domingo, 29 de agosto de 2010

AS MINHAS NOITES DE TERROR

Compreendo quem tem insônia. Relevo quem tem sono agitado. Quem é atormentado por pesadelos. Porque dos meus nove aos treze anos comi o pão que o diabo amassou. Porque sofria de insônia. Noites mal dormidas. Temores noturnos. Quando o sol ia se pondo e a noite se avizinhava, eu já sentia verdadeiro pavor.

Meu pai me levou a médicos. Que me perguntavam coisas. Ouvi pediatras dizerem para meu pai que eram distúrbios da pré-adolescência. Que eu era sensível. Um deles disse que eu era "precoce". Lembro como se fosse hoje que eu fiquei estarrecido quando o médico disse isso. Porque eu não conhecia a palavra. Na minha mente agitada imaginei que fosse um tumor, uma moléstia grave. Fiquei tranquilo quando, ao chegar em casa, consultei o único dicionário que existia na época, de autoria do Fernando Fernandes. E fiquei sabendo o que queria dizer "precoce".

A medicina não resolveu meus problemas noturnos. Eu continuava a ouvir ruídos. Ouvia gente cochichando. E via coisas. Principalmente fogueiras. Nunca vi pessoas e nem animais. Tudo que eu via era relacionado com fogo.
Minha mãe me levou então a centros espíritas. A sessões de umbanda. Tomei passes de descarga. Sessões de descarrego. E toda uma terminologia que eu não entendia direito. Numa sessão dessas o médium receitou "Kola Fosfatada Soel", um medicamento feito de ervas muito popular naqueles tempos. E disse que eu teria de comer muita alface na janta. Também não adiantou nada.

Até que minha vó Olina me levou na romaria de Nossa Senhora Medianeira. A primeira romaria das dezenas que eu iria comparecer depois durante toda minha vida. Lembro que fui todo de branco, com enormes asas de anjo. Carregando uma vela de quase um metro de altura. Minha avó me dizia que eu rezasse com fé. Que aquelas vozes, aquelas visões de fogo iriam desaparecer. E que eu jamais iria sentir medo da noite.

As vozes realmente sumiram. Nunca mais tive medo. E quando me perguntavam se eu ainda enxergava fogueiras, labaredas, eu mentia. Porque eu continuei a ver aquele fogo durante alguns anos. Eu não queria decepcionar minha avó e nem a santinha. E nem queria que me chamassem de louco.

Até que um dia nunca mais enxerguei nada...

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AUTOR : James Pizarro

sábado, 28 de agosto de 2010

UMA CRIANÇA PODRE

O feto estava no alagadiço. Resto de mangue na praia dos Ingleses.
Misturado a galhos da vegetação. E folhas em decomposição.
Cheiro de maresia. Misturado à carne humana em decomposição.
Deveria ter uns sete meses aquela criança.
Loira. Sexo feminino. Lindinha.
Aborto feito primitivamente. Assassinada por uma mãe desesperada.
Dois ou três furos na cabeça do feto. Provavelmente com agulha de tricô.
Pelos orifícios corria massa encefálica.
Pedaços de um cérebro que não veio a ser.
Parecia fio de ovos escorrendo.
Mais um vítima da miséria.
Do medo.
Da ignorância.
Na TV políticos nojentos sorriem.
E prometem segurança. Trabalho.
Saúde. E educação.
Mentem sem pudor algum. São mortos em vida.
E fedem muito mais do que aquele feto.

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AUTOR : James Pizarro

CENA NO "CHE CAFÉ"

Levou a vida toda de terno e gravata. E sempre odiou isso. Aposentou-se.
Veio para a praia de Canasvieiras em busca da simplicidade total. Onde anda de bermuda, chinelo e camiseta.

Às 10 horas compra seus dois jornais preferidos na banca do Juarez. E vai para o "Che Café" tomar seu tradicional café preto. Servido pela Sandra ou Vorlei, irmãos gaúchos. Ou pela paranaense Elis. Café forte, moído na hora, ao melhor gosto argentino.

Excepcionalmente, naquela quinta-feira, estava de sapato social, meia, camisa nova. Um dos clientes, surpreso com a nova indumentária do aposentado, lhe faz esta observação preconceituosa :

"- Finalmente, bem arrumado...bem vestido, como um homem, um gaúcho que se preza..."

O velho aposentado ignorou a observação. Mas a gaúcha Sandra, espirituosa e rápida nas respostas, falou :

"- Ué, por ser gaúcho tem agora de andar com uma espora enfiada no cu ?"

O aposentado sorriu, satisfeito. Pagou o cafezinho.

E foi embora em silêncio.

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AUTOR : James Pizarro

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A EREÇÃO PÓS-APOSENTADORIA

Enquanto universitário, tive de dar duro para me sustentar. Trabalhava no SAMDU - Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, como auxiliar administrativo (concursado). Aos domingos vendia "poules" no Jockey Club da cidade. E dava aulas no Colégio Santana e cursinho pré-vestibular durante a semana.

Na hora do cafezinho, pelas manhãs, sempre aparecia no SAMDU um ferroviário simpaticíssimo, cabelos brancos, rengueando de uma das pernas. Era pai do músico Paulinho Cruz, que tinha um conjunto musical em Santa Maria, "Paulinho e seus Rapazes", que animava as reuniões dançantes no Clube Comercial. Anos depois foi assassinado com um tiro na faixa nova de Camobi, que estava em construção.

Pois o pai do Paulinho sempre tinha uma história para contar ou uma anedota para divertir a todos. Certa vez, o assunto era sério na roda do cafezinho : os médicos falavam sobre impotência masculina. Instado a falar sobre o tema, o "Seu" Cruz disse que "a gente não fica broxa de uma hora para outra, as coisas vão acontecendo esporadicamente, até que as ereções se tornam bastante raras...e quando a gente menos imagina, nos locais mais impróprios, a gente fica de pau duro".

O administrador do SAMDU, Diogo Dante Zanetti, disse ao "Seu" Cruz :

- Buenas, nestas horas o senhor certamente corre prá casa para aproveitar com a sua senhora...

O sincero "Seu" Cruz rebateu de imediato :

- Que nada...pego o primeiro taxi que está passando e vou lá na praça Saldanha Marinho mostrar para os meus amigos aposentados...

A risada foi geral.

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AUTOR : James Pizarro

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PSICOPATA INGLESA EM AÇÃO !!!

Na Inglaterra, esta mulher foi flagrada pelas câmeras de vigilância colocando o pobre bichano no lixo, onde ele ficou aprisionado por 15 horas conforme notícias nos jornais. Ela foi descoberta, denunciada,presa e teve de pagar fiança para ser liberada e responder processo em liberdade por crueldade contra animais.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

MARIA SILVEIRA PIZARRO, MINHA MÃE

Minha mãe se chama Maria, conhecida por todo mundo pelo nome de Iria...Dona Iria. Minha avó materna,vó Olina, contava que o nome dela era para ser Maria Iria e que meu avô, na hora do registro, esqueceu e registrou apenas como Maria.
Ela cresceu como filha biológica única, mas com três irmãos adotivos : José, Moisés e Carmelita. Foram três irmãos adotados pelos meus avós, diante da morte dos pais biológicos deles, amigos da família.
Minha mãe estudou todo o Curso Elementar (depois chamado Ginásio e hoje chamado Ensino Fundamental) no Colégio Santa Terezinha (hoje prédio do MANECO), internato e semi-internato mantido pela Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul em sua época áurea. No turno da manhã, minha mãe tinha as disciplinas pertinentes a esse tipo de curso (Matemática, Português, Ciências, Geografia, História, Música, etc...). Pela tarde aprendia bordado,tricô, tocar violino,educação física, etc...Minha mãe sempre dizia que as freiras do Santa Terezinha usavam a frase : "De manhã se educa a mente e a alma, pela tarde se educa o corpo".
Aos 16 anos conheceu Alfeu, meu pai, e pouco tempo depois casaram. Foram morar na rua Silva Jardim, onde hoje está minha casa (número 2447) e a casa de minha mãe (2431).
Minha mãe ajudou na árdua luta de sustentar uma família com dois filhos, construir uma casa própria com o ordenado de funcionário público de meu pai, que trabalhava em dois empregos. Exímia na arte de fazer doces, durante anos fez e vendeu doces sob encomenda para casamentos e aniversários. Nunca teve empregada doméstica. A família sempre recebeu ajuda providencial, quando necessário, de meu avô materno, Seu Fredolino. Como ferroviário, ganhava muito bem à época e podia prestar este auxílio e o fazia de bom grado.
As únicas diversões das quais me lembro eram freqüentar todos os circos que chegavam a Santa Maria. Ir aos bailes mensais do Clubes de Atiradores Santamariense. E não perder as esporádicas festas do Grupo de bolão 7 de setembro, de cuja equipe meu pai era o "capitão", pois era exímio bolonista.
Depois de idosa, minha mãe freqüentou aulas na UFSM como aluna especial. Engajou-se na luta política da terceira idade na cidade, sendo uma das fundadoras do grupo "Mexe Coração", com sede no Centro de Atividades Múltiplas, no Parque Itaimbé. Participou de aulas da caratê. Foi atriz de vários espetáculos do grupo teatral da terceira idade, onde se revelou notável comediante. Viajou pelo interior gaúcho para apresentações teatrais. Fez parte do coral dos idosos. Frequentava as aulas recreativas de natação na piscina térmica da UFSM. Enfim, teve uma vida socialmente participativa
Esteve casada com meu pai durante 63 anos de feliz união, pois ambos se completavam. Ficou viúva em 9 de maio de 2004, quando meu pai morreu vitimado por complicações pós-operatórias advindas de uma cirurgia cardíaca.
Vive na mesma casa ainda, ao lado da casa onde reside meu filho e a poucos metros da casa onde reside minha irmã. Acompanhada por duas atendentes. Amparada por um excelente plano de saúde. Ela tem grande afinidade com minha mulher, sua nora. Insisti até à exaustão para trazê-la para a praia de Canasvieiras para gozar do sossego de uma praia maravilhosa no final de sua vida. Já estava em meus planos alugar um apartamento maior, onde ela teria a privacidade de seus aposentos. Insisti então para que ela viesse aqui viver nem que fossem alguns meses durante o ano. Não consegui fazê-la mudar de ares. Parto agora para uma última tentativa : trazê-la para passar uma semana aqui na praia.
Os percalços, os problemas, a viuvez, a distância...tudo isso poderia ser resolvido se ela aceitasse vir em definitivo.
Mas conheço minha mãe... depois de dizer não, é não.
Contento-me, então, com conversas telefônicas semanais. E com visitas esporádicas a Santa Maria (no mês de novembro de cada ano trago minha mãe para passar trinta dias aqui comigo). Porque, infelizmente, a minha opção de vir morar na praia, desejo acalentado há anos, não coincidiu com a opção de minha mãe.
Lamento pela opção que ela fez. Mas que sou obrigado a respeitar.

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AUTOR : James Pizarro

BRAULIO ARAUJO SOUZA, MEU SOGRO

Bráulio Araújo Souza, filho de Manoel e Emília Souza, nascido uruguaio e registrado no Brasil, foi meu sogro. Casou-se com Edith Grau Souza em 11 de novembro 1942, casamento que durou 62 anos. Trabalhou a vida inteira da Livraria do Globo, onde aposentou-se como responsável pela seção de livros. Sempre de terno e gravata, atendia os profissionais liberais da cidade e os estudantes universitários. Gostava muito de ler, principalmente livros pertinentes à história do Rio Grande do Sul e também biografias. Depois de aposentado na livraria, trabalhou ainda na Ótica e Relojoaria Troian. Trabalhou depois por muitos anos na firma Ângelo Uglione, representante dos automóveis Chevrolet para a zona da grande Santa Maria. Trabalhou também como autônomo, viajando para São Paulo para comprar e vender carros.
Gostava muito de carros, pescarias, caçadas, bailes.
Participou ativamente da Escola de Teatro Leopoldo Froes, cujo diretor/fundador foi o teatrólogo Edmundo Cardoso (Seu Bráulio exerceu as funções de tesoureiro da escola durante quase meio século).
Passava horas conversando sobre carros, tendo sido proprietário orgulhoso de um Chevrolet Opala 1974, com todas as peças originais. Este Opala ainda hoje existe, pois foi doado ao seu neto Marcelo Zavaglia Souza, que morava na cidade de Rio do Sul, SC. Marcelo, que pertenceu ao clube de carros antigos de SC, continuou a tradição do avô. Faleceu precocemente, para tristeza de todos nós.
Seu Bráulio era exímio treinador de cachorros perdigueiros para caçada. Sua cadela "Bala" ficou famosa entre os caçadores de Santa Maria nas décadas de 60/70. Ele também frequentava a sede campestre da SOCEPE - Sociedade Concórdia de Caça e Pesca, onde participava dos tradicionais torneios de tiro ao prato nas pedanas da entidade. Participava também dos então existente torneios de tiro ao pombo, que foram proibidos no município por lei municipal de minha autoria, quando fui vereador pelo PDT em Santa Maria, na legislatura 1988/1992. Tal iniciativa minha provocou aplauso nas entidades protetoras de animais e repulsa por parte dos adeptos do tiro ao pombo. Seu Bráulio nunca tocou neste assunto comigo. Como sempre aconteceu em toda minha vida, nunca tive unanimidade em nada.
Morreu aos 91 anos, em 5 de agosto de 2005, vitimado por falência múltipla dos órgãos.

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AUTOR : James Pizarro

ALFEU PIZARRO, MEU PAI

Meu pai, Alfeu Pizarro, foi um dos primeiros enfermeiros de Santa Maria. Naquela época não existiam os cursos de enfermagem. E nem de técnicos em enfermagem. Eram ministrados cursos rápidos, de algumas semanas, e eram nomeados pelo presidente Getulio Vargas com uma portaria declarando-os "práticos-licenciados". Estou falando dos anos 40 e anos 50. Os dois primeiros enfermeiros dos quais tenho notícia em Santa Maria foram meu pai e o seu companheiro Olmiro Vargas, de apelido "Varguinhas".
Meu pai trabalhou no Centro de Saúde 7, que funcionava à rua do Acampamento, no prédio onde hoje está a Sociedade Italiana. Ali ele foi responsável, por mais de 40 anos, pela "Sala de Vacinação". Lembro de alguns colegas dele, embora eu fosse um garoto : Julinha Nunes da Silva (servente), Tolentino (portaria), Vicente de Oliveira (de apelido "Vicentão", do qual eu ganhei meu primeiro livro de presente, "As Aventuras de Tibicuera", de Érico Veríssimo), Dona Maria (do Raio-X), Dr. Massot e Dr. Izidoro Lima Garcia (pai), médicos que chefiaram aquela repartição, etc...
Além de trabalhar no Centro de Saúde, meu pai trabalhou no SAMDU-Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, uma criação do presidente João Goulart, uma das coisas mais sérias que já existiu no Brasil em matéria de assistência pública. Meu pai participou da equipe do SAMDU desde a sua inauguração, tendo por chefe o médico militar, baiano, Dr. Raymundo Braga.
Depois dele, o chefe do Posto 4 do SAMDU em S. Maria, foi chefiado pelo Dr. Clândio Marques da Rocha, onde eu fui seu auxiliar administrativo, depois de ter prestado concurso público entre mais de 150 candidatos e ter tirado primeiro lugar. Ali convivi com cerca de 100 funcionários (médicos, enfermeiros,auxiliares de enfermagem, motoristas, porteiros, atendentes, serventes, burocratas). Além do Dr. Clândio, pelo qual tenho imenso carinho (fez um horário especial para que eu pudesse fazer meu curso de Agronomia na UFSM), lembro de quase todos : Dr. Ronald Bossemeyer, Dr. Eugênio Streliaev, Dr. Agostinho, Dr. Meyer, Dr. Ozz, Dr. Mazza,etc...
De sorte que meu pai trabalhava durante o turno diurno (no Centro de Saúde) e 15 vezes por mês também acumulava o trabalho do período noturno (no SAMDU). Eu o via, portanto, muito pouco. Além disso, tinha os clientes particulares, geralmente pessoas da alta sociedade, que o contratavam para que ele desse injeções a domicílio.
Era uma vida dura. Criou a mim e minha irmã de forma digna. Conseguiu formar os dois. E levou quase 8 anos para construir uma casa própria, de alvenaria.
Uma coisa que meus amigos sempre invejaram na minha vida estudantil era o fato de meu pai, embora de precária situação financeira, ter aberto uma conta com crédito ilimitado na Livraria do Globo, cujo gerente era o Seu Valdemar Cavalheiro. Graças a isso eu pude ter uma biblioteca com mais de 600 volumes. Graças ao sacrifício do meu pai. Lembro bem de que eu já tinha casado quando meu pai conseguiu quitar toda a conta dos meus livros.
Aos 84 anos fez uma cirurgia cardíaca para correção duma anomalia nas válvulas do coração. Operou-se numa quarta-feira. Ao entardecer do domingo (9 de maio de 2004) , quatro dias depois, faleceu com ruptura da aorta abdominal. Foi velado na sala de sessões da Câmara de Vereadores, ex-vereador e vereador emérito da cidade que era. Sua morte teve ampla divulgação pela imprensa, pois liderava o movimento da Terceira Idade e era pessoa com livre trânsito na mídia. Seu enterro teve enorme acompanhamento de idosos, políticos, sacerdotes,amigos, vizinhos, público em geral.
Foi um grande homem.
E um pai fora-de-série.

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AUTOR : James Pizarro

EDITH GRAU SOUZA, MINHA SOGRA

Dona Edith Grau Souza, minha sogra, era filha de Elvira Cassel e Oscar Grau. Cassel e Grau ("cinza", em alemão) são tradicionais famílias de origem alemã de Santa Maria. Oscar Grau, falecido em 1928, é hoje nome duma escola municipal situada na Vila Schirmer. Foi professor de música e músico muito conhecido na cidade, eis que tocava violoncelo com rara sensibilidade. No local onde existe hoje o bar "Ponto de Cinema", existiu o Cinema Glória e, antes deste, o famoso Cinema Coliseu. Os filmes vinham em rolos enormes e, como o cinema só possuía uma máquina, quando terminava um rolo havia intervalo para a colocação do rolo seguinte. Nestes intervalos entrava em cena uma orquestra, onde brilhava Oscar Grau como violoncelista. Ele morreu precocemente, antes dos cinqüenta anos.
Dona Edith, como se vê, tinha a música no sangue e no meio onde vivia. Depois de passar alguns anos num internato alemão na cidade de São Leopoldo, veio para Santa Maria onde logo conheceu Bráulio Araujo Souza, com quem se casou. Seu Bráulio era nascido no Uruguai, mas registrado e criado no Brasil. Da união de ambos nasceram três filhos : Carmem (advogada, aposentada pela UFSM e residindo atualmente em Porto Alegre), Nelson (médico veterinário, morando em Rio do Sul, SC) e Vera Maria (formada no Magistério e no Curso Superior de Educação Física, casada comigo desde 14 de julho de 1966).
Durante meu período de namoro e noivado, eu almoçava e jantava diariamente na casa da Dona Edith, sem que ela nunca tivesse reclamado um só dia da minha insistência...rsss Pelo contrário, gostava demais de mim, sempre incentivou e fez bom gosto no meu namoro com sua filha, fazia pratos de comida que ela sabia que eu gostava. Eu era um estudante universitário polêmico, tinha atividade na imprensa e, aos 18 anos, já estava sendo processado por crime contra a "Lei da Imprensa" (aliás, fui absolvido). E Dona Edith jamais admitiu que alguém falasse de mim com desdém ou me criticasse. Ela sempre dizia : "O James é muito trabalhador e trata muito bem a minha filha". De sorte que sempre a tratei carinhosamente e tivemos uma relação muito harmônica, o que já não ocorria por exemplo com meu sogro...
Dona Edith educou os filhos de maneira exemplar e ajudou financeiramente na casa porque sempre deu aulas de piano, primeiramente no Conservatório Pogetti, na rua do Acampamento (dirigido pelo maestro Garibaldi Pogetti ) e, depois, aulas particulares em casa. Tinha um belo piano Pleyel, dado de presente, ainda em vida, para minha neta Amanda.
Tocava muito bem. sobretudo todo o repertório de Chopin, seu compositor predileto.
As filhas ainda possuem as fitas gravadas de muitas músicas executadas por ela.
Também foi de uma dedicação fantástica como avó, deixando marca indelével na sensibilidade dos netos.Com a morte do marido, diabética e com doença de Parkinson, veio a falecer em 30 de março de 2007.
Quando ouço ou leio piadas ou comentários desairosos a respeito de sogras,eu sempre faço uma ressalva :
- Minha sogra era uma notável exceção, pois foi uma extraordinária mulher, esposa, avó, bisavó e sogra !!!

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AUTOR : James Pizarro

UM CORVO DE ESTIMAÇÃO

Ao "Seu" Braulio Souza, meu sogro
(IN MEMORIAM)
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Família da classe média do interior gaúcho.
Pai comerciário. Caçador de perdizes. Dono de um carro antigo. Um velho Ford "de bigode".
Mãe professora de piano e dona de casa. Três filhos pequenos. Duas gurias e um piá.
Durante as férias viajavam para a pequena cidade de Cacequi.
Estrada de chão batido. Mar de lama quando chovia. O valente Ford atolava. O pai descia. Botava correntes ao redor dos pneus.
A mãe puxava a cortina de couro das janelas. As três crianças encolhidas no banco traseiro. Frio de renguear cusco. Chuva inclemente.
Chegavam ao destino horas depois. Passar alguns dias na "casa" do irmão do pai. Na realidade, uma hospedaria. No recinto da estação ferroviária. Abrigava passageiros do trem. Dava comida. Servia lanches.
Os irmãos maiores toleravam essas "férias". A menor das gurias detestava. Ficava olhando aquela gente estranha. Velhos gaúchos pilchados. Fumando palheiro. Tomando seu gole de cachaça. Chimarreando. Comendo o prato feito que a tia servia aos hóspedes. Enquanto a mãe ajudava na cozinha. E o pai conversava fiado.
A menina odiava sobretudo o corvo. Sim, um corvo de estimação ! Que ficava pousado na janela da cozinha. Esperando tripas de galinha. Restos de carne dos pratos. Vísceras. O corvo saia caminhando entre as mesas. Festejado pelos hóspedes. Orgulho do tio. Que acariciava o pescoço pelado do corvo. Que crocitava, agradecido.
Introspectiva nos seus oito anos, a menina ficava olhando aquilo. Com seus olhos de espanto. Além do asco pelo corvo, ficava comparando o tratamento que recebia. Os tios davam mais atenção ao corvo do que a ela.
Esta cena jamais sairia da sua memória.
Para o resto da vida. Vida que ela continua a olhar com seus grandes e lindos olhos.
Agora, não mais de espanto. Mas de encantamento.
Da sacada onde mora só contempla passarinhos coloridos.
E gaivotas que cortam o ar.
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AUTOR : James Pizarro

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O LUIZINHO MORREU SEM ME CONTAR...

Tinha eu 16 anos quando o Edmundo Cardoso foi diretor do jornal "A RAZÃO", em sua antiga sede, à praça Saldanha Marinho. Fui contratado pelo Cardoso como revisor do jornal, indicado pela professora de português do MANECO. Lá ficava eu até de madrugada, sentindo o cheiro do metal das velhas e barulhentas linotipos. A chamada "prova" (texto recém saído da máquina e por ser ainda corrigido) me era trazida lá do fundo das oficinas pelo amigo Bilibio, um dos talentosos gráficos da empresa.

O Nestor Calcagno já escrevia sobre as Forças Armadas. O Bento do Carmo Machado, popular "Bentinho", escrevia sobre futebol amador. O Amauri Fonseca era o secretário do jornal. E frequentavam a redação o Dr. Amauri Lenz, o Dr. Romeu Beltrão, o Prado Veppo e um sem número de figuras importantes da cidade. O Dr. Amauri escrevia uma crônica semanal chamada "As Semanais", que o Cardoso espirituosamente chamava de "as Seminais". O Dr. Beltrão escrevia suas crônicas no verso de folhas de calendário, as chamadas "folhinhas". Como ele escrevia muito para o jornal e mais de uma vez por semana trazia suas produções, quando adentrava na sala de redação com seus passos lentos e sua cara sempre séria, o Cardoso espiava da sala de direção e dizia : "Lá vem o Beltrão, com a cagagésima crônica dele".

O Cardoso sempre me recomendava : "Pode sair qualquer coisa errada que tu tens o meu perdão, mas os artigos do Dr. Assis Chateaubriand não podem ter jamais um só erro". Para os mais moços, o Dr. Chateaubriand era o poderoso dono e presidente dos famosos "Diários e Emissoras Associados", empresa à qual pertencia o jornal "A RAZÃO" e responsável por uma fantástica rede de jornais ("Diário de Noticias", de P. Alegre, era um dos mais famosos), revistas (onde despontava a revista "O CRUZEIRO", que foi a revista de maior tiragem da América Latina). Depois veio a TV Tupi, a primeira delas no Brasil e suas retransmissoras, entre as quais a TV Piratini, em P. Alegre. Numa fantástica noite de cansaço, revisei mal o artigo do "poderoso chefão" da empresa...e perdi meu emprego. Lembro bem da frase : "o Presidente da República inaugurou a usina em Pernambuco" e, por descuido meu, o jornal estampou no outro dia "o Presidente inaugurou a URINA em Pernambuco". Sem querer fazer trocadilho, tomei uma mijada do Cardoso e fui despedido.

Muitos anos depois , com jornal já comprado pelo querido amigo Luizinho de Grandi, voltei a colaborar com o mesmo durante quase três décadas, auxiliando no fechamento do jornal na feitura de manchetes. O Luizinho ou o Gaspar Miotto (que está aí bem vivo e pode confirmar) me pediam, enquanto eu tomava chimarrão, para escrever uma manchete com um número "x" de letras para que a diagramação do título ficasse perfeita. Convivi nesse período com centenas e centenas de pessoas, não só colaboradores, articulistas, cronistas, empresários, anunciantes, publicitários, etc...como também a turma dos primeiros estagiários do curso de jornalismo da UFSM. Evito de citar seus nomes não por esquecimento. Ao contrário, lembro de centenas de nomes, muitos deles já falecidos. Mas fico com receio de esquecer de alguém e certamente o espaço não seria suficiente.

Está por ser escrita ainda a história do jornal A RAZÃO. Não apenas uma monografia ou singela tese de mestrado. Mas um livro de memórias mesmo, um livro de História, volumoso, alentado, com centenas de fotos. Porque a história de Santa Maria se confunde com a história do jornal. A própria fundação da UFSM deve muito ao suporte que o jornal lhe deu, pois era com uma pasta de recortes de reportagens sobre a UFSM que o Dr. Mariano da Rocha Filho percorria os gabinetes em Brasília articulando apoios e convencendo autoridades e políticos. Dezenas de jornalistas hoje conceituados no Brasil passaram pelas mesas de redação de A RAZÃO, numa época onde nem se sonhava com computadores e gravadores.

Enfim, mesmo longe de Santa Maria e radicado na ilha de Florianópolis, meu coração ainda bate forte quando me lembro das histórias ligadas ao jornal. Registro uma carona que o Luizinho me deu da redação do jornal até à praça Saldanha Marinho. Ele já estava atrasado para começar seu expediente na SUCEVE onde também trabalhava. Ao sair do carro, apressado, ele me disse : "James, preciso te contar uma coisa importantíssima, mas deixa para o churrasco de sexta lá na churrasqueira do seu Alfeu". Dois dias depois ele foi assassinado.

Até hoje eu fico curioso em saber que coisa o Luizinho queria me contar...
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AUTOR : James Pizarro

FENÔMENO IMOBILIÁRIO

Corriam os anos 70. Situado na rua Dr. Bozano, em Santa Maria, foi inaugurado com grande publicidade o edifício Pimenta. Construído no terreno de propriedade do meu amigo Pimenta, aposentado do DAER - Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem, órgão do governo estadual do RS. Que era pai do deputado federal Paulo Pimenta, do PT.

A família de um colega meu da UFSM alugou um apartamento no edificio Pimenta. Família com filhos de comportamento inusitado. Como se dizia antigamente : uns demônios ! Que começaram a aprontar das suas e a infernizar os moradores do prédio recentemente inaugurado.

Uma das vezes, o mais medonho deles pulou a sacada do prédio e passou para o teto das casas e prédios vizinhos. E assim foi andando de telhado em telhado, quebrando telhas, até atingir as outras ruas do quarteirão. Até ser notado por populares e vizinhos. Foi uma tremenda confusão.

Passados alguns meses, alguns moradores que tinham comprado apartamentos colocaram os mesmos à venda. E o preço dos aluguéis do prédio baixaram bruscamente. Tudo devido à ação comportamental dos guris.

O meu colega me disse candidamente, aparentemente surpreso :

- Está se passando um fenômeno no mercado imobiliário...ninguém mais quer morar no edifício Pimenta...há uma queda no preço dos aluguéis, inclusive !

E um dos piás, o maior, de 15 anos completou :

- É a crise, pai !

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AUTOR : James Pizarro

HUMOR PROCTOLÓGICO...

Era meu colega de sauna e de tênis no Avenida Tênis Clube, Santa Maria. Grande amigo. Emérito contador de piadas. Grande veia humorística. Competente médico na sua especialidade : a Proctologia.

Era rotariano e o encarregado do protocolo no seu clube. Certa vez, recebendo uma delegação de rotarianos argentinos que visitava Santa Maria, iniciou seu discurso assim :

- Yo soy el protocolo de mi club...por el procto y por el colo !

Os castelhanos se finaram de dar risada.

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AUTOR : James Pizarro

domingo, 22 de agosto de 2010

O UNIVERSO DO MEU PÁTIO DE GURI

Passei minha infância numa casa situada no alto dos barrancos da rua Silva Jardim, em Santa Maria, RS. Distante uns cinquenta metros do arroio Cadena. Que naquela época corria a céu aberto. Hoje está canalizado. E corre anônimo sob o Parque Itaimbé. O Cadena tinha lambaris. Tartarugas. Sapos. Rãs. Cobras. E era cercado por uma mata de galeria.

Minha casa ficava ao lado da casa da minha avó materna, dona Olina. Os dois pátios eram unidos. Pareciam uma chácara na zona central da cidade. Onde existia de tudo. Pitangueiras. Laranjeiras. Limoeiros. Bananeiras. Araçás. Jaboticabas. Na casca dessas árvores quantidades de orquídeas. E toda uma variedade imensa de chás. Que compunham a medicina caseira da minha avó. Uma bem cuidada horta com canteiros que eram adubados com esterco de galinha, proveniente de um enorme galinheiro. Onde estavam desde inocentes garnizés até galinhas de raça, de elevada postura. Minha avó criava cabritas. Até meus onze ou doze anos sempre tomei leite de cabra. Quentinho. Espumoso. Direto do balde onde minha avó apojava todo dia aquelas cabritas. Todas elas pretas. Também tinha gatos. Que não eram da minha simpatia. E cachorros. Os gatos eram predileção do meu avô Fredolino. Os cães eram os favoritos de minha avó e de minha mãe. Meu pai tinha caturritas que azucrinavam os ouvidos da gente chamando-lhe pelo nome : "Alfeu, Alfeu, Alfeu..." Existiam coelhos angorás que cavavam túneis e tocas por todo o pátio. Na frente da casa um belo e cuidado jardim.

Enfim, meu pátio era uma coisa inimaginável para a geração de crianças de hoje. Criadas em apartamentos. E que só conhecem galinhas congeladas. E demais animais apenas pela televisão.

Meus quatro avós já morreram. Meus sogros e meu pai também.

E não existem mais caturritas que chamam "Alfeu..."

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AUTOR : James Pizarro

EGRÉGIO CU

Início da década de 70. Discutia-se a nova estrutura da UFSM. Implantação de cursos com disciplinas semestrais. Criação do sistema de "centros". Criação de "departamentos", em substituição aos existentes "institutos".

Os relatores dos processos que eram votados no Conselho Universitário nem sempre entendiam direito o que estavam implantando. Nomes estranhos. Disciplinas exóticas. Confusão e difícil decodificação nas reuniões solenes do Conselho Universitário (chamado de "Egrégio CU" pelo meu professor de Botânica Sistemática, já falecido).

Em uma das reuniões, presidida pelo reitor da UFSM, discutia-se a criação do Centro de Artes, com seus departamentos e disciplinas específicos. O relator do processo era o Dr. Alberto Thomás Lôndero, médico micologista de renome internacional. Surpreso com aqueles nomes estranhos ligados à música, indagou ao professor-reitor, que estava sentado quase ao seu lado :

- O que vem a ser Departamento de Flauta Doce ?

O reitor da UFSM, sem se dar conta que o seu microfone estava aberto , declarou diante da assistência estupefata :

- Deve ser pau de diabético...

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AUTOR : James Pizarro

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

SOMOS VIOLENTOS, SIM !

Eu imaginava que os atropelamentos, homicídios, latrocínios, crimes passionais estivessem entre as principais causas das mortes violentas no mundo. E nem de longe isso é verdadeiro.

Atentem para estes dados da OMS - Organização Mundial da Saúde relativos ao ano 2000 em todo o mundo, quando ocorreram 1,6 milhão de mortes violentas, assim distribuídas :

- 815 mil : suicídios
- 520 mil : homicídios
- 310 mil : conflitos

Estes dados, referentes a todos os países do mundo, são o inverso do que ocorre no Brasil. Em nosso país, para cada 100 mil habitantes, ocorrem 25,2 homicídios e 4,68 suicídios. No Brasil ocorre o inverso da média dos países do mundo : os assassinatos são seis vezes mais numerosos do que os suicídios.

A taxa mundial de suicídios, segundo a OMS, fica entre 10 e 30 para cada grupo de 100 mil habitantes (os países líderes em suicídios são a Rússia e a Lituânia, com mais de 40 para cada grupo de 100 mil habitantes). No Brasil, ocorrem 4,68 suicídios/100 mil habitantes.

Alguém ainda duvida de que o Brasil seja um país violento ?

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AUTOR : James Pizarro

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

TURMA DE 1962, UMA GLÓRIA DO MANECO !!!

A turma do "A" do Ensino Médio - então chamado de Científico - que estudou no período 1961/1963, do terceiro ano à qual pertenci e que prestou exame vestibular nos primeiros dias de janeiro de 1963, era composta de 42 alunos. Foram aprovados 41 alunos. A única que não logrou aprovação foi a Maria Cristina Pereira, grande colega e excelente aluna, filha do prefeito da época (Dr. Francisco Álvarez Pereira) que tentou o vestibular de Arquitetura em Porto Alegre, um dos mais difíceis da época e que exigia um conteúdo programático diferente do ministrado em S. Maria.

Desta turma, que marcou a história do Maneco - Colégio Estadual Manoel Ribas (Santa Maria, RS) sairam nove primeiros lugares e quatro segundos lugares nos vestibulares da UFSM. E note-se que não existiam cursinhos pré-vestibulares, pois os mesmos eram desnecessários diante da qualidade profissional dos mestres do Maneco.

Lembro de todos os meus colegas da Turma-A do Terceiro Ano Científico/1962, assim também como dos alunos do outro terceiro ano (Turma-B), todos vestibulandos de 1963. Passados 49 anos, lembro o vestibular que fizeram, a profissão que abraçaram, onde residem. Sei até daqueles que, infelizmente, já faleceram. Ei-los :

1 - Régis Agne (Medicina - Santa Maria)
2 - Joacir Medeiros (Física - Porto Alegre)
3 - Diná Souza Martins (Odontologia - Santa Maria)
4 - Sérgio Segala (Medicina - Santa Maria)
5 - Carlos Horácio Hertz Genro (Medicina - P. Alegre)
6 - Luiz Fernando Estivallet Bezerra "Life" (Engenharia Eletrônica - RJ)
7 - Nelson Segala (Medicina - Santa Maria) - Falecido
8 - Telma Cordeiro (Medicina - Santa Maria)
9 - Carlos Nelson Pallaoro (Odontologia - Santa Maria)
10 - Izidoro Lima Garcia Filho "Izidorinho" (Medicina - Santa Maria) - falecido
11 - Ilza Norma Rocha (Matemática - em Porto Alegre)
12 - Flori Machado Sobrinho (Medicina - Brasília, Hospital Sarah)
13 - Gladis Hoffmeister (Farmácia - reside na Alemanha)
14 - Jussara Terra (Odontologia - Santa Maria)
15 - Clândio Charão (Engenharia - Santa Maria)
16 - Delba Ramos (Santa Maria)
17 - Roselee Maria Peixoto (Santa Cruz do Sul)
18 - Lilian Basso (Geografia - em Porto Alegre)
19 - Olga Maria Domingues (Letras - reside nos Estados Unidos)
20 - Zaira Motta (Matemática - Caçapava do Sul,RS)
21 - Dari Pretto (Medicina)
22 - Luiz Francisco Flores "Chico" (Odontologia - Porto Alegre)
23 - Francisco Bossardi (Odontologia - Porto Alegre)
24 - Carmem Helon Mariosi (Farmácia - Santa Maria)
25 - Neuza Mothcy de Oliveira (Odontologia - Santa Maria)
26 - Sônia Pinheiro (Odontologia - Porto Alegre)
27 - Arize Loureiro Weighrt (Odontologia - Rondinha, RS)
28 - Madalena Zwetsch (Farmácia - São Leopoldo,RS)
29 - José Feliciano Albuquerque "Cadelão"(Engenharia Civil - Santa Maria)
30 - Roger Pereyron (Medicina - Santa Maria)
31 - Marcos Baseggio (Engenharia e Medicina)
32 - Luiz Osvaldo Coelho (Medicina - Porto Alegre)
33 - Neuza Abelin (Medicina - São Paulo)
34 - Flávia Portoalegre (Medicina - São Paulo)
35 - Carmem Souza Coelho (Direito - Porto Alegre)
36 - Marco Santiago (Oficial-aviador da Aeronáutica - Santa Maria)
37 - Jane Benaduce (Matemática - Santa Maria) - Falecida
38 - Eliane Carpilowsky (Pedagogia - Rio de Janeiro)
39 - Maria Cristina Pereira (reside em São Paulo)
40 - Hugo (?) (Engenharia)
41 - James Pizarro (Agronomia - Florianópolis)
42 - José Hamilton Acosta (Medicina - Santa Maria) - falecido
43 - Gilberto Brilhante Trindade "Meio Louco" (Odontologia - Santa Maria)
44 - Oldemar Weber (Medicina - Santa Maria) - Falecido
45 - Rogério Ferrari (Medicina - Porto Alegre)
46 - Luiz Cláudio Lima "Liminha" (Odontologia)
47 - José Francisco Gonthan Ritzel "Neneco" (Aeronáutica - Aviador)-Falecido
48 - Bethania Ehlers (residente em São Paulo)
49 - Ana Lídia (funcionária da UFSM - Santa Maria)
50 - Célia Cláudia Borges (Odontologia - Porto Alegre)
51 - Gilberto Amorin "Gordo" Souto ( Medicina Veterinária - Santa Catarina)
52 - Glênio Lopes dos Santos (Agronomia - Santa Maria)
53 - Vera Maria dos Santos (Letras - Santa Maria)
54 - Tito Flávio de Oliveira Gorski (Engenharia Elétrica - Florianópolis)
55 - Maria Estela (?) (Engenharia Civil)
56 - Erriô Brum Pires (Odontologia - São Sepé)
57 - Cledir Farias (Engenharia Mecânica) - Falecido
58 - (?) Moreira (Medicina Veterinária - Santa Maria) - Falecido
59 - Udo Cristhman (Engenharia Mecânica)
60 - Rubem Fortes (Agronomia - Santa Maria) - Falecido
61 - Carlos Jader Feldmann (Medicina - Porto Alegre)
62 - Iria Both (Farmácia)
63 - Cláudio "Polaco" Vallandro (Medicina - Porto Alegre)
64 - Luiz Galeno Mothcy ( Porto Alegre)
65 - Carlos Alberto T. Crivellaro (Médico - São Paulo)
66 - Thadeu Mello (Administração - Santa Maria)
67 - Antônio Ernesto Möjen (Rio de Janeiro) - Falecido
68 - "Pintado" (?) - (Santa Catarina)
69 - Leonardo Cauduro (Rio de Janeiro)

Deus me abençoou com uma privilegiada memória para que eu pudesse registrar para a história do ensino santa-mariense a existência da famosa "Turma 1962", uma glória do MANECO !!!

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AUTOR : James Pizarro

MEUS PROFESSORES DO MANECO - JAMES PIZARRO

Ao decidir escrever essas reminiscências, tomei a decisão de não ir ao Maneco. Não me socorrer de nenhum depoimento. E não consultar nenhum documento. Poderia mentir aqui, dizendo que fiz isso para não causar transtorno ou incomodar pessoas. Mas prefiro dizer a verdade. Resolvi, com uma certa onipotência, confiar apenas na minha memória e nas minhas emoções. Quero me certificar que o Alzheimer ainda não me pegou...
Porque, se começasse a recolher documentos, juntar xerocópias e ouvir relatos orais, meu texto sofreria influência de terceiros e um certo processo de racionalização. Que é tudo o que não queria.

MEUS PROFESSORES

Usando apenas a memória, listei tanto quanto possível, os nomes de todos os meus ex-professores do Maneco e suas respectivas disciplinas. Eles faziam parte do corpo docente do Maneco no período compreendido entre 1954 e 1962, período em que lá cursei o Ensino Fundamental (ex-Ginásio e ex-Primeiro Grau) e o Ensino Médio (ex-Científico e ex-Segundo Grau).
Inicialmente, por razões didáticas, vou apenas citá-los para, posteriormente, tecer comentários a respeito dos mesmos. Eis os responsáveis diretos pela minha formação :

1 - Albino Seibel (Latim)
2 - Edgar Libino Kloeckner (Francês)
3 - Zenaide Martinelli de Souza (Francês)
4 - Dinarte Iovari Marschall (Português)
5 - Nilza Crivellaro Santos (Inglês)
6 - Guiomar Loureiro (Espanhol)
7 - Maria Antunes Bernardes (Literatura Brasileira)
8 - Adelmo Simas Genro (Português e Francês)
9 - Cleonice Sada Aita (História Geral)
10 - Artheniza Weimann Rocha (História do Brasil)
11 - Dina Pfeifer (História das Américas)
12 - Gisela Soccal Lang (Geografia)
13 - Ivo Lauro Muller Filho (Geografia)
14 - Wilson Aita (Desenho)
15 - Ênio Trevisan (Desenho)
16 - Clóvis D'Ávila Monteiro (Educação Física: Ginástica e Esgrima)
17 - Victor Hugo Castro (Educação Física: Ginástica e Judô)
18 - Iolanda Beltrame (Desenho)
19 - Willy Vondrack (Português)
20 - Roberto Pellin (Biologia: Citologia e Genética))
21 - Tereza Grassiolli (Biologia : Botânica)
22 - Eutherpe Almeida (Biologia : Zoologia)
23 - Constantino Reis (Física)
24 - Irma Peroni (Física)
25 - Raphael "Faeco" Seligman (Física)
26 - Paulo Lauda (Química)
27 - Miguel "Vica" Sevi Vieiro (Química)
28 - Rômulo Aita (Química)
29 - Flávio Pâncaro da Silva (Matemática)
30 - Eunice Ribas (Matemática)
31 - Heleda Diquel Siqueira (Trabalhos Manuais)
32 - Olga Fischmann (Química)
33 - Iara Dias Ferreira (Latim e Português)
34 - Beatriz Weigerht (Latim e Português)
35 - Antônio Guimarães (Francês)
36 - Romar Pagliarin (Ensino Religioso)
37 - Carlos Pretto (Ensino Religioso)
38 - Ligia Indruziak (Música)
39 - Zuleika Roth Domingues (Biologia : Zoologia)
40 - Solange Loureiro (Português)
41 - Edy Maia Bertóia (Trabalhos Manuais)
42 - Maria Luíza Tchoepke Medeiros (Filosofia)
43 - Terezinha Brum Haupt (Física)
44 - Norma Sauer (Ciências)
45 - Maria Domingas Reis (História do Brasil)
46 - Noeli Braga (Latim e Português)
47 - Anastacia Musa Naime (Inglês)
48 - Eloísa (?) (Trabalhos Manuais)
49 - Lídia (?) (Inglês)
50 - Dilma (?) (Desenho)
51 - (?) Fardo (Inglês)
52 - Lorys Sanábria (Português)

OUTROS PROFESSORES

Os professores que cito a seguir não foram meus mestres, mas convivi com os mesmos, pois todos lecionavam no Maneco no período em que lá estive (1954/1962). Nos corredores da escola, no barzinho do colégio, nas festividades, de uma maneira ou outra, sempre mantive contato com os mesmos. São os seguintes :
52 -Jacob Groismann (Física)
53 - Orestes Dalcin (Português)
54 - Norma Scherer Cassel (Português)
55 - Mário Rodrigues (Matemática)
56 - Ruth Farias Larré (Francês)
57 - Vilma Assumpção Baron (Francês)
58 - Pe. Osvaldo Viegas (Química)
59 - Sady Fagundes Ramos (Português)
60 - Manoel Vianna (Inglês)
61 - Aida Weissheimer (Inglês)
62 - Alvino Michellotti (Latim)
63 - Lígia Romano (Música)
64 - Alberta Sukermann Shmulerg (Inglês)
65 - Celanira Torres (Canto Orfeônico)
66 - Victor Hugo e Souza (História geral)
67 - Elenir Munari Vogel (Latim)
68 - Milton Monteiro (Português)
69 - Edelmira Dutra "Dona Dida" (Geografia)
70 - Victor "Fontaninha" Fontana (Matemática)
71 - Alberto Bortollotto (Português)
72 - Antônio Abelin (Geografia)
73 - Fernando Ramos (Desenho)
74 - José Marques da Rocha (História do Brasil)
75 - Ladyr Anchieta (Matemática)
76 - Pe. Paulo Fuadi Quédi (Ensino Religioso)
77 - Loreno Côvolo (Ciências)

DIREÇÃO E FUNCIONÁRIOS

Durante todos os anos em que frequentei o Maneco, sempre foi Diretor o Pe. Rômulo Zanchi, Padre Palotino (SAC-Sacerdote do Apostolado Católico).
A Secretária da escola era Iolanda Zanini, que depois formou-se em Direito e atualmente é Juíza aposentada no Paraná. Inês Zanini, sua irmã, era Auxiliar de Disciplina, depois funcionária da UFSM. Também eram Auxiliares de Disciplina João Batista Copetti, que formou-se em Educação Física e Antônio Schmitt, que graduou-se em Comunicação Social.
Eram funcionários administrativos : Germano Kurle e Osmar Pohl, ambos formados em Direito anos depois.
Também devo citar a folclórica figura de João Antonello, Zelador do Maneco e residente na parte térrea do prédio. Juntamente com sua esposa e filhos, mantinha uma concorrida cantina situada no patamar da escada que ía do térreo para o primeiro andar.
OBS - Autorizo a todos os leitores transcreverem este texto ou parte dele, desde que seja dado o devido crédito ao autor.

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AUTOR : James Pizarro

MEUS PROFESSORES DO MANECO - (II PARTE)

Vou tecer considerações sobre as características de cada professor, lembrar episódios pessoais, historietas e casos pitorescos a cerca de meus 77 professores. Lembro do jeitão, das roupas, da impostação de voz, dos cacoetes, das manias, da voz de todos, a maioria dos quais eu imitava...

Prof. ALBINO SEIBEL

Foi meu professor de Latim durante os quatro anos do então chamado Curso Ginasial, depois chamado Primeiro Grau, hoje designado Ensino Fundamental. Os quatro livros de Latim adotados eram o "Ludus Primus", "Ludus Secundus", "Ludus Tertius" e "Ludus Quartus". Contavam a história de uma família romana, onde despontavam as histórias de Cornélia e Lésbia, recheadas de conhecimentos históricos, ensinamentos sobre Gramática, sobre as Cinco Declinações, milhares de radicais latinos, etc...Era o Prof. Albino uma criatura extremamente bondosa, muito ligado à Igreja Católica, incapaz de uma grosseria. Nos últimos cinco minutos de cada aula costumava abrir um caderno de capa dura, no qual estavam anotadas as suas anedotas preferidas. Ele as contava com uma ingenuidade de santo para uma turma de adolescentes que mais parecia uma horda de bárbaros. Lecionou também nos primeiros anos de funcionamento da FIC-Faculdade Imaculada Conceição, depois FAFRA-Faculdades Franciscanas, hoje UNIFRA. Para complementar o vergonhoso salário de sua aposentadoria como professor estadual, nos últimos anos de sua vida corrigia os originais de teses de Mestrado e Doutorado, bem como trabalhos de pesquisa, editando-os em sua própria residência, onde mantinha um excepcional serviço de datilografia, mecanografia e encadernação. Sua filha casou com um jogador de futebol, meu ex-aluno do Curso Pré-vestibular Master, tendo o casal ido morar em Portugal, porque o rapaz assinara contrato com um time de futebol daquele país.O Prof. Albino viajou a Portugal para visitar sua filha e seu genro e lá, durante a visita, veio a morrer vitimado por fulminante infarto do miocárdio. Tinha dois outros filhos, um formado em Engenharia e hoje aposentado da Rede Ferroviária e o outro, popularmente chamado de "Caquinho", formado médico e residente no Rio de Janeiro. Quando fui vereador pelo PDT-Partido Trabalhista Brasileiro, na legislatura de 1989/1992, tive a oportunidade de ser autor de lei municipal que colocou o nome de Albino Seibel numa das ruas da COHAB-Tancredo Neves. Procurei, em vão, uma rua sem denominação nas proximidades do prédio do Colégio Estadual Manoel Ribas, mas todas já tinham denominação. Conservo carinhosamente em minha biblioteca a obra "Phrases e Curiosidades Latinas", edição póstuma de 1952, de autoria do Prof. Arthur Vieira de Rezende e Silva, que me foi presenteada pelo Prof. Albino. Trata-se de alentada obra, de 935 páginas, com 7267 citações, frases e curiosidades latinas. Depois de aposentado, o Prof. Albino chamou-me, estendeu este livro para mim e disse carinhosamente : "Foste o melhor aluno de Latim que eu já tive e este livro estará bem guardado em tuas mãos". Esforço-me até hoje para ter merecido este elogio. Diariamente, em minhas aulas de Zoologia, Citologia, Genética, Ecologia e Botânica, tenho o cuidado de desdobrar etimologicamente os termos que designam animais e vegetais, explicando o significado das raízes, prefixos e sufixos latinos. Que fortuna ter tido o professor Albino como meu mestre !!!

PROF. EDGAR LIBINO KLOECKNER

Talvez tenha sido um dos mestres que mais influência teve na minha formação, pois sempre nutri verdadeira admiração por sua cultura e inteligência. Ficava fascinado por sua extraordinária memória. É de sua autoria essa frase que ainda hoje repito aos meus alunos do Colégio Coração de Maria : "A memória é esta incrível faculdade que só possui uma propriedade : a de esquecer as coisas que aprendeu". E o Edgar nos ensinava então que, "para não esquecer, só há um método : a técnica da repetição". Foi meu professor de francês durante três anos no Maneco. E muito anos depois, já formado em Agronomia, quando resolvi cursar Comunicação Social-Jornalismo, foi novamente meu professor na disciplina de "Comunicação em Língua Francesa". Ex-seminarista, cunhado do ex-padre Ir. Vitrício (famoso pelos seus dons mediúnicos e parapsicológicos), o Prof. Edgar é dono de uma vastidão de conhecimentos que embasbacava alunos sensíveis como eu, que ficavam boquiabertos diante do mestre. Morava num apartamento da Galeria do Comércio, no Calçadão. Depois de aposentado, foi morar nas proximidades do Supermercado Nacional, à rua Marques de Herval, onde o visito sempre que posso. No intervalo de uma das aulas da Comunicação Social, fui ao corredor falar com o mestre, porque havia achado o mesmo meio triste, depressivo, durante a primeira hora de aula. Contou-me ele que tinha acabado de chegar de viagem, motivada pela morte de um irmão seu, figura a quem muito prezava. Deitou a cabeça sobre a báscula da janela do corredor do prédio da Antiga Reitoria e pôs-se a chorar, o que muito me comoveu. Recentemente, sofreu cirurgias melindrosas para lhe extirpar um câncer intestinal, razão pela qual ficou mais de dez horas anestesiado. Disse-me ele : "Acho que as anestesias deixaram sequelas na minha memória". Cumprimento-o aos domingos, na missa das 18:00h, no Santuário-Basílica da Nossa Senhora Medianeira, onde o abraço afetivamente, pois se encontra entristecido pela recente morte de sua querida esposa.

PROF. ADELMO SIMAS GENRO

Foi meu professor de Português e de Francês, tão logo chegou de São Borja, embora nascido em Santiago. Talvez tenha sido o professor com o qual mais intimidade tive pelo fato de conviver quase diariamente com toda a sua família. Carlos Horácio Hertz Genro, seu filho médico, radiologista, foi meu colega nas quatro séries do Primeiro Grau e nas três séries do Segundo Grau, isto é, durante sete anos sentamos lado a lado, na primeira fila de carteiras da sala, pois as carteiras eram para dois alunos. Fomos colegas de aula durante todos esses anos graças ao prof. Adelmo que, na condição de Prof. Assistente de Turno, autorizava ao pessoal da Secretaria que meu nome e o de Carlos Horácio ficassem na mesma turma. Na época das provas, durante os estudos preparatórios para os exames, eu ficava na casa do Prof. Adelmo durante uma semana e, na semana seguinte, o Carlos Horácio ficava na minha casa. O Prof. Adelmo morava em ampla residência, à rua Duque de Caxias, quadra entre a Coronel Niederauer e a Olavo Bilac. Dona Elly, esposa de Adelmo, servía-nos cafés-da-tarde onde eu me fartava de comer figada, perada, marmelada, que compravam em enormes latas para abastecer a numerosa prole e amigos. Também Dona Elly permitia que fizéssemos "reuniões dançantes" na ampla varanda da parte posterior da casa. Lá eu dançava com Suzana, irmã de Carlos Horácio, que anos depois casou-se com Walter Robinson, dentista e professor universitário, muito ligado ao Movimento Cursilhista da Igreja Católica. Walter, irmão do querido amigo Carlos Alberto Robinson, faleceu vitimado pelo câncer. A filha de Walter e Suzana foi minha aluna no Curso Pré-vestibular Master e cursou, depois, Psicologia em Porto Alegre. Outro filho, Adelmo Genro Filho, apelido "Memo", precocemente falecido, era jornalista e respeitado ativista político. Tarso Genro, talentoso escritor, advogado sindicalista, ex-Prefeito de Porto Alegre é, agora, Ministro da Justiça do governo Lula. Escreveu seu primeiro livro, que era de poemas, intitulado "Vento Norte" (inexplicavelmente, nunca citado citado em seu currículo publicado na imprensa estadual) e que foi lançado em sessão de autógrafos no salão de eventos da outrora ativíssima USE-União Santa-mariense dos Estudantes, no subsolo de um prédio jamais terminado, à rua do Acampamento, proximidades do Colégio Centenário. Possuo um volume do livro, devidamente autografado. Tarso casou-se com Sandra Krebs, cujo pai era gerente do então existente Banco do Comércio, situado na esquina do Calçadão, onde hoje funciona a Caixa Econômica Federal. Ainda lembro da Júlia, a outra filha do Prof. Adelmo, formada em Odontologia. Fiz campanha para o prof. Adelmo quando ele foi candidato a Vice-prefeito pelo PTB-Partido Trabalhista Brasileiro (PTB de Getúlio Vargas e de Jango, o PTB original), numa chapa encabeçada pelo Prof. Paulo Lauda, para Prefeito. Ambos obtiveram estrondosa vitória, mas foram perseguidos e tiveram seus mandatos cassados pela Revolução de Março de 1964. Quem os conhecia de perto, como eu, não só como aluno mas como amigo particular, ficou estarrecido com tamanha violência contra dois homens de bem, de conduta inatacável, quer como pais de família, quer como profissionais, quer como políticos ! Adelmo formou-se em Direito e foi advogado militante na comarca de Santa Maria. Publicou vários livros. Foi membro ativo da Academia Santa-mariense de Letras. Tenho exacerbado carinho pela Dona Elly e profunda admiração pela sua coragem, pois ela sempre foi o esteio da Família Genro. Toda a saga da Família Genro, suas vitórias, seus momentos de apreensão e de dor, tiveram forte anteparo na coragem pessoal do forte espírito de Dona Elly. Adelmo morreu quando se recuperava de uma cirurgia feita em Porto Alegre e deixou muita saudade. Seu nome é lembrado pela Câmara de Vereadores numa de suas dependências. E também o estúdio principal da então Rádio CDN, hoje Rádio Antena UM, dirigida pelo amigo Paulinho Ceccin recebeu o nome do Adelmo.

PROFa. ZENAIDE LÚCIA MARTINELLI DE SOUZA

Foi minha professora de Francês durante dois meses e minha professora de Literatura Portuguesa durante um semestre. Era esposa do Dr. Denizard Souza, médico psiquiatra, um dos fundadores do Centro Médico Hospitalar e adepto do Espiritismo em Santa Maria. Foi através da Profa. Zenaide que fui apresentado à Eça de Queiróz, Camões, Fernando Pessoa e tantos outros monstros sagrados portugueses. Por incrível que pareça, nós fazíamos análise sintática dissecando os versos de "Os Lusíadas". Atualmente, nossos filhos e netos nem sabem o que é análise sintática. Moramos na América LATINA, falamos português (que é derivado diretamente do Latim)...e deixamos de estudar Latim no colégio ! O aluno não conhece a origem da língua que fala, o esqueleto da própria língua ! Daí a dificuldade de elaborarem uma singela redação de vinte linhas nos exames vestibulares...

PROF. DINARTE MARSHALL

Trajando sempre uma indefectível "fatiota", como se dizia na época, foi meu professor de Português. Dava especial ênfase às leituras em voz alta, com preciosos ensinamentos sobre impostação de voz, uma novidade para aquela época. Formou-se também em Direito, sendo advogado atuante na comarca de Santa Maria.

PROFa. NILZA CRIVELLARO SANTOS

Foi minha professora de Inglês e, quase trinta anos depois, miha colega de magistério nos cursos pré-vestibulares Master e Riachuelo. Elaborava e obrigava a turma a decorar centenas de expressões idiomáticas, que foram muito úteis durante os estudos universitários. Morava num prédio em frente ao antigo Cinema Glória, atual "Ponto de Cinema". Sua filha, Denise, seguiu-lhe os passos, pois também é professora de inglês no Curso Pré-vestibular G-10. Seus dois filhos homens são ligados à área da publicidade e propaganda. Seu marido, Carlinhos, foi gerente das Casas Roth durante muitos anos.

PROFa. GUIOMAR LOUREIRO

Com feições indiáticas - mais lembrava o rosto de uma índia peruana - e um eterno sorriso, era a minha tranquila professora de Lingua Espanhola. Lembro bem do livro-texto que ela indicava : "Manual de Espanhol", de autoria de Hidel Becker. Eu fico cogitando da inteligência das pessoas que exerciam cargos diretivos no sistema educacional gaúcho naquela época ! Principalmente, penso na visão premonitória que tiveram essas pessoas, pois corria a década de 50, 60 e nunca alguém tinha falado em unidade do Cone Sul, em MERCOSUL e coisas do gênero. E o nosso Maneco já oferecia - há 50 anos - estudos de Espanhol para seus alunos. A Arize, filha de Guiomar, foi minha colega de aula durante anos. Formada em Odontologia, casou-se com Flávio Weighrt, também dentista e professor universitário. O marido de Guiomar, de apelido "Mico", era sócio-proprietário do Posto Esso, de combustíveis, situado no térreo do edifício de quatro andares que ainda existe bem em frente à Igreja Catedral, na avenida Rio Branco. Atrás desse edifício era a quadra de basquete do famoso Clube Irajá, onde jogavam o ex-Reitor Armando Vallandro (de apelido "Picolé"), o ex-Deputado Federal e Estadual Carlos Renan Kurtz, o médico-psiquiatra Milton Sanchis (de apelido "Mico"), etc...

PROFa. MARIA ANTUNES BERNARDES

Morava com a mãe e irmãs numa antiga casa, situada entre a avenida Rio Branco e rua André Marques, quase ao lado da residência de Dom Luiz Victor Sartori, bispo diocesano à época. Foi minha professora de Português e Literatura Brasileira. Ministrava encantadoras aulas sobre o Barroco, Realismo, Romantismo, Modernismo, etc...Seu irmão, Sérgio Carvalho Bernardes, foi professor de Geografia e Pró-reitor de Graduação da UFSM. "Mariazinha", como era carinhosamente chamada por todos, casou-se com Nevaldo Sanger,plantador de arroz em Uruguaiana. Ambos morreram, com apenas uma semana de diferença.

PROFa. CLEONICE SADA AITA

Brilhante professora de História Antiga, temida pelo tipo de perguntas que fazia nas provas, pois eram testes que não exigiam memória, mas acurado raciocínio. Aceitava brincadeiras de toda ordem, não se intimidando diante dos alunos mais "avançadinhos", lhes dando o troco na mesma medida. Casada com o Prof. Wilson Aita, que lecionava a disciplina de Desenho, Cleonice era dedicadíssima aos filhos, muito preocupada com a saúde dos mesmos, pois alguns eram diabéticos. Adorava ouvir e contar anedotas. A tristeza não fazia morada nas rodas de conversa onde ela estava.

PROFa. ARTHENIZA WEIMANN ROCHA

Foi minha professora de História do Brasil e costumava, sempre que possível, proporcionar exemplos de exercício de cidadania. Com profunda vocação democrática, nos levava até o prédio do Forum da comarca, à Praça Saldanha Marinho (onde hoje funciona a "Casa da Cultura"), onde eram realizadas as apurações - voto a voto - das eleições. Já nas primeiras séries do colégio, aos 12, 13 anos, a gente já tinha uma noção prática de como se processava o regime democrático. Seu marido, Dr. Floriano Rocha, era ativo militante do PTB-Partido Trabalhista Brasileiro e getulista doente. Foi candidato a Prefeito Municipal, não logrando êxito. A professora Artheniza era irmã do Dr. Sérgio Weimann, conhecido médico-pediatra, com o qual trabalhei muitos anos depois como auxiliar administrativo do SAMDU-Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, primoroso serviço médico criado pelo então presidente João Goulart. A meu juízo, o SAMDU foi a coisa mais séria já criada no Brasil em termos de atendimento médico à população. Funcionou o SAMDU inicialmente quase ao lado do Hospital de Caridade "Astrogildo de Azevedo" e, depois, definitivamente, na rua Dr. Wauthier, perto da Cooperativa dos Ferroviários, na chamada Vila Belga. Com o advento da Revolução de março de 1964, o SAMDU foi fechado pelos militares.

PROFa. DINÁ PFEIFER

Foi minha professora de História das Américas, adotando um livro básico de autoria do historiador Borges Hermida. Era um temperamento irascível, tanto com os colegas quanto com os alunos. Mulher de "pavio curto", ela se irritava com grande facilidade. Durante as aulas, falava sem parar um só minuto. E não parava de caminhar um só momento por todos os cantos da sala. Aquele toc-toc dos seus sapatos altos deixavam a gente meio nervoso. Atualmente, vive em Porto Alegre. Uma outra professora do Maneco me contou que, no fim de 1997, ao assistir uma missa na Igreja do Rosário, em Porto Alegre, teve despertada sua atenção para um bate-boca na saída da celebração, no hall da igreja. Era a professora Diná Pfeifer que, aos gritos, defendia suas opiniões não se sabe a respeito de que. Coerente comportalmente...ainda continua zangada na Terceira Idade !

PROFa. GISELA SOCCAL LANG

Professora de Geografia do Brasil, possuia excepcional didática ao explicar a matéria. Mulher alta, forte, robusta, demonstrava muita segurança. Seu marido era um comeciante de cabelos brancos, que trabalhava na hoje extinta Casa Escosteguy, à rua do Acampamento, logo depois do Clube Caixeiral. Exatamente no local onde, décadas antes, mataram a tiros o então Juíz de Direito, pai do poeta pré-modernista Felippe D'Oliveira, autor do livro "Lanterna Verde".

PROF. IVO LAURO MULLER FILHO

Fumante inveterado, era morador do Edifício Pisani, situado na esquina da rua Venâncio Aires com a rua Floriano Peixoto. Magistral ao ministrar aulas de Geografia Geral ! Tinha grande aptidão para o desenho, fazendo ilustrações muito rápidas na "pedra", designação que se dava ao quadro-negro (que, aliás não era negro, era verde...). Os nossos avós chamavam a pedra ou quadro-negro de "lousa". Anos depois foi Professor Titular Doutor do Curso de Geografia da UFSM. Morou durante muitos anos numa casa na zona da serra, em Itaara, no chamado Parque Serrano, transferindo-se depois para a rua Erly de Almeida Lima, na Vila Assunção, em Camobi. Tive a oportunidade de com ele conviver em jantares e churrascos na residência do comum amigo, Dr. Renan, delegado de polícia em Santa Maria. Ivo também já nos deixou.

PROF. WILSON AITA

Professor de Desenho, entrava na aula caminhando sempre lentamente, carregando compasso e esquadro gigantes, de madeira, para realizar seus notáveis desenhos de elipses, parábolas, ciclóides e estudos de perspectiva. Casado com a professora Cleonice Sada Aita, de História Geral, era comportamentalmente o inverso da cônjuge. Ela, extrovertida. Ele, falando o estritamente necessário. Engenheiro Civil, depois de labutar anos na iniciativa privada e no Maneco, dedicou-se à criação do Centro de Tecnologia da UFSM, com a implantação de vários cursos de Engenharia. Seu secretário na UFSM era o amigo Cláudio Lopes dos Santos, irmão do Dr. Zózymo Lopes dos Santos, farmacêutico e Pró-Reitor de Pós-graduação da UFSM, onde ministrava aulas na disciplina de Higiene e Saúde Pública.

PROF. ÊNIO TREVISAN

Professor de Desenho, acumulava também as funções de Prof. Assistente do turno da manhã, tarefa que exercia com rigor prussiano no que tange à disciplina. Também muito alegre e gozador nas horas de folga, vivia "empulhando" todo mundo, isto é, fazendo brincadeiras e passando trotes com seus colegas professores. Mestre competente, cérebro marcado por profunda formação matemática, lamentava-se para mim - muito anos mais tarde - por não saber escrever, pois gostaria muito de redigir reminiscências sobre o Maneco e a cidade. Era irmão do Dr. Hygino Trevisan, espírita e advogado e de Eduardo Trevisan, pintor, desenhista e fotógrafo, ambos já falecidos. Os murais pintados por Trevisan valorizam os prédios do "campus" da UFSM, onde podem ser apreciados na Biblioteca Conde de Porto Alegre, Planetário, Prédio da Administração Central, Centro de Tecnologia, etc...Morou o Prof. Ênio Trevisan na esquina da rua dos Andradas com a rua Conde de Porto Alegre. Ênio sempre demonstrou entusiasmo ao relembrar os feitos do Maneco no período 1954/1962, pois sempre que me encontrava, dizia : "Que geração de professores, heim Pizarro ?" Eu sempre replicava : "E que geração de alunos, heim ? "

PROFa. DILMA

Foi professora de Desenho por muito poucos anos no Maneco. Mulher alta, elegante, cabelo modelo Chanel, muito simpática e acolhedora com os alunos. Costumava levar vasos de argila ou frutas que - colocados em cima de uma cadeira, sobre a mesa da mestra - serviam de modelo para a execução de nossas naturezas-mortas. Produto "moderno", recém-lançado nas livrarias, o giz-de-cera fazia sucesso entre os alunos e era o material preferido da professora. Morava na rua dos Andradas, entre a Duque de Caxias e a Conde de Porto Alegre, atrás do Clube de Atiradores Santa-mariense.

PROF. CLÓVIS MONTEIRO D'ÁVILA

Era Coronel da Brigada Militar do RS e um entusiasmado professor de Educação Física, preparando várias equipes do Maneco para as modalidades de desporto disputadas nos famosos "Jogos da Primavera". Estes jogos, uma criação de "Estado Novo", era uma idéia do Presidente Getúlio Dorneles Vargas, conservada por seus sucessores. Constituía-se numa disputa de cerca de duas semanas de duração entre todos os colégios da cidade, que disputavam entre si todas as modalidades de esportes. Era uma acirrada disputa entre as escolas, quer nos esportes coletivos (basquete, vôlei, futebol, futebol de salão, etc...), quer nos individuais (ginástica, atletismo, corridas, maratona,etc...).O início dos jogos era marcado por um monumental desfile (que era chamado de "parada"), que durava cerca de cinco horas, pois todos os alunos de todos os colégios eram obrigados a desfilar. O percurso da "parada" era desde o Colégio Centenário, na rua do Acampamento (início do desfile), passando por toda a extensão da avenida Rio Branco e terminando na gare da Viação Férrea. O professor Clóvis era sobretudo entusiasmado por vôlei, judô e esgrima. Ele também ministrou aulas, anos depois, no Curso Superior de Educação Física da UFSM, onde veio a se aposentar. Morou, até sua morte, no Edifício Guanabara, à avenida Presidente Vargas. Sua esposa ministrava aulas de "Comunicação em Língua Inglesa" no Curso de Comunicação Social da UFSM.

PROF. VICTOR HUGO CASTRO

Também Coronel da Brigada Militar do RS, era companheiro do Cel. Clóvis na disciplina de Educação Física. Era o Comandante do Corpo de Bombeiros da cidade, que tinha então uma pequena guarnição sediada no pátio da Câmara de Vereadores, à rua Vale Machado. Baixinho, cabelos grisalhos, barrigudo, usava óculos de aros grossos e era um glutão inveterado. Os alunos ficavam estupefatos ao vê-lo comer mocotó, uma das suas predileções gastronômicas, pois ele devorava seis a sete pratos fundos da singela sopa...

PROFa. IOLANDA BELTRAME

Professora de Desenho, alta, cabelos ruivos, muito séria e de poucas palavras. Morava quase ao lado do Ginásio do Corintians, à rua General Neto. Sempre me entusiasmou muito a continuar desenhando, pois acreditava que eu tinha pendor para fazê-lo. Realmente, seus ensinamentos me foram de muita valia, pois até hoje - ao ministrar aulas de Bilogia - necessito usar dezenas de desenhos em cada aula, caprichosa e rapidamente feitos com giz colorido no quadro-negro (que, teimosamente, chamo até hoje de "pedra"...).

PROF. WILLY VONDRACK

Foi professor de Português, tendo se graduado posteriormente em Direito. Tocava violino da Igreja Evangélica de Santa Maria. Quando seus colegas professores ficaram sabendo dessa sua faceta musical, liderados pelo bem-humorado professor Ênio Trevisan, foram todos ao culto para assistí-lo exercitar seus dotes de violinista. A comunidade evangélica, na ocasião, ficou surpresa com a quantidade de "novos membros" presentes ao culto. O pastor, entre afoito e otimista, chegou a falar no sermão em "conversão coletiva". Mas tudo não passava de uma simples brincadeira para constranger o professor Willy, que era muito encabulado...

PROF. ROBERTO PELLIN

Descendente de italianos, bonachão, sempre de terno e gravata, abria seu caderno de capa dura - onde estava o resumo da aula - e começava sua dissertação de Biologia, passeando sem parar por toda a aula. De origem humilde, com muita dificuldade conseguiu formar-se em Medicina. Depois de formado, foi clinicar em Porto Alegre.

PROFa. TEREZA GRASSIOLLI

Foi a melhor professora de Botânica que tive em toda a minha vida e uma das responsáveis por ter feito vestibular para Agronomia e ter me transformado em professor de Biologia. Dava toda a matéria, desde Citologia e Histologia, passando pela Fisiologia, Organologia e indo até à Sistemática ou Taxonomia Vegetal. Sabia, como ninguém, fazer fantásticos e maravilhosos desenhos de Angiospermas e Gimnospermas no quadro-negro. A partir de 1967, já formado e dando aulas na UFSM, fui seu colega no Departamento de Biologia da UFSM, onde ela exerceu a Chefia, sucedendo aos professores Dr. Romeu Beltrão (médico) e Dr. Armando Adão Ribas (Engenheiro Agrônomo).

PROFa. EUTERPE ALMEIDA

Foi minha professora de Zoologia, no terceiro ano do Curso Científico. Foi a primeira turma para a qual ela deu aula, uma vez que era recém-formada. Casou-se com o então estudante de Medicina, Nei Almeida, mais conhecido pelo apelido de "Neizinho", exímio jogador de basquete do Corintians de Santa Maria. Foi várias vezes campeão estadual de basquete jogando pelo Corintians, cujo quadra era chamada "Alçapão" e ficava atrás do Clube Caixeiral, onde hoje existe um estacionamento de automóveis. Euterpe mudou-se para a cidade de Santana do Livramento, onde Nei Almeida foi clinicar depois de formado.

PROF. CONSTANTINO REIS

Foi professor de Física do Maneco, recém-transferido da cidade de Cruz Alta por perseguição política devido à altercação mantida com um aluno, filho do Delegado de Polícia daquela cidade. Anos depois, este aluno - já cursando Medicina em Santa Maria - foi um dos responsáveis pela anulação dos exames vestibulares da UFSM, pois tinha conseguido roubar os originais das provas da gráfica da Universidade e vender as cópias para dezenas de vestibulandos. O fato foi denunciado corajosamente pela professora Águeda Brazzalle Leal, que tinha sido procurada às vésperas do vestibular por um dos vestibulandos que havia comprado as provas e queria que a mestra resolvesse as questões. Feita a denúncia, o então reitor Hélios Homero Bernardi anulou o vestibular, fato que ganhou notoriedade nacional. Uma vez em Santa Maria, Constantino Reis também fez o curso de Engenharia Civil, onde lecionou depois, embora por poucos anos. Fundou, deu aulas e dirige até hoje o Curso Pré-vestibular Constantino Reis, situado à rua dos Andradas, logo abaixo da avenida Rio Branco. Com notáveis recursos didáticos, é grande professor de Física. O professor Constantino é o mestre que melhor uso faz do quadro-negro, com caprichosos gráficos e elucidativos cálculos demonstrados em minúcias. Nunca vi outro professor fazê-lo igual...

PROFa. IRMA PERONI

Era professora de Física e também de Matemática. Para minha turma, ministrou aulas de Ótica e Eletricidade. Tinha feito cursos de especialização na Itália, numa época em que nem se imagina criar cursos de Mestrado e Doutorado. Moarava sozinha num apartamento situado do recém construído Edifício Taperinha. Tinha uma deficiência numa perna, o que a obrigava ao uso de sapatos ortopédicos especiais, produzindo-lhe dificuldades para ficar em pé durante muito tempo. Mesmo assim, sempre deu quatro a cinco períodos de aula seguidos, sem nunca ter feito uma só queixa ou tirado atestado médico, recurso tão em moda nos dias atuais...

PROF. RAPHAEL SELIGMAN

Ministrou aulas de Física e Química, enquanto fazia o curso de Medicina na UFSM. Judeu, temperamento afável, era muito simpático e querido por todos. Formado, foi ministrar aulas de Otorrinolaringologia na UFSM. Juntamente com seu colega Dr. Cóser,foi grande incentivador da criação do Departamento da Fala, embrião para a criação do Curso de Fonoaudiologia. Também falecido.

PROF. PAULO LAUDA

Foi meu fabuloso professor de Química Orgânica ! Médico, formado na Universidade Federal do Paraná (a primeira Universidade brasileira, fundada em 1912), clinicava em Santa Maria e tinha grande militância política. Foi eleito Prefeito Municipal pela sigla do antigo PTB. Foi posteriormente cassado pela Revolução de Março de 1964, tendo seus direitos políticos suspensos. Foi professor de Dermatologia do Curso de Medicina da UFSM, onde foi - por várias vezes - escolhido paraninfo e homenageado das turmas de formandos, tal a admiração que os alunos nutriam por ele. Fumante inveterado, espantava aos alunos o fato de durante a aula acender um cigarro no outro para, assim, continuar fumando ininterruptamente durante horas. Morreu por isso, vitimado por um brutal enfisema pulmonar. Ela dava sempre aula no último período, que terminava às 12:30h. Muitas vezes ele me ofereceu carona até minha casa, em seu carro DKW vermelho e branco. Tempos depois, durante muitos anos foi presidente do ATC-Avenida Tênis Clube. Na época de verão, depois de assinar a papelada na secretaria do ATC, sentava-se numa mesa ao lado da piscina para tomar seu whisky. Já casado, formado, muitas vezes lhe fiz companhia nessa mesa para papos intermináveis e grandes recordações.

PROF. MIGUEL SEVI VIEIRO

De apelido "Vica", foi professor de Química e também prefeito de Santa Maria. Homem de quase dois metros de altura, quase careca, gritão,barulhento,brincalhão, extrovertido, não havia possibilidade de silêncio por onde estivesse ou andasse. Morava à rua Dr. Bozano, quase na praça Saturnino de Brito, num prédio de dois andares, encimado pelo único "relógio do sol" que a cidade tinha. Durante anos exerceu as funções de médico proctologista do instituto de previdência dos ferroviários, já que antes da unificação da Previdência Social no país (criação do INPS, depois INSS), cada categoria de trabalhadores tinha seu próprio instituto. Contava-se no meio estudantil que cada ferroviário que ía a uma consulta com o Dr. Vieiro, para fins de exame de hemorróidas ou próstata, não costuma regressar jamais, pois o mestre era conhecido por possuir o dedo indicador mais grosso e longo de todo o município...Juntamente com sua esposa, foi proprietário de um restaurante chamado "Pingo de Mel", que funcionou à rua Venâncio Aires, em frente ao atual Restaurante Bovinus e Associação Rural. O restaurante servia saborosas iguarias, sob encomenda, como "pato laqueado", além dos primorosos doces feitos pela Dona Eugênia, esposa de "Vica". O restaurante "Pingo de Mel" era avançado demais para para o público santa-mariense. Acho que até hoje seria... Pois, passados mais de 40 anos, a apetência gastronômica da cidade sempre foi - historicamente - pelo galeto, radite, polenta e afins. A população sempre teve o duvidoso gosto por restaurantes enormes, com dezenas e dezenas de mesas, onde as pessoas íam mais para serem vistas. Locais onde a gente nem pode conversar direito, tal o barulho. E todos podem cuidar da vida de todo mundo, desde o modo de vestir, passando pelo prato pedido até à observação do(a) companheiro(a) da refeição. O "Pingo de Mel" tinha menos de 10 mesas, era aconchegante, atendido pelos proprietários, típico local para se namorar ou comemorar uma data mais íntima. Local para ser frequentado por civilizados, não movidos a suco gástrico, saliva e peristaltismo intestinal. Por gente que quer algo mais...música suave, enlevo, paz e um certo bolor de Primeiro Mundo. Por isso, infelizmente, tal restaurante teve vida efêmera...

PROF. RÔMULO AITA

Foi professor de Química, enquanto cursava Medicina na UFSM. Depois de formado, lecionou na UFSM. Especializou-se em Cardiologia. Mora até hoje na rua Benjamin Constant, quase em frente ao Edifício dos Oficiais da Brigada Militar.

PROF. FLÁVIO PÂNCARO DA SILVA

Foi temido professor de Matemática pelo rigorismo de suas provas. Muito jovem, cabelo rigorosamente penteado e ajeitado com um produto que lhe dava um brilho especial (acho que era "Brilhantina" ou "Glostora", produtos muito usados na época), provocava suspiros nas meninas. Gostava muito de fazer demonstração minuciosa de teoremas no quadro-negro. Lembro até hoje do "Teorema dos Ângulos Alternos-Internos", de saudosa memória. Depois, fez o curso de Direito, passando a exercer a advogacia. Foi para Porto Alegre onde, mediante concurso, foi guindado à condição de Juiz de Direito. Quando se aposentou da magistratura gaúcha, o Dr. Adelmo Genro viajou a Porto Alegre para lhe entregar uma placa em nome dos colegas e amigos de Santa Maria.

PROFa. EUNICE RIBAS

Professora de Matemática, magra, ágil, rápida no raciocínio e no falar. Seu marido era engenheiro do DAER-Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do RS. Era prima do meu saudoso amigo e colega Eng. Agr. Armando Adão Ribas, um dos fundadores do Curso de Agronomia da UFSM, no ano de 1962.

PROFa. HELEDA DIQUEL SIQUEIRA

Ex-diretora do Grupo Escolar João Belém, foi uma das minhas professoras de Trabalhos Manuais.

PROFa. HELOÍSA

Baixinha, corpo escultural em forma de violão, óculos de grossas lentes, também foi minha professora de Trabalhos Manuais. Solteira, sorridente, fazia suspirar o coração de todos os alunos do colégio que, em seus devaneios onanísticos, só pensavam nela...Acredito que muitos professores eram fascinados por aquela verdadeira Vênus calipígia ! Que faria qualquer Sheila Mello ou Carla Perez recolherem-se à sua insignificância...

PROFa. MARIA GESSI FISHMANN

Brevilínea, extremamente simpática, ativísima, também foi minha competente mestra de Matemática. Grande capacidade didática e muita paciência para explicar abstrações matemáticas para gente que, como eu, tinham dificuldades com números. Moarava na esquina da rua Silva Jardim com a rua Conde Porto Alegre.

PROFa. OLGA FISHMANN

Foi minha professora de Química Inorgânica na primeira série do Científico, sempre falando em seus ácidos, óxidos, bases, sais e cálculos estequiométricos e ajustagem de equações. Costumava fazer tricô enquanto dissertava sobre a matéria. Era farmacêutica e entrou na UFSM como laboratorista, no Curso de farmácia, transformando-se depois em pesquisadora de Parasitologia e Micologia Médica, fazendo notável dupla com o cientista professor Dr. Alberto Thomás Lôndero, de renome internacional por seus trabalhos de pesquisa sobre fungos. Lembro de uma edição da revista norte-americana "Micology", que estampava na capa o retrato do Dr. Alberto Thomás Lôndero. No inicío de sua vida médica, o Dr. Lôndero exerceu a especialidade de Pediatria, tendo sido meu médico quando criança, conforme informação que me foi passada por meus pais. O Dr. Lôndero faleceu em 26 de agosto de 2003

PROFa. IARA DIAS FERREIRA

Filha do Eng. Dias, um dos responsáveis pelas construções iniciais dos prédios do "campus" da UFSM em Camobi, a professora Iara foi casada com o Eng. Agr. Mário Ferreira, lotado na Carteira Agrícola do Banco do Brasil e professor de Meteorologia e Climatologia no Curso de Agronomia da UFSM, já falecido. Foi minha professora de Latim e de Português. Mário e Iara têm três filhas mulheres e moram à rua Jorge Abelin, atrás do Colégio Centenário.

PROFa. BEATRIZ WEIGHRT

Recém-formada, foi nomeada para o Maneco como professora de Latim e Português. Morava com sua família à rua Professor Braga, ao lado da CE-1 (Casa do Estudante Universitário). Seu pai, professor Erwino Weighrt, era conceituado mestre do Curso de Farmácia da UFSM. Seu esposo era funcionário do então existente Banco da Bahia, localizada na Galeria do Comércio (em frente à residência do Reitor Mariano da Rocha) e, depois, no térreo do edifício da SUCV-Sociedade União dos Caixeiros Viajantes, onde hoje está a Farmácia vruz Vermelha. Beatriz, atualmente, está residindo em Portugal.

PROF. ANTÔNIO GUIMARÃES

Foi professor de Francês e um dos homens mais ranzinzas que conheci, muito embora, particularmente, nunca tivesse tido nenhum atrito com ele em sala de aula. Mas era temido não só por alunos e funcionários, como também por alguns professores. Formou-se em Direito. Atualmente, muito doente, magérrimo, reside na cidade de Arroio dos Ratos.

PROF. ROMAR PAGLIARIN

Era padre e professor de Ensino Religioso. Tinha acendrado senso do exercício da cidadania que, com desenvoltura e despojamento, procurava transmitir aos alunos. Não era muito bem visto pelos militares. Nas quermesses realizadas no pátio então existente atrás da Igreja Catedral, algumas vezes sentei-me à sua mesa para horas de conversações sobre todo tipo de assunto, principalmente política. Pacientemente, ouvia e me esclarecia sobre as dúvidas que eu suscitava. Andava numa espécie de moto da época, de nome Lambreta. Na despedida de nossa turma, com monumental churrasco realizado na Estação Experimental de Silvicultura, no distrito de Boca do Monte, os alunos pegaram sua Lambreta à revelia e se acidentaram com a mesma, danificando-a. Este churrasco, que durou o dia inteiro, merecia um capítulo à parte, pois aconteceu de tudo. Joacir Medeiros, hoje Doutor em Física e professor da UFRGS, completamente embriagado, subiu na longa mesa dos professores e correu sobre a mesma, pisando em pratos de maionese, com farinha espirrando para todos os lados. Parou na frente do temido Pe. Rômulo Zanchi, diretor do Maneco e lhe dirigiu desaforos aos berros. Outros "detalhes" desse churrasco abstenho-me de registrá-los, pois alguns dos personagens envolvidos são "senhores de respeito" hoje em dia... Romar deixou o sacerdócio. Casou-se, morando atualmente no Residencial Florença, à rua Benjamin Constant. Tem filhos formados, um deles em Medicina. Ministra aulas na UNIFRA.

PROF. CARLOS PRETTO

Também padre e professor de Ensino Religioso. Igualmente, tinha a mesma visão de mundo do Romar Pagliarin. Era combativo, exuberante ao desfiar suas argumentações e defender seus pontos-de-vista. Fascinava a classe. Lembro que tinha muito aluno que não professava a fé católica, ou que era ateu, e que reverentemente assistia às suas aulas. Abandonou o sacerdócio também. E se casou com a filha do reverendo da Igreja Episcopal, Siloé Pereira Neves, irmã do bispo atual Jubal Pereira. Estão morando em São Paulo.

PROFa. LIGIA INDRUZIAK

Professora de Música, moradora do trecho inicial da então Visconde Ferreira Pinto, hoje designada rua Comissário Justo. Àquela época, a Visconde Ferreira Pinto se iniciava no cruzamento com a Silva Jardim; hoje , ela recebe este nome apenas depois da ampla área outrora pertencente à Viação Férrea, já no Bairro Itararé. A professora Lígia, de descendência polonesa, era irmã da bióloga Leocádia Indruziak, que foi minha colega no Maneco e depois, minha colega no Departamento de Biologia da UFSM, durante trinta anos, onde ela ministrava aulas sobre Vertebrados. Uma curiosidade quanto ao nome da rua, Comissário Justo : tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, pois ele era temido pela gurizada da cidade devido às funções que desempenhava com rigor. Ele era Comissário de Menores, nomeado pelo Juiz Diretor do Forum, com as funções de ficar na portaria do Cine-Teatro Imperial (rua Dr. Bozano) e do Cine Independência (à praça Saldanha Marinho) para fiscalizar a piazada que queria assistir filmes proibidos até 14 anos, ou até 18 anos, conforme censura vigente na época. Hoje, o Cine-Teatro Imperial, onde a Escola de Teatro Leopoldo Froes (dirigida pelo saudoso Edmundo Cardoso) encenava seus espetáculos, não existe mais. E o Cine Independência também cerrou as portas, sendo suas dependências alugadas durante anos para as celebrações da Igreja Universal do Reino de Deus, do polêmico bispo Edir Macedo. Depois da transferência dessa igreja para outro local, o prédio ficou entregue às moscas, muito embora brotem de certos setores da comunidade raquíticos apelos para que o prédio seja tombado como patrimônio histórico do município.

PROFa. ZULEIKA ROTH DOMINGUES

Quase não tive contato com ela, pois foi nossa professora de Biologia apenas por três semanas, em substituição à professora titular, que se encontrava enferma.

PROFa. SOLANGE LOUREIRO

Foi minha professora de Português durante um ano. Ela gostava muito de Literatura Brasileira e Portuguesa. Morava na rua Pinheiro Machado, perto do Hospital de Caridade "Astrogildo de Azevedo". Era prima do meu colega Mário Loureiro Chagas, que se formou em Direito e exerceu com destaque a advogacia na comarca de Julio de Castilhos, tendo falecido recentemente. O irmão da professora Solange, Solon Loureiro, era advogado e ativo militante político.

PROFa. EDY MAYA BERTÓIA

Ex-diretora do Grupo Escolar João Belém, foi professora do Maneco na disciplina de Trabalhos Manuais.

PROFa. MARIA LUIZA MEDEIROS

Uma das primeiras psicólogas de Santa Maria, foi minha professora de Filosofia. Tinha consultório particular, onde fazia testes psicológicos para os candidatos a tirarem carteira de motorista, assim como realizava testes de QI (Quoeficiente de Inteligência), muito em voga à época. Era irmã do advogado Vivaldino Medeiros Neto, que por muitos anos foi secretário do Departamento de Biologia da UFSM, nas chefias dos professores Dr. Romeu Beltrão, Eng. Agr. Armando Adão Ribas e bióloga Terezinha Grassiolli. Transferiu-se para Porto Alegre, onde aposentou-se como advogado da UFRGS.

PROFa. NOELI BRAGA

Figura simpaticíssima, foi minha professora de Latim e Português. Morava no edifício da antiga loja Elegância Feminina, onde hoje funciona um mini-shopping. Era casada com o falecido Paulo Braga, irmão de Zélia Braga do Prado Veppo, esposa do amigo, médico e poeta Luiz Guilherme do Prado Veppo, já falecido. Lembro muito bem que, quando me elegi vereador, em 1988, a professora Noeli fez questão de me telefonar com muita antecedência para dizer que votaria em mim, atitude não muito comum no eleitor de hoje. Pois o pessoal costuma primeiro consultar a lista dos eleitos para só depois dizer em quem votou. E - fantástica coincidência - sempre votam num vencedor... Vitimada por uma hepatite, Noeli morreu recentemente.

PROFa. MARIA DOMINGUES REIS

Foi minha professora de História do Brasil durante as séries do ginásio. Loira, elegantemente vestida, sempre de sapatos de salto altíssimo para compensar a pouca altura, era excelente professora ! Era casada com o então Delegado de Polícia, Moura Reis, muito atuante na cidade e figura polêmica devido ao seu temperamento.

PROFa. ANASTACIA MUSA NAIME

Professora de inglês, de ascendência árabe, era figura querida dos alunos. Sempre a encontrava pelas ruas da cidade, onde ela parava com freqüência para conversar com todo mundo. Figura muito bem relacionada em toda a comunidade.

PROFa. NORMA SAUER

Foi minha professora de Ciências no curso ginasial. Era chamada carinhosamente de "Norminha". Foi com ela que aprendi, pela primeira vez, o funcionamento do sistema circulatório, pequena e grande circulação, sístole e diástole, taquicardia e bradicardia, e demais conhecimentos pertinentes ao coração. Morava na subida da rua Silva Jardim, perto do hoje Parque Itaimbé. Seu marido trabalhava no ramo de couros e curtumes. Sempre ativa, a professora Norma toma parte ainda hoje em atividades ligadas aos grupos da Terceira Idade de Santa Maria.

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AUTOR : James Pizarro

A BANDA DO MANECO

A história da banda do Maneco está indelevelmente ligada ao nome do ex-aluno Roberto Binato, depois formado médico e professor universitário do Curso de Medicina da UFSM, no Departamento de Biofísica, onde ministrava aulas juntamente com o Dr. Irion. Mesmo cursando Medicina, continuava sendo o responsável pela banda do Maneco, nas funções de "mestre", uma espécie de maestro que cuidava tanto da coreografia e da disciplina como também dos arranjos musicais e repertório. Era carinhosamente chamado de "Binatão", devido à sua alentada obesidade, pois era um glutão inveterado. Presenciei, mais de uma vez, aquele homem devorar em poucos minutos dois quilos do recém-lançado Sorvete Kibom, uma das suas preferências. Ele casou com uma farmacêutica e, durante anos, trabalharam na zona italiana da Quarta Colônia, transferindo-se para Santa Maria, quando seus filhos vieram fazer o Ensino Médio e frequentar cursinhos pré-vestibulares. Um de seus três filhos, de nome Sílvio (apelido "Dandão"), foi meu aluno e companheiro de jogo de tênis nas quadras do ATC-Avenida Tênis Clube.
A banda do Maneco era constituída por uma quantidade incrível de integrantes. Certa época, a banda chegou a desfilar com quase 200 figurantes, fazendo as chamadas "evoluções" durante o desfile. A evolução que mais agradava e que arrancava delirante aplauso do público era copiada da Banda de Fuzileiros Navais, do Rio de Janeiro : a banda desfilava formando uma gigantesca âncora, que ocupava uma quadra inteira de rua. A banda viajava muito por todo o RS, a convite de escolas e prefeituras. Em Santa Maria, era convidada a abrilhantar todo tipo de solenidade. Certa feita, no campo de futebol do Riograndense Futebol Clube, completamente lotado, a banda formou - pela primeira vez - a palavra MANECO, numa evolução que comoveu a pais, alunos, professores, funcionários e público em geral.
A banda tinha toda sorte de instrumentos : bumbos, surdos, caixas, taróis, pratos, escaletas, pífaros, trombones, pistons, cornetas, flautas doces, etc...Os ensaios eram realizados somente à tarde, depois do término das aulas, no pátio da escola ou pelas ruas da cidade. O Padre Rômulo Zanchi, férreo disciplinador na direção do colégio, exigia que os integrantes da banda apresentassem seus boletins todo santo mês em seu gabinete. Quem estivesse mal de notas era sumariamente banido da banda. O padre Rômulo dizia : "É uma honra tocar na banda e aluno vadio não veste aquele uniforme para representar o Maneco pelas ruas da cidade ! " Assim é que, nos desfiles da Semana da Pátria ou nos deslumbrantes Jogos da Primavera, quando a banda chegava ao centro da cidade, capitaneando os quase dois mil alunos do Maneco, toda o público sabia que ali naquela corporação musical marchava a elite cultural do colégio, representada por seus melhores alunos. Durante duas ou três noites que antecediam à data do desfile, alunos e alunas voluntariamente faziam bolhas nos dedos cortando papel laminado para fazer "picadinhos" que eram acondicionados em dezenas e dezenas de sacos de estopa. No dia do desfile, estes alunos e seus familiares postavam-se estrategicamente nas sacadas dos edifícios mais altos da avenida Rio Branco e da rua do Acampamento (o Taperinha era um dos preferidos) e, quando o Maneco começava sua esperada apresentação, os céus do centro da cidade eram tomados por aqueles milhares de "picadinhos" laminados que produziam um efeito espetacular refletindo a luz do sol. Torcidas organizadas berravam sem parar :"Maneco ! Maneco !" Aquelas músicas, marchas e dobrados em furiosa harmonia marcial...o Tadeu com seu garbo de mor da banda....as duas graciosas balisas (a Carmem Helon Mariosi era uma delas)...aquela multidão...aqueles papéis picados...os foguetes...os gritos...os aplausos...a cadência...aquilo tudo era emocionante ! E eu ali no meio da banda, tocando pifaro, ao lado do Paulo Ari (agrônomo, professor da UFSM, já falecido) e o Alceste Almeida (médico, hoje deputado federal por Roraima). Eu ali...durante seis anos tocando naquela banda...passando por aquelas emoções que enchiam meu coração adolescente de felicidade e orgulho. Era impossível não chorar...
Atualmente, a banda continua ainda em ação, passando por dificuldades financeiras. Tem de arrecadar fundos com promoções, tocar nas ruas e avenidas enquanto alguns integrantes vendem rifas para os transeuntes para o custeio do aluguel dos ônibus que levam a banda até cidades onde se realizam concursos de bandas marciais e musicais. Assim é que, mesmo com essas dificuldades todas, a banda do Maneco venceu, em 2002, as competições de Alegrete e Quaraí. Por falta de recursos não pôde comparecer ao concurso de São Lourenço do Sul e luta com dificuldades para comparecer a outros, como o de Lagoa Vermelha. Segundo sei, a UFSM foi sensível e colaborou com R$ 600. Enquanto a banda passa por essa penúria, leio nos jornais que a Câmara de Vereadores está pleiteando uma "singela" suplementação de verbas de quase meio milhão de reais para tapar "furos" no orçamento mal calculado, mais R$ 600 de auxílio-telefone e 150 litros de gasolina por mês para cada vereador. Mas algum dos vereadores foi sensível à situação da banda, como outrora ocorria ? Em 1958, ano do centenário do município, o então vereador pelo PTB, Alfeu Cassal Pizarro - meu pai e a meu pedido - destinou a quantia de 5000 cruzeiros (moeda da época) para a aquisição de instrumentos para a banda do Maneco (a xerocópia do documento está nos arquivos do Maneco). Mais de 50 anos depois, esse tipo de sensibilidade política parece estar em extinção no meio dos homens públicos...
Quero registrar o trabalho voluntário, incansável, de vários elementos que trabalharam sempre pela banda nos últimos tempos: Luiz Carlos Santos (professor de Biologia de cursos pré-vestibulares e também do Maneco), Alberi da Silva Pereira (36 anos,um dos coordenadores, com 18 anos de banda), José Paulo Rorato (43 anos, integrante da banda desde 1993) e tantos outros.

***PEDIDO : quem quiser acrescentar fatos, relembrar coisas que não estão aqui, enviar fotos, etc...dirijam-se ao meu e-mail : jamespizarro@hotmail.com Ficarei muito agradecido.
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AUTOR : James Pizarro

A GARE DA ESTAÇÃO

A gare da estação da Viação Férrea do RS, Santa Maria, foi local frequentado pela elite da sociedade santa-mariense, por mais incrível que isso possa parecer hoje aos mais moços, testemunhas da decadência da categoria ferroviária.

Ali estavam os escritórios das chefias. A sala do diretor da estação (chamado de "Agente"). O amplo e completo "stand" de revistas (a chamada "Revistaria da Estação"). O higiênico e confortável restaurante, onde serviam-se desde refeições "à francesa" até rápidos lanches. A fantástica sorveteria com inimagináveis guloseimas servidas em finas taças de prata. O competente serviço de carregadores de bagagens ("mensageria"), com os servidores vestidos de azul, com colarinho e gravata, portando carrinhos de ferro para o transporte das malas. O serviço de autofalantes com as publicidades (chamadas "reclames") ditas por um locutor cego, que tinha a fantástica capacidade de memorizar tudo. Entre um "reclame" e outro, valsas de Strauss e sambas de Ary Barroso.

Para ter acesso à gare da Viação Férrea, era necessário comprar ingresso. Vendido sob a forma de um papelote duro, numerado, metade branco, metade verde. Que era picotado pelo porteiro engravatado na roleta numerada que dava acesso ao interior das instalações. Rapazes e moças, acompanhados de seus pais, costumavam formar fervilhante torvelinho de gente nas horas de chegada e partida dos trens de passageiro. Trens que atendiam por nomes especiais : "Noturno", "Fronteira", "Serra", "Porto Alegre". A gente ficava abanando para as pessoas que partiam naquela "composição" formada por dezenas e dezenas de carros. Puxada por barulhenta e folclórica máquina a vapor, carinhosamente chamada de "Maria Fumaça". Anos depois substituídas pelas máquinas movidas a diesel e pelos trens húngaros, que tinham até ar condicionado e lanche gratuito.

Todo fim-de-ano lá ía eu com minha família - pelo trem da "Serra" - curtir férias escolares na cidade de Getúlio Vargas, situada depois de Carazinho e antes de Marcelino Ramos, na fronteira com Santa Catarina. Íamos no vagão-leito, composto de duas camas beliche, o máximo em conforto para a época.

Existiam carros de "Primeira Classe", com poltronas estofadas. E carros de "Segunda Classe", com bancos de madeira, ocupados pelas pessoas mais pobres, gaúchos de bota e bombacha que levavam desde galinhas enfarofadas até gaiolas com seus passarinhos de estimação. Havia o "Carro-Restaurante", onde os mais abastados faziam suas refeições, servidas por garçons de gravata borboleta. Os dois últimos carros dessas composições eram para uso dos funcionários que estavam trabalhando no trem e para uso dos Correios e Telégrafos, já que os malotes de cartas e encomendas eram predominantemente transportados pela Viação Férrea.

Meu tio, também ferroviário, de nome João Cassal Pizarro, era "agente" (leia-se Chefe) da Estação de Getúlio Vargas. Esta cidade serrana era dividida em duas partes : a "estação" e a "sede". Na "estação" ficavam as instalações ferroviárias, armazéns, depósitos e uma pequena vila de pouco mais de mil almas. Na "sede" ficava a cidade propriamente dita, com a Prefeitura Municipal, hospital escolas, delegacia, clubes, etc...Com a onda emancipacionista que assolou o Rio Grande do Sul nos últimos anos, o que se conhece hoje pelo nome de Getúlio Vargas é apenas e tão-somente a antiga "sede". A chamada "estação" de outrora constituiu-se num novo município, independente, que atende pela singela designação de "Antiga Estação".

Naquele aprazível lugar, de terra vermelha e barrenta, passei por muitos anos as minhas férias. E minha estada era no próprio recinto da gare da estação ferroviária, onde residia meu tio, conhecido por Tio Cassal. Era um homem sumamente interessante. "Gourmet" inveterado. Fumante inveterado. Jogador de cartas inveterado. E também inveterado apreciador de belas mulheres. Minha tia, chamada de "Tia Preta", fazia vistas grossas a tudo, ao melhor estilo masoquista das mulheres da época. Tudo em meu tio era inveterado. Exagerado. Compulsivo. Ele teve um violento AVC-acidente vaso-cerebral, que minha tia chamava de "derrame". AVC que o deixou rengueando de uma perna e usuário de uma bengala. Mas ele ainda teve de lucro uma sobrevida de mais dez anos. E mesmo de bengala ainda frequentava o chinaredo...

Tio Cassal tinha três filhos : Cleonice, Carlos Miramar e Paulo. Cleonice, chamada na intimidade de "Nice", é casada com Sadi Tagliari, talentoso acordeonista que tocou numa orquestra formada por seus dez irmãos e famosa na zona serrana do RS : Orquestra Tagliari. Depois, Sadi aposentou-se como gerente do Banco do Brasil . Moram em Porto Alegre. Carlos Miramar, "Carlinhos" para os íntimos, era piloto de avião, casado com Ivone Demoliner, filha do proprietário da famosa Erva-mate Demoliner, de Erechim. Paulo, meu primo "Paulinho", é formado em Administração de Empresas e mora em Porto Alegre com a família.

Já professor da UFSM, fui designado pela reitoria para representar a UFSM e fazer palestra sobre Ecologia na cidade de Getúlio Vargas, a "sede" dos meus tempos de piá. Falei para cerca de duzentas pessoas no cinema da cidade, numa promoção da Delegacia de Educação da região. E pedi ao meu anfitrião um favor : eu queria visitar o recém-criado município chamado "Antiga Estação", situado a uns 20 quilômetros dali.

A outrora estrada barrenta está hoje asfaltada. E em poucos minutos lá estava eu a visitar as velhas instalações da ferrovia (ainda são as mesmas). A velha casa onde morava meu tio, pintada de marrom, onde eu passava as minhas férias na infância. Apenas dois funcionários na gare da estação que, na ausência de trens de passageiros, estão ali apenas para a fiscalização dos trens carregados de soja que dali partem em direção à cidade de Rio Grande. De onde a nossa soja é levada para países asiáticos, para se transformar em ração para porcos. Ou para países europeus, onde as pessoas já são superalimentadas e melhor saúde teriam se comessem menos. Enquanto parte do nosso povo passa fome e morre com o nariz achatado nas portas dos hospitais.

Falei com um dos funcionários, o mais antigo, e ele bondosamente me proporcionou acesso aos livros antigos, já depositados no "arquivo morto" da estação. Ao folhear os mesmos, deparei-me centenas de vezes com a espalhafatosa e esparramada assinatura de meu saudoso Tio Cassal, autorizando isso ou aquilo...No pátio da antiga e abandonada casa, pude ver o poço - de onde tirávamos cristalina e pura água gelada - atulhado e transformado numa espécie de floreira. Um velho pé de plátano, com o tronco cheio de buracos e condenado à morte, completava o desolador quadro de abandono daquele pátio que foi tão importante nas minhas férias de guri. Ao lado daquele pé de plátano ficava uma gaiola, com o bicho de estimação de meu tio : um gracioso e canoro cardeal. A gaiola ficava com a porta permanentemente aberta. O cardeal comia nas mãos de meu tio, ao amanhecer. E depois, voava para longe, passando o dia fora. Lá pelas 18:00h, servindo chimarrão para meu tio, ouvia ele dizer : "Vamos para o pátio que tá na hora do cardeal voltar". Inacreditável ! O bichinho aparecia. E como por encanto, pousava no dedo indicador do meu tio, que o colocava na gaiola. Onde já estavam um pedacinho de banana mole, uma gema de ovo e alpiste com semente de girassol. Décadas depois, contei isso numa aula de Ecologia. Enquanto me virei para apagar o quadro-negro, tive o dissabor de ouvir este comentário de um aluno da primeira fila : "Que baita atochada ! " Quer dizer: passei por mentiroso simplesmente porque estava contando...a verdade!

Não se fazem mais alunos como antigamente. Que ainda tinham a perspectiva encantadora do mistério. Como também não se fazem mais tios inveteradamente encantadores. Nem tão pouco se fazem cardeais encantados com a liberdade, embora apaixonados por seu dono.

Por que esses tios têm de morrer ?

Por que esses cardeais de hoje fogem dos humanos ?

Por que a gente tem de caminhar rumo a uma antiga e pungente estação, chamada velhice, que precede nossa chegada à estação definitiva ?

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AUTOR : James Pizarro