro deu notável exemplo no encaminhamento de seus filhos para que os mesmos se transformassem em excelentes profissionais e cidadãos.

NARINHA LEÃO - Quando noivos, eu e minha mulher éramos fãs de carteirinha da Nara Leão. Eu tinha todos os discos dela. Acompanhava suas andanças. Sua participação como musa do movimento da "Bossa Nova". E seu engajamento político. No dia 2 de setembro de 1967 nasceu nosso primeiro filho : uma menina. E que recebeu o nome de Nara, em homenagem à nossa musa. Estou relembrando tudo isso porque no dia 7 de junho de 2018, fez 29 anos que Nara Leão morreu. Vítima de um tumor em região de difícil acesso no cérebro, depois de penar e lutar titanicamente durante dez anos contra a doença, Nara expirou em 7 de junho de 1989. Há um belo livro para todos que querem saber mais sobre esta extraordinária cantora e ativista política : "Nara Leão: uma biografia", de Sérgio Cabral, publicado pelas editoras Companhia Editora Nacional e Lazul.

NOITES INESQUECÍVEIS - Dancei ao som do Conjunto de Norberto Baldauff, Orquestra Cassino de Sevilla, Orquestra Cassino de Santa Cruz, Orquestra Tabajara, Orquestra Vienense, Orquestra de Sylvio Mazzucca. Fui um privilegiado. Grandes bailes. Noites memoráveis. Os bailes começavam às 23h00 e terminavam às 5h00. Das 2 às 2h30min da madrugada a orquestra fazia uma pausa e enquanto os músicos lanchavam, existiam números artísticos com mágicos, atletas de solo, dançarinos famosos. Não posso esquecer dos conjuntos musicais (uns de fora e outros de Santa Maria mesmo) que animavam as reuniões dançantes, que normalmente começavam às 17h00 e terminavam às 22h00, geralmente realizadas no Caixeiral  e  no Comercial. Era uma emoção tremenda quando ligavam as luzes vermelhas do salão do Comercial e a gente podia arriscar-se a dançar de rosto colado e bem lentamente, ao mesmo tempo em que se dizia coisas ao ouvido da parceira. Que fase ! Que tempo ! Que saudade ! Centenas de relações começaram nessas reuniões e terminaram em casamentos.

Infelizmente, tudo acabou.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

CHEGA ! - James Pizarro

Estou com 76 anos. Fui sacudir bandeirinha do Brasil na rua do Acampamento, em Santa Maria, RS, quando o Dr. Getúlio Vargas esteve fazendo campanha eleitoral na década de 50, fui depois disso a dezenas e dezenas de imensos comícios na praça Saldanha Marinho, fui a passeatas de ferroviários em greve que lotavam a avenida Rio Branco em toda sua extensão (algumas delas dispersadas pelos policiais a cavalo), vi ao vivo e a cores o Carlos Lacerda, o Jango Goulart, o Juscelino, o Ulisses, o Tancredo, fui amigo do Leonel Brizola (conversei com ele mais de uma dezena de vezes como aluno, como agrônomo, como vereador) , etc...
Minha formação política se deu assim, sem que ninguém me fizesse a cabeça , eu mesmo tirando minhas próprias conclusões, analisando, ouvindo os mais velhos de minha confiança. Nunca recebi influência de TV e marqueteiros. E posso dizer : a maioria dos políticos de hoje não servem para limpar a sola dos sapatos dos políticos de antigamente que - poderiam ser tudo - menos corruptos. Envelheci assistindo a decadência melancólica da classe política.
Fiquei cansado e puto da cara de acreditar nas promessas mentirosas de segurança, trabalho, saúde e educação. Cansei de ouvir essas promessas por mais de meio século. Mentiras e mentiras. 
Chega ! Não me permito mais ser enganado. Por ninguém. 
Vão todos para a puta que os pariu !!!!

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

MEU COMOVIDO CARINHO AOS IDOSOS DO MUNDO - James Pizarro (página 4 do DIÁRIO, Santa Maria, edição de 28.8.2018)


MEU COMOVIDO CARINHO
AOS IDOSOS DO MUNDO

JAMES PIZARRO - professor universitário aposentado

DESTAQUE : A velhice não é uma perda. A velhice não é algo digno de pena. A velhice é um lucro

No meu tempo de infância - nos barrancos da rua Silva Jardim - eu lembro bem que gostava de ficar no meio dos mais velhos. Ouvindo as histórias das amigas da minha querida avó Olina. Ou servindo chimarrão para meu avô Fredolino e seus amigos ferroviários. Homens encarquilhados. Experientes.  Contando histórias mirabolantes de viagens de trem. Acidentes. Greves.  Eu absorvia aquelas histórias mágicas em silêncio.

Anos mais tarde, ainda adolescente tive dois empregos, no mundo dos mais velhos.

O saudoso amigo Edmundo Cardoso, teatrólogo e memorialista, cliente de meu pai (que era enfermeiro), era diretor do jornal A RAZÃO. E sabedor que eu era um bom aluno de Português e Latim do MANECO, me ofereceu o cargo de revisor do jornal por algumas horas durante o dia. Na redação do jornal convivi com todas as figuras importantes da época, muitas das quais colaboravam com artigos para o jornal. Dr. Amaury Lenz, Dr. Romeu Beltrão, Zózymo Lopes dos Santos, Prado Veppo, Chico Ribeiro, Gregório Coelho e uma centena de outras pessoas.

O outro emprego que tive na adolescência, exercido apenas aos domingos pela tarde, quando todos meus colegas de colégio descansavam, foi de vendedor de “poules” no Jockey Clube de Santa Maria. Eu era o responsável pelo guichê número 2, onde eram vendidos os bilhetes do cavalo número 2 de cada páreo que iria correr. Lembro que no guichê número 1, onde eram vendidos os bilhetes do cavalo favorito (de número 1), o vendedor responsável era o João Nascimento da Silva que, anos depois, foi vereador junto comigo em Santa Maria. No Jockey Clube convivi com centenas de pessoas mais velhas do que eu : tratadores e proprietários de cavalos, jóqueis, veterinários, apostadores, turfistas, jornalistas especializados. De todos eles, gravo a grata lembrança de meus saudoso amigo Dr. Armando Vallandro, médico veterinário, que anos depois seria reitor da UFSM. Com todos eles aprendi algo.

Assim foi nos cursinhos Master, Riachuelo, Decisão. No Colégio Coração de Maria. Na UFSM. Na Fundação Zoobotânica do RS. Na AGAPAN. Nos clubes, entidades, ONGs, igreja, TV, rádios, jornais. Em todos os locais que convivi – e ainda convivo – sempre procurei ouvir os mais velhos. Jamais me arrependi por isso.

Dia 26 de outubro de 2018 eu farei 76 anos. Eu tenho a CERTEZA ABSOLUTA de que já vivi mais de  sete décadas. Que já aproveitei mais de meio século de vida. Logo, a velhice não é uma perda. A velhice não é algo digno de pena. A velhice é um LUCRO.

Quando eu vejo um jovem desrespeitar um idoso, eu fico com pena. Ele lucrou apenas 15, 18, 20 anos. Para atingir os meus 76 anos terá de viver mais meio século. Enfrentar mais de 50 anos de trânsito, doenças novas, acidentes de trabalho, percalços, problemas, estresse, etc... Conseguirá ?

Enquanto eu sou uma CERTEZA. Esse jovem mal educado é uma mera FICÇÃO, uma promessa. Por isso, velhos do mundo : não se irritem com os meninos mal educados. Exerçam a misericórdia. Aliás, esta é outra característica da nossa turma da Terceira Idade : não somos mais movidos somente à paixão.

Nós já passamos a exercer também a COMPAIXÃO !

terça-feira, 14 de agosto de 2018

PROTESTE OU FIQUE RUMINANDO BOVINAMENTE ! - James Pizarro (página 4, DIÁRIO DE S. MARIA, edição de 14.8.2018)


Na campanha eleitoral são simpáticos, sorridentes, apertam a mão de todo mundo, pegam criancinhas no colo, passam a mão no rosto dos idosos, andam de porta em porta mendigando votos.

Na propaganda eleitoral gratuita aparecem visitando o grupo escolar onde dizem ter estudado (nenhum deles estudou em escola particular), abraçam velhas professoras que ficam emocionadas, dão entrevista nas suas próprias residências junto com a esposa e filhos, alguns apelam e usam declarações lacrimejantes dos avós que se dizem orgulhosos do neto.

Os cabos eleitorais - que se transformam em assessores depois - soltam foguetes, preparam churrascos, pregam cartazes, mobilizam os amigos, arrumam populares para dar entrevistas, distribuem "santinhos".

Esse é o clima ANTES das eleições.

Porque DEPOIS das eleições, os perdedores viajam.
Ou se recolhem ao ostracismo.
Ou fazem alianças ideologicamente incompatíveis.
Ou aceitam cargos modestos para não perder o hábito de mamar.

E os assessores se revestem de uma importância duvidosa como se tivessem sido bafejados por uma aura celeste e recebido a bênção dos deuses gregos do Olimpo. E não recebem as queixas do trouxa do eleitor que - ingenuamente - caiu em mais um estelionato eleitoral.

Os detentores de cargo público e seus assessores são apenas empregados temporários da população. Nada mais do que isso.

Pessoalmente (já fiz isso várias vezes no passado) quando me sinto prejudicado ou vejo algo errado na cidade. Bato fotos. Junto documentos. Faço uma juntada de leis. Organizo um dossiê. Anexo meu currículo e meu título de eleitor. Solicito uma audiência pessoal com a autoridade necessária. E sempre fui recebido e tratado respeitosamente.

Aprendi que, em política, "é melhor falar com Deus do que com os santos". Aprendi também que os governos NÃO AGEM, eles apenas REAGEM. E para que a comunidade seja atendida ela precisa exercer a sua cidadania e protestar, berrar, reclamar nos meios de comunicação.

Caso não faça isso, terá comportamento de vaquinha de presépio. Ficará passivamente ruminando pasto, assistindo a vida acontecer.

Enquanto os poderosos riem da nossa cara.
Ah...enfie a carapuça quem quiser !

segunda-feira, 30 de julho de 2018

RUMO ÀS TREVAS PELA AVENIDA DO CAOS - James Pizarro (pág.4 do DIÁRIO DE SANTA MARIA, 31.07.2018)


" Segurança, trabalho, saúde, educação ".
Preparem os ouvidos para os tempos que se avizinham. Rádio, TV, carros de som. Um exército midiático poderoso – movido por bilhões de reais – movimentará ruas e avenidas. Invadirá nossa privacidade. Contará histórias mirabolantes. Sempre achei estranha uma coincidência no currículo dos candidatos.  Todos vieram de famílias pobres. Tiveram infância melancólica. Trabalharam duro para ajudar os pais. Não mentem que passaram fome  porque são rosados e rechonchudos. Abraçam velhos professores para depois  não lhes pagar o piso salarial previsto em lei. Pegam criancinhas no colo para as quais meses depois sonegam creches. Morrem de amor pela Natureza para conquistar votos dos ambientalistas e depois permitem que se desmate o país. Beijam idosos e se deixam fotografar com o pessoal da terceira idade e meses depois deixam faltar abrigos de ônibus, remédios de uso continuado e leitos para a terceira Idade.
Só de imaginar essa nojenta cantilena novamente nas propagandas eleitorais me dá urticária e náusea.
Os amigos e ex-alunos sabem que sempre fui contra a reeleição para cargos executivos. Dou de barato que se aumente de quatro para cinco ou seis anos o tempo do mandato de governador e presidente da república, desde que se proíba a reeleição.
O poder vicia. Traz erros. Corrupção. Protege os aliados. A lei passa a valer apenas para os inimigos.
Bilhões de reais gastos para fazer estádios para realizar três ou quatro jogos da Copa do Mundo. Enquanto diariamente assistimos na TV as noticias de escolas em péssimas condições, grande número delas em ruínas.
Milhões de reais são gastos em viagens desnecessárias, em escândalos denunciados pelas redes nacionais de TV.
Há no ar - só os surdos não ouvem e os cegos não enxergam - um oceânico desejo de mudança. Mudança radical. Em tudo. Só quem parece não sentir são os políticos em geral e os poderosos de plantão, em particular.
Ocorra o que ocorrer, nada acontecerá para a casta social monopolizadora do dinheiro e do poder, pois nada lhes faltará.
Ocorra o que ocorrer, a classe pobre seguirá iludida e feliz com a avalanche de esmolas travestidas de bolsas que cumprem a dolorosa, antiética e sublimar "missão" de amortecer consciências e ganhar votos.
Mas e a classe média, onde rebenta quase tudo, pois nem sonegar pode pois o implacável imposto de renda (salário é renda ?) já lhe desconta no contracheque os 27,5 % que equivalem a mais de quatro meses do seu salário anual ?
E a classe média, onde estão os profissionais liberais, os intelectuais, os que têm visão crítica das coisas e que - nas revoluções - são os primeiros a ser presos ou mortos porque incorrem no terrível pecado de ter inteligência e discernimento com os quais podem influenciar pessoas ?
Sim, este ano vai ter eleições.
Basta olhar as badernas nas ruas e estádios, assistir o número de assassinatos que aumenta diariamente e as reclamações de toda ordem para sentir que estamos num clima de desordem e desobediência civil, tudo temperado pela impunidade.
Sim, este ano vai ter eleições.
Estamos caminhando pela avenida do Caos.
Rumo às Trevas.

 


segunda-feira, 16 de julho de 2018

JOVENS : “ON THE ROAD” ! NÃO TENHAM MEDO DE OUSAR ! - JAMES PIZARRO (crônica publicada em 17.7.2018, pág.4, Diário de Santa Maria)


Este livro é praticamente um registro "tupiniquim" da minha geração, só que escrito sob o ponto-de-vista da juventude norte-americana. Eu, pessoalmente, me identifico demais com o narrador do livro (Sal Paradise) pelo seu amor ao jazz, à literatura e pela vontade de escapar de Santa Maria, RS quando jovem para correr o mundo.

Se tivesse saído do interior gaúcho, adolescente e sozinho, não sei se estaria ainda vivo. Depois de formado, fui chantageado a ficar, embora tivesse tido oportunidades para uma bolsa de estudos de dois anos na Holanda. Depois, um convite para dar aula na Universidade da Paraíba e morar em João Pessoa. Depois, ficar em Curitiba dando aula no Cursinho Bardal. E depois...depois...depois... Fui coagido pela família a ficar.

Enfim, fui domesticado pelo sistema vigente à época. E não culpo ninguém. Pois eu me submeti. Não tinha a devida dose de revolta e loucura. Fiquei a vida inteira numa cidade onde muitos ainda praticam o esporte de cuidar da vida de todo mundo. Convivendo com suscetibilidades (para ser bem educado).

E - principalmente - onde a visão curta de muitas pessoas não lhes permite a pacífica convivência com os diferentes. Isso deve ocorrer em todas as cidades interioranas, eu sei. Isso foi muito bem retratado numa série de filmes americanos sob o título “A Caldeira do Diabo”. Tanto é verdade que me tornei – para alguns chatos - um excêntrico, um maldito. Embora fosse considerado um destemido, um desbravador, um polêmico (na visão dos meus alunos).

Sempre terei essa dúvida : se fiz bem ou se fiz mal em ficar tanto tempo. Mas consertei em parte na velhice o meu equívoco, abandonando tudo e todos (exceto minha mulher) e indo morar na praia, com gaivotas livres  e cachorros errantes. Na maravilhosa praia de Canasvieiras, na mágica ilha de Florianópolis, onde fiz uma experiência temporária de uma década. E depois voltando. Com saudade dos amigos, dos morros, dos parentes. E para morrer.

Mas voltando ao "ON THE ROAD", livro que me foi presenteado há muitos anos pelo saudoso amigo e colega da UFRGS, geneticista Flávio Lewgoy, à época presidente da AGAPAN, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. Sal Paradise é o narrador de On the road - "pé na estrada". Ele vive com sua tia em New Jersey, Estados Unidos, enquanto tenta escrever um livro. Ele é inteligente, carismático e tem muitos amigos. Até que em Nova York ele conhece um charmoso e alucinante andarilho de Denver de personalidade magnética chamado Dean Moriarty.

Dean é cinco anos mais novo que Sal, mas compartilha o seu amor por literatura e jazz, e a ânsia de correr o mundo. Tornam-se amigos e, juntos, atravessam os Estados Unidos, deparando-se com os mais variados tipos de pessoas, numa jornada que é tanto uma viagem pelo interior de um país quanto uma viagem de auto-conhecimento - de uma geração assim como dos personagens.

Sugiro a todos os jovens que leiam este livro. E se tiverem vontade de ousar, OUSEM !!! VOEM !!! PARTAM !!!

As estrelas esperam por vocês ...


terça-feira, 3 de julho de 2018

NO TEMPO EM QUE SE USAVA “COM LICENÇA” E “MUITO OBRIGADO” - JAMES PIZARRO - Diário de Santa Maria, edição de 3.7.2018,pág.4


Trem Minuano. Zebrinha da Loteria Esportiva no "Fantástico". Hugo da Flauta. Calça Topeka. Tio Santo. Negativo de foto. Tivico. Língua do "P". Sargento "Farol" da Banda do Sétimo. Emulsão de Scott. Abelin assoviador. Coppertone. Restaurante Moby Dick. Naftalina. Cabaré Balalaika.
Blusa de banlon.  Gruta Azul. Pílulas de vida do Dr. Ross. Restaurante Gruta da Imprensa. Vemaguet.  "Senadinho" do Clube Comercial. Rural Willys. Garçon"Chico" do Clube Caixeiral.
Bobs para o cabelo. Trem Húngaro. Piadas de caserna das "Seleções". Revista "Realidade". Papel carbono. Trem "noturno" para Porto Alegre. Xampu de ovo. Revistaria da gare da estação ferroviária.
Elefantinho da Shell. Stand do Wilson na Segunda Quadra da Bozano. Pó compacto Cashmere Bouquet. Matinê dominical das l3h15 do Cine Imperial. Leque feminino. Álbum de figurinhas "Marcelino, pão e vinho". Piteira para cigarros. Cabaré da Valda. Atirei o Pau no Gato. Retreta na praça Saldanha Marinho. Óleo Singer. Central de Máquinas. Disco de 78 rotações. Relojoaria Péreyron. Cobertor Sonoleve. Casa Feira das Sedas. General Osvino Ferreira Alves. Sabonete Madeira do Oriente. Sibrama. Modess Pétala Macia. Calçados Morisso. Vidal Castilhos Dânia. Elevador Ótis. Brim Coringa Sanforizado. Bel Som. Pyrex. Livraria Dânia. Roy Rogers. Casa Escosteguy. Buck Jones. Casa "A Facilitadora".  Gabriel Abbott.  Tarzã. Guarany Atlântico.
Corante Guarany. Bibelô. Bidê. Revista Intervalo. Revista Sétimo Céu. Revista Grande Hotel. Revista "O Cruzeiro". Heitor Silveira Campos. Revista do Globo. Relógio Cuco. Deocleciano Dornelles. Bomba de Flit. Mimeógrafo. Toca discos. Caminhão FNM. Dom Antônio Reis. Flâmula. Monark. Pneu Balão. Jardim Tropical ao lado da catedral.
Camisa Volta ao Mundo. Café Visita. Amigo da Onça. Café Cometa. Repórter Esso. Goma Arábica. Montanha Russa. Casa Cristal.
Sapato Vulcabrás. Neocid. Enciclopédia Barsa. Tesouro da Juventude. Clube Juvenil Toddy. Escola de datilografia. Corte meia cabeleira. Corte Principe Danilo. Cabaré da Valda e da Geni. Casa das Malas. Joalheria Troian.
Binaca. Envelope verde-amarelo para correspondência aérea. Alpargatas Roda.
Monóculo com foto. Bombril na antena. Enceradeira. Fotonovela. Decalque.
Araldite. Simca Chambord. Galocha. Chaveiro com pé de coelho. Meia-sola.
Máquina de moer carne. Sabonete Eucalol. Maiôs Catalina. Varig na Noite. Casa Aronis.
Sabão Rinso. Dedal. Uniforme de Gala.  Glostora. Leite de Rosas. Leiteiro. Fábrica de Mosaicos  Ângelo Bolsson.
Jogo de futebol de botão puxador. Mingau de aveia Quaker. Jeca-tatu. Saci-pererê. Reizinho.
Drops Dulcora. Penico. Cartão de Natal. Mercurocromo. Espiral contra mosquito. Aluno levantava quando professor entrava na sala.
Talha. Filtro de Barro. Calça faroeste. Toca-fitas. Aqua Velva. Soldadinho de chumbo. Topo Gigio. Os Sobrinhos do Capitão. Kichute. Conga. Tênis Bamba. Manilhas Kozoroski. Casa Herrmann. Usavam-se as expressões “com licença” e “muito obrigado”.
Ovo de madeira para cerzir meia.  Crush. Cyrillinha. Bambolê. Sabonete Lever.
Instituto Universal Brasileiro. Tigre da Esso. Calçadeira. Slide. Quinta Seibel.
Três em Um. Roupa engomada. Revista do Rádio. Cadernos do MEC. Cadernos Avante.  Clube do Bolinha. Casinha na árvore. Cadeiras na calçada. Velar o defunto em casa. Seringa de vidro para dar injeção. Suadouro contra gripe. Escaldapé. Biliquê contra gonorréia.
Rodelas de batata inglesa na testa contra dor-de-cabeça. Gemada com canela.
Manta de lã contra caxumba. Entregador de vianda.
*Se você tiver conhecido 90% disso tudo, certamente terá mais de 70 anos...

segunda-feira, 18 de junho de 2018

NO TEMPO DA SENSIBILIDADE ECOPOLÍTICA - James Pizarro (crônica no Diário de S. Maria, pág.4, 19.6.2018)


O mais antigo inimigo de incautos pássaros em nossa cidade, como de resto em todo território gaúcho, era o estilingue ou funda, o popular " bodoque ". No final dos anos 80, início dos anos 90, uma indústria de brinquedos de SP lançou na praça uma forma moderna de estilingue, com uma peça de metal em forma de letra Y e com duas tiras de borracha de uso cirúrgico, substituindo as velhas tiras feitas de câmara de pneus de automóvel. Ainda havia um “melhoramento” : uma empunhadura que se encaixava no antebraço do atirador. Este tipo de artefato passou a ser vendido em Santa Maria, tendo eu recebido denúncia contra os Supermercados Trevisan (denúncia feita pela Associação Protetora dos Animais, através da ativa militante, professora Vera Resende). A rede Trevisan de supermercados era a mais importante da cidade e seu Presidente, meu amigo João Trevisan, era inclusive o presidente da Associação de Supermercados do RS. Fui falar com ele pessoalmente e fiz ver que, um daqueles bodoques modernos era capaz de atirar uma bola de gude (nossa tradicional "bolita") a 80 km/hora, cerca de 25 metros por segundo, com um alcance efetivo de 30 metros. Disse que, a essa velocidade, abriria um buraco na cabeça de uma criança. Falei sobre o instinto de violência desenvolvido nas crianças, a mortandade de pássaros em nossa região e outros argumentos. Na minha frente, João Trevisan chamou o gerente-geral da principal loja dos supermercados que dirigia e ordenou que fosse retirada das prateleiras e gôndolas todos os bodoques e que fossem devolvidos à fábrica paulista e cancelados os novos pedidos. Depois disso, fiz uma série infindável de palestras nas escolas de ensino fundamental de nossa cidade, falando sobre a necessidade da gente ter mais pássaros, mais ninhos, mais vida. Foi um golpe de morte no uso de bodoques em nossa cidade, do qual me orgulho ter participado. Faço este registro para a posteridade sobre a sensibilidade do empresário João Trevisan. Que muito me ajudou na luta contra os bodoques nesta Santa Maria.

A convite da Prefeitura (Intendência) e da Câmara de Vereadores da cidade uruguaia de Punta del Este, em companhia de Dom Arturo Vetuschi, à época cônsul do Uruguai em Santa Maria, estive fazendo a palestra inaugural do "Primeiro Encontro de Ecoturismo e Meio Ambiente de Punta del Este". No dia  10 de outubro de 1985, às 15:00 horas, no Ginásio Municipal de Punta del Este completamente lotado por 4000 crianças da faixa etária entre 9 e 12 anos, fiz palestra sobre a fauna e flora do Cone Sul. No final da palestra, cantei diversas músicas ecológicas em espanhol, com um coral de 4000 vozes, o que me emocionou intensamente. O fato foi presenciado pelos vereadores de Santa Maria (Ady Forgiarini, Arnildo Martinez Muller e Mosar da Costa) e pelos estudantes do Curso de Turismo da faculdade das Irmãs Franciscanas, sendo transmitido ao vivo pela TV e pelas rádios da cidade uruguaia. Este fato motivou convite para fazer palestras em outras cidades uruguaias. Tenho em meus arquivos os recortes de um jornal uruguaio, com a manchete : "Maestro Pizarro, un fenomeno de comunicacion". O cônsul Dom Arturo Vetuschi trouxe a filmagem do fato que foi reproduzida pela TV Câmara de Santa Maria.
Bons tempos de sensibilidade empresarial e política para o meio ambiente...


sexta-feira, 8 de junho de 2018

608 HORAS PARA PENSAR - James PIzarro (8.6.2015)

Fiquei 17 dias internado...17 dias x 24 horas = 608 horas. Medidas de sinais vitais a cada 4 horas. Taxas. Soros. Antibióticos potentes. Coleta de material para exames. Várias refeições e lanches. Óleo da canola na perna com erisipela. Curativo no cateter da subclávia. Insônia. Programas de rádio. TV. Piedosas visitas do padre. Consoladoras e simpáticas conversas com os paramédicos. Tempo que não passa. Pensamentos fervendo a mil. Visitas inesperadas de pessoas surpreendentes. Visitas prometidas de pessoas queridas e que não se concretizaram. Visitas de pessoas desconhecidas e que emocionaram um velho coração. Dramas humanos pungentes de doentes de quartos vizinhos. A solidariedade pela dor. Passeios de mãos dadas pelos corredores com jovens fisioterapeutas e seus exercícios aeróbicos nas janelas. Macas que cruzam com cadáveres cobertos com lençóis. Cadeiras de rodas com doentes baixando e outros dando alta. Pessoas abraçadas chorando um óbito. Outras sorrindo comemorando o nascimento de um neto. Eis a rotina de um grande hospital. Não é um local só de tristezas. E de Morte. É um local de coisas alegres. Renascimentos. De brindes à Vida. Nunca fiquei tão convicto na minha vida de que a coisa mais importante é a SAÚDE !!! Vou mover céus e terras, de hoje em diante, para investir na melhor qualidade de minha saúde (que já é muito boa). Mas que - por idiotice - não vinha lhe dando o devido valor.

terça-feira, 5 de junho de 2018

UMA CENA INSÓLITA - James Pizarro (Crônica de 5.6.2018, pág.3, DIÁRIO, Santa Maria,RS)

Santa Maria teve três grandes cinemas. Cine-teatro Imperial. Cine Independência. Cinema Glória.
O Cine Independência virou um shopping popular, abrigando os camelôs que estavam pelas ruas da cidade. Ao invés do Gordo e o Magro, Hopalong Cassidy, Jesse James, Batman e Robim...mercadorias piratas do Paraguai.
O Cinema Glória virou uma filial da Universal de Deus e depois uma boate. Ao invés dos grandes musicais com Doris Day, Gene Kelly, Fred Astaire, Pat Boone e Elvis Presley...sermões, dízimos e milagres de veracidade duvidosa.
O Cine-teatro Imperial,na segunda quadra da rua Dr. Bozano, transformou-se numa filial da tradicional Casa Eny. Ao invés das grandes peças que o Edmundo Cardoso apresentava com sua Escola de Teatro Leopoldo Froes...tênis, sandálias, sapatos e hawaianas.
Foram mudanças boas para uma cidade que se jacta do cognome de "cidade cultura" ? Claro, hoje existem as salas de cinema dos shoppings da cidade, com cerca de 80 lugares cada uma. Nada semelhante aos 1200 lugares que existiam no Cine Independência, por exemplo.
Quem da faixa etária dos 60 ou 70 anos não se lembra do tradicional "matinê da 1,15" como era chamada a sessão dominical das 13,15 horas do Cine-teatro Imperial ? Passava sempre um "filme de mocinho" (nome dado aos filmes de faroeste americano), seguido de um "seriado" (cada domingo passava um capítulo de uma longa história de aventuras, que chegava a durar dois meses). Na frente do cinema, antes das sessões, ocorria o tradicional troca-troca de "gibis" (revistas em quadrinhos dos heróis da época). Ou então, troca de figurinhas do famoso "Álbum das Balas Rute".
O "Seu" Aurélio era o lanterninha do Cine-teatro Imperial, famoso pelo duro que dava na gurizada durante as sessões. Em sua homenagem existe hoje o "Cine-clube Lanterninha Aurélio". Certa vez fiz uma aposta com os meus colegas da rua Silva Jardim. Apostei que entraria no matinê com uma galinha e que o Aurélio não veria. Não só entrei com a galinha dentro do casacão (chamado de "sobretudo" na época) como fiz uma barbaridade. Fui sentar na primeira fila de cadeiras do mezanino (a parte superior da sala de exibição). E na hora mais romântica do filme, quando o mocinho pedia a mão da moça em casamento, eu atirei a galinha lá de cima. A coitada voou como podia e foi se estatelar na cabeça da piazada lá embaixo. O Aurélio interrompeu a sessão, no meio da algazarra da gurizada. Acenderam-se as luzes. E furioso ele foi ao mezanino. E queria saber quem tinha jogado o galináceo. Ninguém me acusou. E eu fiquei gelado de medo.
Mas ganhei a aposta : meia dúzia de Cyrillinhas, o refrigerante mais famoso da época, fabricado em Santa Maria mesmo.
Maconha, cocaína, rachas de automóveis, motos numa só roda, roleta russa, agressão a professores, brigas de gangues juvenis, pichações...Ao ler nos jornais sobre as "brincadeiras" da gurizada de hoje, fico estarrecido.
Perto dessa turma de hoje eu era um santo !

segunda-feira, 21 de maio de 2018

A BANDA DO MANECO RESISTE BRAVAMENTE - James Pizarro (crônica do dia 22.5.2018 no DIÁRIO, S.MARIA)


A história da banda do Maneco está indelevelmente ligada ao nome do ex-aluno Roberto Binato, depois formado médico e professor universitário do Curso de Medicina da UFSM, no Departamento de Biofísica, onde ministrava aulas juntamente com o Dr. Irion. Mesmo cursando Medicina, continuava sendo o responsável pela banda do Maneco, nas funções de “mestre”, uma espécie de maestro que cuidava tanto da coreografia e da disciplina como também dos arranjos musicais e repertório. Era carinhosamente chamado de “Binatão”.
A banda do Maneco chegou a desfilar com quase 200 figurantes, fazendo as chamadas “evoluções” durante o desfile. A evolução que mais agradava e que arrancava delirante aplauso do público era copiada da Banda de Fuzileiros Navais, do Rio de Janeiro : a banda desfilava formando uma gigantesca âncora, que ocupava uma quadra inteira de rua. A banda viajava muito por todo o RS, a convite de escolas e prefeituras. Em Santa Maria, era convidada a abrilhantar todo tipo de solenidade. Certa feita, no campo de futebol do Riograndense Futebol Clube, completamente lotado, a banda formou - pela primeira vez - a palavra MANECO, numa evolução que comoveu a pais, alunos, professores, funcionários e público em geral.
O Padre Rômulo Zanchi, férreo disciplinador na direção do colégio, exigia que os integrantes da banda apresentassem seus boletins todo santo mês em seu gabinete. Quem estivesse mal de notas era sumariamente banido da banda. O padre Rômulo dizia : “É uma honra tocar na banda e aluno vadio não veste aquele uniforme para representar o Maneco pelas ruas da cidade ! “ Assim é que, nos desfiles da Semana da Pátria ou nos deslumbrantes “Jogos da Primavera”, quando a banda chegava ao centro da cidade, capitaneando os quase dois mil alunos do Maneco, toda o público sabia que ali naquela corporação musical marchava a elite cultural do colégio, representada por seus melhores alunos. Durante duas ou três noites que antecediam ao desfile, alunos e alunas voluntariamente faziam bolhas nos dedos cortando papel laminado para fazer “picadinhos” que eram acondicionados em dezenas e dezenas de sacos de estopa. No dia do desfile, estes alunos e seus familiares postavam-se estrategicamente nas sacadas dos edifícios mais altos da avenida Rio Branco e da rua do Acampamento (o Taperinha era um dos preferidos) e, quando o Maneco começava sua esperada apresentação, os céus do centro da cidade eram tomados por aqueles milhares de “picadinhos” laminados que produziam um efeito espetacular refletindo a luz do sol. Torcidas organizadas berravam sem parar :”Maneco ! Maneco !” Aquelas músicas, marchas e dobrados em furiosa harmonia marcial. O Tadeu com seu garbo de mor da banda. As graciosas balizas (Carmem Helon Mariosi,  Zara Ehlers, Maria do Carmo Irion, além de outras). Aquela multidão. Aqueles papéis picados. Os foguetes. Os gritos. Os aplausos. A cadência. Aquilo tudo era emocionante ! E eu ali no meio da banda, tocando pifaro, E ali fiquei durante seis anos tocando naquela banda. Passando por aquelas emoções que enchiam meu coração adolescente de felicidade e orgulho. Até hoje, aos 75 anos, quando a banda do Maneco passa, eu choro.
A banda hoje está passando por dificuldades, ela que colabora em todos os eventos comunitários de Santa Maria há 60 anos ! Faço uma conclamação ao leitor para colaborar com qualquer quantia.
Pode fazer seu depósito na Caixa Econômica  Federal, Agência 501, Operação 013 (Poupança), Conta 002547509. Ou se preferir, pode depositar na Conta Captação do Banco do Brasil (Lei Rouanet), Agência 01260, Conta Corrente 840696.
Maiores informações : 55.98121.3993/99958.8785. Ou pelo e-mail : bandamarcialdomaneco@gmail.com
Como manequiano ardoroso e ex-integrante da nossa amada banda, antecipadamente  agradeço pela boa vontade do público leitor.  A banda merece.