segunda-feira, 27 de agosto de 2018

MEU COMOVIDO CARINHO AOS IDOSOS DO MUNDO - James Pizarro (página 4 do DIÁRIO, Santa Maria, edição de 28.8.2018)


MEU COMOVIDO CARINHO
AOS IDOSOS DO MUNDO

JAMES PIZARRO - professor universitário aposentado

DESTAQUE : A velhice não é uma perda. A velhice não é algo digno de pena. A velhice é um lucro

No meu tempo de infância - nos barrancos da rua Silva Jardim - eu lembro bem que gostava de ficar no meio dos mais velhos. Ouvindo as histórias das amigas da minha querida avó Olina. Ou servindo chimarrão para meu avô Fredolino e seus amigos ferroviários. Homens encarquilhados. Experientes.  Contando histórias mirabolantes de viagens de trem. Acidentes. Greves.  Eu absorvia aquelas histórias mágicas em silêncio.

Anos mais tarde, ainda adolescente tive dois empregos, no mundo dos mais velhos.

O saudoso amigo Edmundo Cardoso, teatrólogo e memorialista, cliente de meu pai (que era enfermeiro), era diretor do jornal A RAZÃO. E sabedor que eu era um bom aluno de Português e Latim do MANECO, me ofereceu o cargo de revisor do jornal por algumas horas durante o dia. Na redação do jornal convivi com todas as figuras importantes da época, muitas das quais colaboravam com artigos para o jornal. Dr. Amaury Lenz, Dr. Romeu Beltrão, Zózymo Lopes dos Santos, Prado Veppo, Chico Ribeiro, Gregório Coelho e uma centena de outras pessoas.

O outro emprego que tive na adolescência, exercido apenas aos domingos pela tarde, quando todos meus colegas de colégio descansavam, foi de vendedor de “poules” no Jockey Clube de Santa Maria. Eu era o responsável pelo guichê número 2, onde eram vendidos os bilhetes do cavalo número 2 de cada páreo que iria correr. Lembro que no guichê número 1, onde eram vendidos os bilhetes do cavalo favorito (de número 1), o vendedor responsável era o João Nascimento da Silva que, anos depois, foi vereador junto comigo em Santa Maria. No Jockey Clube convivi com centenas de pessoas mais velhas do que eu : tratadores e proprietários de cavalos, jóqueis, veterinários, apostadores, turfistas, jornalistas especializados. De todos eles, gravo a grata lembrança de meus saudoso amigo Dr. Armando Vallandro, médico veterinário, que anos depois seria reitor da UFSM. Com todos eles aprendi algo.

Assim foi nos cursinhos Master, Riachuelo, Decisão. No Colégio Coração de Maria. Na UFSM. Na Fundação Zoobotânica do RS. Na AGAPAN. Nos clubes, entidades, ONGs, igreja, TV, rádios, jornais. Em todos os locais que convivi – e ainda convivo – sempre procurei ouvir os mais velhos. Jamais me arrependi por isso.

Dia 26 de outubro de 2018 eu farei 76 anos. Eu tenho a CERTEZA ABSOLUTA de que já vivi mais de  sete décadas. Que já aproveitei mais de meio século de vida. Logo, a velhice não é uma perda. A velhice não é algo digno de pena. A velhice é um LUCRO.

Quando eu vejo um jovem desrespeitar um idoso, eu fico com pena. Ele lucrou apenas 15, 18, 20 anos. Para atingir os meus 76 anos terá de viver mais meio século. Enfrentar mais de 50 anos de trânsito, doenças novas, acidentes de trabalho, percalços, problemas, estresse, etc... Conseguirá ?

Enquanto eu sou uma CERTEZA. Esse jovem mal educado é uma mera FICÇÃO, uma promessa. Por isso, velhos do mundo : não se irritem com os meninos mal educados. Exerçam a misericórdia. Aliás, esta é outra característica da nossa turma da Terceira Idade : não somos mais movidos somente à paixão.

Nós já passamos a exercer também a COMPAIXÃO !

terça-feira, 14 de agosto de 2018

PROTESTE OU FIQUE RUMINANDO BOVINAMENTE ! - James Pizarro (página 4, DIÁRIO DE S. MARIA, edição de 14.8.2018)


Na campanha eleitoral são simpáticos, sorridentes, apertam a mão de todo mundo, pegam criancinhas no colo, passam a mão no rosto dos idosos, andam de porta em porta mendigando votos.

Na propaganda eleitoral gratuita aparecem visitando o grupo escolar onde dizem ter estudado (nenhum deles estudou em escola particular), abraçam velhas professoras que ficam emocionadas, dão entrevista nas suas próprias residências junto com a esposa e filhos, alguns apelam e usam declarações lacrimejantes dos avós que se dizem orgulhosos do neto.

Os cabos eleitorais - que se transformam em assessores depois - soltam foguetes, preparam churrascos, pregam cartazes, mobilizam os amigos, arrumam populares para dar entrevistas, distribuem "santinhos".

Esse é o clima ANTES das eleições.

Porque DEPOIS das eleições, os perdedores viajam.
Ou se recolhem ao ostracismo.
Ou fazem alianças ideologicamente incompatíveis.
Ou aceitam cargos modestos para não perder o hábito de mamar.

E os assessores se revestem de uma importância duvidosa como se tivessem sido bafejados por uma aura celeste e recebido a bênção dos deuses gregos do Olimpo. E não recebem as queixas do trouxa do eleitor que - ingenuamente - caiu em mais um estelionato eleitoral.

Os detentores de cargo público e seus assessores são apenas empregados temporários da população. Nada mais do que isso.

Pessoalmente (já fiz isso várias vezes no passado) quando me sinto prejudicado ou vejo algo errado na cidade. Bato fotos. Junto documentos. Faço uma juntada de leis. Organizo um dossiê. Anexo meu currículo e meu título de eleitor. Solicito uma audiência pessoal com a autoridade necessária. E sempre fui recebido e tratado respeitosamente.

Aprendi que, em política, "é melhor falar com Deus do que com os santos". Aprendi também que os governos NÃO AGEM, eles apenas REAGEM. E para que a comunidade seja atendida ela precisa exercer a sua cidadania e protestar, berrar, reclamar nos meios de comunicação.

Caso não faça isso, terá comportamento de vaquinha de presépio. Ficará passivamente ruminando pasto, assistindo a vida acontecer.

Enquanto os poderosos riem da nossa cara.
Ah...enfie a carapuça quem quiser !