sábado, 11 de dezembro de 2010

O PAÍS DOS PALHAÇOS

Artigo publicado no jornal "A RAZÃO",de Santa Maria, RS, pág. 2, edição de 13 de dezembro de 2010.
*****************************************
As provas do ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio foram um fiasco nos dois últimos anos. Em 2009 provas e questões foram simplesmente roubadas. Em 2010, houve erro grotesco de impressão e troca de folhas de gabarito para respostas, ocasionando imenso transtorno e preocupação para os alunos e familiares.
Em qualquer país civilizado do mundo, o Ministro da Educação teria sido demitido diante dessa demonstração de incompetência por dois anos seguidos. Aqui, a futura presidente Dilma Rousseff anuncia que vai manter o Ministro da Educação no posto.
Agora,2010, a OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, em seu exame de aferição de qualidade dos advogados teve problemas constrangedores quanto à divulgação do gabarito.
Em várias universidades já ocorreram anulação de vestibulares motivadas por fraude, vazamento de questões, etc...Nos concursos públicos já se tornou rotina a anulação das provas. Nas licitações públicas nem se fala !
O próprio presidente do país durante as últimas eleições presidenciais, foi multado cerca de uma dezena de vezes por aparecer no horário político gratuito na TV fazendo propaganda para a candidata do PT, fato antes "nunca visto na história deste país". E tudo ficou por isso mesmo.
Além do exemplo vir de cima, há uma cultura de impunidade no país.
Mas, finalmente, aparece no horizonte da corrupção uma esperança salvadora.
E essa esperança tem nome : TIRIRICA !
O seu primeiro projeto vai ser conceder um diploma de palhaço a cada brasileiro !
*****************************
AUTOR : James Pizarro

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

QUANDO O ATIVISMO ECOLOGISTA ERA PRA VALER MESMO !

Artigo publicado na edição número 5 da Revista CONEXÃO/UFSM, Santa Maria, RS, edição de 14/12/2010. (http://coralx.ufsm.br/radio/conexaoufsm/numero05/index.html)

*************************************

Rememoro, com especial saudade, de três eventos que promovi em Santa Maria,RS, com total apoio dos companheiros da Rádio Universidade (UFSM). Foram eventos denominados "Caminhada pela Natureza", "Pela Vida pela Paz, Hiroshima Nunca Mais" e " Se Você Fechar os Olhos Hoje Terá de Fechar o Nariz Amanhã". Foram eventos ocorridos há 25 anos, que movimentaram populares nas ruas, passeatas de universitários, compromissos dos políticos, etc...Infelizmente, a "luta ecológica" de hoje involuiu, transformando-se em arremedo burocrático de gabinete, com as poucas entidades existentes buscando verbas especiais de órgãos governamentais. Quem aceita dinheiro do poder vigente - seja ele de que orientação político-partidária for - negocia sua liberdade de opinião e de ação. Vamos relembrar :

a)- No dia 16 de outubro de 1984, em nossa cidade, ocorreu a chamada "Caminhada para a Natureza", que partiu da praça Saldanha Marinho e culminou no Morro do Cechella. Foi organizada pelo Diretório Acadêmico da Engenharia Florestal (UFSM), com o apoio e colaboração do Curso de Engenharia Florestal, Departamento de Ciências Florestais, Pró-reitoria de Assuntos Estudantis, Prefeitura Municipal de Santa Maria, Câmara de Vereadores de S. Maria e Programa "Antes que a Natureza Morra" (Rádio Universidade). Foi distribuído por toda a cidade um poster promocional contendo uma foto de nosso município (levantamento aerofotogramétrico), contendo um texto de Benjamin Franklin : " Se as cidades forem destruídas e os campos forem conservados, as cidades ressurgirão. Mas, se queimarem os campos e conservarem as cidades, estas não sobreviverão ". A caminhada foi realizada com a presença de aproximadamente 300 pessoas, constituída por estudantes, professores e populares. Na chegada ao Morro Cechella, foi rezada uma missa campal presidida pelo Pe. Ézio Berteotti, pároco da igreja do bairro Perpétuo Socorro (atualmente, o padre é pároco da Igreja São José, na cidade de Lavras do Sul). Durante a missa, a convite do celebrante, falei cerca de quinze minutos sobre o motivo da caminhada e sobre a necessidade da conscientização da cidade conservar os morros e lutar contra a depredação efetuada pelas pedreiras. Depois disso, várias pedreiras foram fechadas pela justiça e os morros continuam em pé !

b)- Com total apoio da Rádio Universidade a Associação Ecológica "Irmão Sol, Irmã Lua", por mim fundada e presidida, já na data de 22 de agosto de 1985 preocupava-se com a situação da coleta e depósito de lixo em nossa cidade. Tanto é verdade que, na data citada, a Câmara de Vereadores realizou uma sessão especial para que a entidade pudesse apresentar longo e detalhado relatório sobre o tema do lixo urbano. Entre os vereadores presentes, lembro de Onélio Prevedello, Luiz Carlos Druzian, Luiz Roberto Simon do Monte, Antônio Sineide Costa, Marco Machado, Sérgio Cechin, Luiz Figueiredo e João Nascimento da Silva. O relatório que apresentei tinha por título " Se você fechar os olhos hoje terá de fechar o nariz amanhã ". Pois já se passaram 25 anos da apresentação que fiz sobre o lixo de Santa Maria e a situação do aterro sanitário ainda não foi devidamente resolvida. Infelizmente eu tinha razão, pois moradores de certas zonas da cidade já começam a tapar o nariz...

c)- No dia 6 de agosto de 1984, fiz o lançamento em nossa cidade de milhares de panfletos com o título " pela Vida, pela Paz, Hiroshima Nunca Mais" esclarecendo a população sobre a corrida armamentista nuclear encetada pelos Estados Unidos e pela Rússia, entre outros países. O panfleto, com apoio da Rádio Universidade, citava números, estatísticas e fazia algumas comparações, como por exemplo : " Gasta-se um milhão e meio de dólares por minuto em armas no mundo, enquanto a cada minuto morrem 30 crianças. Na formação de um soldado gasta-se 60 vezes mais do que o necessário para educar uma criança a vida toda". Na realidade, desde aquela época, a gente já preconizava a adoção de "energias brandas" ao invés das chamadas "energias duras". Explicava, com meus companheiros pacifistas, em cada esquina dessa cidade a capacidade que o homem deveria ter de resolver seus conflitos por meios pacíficos. Dissertava sobre a necessidade de adotar energias descentralizadas, seguras e renováveis, a partir do sol, água, vento e biomassa. Muita gente achava estranho e ficava boquiaberta diante do apelo que a gente fazia para chamar a atenção da Igreja, associações, representantes políticos e vizinhos sobre a necessidade de se criar na cidade um movimento antiarmamentista e antinuclear.
**************************
AUTOR : James Pizarro - SANTA MARIA, RS

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"STAMMTISCH, REINVENTANDO TRADIÇÕES”


Luiz Eduardo Caminha, médico e escritor catarinense, já tinha lançado com grande sucesso o ano passado o seu livro "Saboreando Crônicas" que recebi com amável dedicatória. O livro entremeia receitas de culinária com crônicas talentosamente escritas.

Com fortes ligações em Blumenau, Caminha reside atualmente na Estrada Intendente Antônio Damasco, perto da igreja dos Ratones, na ilha de Florianópolis.

Caminha está na praça com novo livro,intitulado “Stammtisch, reinventando tradições”. O livro - conforme noticia o site oficial do Stammtisch - foi um sucesso editorial em Blumenau.
O livro foi lançado obedecendo um calendário que trouxe mais de quinhentas pessoas para conhecer e/ou adquirir a obra :

Dia 20 de Outubro – apresentação da obra durante a Oktoberfest, nos Pavilhões da Vila Germânica, por ocasião da Noite do Stammtisch que contou com a presença de mais de 85 grupos de Stammtisch.

No dia 26 de Outubro (dia do meu aniversário, por coincidência) aconteceu o lançamento oficial da obra em noite concorrida de autógrafos ocorrida no Biergarten anexo à Vila Germânica. Mais de 250 pessoas estiveram presentes.

Finalmente, no dia 30 de Novembro o autor esteve concedendo autógrafos durante um Coquetel Literário que aconteceu na Feira do Livro de Blumenau, evento coordenado pela Sociedade de Escritores de Blumenau como parte das atividades do 5º Fórum Brasileiro de Literatura de Blumenau.

Permito-me transcrever do site oficial a explicação do que vem a ser STAMMTISCH :

“Stammtisch, reinventando tradições” conta toda a história dos 10 anos de resgate da tradição dos Stammtisch em Blumenau e Santa Catarina, além da criação da festa conhecida como Encontro de Stammtisch (Strassenfest mit Stammtischtreffen) que ocorre anualmente entre Março e Abril na Rua 15 de Novembro, a principal artéria urbana central daquela cidade. Caminha, que é médico e comunicador, tem uma estreita ligação com os Stammtische já que foi através de seu Programa Stammtisch, na TV Galega de Blumenau, que a história da reinvenção desta secular tradição germânica começou na cidade. Hoje os Encontros de Stammtisch tomaram tal vulto que já ocorrem em 47 municípíos catarinenses, sendo o de São José o precursor do evento na Grande Florianópolis. Além de São José, Florianópolis, Palhoça, São Pedro de Alcantara, Rancho Queimado também já incorporaram a tradição entre seus eventos turísticos.

Os Stammtische são o equivalente germânico às rodas de bate-papo e às patotas brasileiras. A diferença, bastante marcante entretanto, está na sua forma organizada de fazer e curtir estes momentos de celebração da vida. Num Stammtisch cada membro tem o seu assento, bebe o seu tipo preferido de cerveja, numa determinada temperatura, num determinado copo etc. O jeito de ser é mais ritualístico.

O livro, que está divido em 3 partes, é ilustrado por um encarte de fotos antigas e recentes extraídas do acervo do próprio Caminha :

1 – A história do Stammtisch e dos Encontros de Stammtisch contada pelos personagens que vivenciaram a tradição no passado ou nesta sua nova reaparição em Blumenau e Santa Catarina;

2- A história das tradições desde que surgiram no mundo (800 anos a.C.) até os Encontros de Stammtisch em Blumenau,

3- As entrevistas de inúmeros blumenauenses e alguns personagens de outras cidades onde a tradição foi revivida.

Caminha me convida, via e-mail, para o lançamento de sua obra no sábado, dia 20 de novembro, com noite de autógrafos durante a sétima edição do Stammtisch de Florianópolis que acontece em São José, na Rua Padre Réus, Ponta de Baixo (cerca de 200 metros antes dos restaurantes). No evento estará disponível uma Praça de Alimentação com comida típica alemã e chope.

Estendo este convite a todos os meus amigos que residem em Florianópolis e cidades vizinhas. Os meus amigos da região de Santa Maria, RS,e também de cidades do interior catarinense que desejarem adquirir a obra poderão entrar em contato com o Caminha através do seu blog : www.caminhapoetando.blogspot.com ou pelo fone 48.3369.3115.
******************************
AUTOR : James Pizarro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O PORVIROSCÓPIO

Em 1926, Monteiro Lobato publicou um livro intitulado "O Presidente Negro". Nesse livro ele imaginou que no ano de 2228 concorreriam à presidência dos Estados Unidos uma mulher, um branco e um negro. E que o eleito seria o negro. No livro de Lobato, os personagens da história entram em contato com o futuro através de um aparelho que ele chamou de PORVIROSCÓPIO.
A história antecipou o vaticínio de Lobato em muitos anos com a eleição de Obama. A realidade muitas vezes se mostra mais exequível que a ficção.
Se o Michel Temer, por exemplo, possuísse um aparelho desses certamente ele trataria de saber se a Dilma terminaria o mandato, assim como o Sarney deu uma secada no falecido Tancredo Neves. Ou não tem sido essa a vocação do PMDB, a de estar em todas as boquinhas ?
Se a diretoria do Grêmio tivesse um porviroscópio certamente estaria direcionando o mesmo para Dubai para saber se o Inter, apesar do mau campeonato nacional que fez, poderá sair bicampeão mundial de clubes e infernizar por décadas a torcida gremista.
Eu creio que muitos casamentos acabariam antes do tempo se maridos e esposas tivessem este aparelho. Nem chegariam a namorar e muito menos ficar noivos. As loterias certamente acabariam. Os cassinos. Tudo que envolvesse probabilidade futura ruiria por terra.
E se o porviroscópio tivesse alcance para além da morte e desvendasse o futuro da alma, as religiões estariam também a perigo.
O melhor é ir vivendo a vida de 24 em 24 horas. Com todas as suas incertezas.
Deslumbramentos. Tragédias. Surpresas.
Sejam elas agradáveis ou não.
É no mistério de cada dia que reside o fascínio de viver.
******************************
AUTOR : James Pizarro

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

NÃO SE DEVE CONTAR COM O OVO NO FIOFÓ DA GALINHA

Assisti aos jogos da seleção brasileira feminina de vôlei no campeonato mundial realizado no Japão. Nas semifinais, as japonesas estavam ganhando do Brasil por 2 sets a zero, com total apoio da torcida local. O Brasil fez 2 a 2 e ganhou o set final. As japonesas contavam como certa a vitória. E perderam.
Brasil foi para a final contra a Russia no domingo pela manhã (14/11/2010). Depois de estar ganhando por 2 sets a um, deixou escapar a vitória. As russas empataram em 2 a 2 e venceram o set final, sagrando-se campeãs mundiais.
Em ambos os casos, japonesas (no sábado) e brasileiras (no domingo) "contaram com o ovo no cu da galinha", expressão muito usada no Rio Grande do Sul. Essa expressão tem um erro sob o ponto-de-vista biológico, porque galinha tem é cloaca e não cu.
Quem já criou galinhas no pátio sabe que as galinhas cantam muito depois de ter posto o ovo, fazendo mídia da sua própria obra. A galinha canta e basta ir colher os ovos no ninho. Mas algumas vezes a galinha faz um escarcéu, se esganifa cantando. A gente vai lá e não tem ovo algum. Daí a razão da expressão chula, mas verdadeira.
Mas interessa aqui o que significa popularmente essa expressão : nunca se deve ter como certa uma coisa, nunca se deve festejar algo por antecipação.
Eu mesmo incorri neste erro. Estava ouvindo e vendo o jogo pela TV. Quando o Brasil fechou 2 a 1 eu peguei minhas coisas e fui pra praia. Porque o dia estava divino em Florianópolis. E eu contei como certa a vitória do nosso time de vôlei feminino. Já na praia, tomando meu refrigerante, fiquei sabendo de nossa derrota.
Pelo segundo ano consecutivo perdemos uma final mundial de vôlei feminino, título ainda inédito para o Brasil. Acho que está na hora de um psicólogo ensinar às gurias do vôlei que "nunca se deve contar com o ovo do cu da galinha".
Porque eu, já na terceira idade, parece que ainda não aprendi.
********************
AUTOR : James Pizarro

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O ESCÂNDALO DO ENEM


Em 2009, provas do ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio foram furtadas da gráfica PLURAL, cujo contrato foi cancelado.
Em 2010, o escândalo se repete, desta vez com outra gráfica de grande porte, que "esqueceu" de conferir um lote de 21.000 provas, justo as que sairam com erros. Existem questões sem resposta e questões com dupla resposta.
Se num cursinho pré-vestibular ou num colégio particular por dois anos seguidos um professor incorre em erros graves na formulação das questões ou na confecção dos gabaritos, ele seria prontamente afastado e demitido.
Mas no ENEM, que está sob o controle do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, tudo parece tranquilo, a julgar pelas declarações dos responsáveis pela educação brasileira. O Ministro da Educação isenta o INEP de qualquer erro. E o presidente Lula, ao invés de demitir todo mundo para proteger os estudantes e dar credibilidade ao ENEM, apressa-se em dizer na África que "o ENEM foi um sucesso".
Por essas e por outras é que no IDH - Índice do Desenvolvimento Humano, recentemente publicado pela ONU,o Brasil ocupa o vergonhoso lugar número 73.
Se a Educação do Brasil vai bem temos também de acreditar em Branca de Neve e os sete anões.
E também no Papai Noel.
Que era barbudo. Mas pelo menos não mentia.
*********************
AUTOR : James Pizarro

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O CQC !!!

Pode chover canivete que toda segunda-feira não deixo de assistir o programa CQC, na TV Bandeirantes, geralmente às 22,15h.
Marcelo Tas, Marco Luque, Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Rafael Cortez, Felipe Andreoli, Oscar Filho e Monica Iozzi fazem um programa crítico, inteligente, bem humorado.
Mas pra quem gosta de "Zorra Total" e similares, nem experimente ver e ouvir o CQC...porque não vai gostar.
CQC é feito para quem tem mais do que dois neurônios na cabeça.
**********************
AUTOR : James Pizarro

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

AS "BOMBINHAS" DA DONA NÍDIA

Corriam os anos 50 e 60. Na esquina da minha casa, cruzamento das ruas Silva Jardim e Dutra Vila, em Santa Maria, existia uma fábrica de café. Eram dois os cafés fabricados. Café Planeta e Café Cometa.
O proprietário era um senhor de origem alemã chamado Osvaldo Eggers,casado com a dona Georgina. Eram pais da Maria Helena, Norma e William.
Maria Helena casou com um famoso engenheiro civil, responsável por centenas de construções na cidade, de nome Altair Celestino Alves. Muito nosso amigo, foi ele quem fez a planta da casa de meu pai.
Norma era casada com um agrimensor de nome Arnaldo Rechia. Possuiam um belo automóvel Simca Chambord, que serviu para transportar a mim e a Vera Maria para a catedral no dia do nosso casamento. Onde casamos no religioso tendo como celebrante o monsenhor Érico Ferrari, nosso grande amigo, poucos meses depois elevado à condição de bispo da diocese de Santa Maria.
William foi meu amigo, mas como era um pouco mais velho, não participava da nossa "panelinha" de conversas na esquina, junto com Délbio, Silas, Cilon, Jorge, Tito Flávio e Betinho.
Tínhamos um vizinho alto, magérrimo, telegrafista da Viação Férrea do RS, de nome Orlando. Casado com dona Nídia. Moravam na rua Senador Cassiano, paralela à Silva Jardim. O pátio nosso e deles eram lindeiros na parte posterior e as famílias eram tão amigas que existia um portão que comunicava os dois pátios. Seu Orlando era asmático e muitas vezes lembro de meu pai, que era enfermeiro, atravessar o portão correndo para socorrer e debelar com injeção de aminofilina (usada à época) a crise de falta de ar do vizinho. Lembro que ele chegou a fazer um implante de placenta na coxa, indicado como novidade para combater a asma, o que me causou grande espanto. Seu Orlando e dona Nidia, ambos falecidos, tinham quatro filhos : Orlane (falecida em Florianópolis, formada em Letras), "Tida" (médica ginecologista, vive em P. Alegre), "Deco" (funcionário público estadual em Santa Maria) e a Nildinha (funcionária estadual da FASE, ex-FEBEM, em S. Maria).
Dona Nídia tinha um carinho especial por mim e foi uma das pessoas mais bondosas que conheci em minha vida. Todos os parentes dela e do marido que moravam em outras cidades, principalmente em Dilermando de Aguiar, hospedavam-se em sua casa, onde recebiam dedicado atendimento. Ela trabalhava incessantemente para atender a todos, lavando roupas em casa, fazendo comidas gostosas e doces que faziam a alegria da gurizada. Nas festas de aniversário ela fazia uma espécie de bolinho de massa recheado de guizado bem temperado e guardava numa bacia esmaltada coberta por pano de prato alvo e úmido. Quando restava metade da bacia ela não deixava mais ninguém pegar e dizia : "estes são para o James porque ele adora e faço para ele". Ela chamava esses bolinhos de "bombinhas". A última vez que vi dona Nídia foi num apartamento do Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, onde ela estava internada há três meses. Ela exultou de alegria com minha visita. Fiquei de mãos com ela e com aquele sorriso bondoso, de quem aceita a doença e a morte com naturalidade, ela me disse : "Agora nunca mais poderei fazer aquelas tuas bombinhas..."
Délbio Vieira era o meu melhor amigo de adolescência e morava na rua Dutra Vila. Filho adotivo de Crescêncio Vieira, barbeiro conhecido na cidade, estabelecido no famoso Salão Lord, na então chamada "Primeira Quadra" da rua Dr. Bozano, hoje "Calçadão". Já idoso e reformado como coronel-bombeiro da Brigada Militar, Délbio veio a saber da existência de seu pai verdadeiro, que era o comerciante Alberi Uglione, um dos sócios-proprietários da UGLIONE AUTOMÓVEIS, célebre revenda dos automóveis Chevrolet. Por estranha coincidência, Alberi era meu padrinho de batismo. Era muito amigo e companheiro de caçada de meu pai. Depois, por estas separações que a vida impõe, as famílias se afastaram e eu cresci como se não tivesse padrinho. Jamais ganhei um só presente de Natal, de Páscoa ou de aniversário de meu padrinho Alberi, já falecido. Por isso, quando meus filhos nasceram tomei o cuidado de convidar para padrinhos apenas parentes (primos e irmãos) para que eles não ficassem com este vácuo que sinto e do qual me ressinto até hoje. Poderia ignorar isso, sonegar esta lembrança, mas nestas minhas memórias pretendo ser verdadeiro. Se as coisas aconteceram assim, porque escondê-las ?
Quanto às "bombinhas" da dona Nidia, ela tinha razão.
Nunca mais as comi.

*************************
AUTOR : James Pizarro

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O PARAÍSO EXISTE !

Quando cheguei em Canasvieiras, SC, no início de março/2008 ainda havia um monumental número de turistas argentinos que, na alta temporada (janeiro/fevereiro) chegam a 100.000, segundo me asseguram os funcionários das agências de turismo e os nativos da ilha. A impressão que eu tinha é que estávamos como turistas numa cidade argentina...ficávamos felizes quando se ouvia alguém falando português. Agora os turistas castelhanos continuam a aparecer, mas são excursões de fim-de-semana, sobretudo de pessoas da chamada "terceira idade", comportados, sileciosos, educados. Um adesivo colado nos carros dos "manezinhos" (habitantes nativos da ilha de Florianópolis) fala por si do sentimento de invasão que eles sentem diante da enxurrada de alienígenas em seu paraíso : "Obrigado por gostarem de Santa Catarina, mas não esqueçam de ir embora".
Quando li este adesivo pela primeira vez, me considerei ofendido. Achei que era uma falta de educação para com os turistas. Mas como decidi fixar residência aqui, e como estava bastante irritado com o excesso de população, a agitação noturna, a gritaria nos restaurantes, as filas, o trânsito, etc...agora consigo entender toda o sentimento expresso naquele adesivo. Nos últimos dias, eu e minha mulher temos caminhando por quase duas horas na praia, em ambos os sentidos...ora indo em direção à Jurere, ora rumando para Ingleses...e sem encontrar viva alma no caminho, a não ser os pescadores, alguns ciclistas e os cachorros. A sensação de paz que a gente sente sabendo que se tem aquela imensa enseada - adornada pela beleza ímpar da Ilha do Francês e pelo trapiche dos pescadores na caminhada para a praia dos Ingleses - inteiramente à nossa disposição é algo indescritível. Enfim, um pedaço do Oceano Atlântico como nossa propriedade ! De certa forma, comecei a ficar egoísta ao entender e sentir o significado real daquele adesivo...uma espécie de sentimento de posse diante desse pedaço de paraíso.
Nos guias turísticos e nas revistas especializadas de turismo está escrito que a ilha tem 44 praias. Aprendi com os pescadores e confirmei depois nos levantamentos de satélites e publicações de História e de Geografia sobre a ilha, que a mesma tem mais de 100 praias, algumas inóspitas e agrestes, outras completamente desabitadas, outras ainda com o acesso só permitido por barco. Também aprendi que a ilha de Florianópolis tem 54 quilômetros de comprimento e uma largura média de 22 quilômetros.
Durante a noite, desta época (maio) até novembro, se consegue dormir sem ouvir um só ruído durante a noite. Sonos reparadores realmente. Todos se cumprimentam nas ruas. Os carros param quando o pedestre está na rua, o que jamais pensei ver no Brasil. Todas as ruas tem placas com o CEP da mesma. Os cambistas atuam livremente nas esquinas, gritando "câmbio" para os passantes que eles julgam ser uruguaios ou argentinos. Jogam cartas livremente nas calçadas, em cima de pequenos caixotes de madeira, cobertos de panos-de-prato fazendo o papel de pano verde. Existe um grande "shopping" de hortifrutigranjeiros, com produtos baratíssimos, e com o sugestivo título de "Direto do Campo". O maior supermercado da praia, chamado "Imperatriz", das 17:00 às 22:00 horas, serve farto e gostosíssimo café colonial. Os nomes das lojas, condomínios e edifícios se referem ao mar e praia. Assim, temos : Casa Golfinho, Sorveteria das Dunas, Shopping Beira-mar,Companhia da Pesca, etc... A parte central da cidade é conhecida como "centrão" e as praias são consideradas bairros, cujo responsável é um intendente. A zona central de cada praia, isto é, de cada bairro, é chamada de "centrinho". A praia de Canasvieiras está distante 19 kms do centrão de Florianópolis. Todas as praias são interligadas entre si e ligadas ao centro por um sistema de "terminais". Exemplo : TICAN (Terminal de Canasvieras) está ligado por ônibus diretos e semidiretos com o TICEN (Terminal Central),situado no centro da cidade, em frente ao fantástico e histórico Mercado Público. O usuário paga apenas uma só passagem até o terminal da sua praia e,de lá, toma ouitro ônibus direto ao centro sem pagar uma segunda passagem. O preço da passagem é de 2,90 reais. Se quiser comprar as passagens antecipadas para todo o mês (na quantidade que quiser), pode fazê-lo no TICEN, a um preço menor. As passagens são todas informatizadas num único cartão magnético que o usuário passa no microcomputador colocado à frente do cobrador de cada ônibus. Se quiser andar com mais conforto e parar no lugar que indicar para o motorista, existem ônibus com ar condicionado, música e TV, chamados de "amarelinhos", ao preço de 5,00 reais. Os ônibus aceitam que os usuários levem malas, sacolas, bagagens, etc...Os oito primeiros bancos do ônibus são destinados a idosos, que não pagam passagem e dispõem de uma carteira de cor vermelha, onde está impressa a sua fotografia (a carteira é fornecida e a foto tirada no TICEN, gratuitamente). A primeira poltrona do ônibus, mais ampla, é destinada a idosos obesos.
Isto é, a primeira poltrona é minha !
**********************************
AUTOR : James Pizarro

ZÉ DA BANDA E SUA ESQUINA DEMOCRÁTICA

Todas as vezes que vim à Canasvieiras e mesmo agora, que aqui me radiquei , sempre estive hospedado nas vizinhanças do cruzamento da rua Madre Maria Villac e rua Antônio Prudente de Morais. É uma esquina "sui-generis", que tratei de batizar de "Esquina Democrática", a exemplo da congênere existente na capital gaúcha.
Ali existem duas sorveterias. Várias lojinhas de roupas. Existe a "Pousada Central". Nas proximidades, a Academia Apollo. Uma casa de câmbio. Uma loja superpopular, que vende de tudo, de propriedade do "Seu" Luiz, simpático gaúcho de numerosa prole. A maior revistaria de Canasvieiras também está ali, de propriedade do simpático carioca Juarez, advogado e torcedor fanático do Fluminense. Ali se reunem ou passam as mais diversas pessoas, pedindo informações ou esticando o tempo para conversas, troca de noticias e piadas. "Foguinho" é um artesão de Porto Alegre, já radicado em Canasvieiras há 23 anos. Tem uma filha pedagoga, noiva de um médico de Santa Maria. "Baiano", outro frequentador do local, sempre com sua bicicleta, é prestador de serviços gerais. O popular santa-mariense "Bigode", que possuía um estabelecimento comercial em frente ao Regimento Mallet,em Santa Maria, agora está estabelecido aqui com um restaurante. Severino, pernambucano gozador, é dono de uma loja de informática. O uruguaio, casado com uma gaúcha de Livramento, é frequentador assíduo. Um gaúcho de Erechim trabalha com câmbio. Um argentino tem uma lan house. O "Seu" Sérgio, paulistano que tinha negócios na CEASA de SP, atraído pela sua filha e genro que aqui moram, transferiu-se para cá, onde trabalha com transporte de passageiros para aeroporto e rodoviária. São dezenas de pessoas.
Mas a figura mais folclórica do local, onde é encontrado das 9h até às 18h, é o "Zé da Banda", provavelmente uma das pessoas mais populares de Canasvieiras. Paranaense natural de Jandaia,afrodescendente, músico, radicado em SC há muitos anos, era o regente da banda escolar de um colégio estadual de Florianópolis. Promoveu o primeiro concurso de bandas marciais em SC. Trabalha o ano inteiro alugando seus carros, transportando turistas para o aeroporto e rodoviária ou para passeios em toda a ilha,fazendo câmbio de dólares, euros,pesos. Presta informações a todos com notável simpatia. Indica apartamentos para aluguel. É conhecido de praticamente todos os turistas argentinos.No mês de janeiro de 2008 sofreu uma tentativa de assalto em plena esquina, com milhares de pessoas na rua. Reagiu ao meliante. Foi atingido por vários disparos, escapando como por milagre. Recebeu a solidariedade de todos. "Zé da Banda" foi a pessoa com a qual travei conhecimento imediato tão logo aqui cheguei. Inclusive o primeiro apartamento que aluguei, de propriedade da Dona Chica, gaúcha de Livramento, foi indicação dele. É uma pessoa alegre,educada, extremamente honesta, caracterizada por um sentimento raro nos dias que correm : a solidariedade. Faz questão de ajudar a todos. E tem a simpatia de todas as crianças que passam pelo local. Usa um bordão para cumprimentar todos que passam ou chegam : "Como vai, sarado ?"
Claro que, como gaúcho, sou gozado o dia inteiro por aqui, sobretudo com lembranças referentes à Pelotas e à masculinidade dos pampas, gozado sobretudo quando o Colorado perde algum jogo.
Mas aceito tudo com a vontade verdadeira de entender o povo daqui, de me integrar a esta comunidade que escolhi para viver. Talvez pelo comportamento soberbo ou boçal de algum gaúcho que por aqui passou, alguns sejam preconceituosos. E tenham a imagem distorcida de que todo gaúcho queira se mostrar superior. Ou que venha lograr. Ou que venha fugido do RS por um passado não muito limpo. Já recebi algumas mensagens subliminares a respeito disso.
Mas a tudo ouço e procuro entender.
Eu amo Florianópolis e sempre fui fascinado pelas belezas naturais desta ilha mágica. Agora estou na fase de namoro com seu povo.
Pretendo ser um manezinho adotivo.
Estou fazendo força para ser um deles.
****************************
AUTOR : James Pizarro

UM CÃO QUE DIZ DE PERTO AO MEU CORAÇÃO

Fico irritado quando falam em cão "vadio". Desses que existem às dezenas pela praia e ruas de Canasvieiras. Vadio é o dono irresponsável que o deixou na rua. Que não o esterilizou. Que jogou o filhote ao abandono.
O nome técnico é cão "errante". Que erra, isto é, que vagueia sem rumo. Sem paradeiro. Sem norte. Destino. Dono. Afeto. Que luta pela sobrevivência no inverno, na baixa temporada. Pois na ausência de turistas, os restos de comida se tornam escassos.
À noite, na época das baixas temperaturas, eles se recolhem sob as marquises. Onde são acolhidos pelos mendigos. Que também tremelicam. Perdem peso. Adquirem sua bronquite. Pneumonia. Entranhas cheias de vermes. Pelos com ectoparasitas.
Como moro a trinta metros do mar e caminho diariamente na praia, levo restos de comida para os cães. Para um deles em especial.
Parece um lobo. Lindo animal. A miséria não lhe tirou a dignidade. O porte altaneiro.
Ele espera a mim e minha mulher. Levamos a comida em sacos plásticos. Depois que ele come - e também outros comem - recolhemos os sacos e colocamos nas lixeiras. Os outros cães se vão.Passam. Cumprindo seu destino de passantes.
Mas este, em particular, costuma caminhar conosco. Faz festa. Ele não possui músculos da mímica, como os homens. Logo, não podem fingir.
Então ele sorri como pode.... sacode a cauda.
Parece um lobo. Pelo lindo, embora sujo, tem meu cão predileto.
Eu não posso trazê-lo para casa. Adotá-lo. Como seria meu desejo. Pois moro num apartamento.
Mas ele - nos enigmas tortuosos lá do seu genoma - "sente" que temos uma ligação de afeto.
Cada manhã que piso na areia vislumbro a praia em toda a sua extensão, não sem certa ansiedade. E eis que lá vem ele, como surgido do nada.
Mas já experiente na vida, sei que um dia ele não virá. Ele poderá ter partido para sua definitiva viagem espacial, rumo ao Grande Deus dos Cachorros.
E ninguém mais, a não ser eu, sentirá falta dele.
Mas também poderei eu partir antes dele. Quantos sentirão falta de mim ?
********************************************
Autor : James Pizarro

UM SONHO QUE APODRECEU

Era início da década de 60. E ele participava de todas as palestras sobre socialismo. Ouvia tudo sobre socialismo. Sempre na primeira fila, absorvia tudo.
Estava presente nas mostras de filmes alternativos sobre política.
Ajudou a carregar a mala do Padre Alípio, padre nordestino " subversivo", quando ele esteve em Santa Maria,RS, para fazer palestras sobre as "Ligas Camponesas" (uma espécie de "Movimento Sem Terra" dos anos 60, mais organizado e menos parasitário, pois eles continuavam trabalhando duro na terra).
Não perdeu um só filme da Semana do Filme Polonês, no famoso Cine-Teatro Imperial, rua Dr. Bozano, hoje transformado em loja de calçados.
Encomendava livros de teoria política para o Seu Bráulio, na Livraria do Globo.
Sabia todos os detalhes da revolução russa de 1917.
Foi quando casou e teve de trabalhar de verdade, em mais de um emprego. Enquanto seus amigos continuavam teorizando nos bares. Alguns ainda continuam nos bares. Cirróticos e solteirões.
Veio a revolução de março de 64. E os seus grandes líderes políticos fugiram para o exterior.
Ele ficou estático quando viu ruir a URSS. A decadência do sonho igualitário.
Com espanto, custou a se dar conta que o ciclo do comunismo - iniciado em 1917 - tinha terminado, quase cem anos depois, com a queda do muro de Berlim.
Nunca mais viu filmes políticos.
Nunca mais viu seus ex-amigos, hoje todos figuras importantes da República Lulista.
Quase todos ricos. Empresários. Assessores. Deputados. Ministros.
Alguns envolvidos em escândalos financeiros que,na mocidade, tanto combatiam.
Hoje, ele gosta muito de ouvir antigas músicas no seu computador.
Tarde chuvosa de sexta-feira outonal. Sombria. Em pé, à janela, olhando para as nuvens negras.
Um dos seus netos perguntou que música era aquela que tocava. Uma espécie de marcha solene. Com coral de centenas de vozes.
Ele respondeu secamente, disfarçando a voz embargada :
- É a Internacional Socialista.
O neto se contentou com a resposta. E saiu da sala.
Não viu as lágrimas que escorriam pelo rosto alquebrado do avô.
************************************
AUTOR : James Pizarro

GRUPO PORTAL DO CHORO, FLORIANÓPOLIS

José Carlos Mello foi meu aluno de Biologia no cursinho pré-vestibular MASTER, em Santa Maria, RS. Cursou Medicina na UFSM e era membro do conjunto musical Charmers, que animava as famosas reuniões dançantes nos clubes Comercial e Caixeiral.
Depois de 30 anos, reencontro o José Carlos (que tinha o carinhoso apelido de "Cabeção") como médico cardiologista da Clínica Continental, no bairro Barreiros, em São José, vizinha cidade de Florianópolis.
Conversamos muito e ele me contou que jamais abandonou a música e que, aos fins-de-semana, toca violão profissionalmente num conjunto de choro, chamado GRUPO PORTAL DO CHORO. É um grupo formado por oito elementos : violão 7 cordas, bandolim, pandeiro, flauta, clarinete, cavaquinho e percussão. Nos vocais, duas vozes masculinas e duas femininas, sendo que dois instrumentistas também são cantores fechando as quatro vozes.
João Carlos Mello me disse que o repertório é composto de choros, bossa nova, samba de raíz, pagodes selecionados e músicas próprias. Além dele, integram o conjunto os músicos Tânia, Rui, Claudio, Laércio, João Paulo, Leandro e Nane.
Um exemplo raro de alguém que consegue conciliar a atividade profissional com a arte !
*******************************
AUTOR : James Pizarro

LULA E O PONTO "G"

Fui um operário da Biologia durante mais de quatro décadas. Dava aulas na UFSM, RS. E também em cursinhos pré-vestibulares. Nos arroubos de retórica, me permitia um ou outro palavrão. Que estava sempre ligado ao conteúdo da matéria exposta. O que me deixou com a fama de "desbocado", título que pelo jeito levarei para o túmulo muito embora há mais de dez anos não diga um palavrão.
Depois que regressou dos Estados Unidos recentemente, ouvi o presidente Lula dizer (falando sobre empreendedorismo para empresários) : "Vocês precisam encontrar o Ponto G da criatividade". Como comentaria dias depois o articulista Tutty Vasques : "Se não meter o dedão lá, o negócio não funciona mesmo".
Desliguei a TV e fui olhar o céu e o mar de Canasvieiras.
Em matéria de abuso oral fiquei desatualizado. E definitivamente superado.
Quem diria...
***********************
AUTOR : James Pizarro

PEIXARIA CALOTEIRA

A cidade de Florianópolis gira ao redor de alguns pontos primaciais : Praça XV, Catedral, Calçadão e - sobretudo - o famoso Mercado Públcio Municipal, com suas 124 bancas.

Um público estimado em 70.000 pessoas passa pelas bancas do Mercado Público todo santo dia. A imprensa noticia que 45 % das 124 bancas estão com o aluguel atrasado. O que causou mais impacto na população foi esta denúncia feita pelo Diário Catarinense :

"Uma das maiores peixarias não paga a locação HÁ 15 ANOS (o grifo é meu). Deve R$ 40 mil em impostos à prefeitura municipal. Mas está lá. E só vende à vista."

Pergunta-se : o que faz o Ministério Público ? A Secretaria da Fazenda ? A Receita Federal ? A própria Prefeitura Municipal ?

Bota peixaria poderosa nisso...
****************************************
AUTOR : James Pizarro

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A RESSURREIÇÃO DE M.

Vou chamá-los de F (marido) e N (esposa), meus amigos há muitos anos. Companheiros nos bons e maus momentos. São pais de M, filho único, hoje casado e pai da graciosa C, filha de 9 anos. Que fazem o encanto da velhice de F e N.
M andou envolvido com amizades e situações perigosas. E se transformou em dependente químico. Teve duas internações em comunidades terapêuticas, as populares "fazendas".
F e N jamais desistiram de M. Enquanto o filho esteve internado, eles também frequentavam religiosamente os grupos de mútua ajuda destinados aos pais de dependentes químicos. Absorveram inteligentemente os chamados "12 Passos" necessários à recuperação.
No mês de setembro/2010, no dia do aniversário do pai F, o filho M (abstinente há muitos anos, trabalhando e estudando) enviou um e-mail ao pai. O pai F, emocionado e orgulhoso, me passou às mãos uma cópia do e-mail.
REPRODUZO ABAIXO o e-mail do agradecido filho M. Para que outros pais e mães em situação semelhante jamais percam as esperanças e a fé em Deus. Porque a recuperação é difícil. Mas é algo possível e alcançável. Desde que toda a família se engaje na luta. A luta desta família para salvar seu filho é um modelo de perseverança e inabalável fé em Deus. Fui testemunha e irmão de caminhada neste milagre de ressurreição. (JAMES PIZARRO).

*******************************************

"Meu grande pai : antes disso és meu melhor amigo, pessoa em quem confio cegamente. Venho por estas palavras te parabenizar e te dizer o quanto tu és importante na minha vida. Não te falo pessoalmente porque não levo jeito. Quero agradecer pela educação que me deste, pela estrutura familiar em que fui criado e que serve de modelo para criar minha filha. Jamais esquecerei do que fizeste por mim na fase mais difícil de minha vida, quando estiveste sempre ao meu lado junto com minha preciosa mãe. Quando moramos com vocês, eu e minha mulher grávida, nada foi fácil. Lembra quando foram me buscar da cidade de I ? Lembra das inúmeras situações antes e depois desta ? E agora estamos todos muito felizes. É passado. Mas a gente jamais esquece. Acredito que não seria o momento para escrever sobre isso, pois queria apenas dar felicitações pelo teu aniversário. Mas não quis perder a oportunidade de escrever o quanto vocês são importantes na minha vida. Quero que saibas, meu pai, que tu sempre foste um exemplo de pai para mim, que agradeço todos os dias a família que Deus escolheu para mim. Cada dia que passa, minha filha cresce e vejo o quão importante é ter uma família de verdade. E graças a Deus eu tenho uma ! Nunca ouvi falarem nada de ti, meu pai. Ao contrário, sempre foste citado como exemplo de ter todas as qualidades de uma pessoa íntegra, de boa índole. Pois de nada adianta se a gente não tem o exemplo em casa. Nessa minha nova fase de vida estou aprendendo realmente o que vale e o que não vale a pena.Pois existem coisas nas quais a gente só acredita quando vive, pois nessa correria em que vivemos hoje muitas vezes só apontamos os defeitos e esquecemos de salientar as qualidades de cada um. Mas nesse momento, meu pai, eu posso bater no peito e dizer que sou um homem feito, que não me preocupo com o que os outros pensam ou falam de mim, pois eu tenho pessoas ao meu redor que me amam pelo que eu sou...e não pelo que eu poderei vir a ter. Ainda sou jovem mas já passei por muitas dificuldades comigo mesmo. Não foi fácil ter responsabilidades e aprender a viver um dia de cada vez. Meu pai : quero que saibas que hoje sou um homem de responsabilidade e muito diferente daquele ser inútil que eu fui um dia, pois vivo para minha família. Devo muito a vocês dessa vida maravilhosa que hoje tenho. Quero, pai, por estas palavras te deixar um imenso abraço com todo amor que um filho pode ter. Fique com Deus e que tenhas muitos e muitos anos de vida. Amo muito vocês ! Com muito orgulho dos pais que tenho, aceitem um abração.
(assinado) M "

sábado, 2 de outubro de 2010

SEVERINO, UM VENCEDOR

Severino de Oliveira Marinho, nascido em Recife, PE, foi uma das primeiras pessoas com as quais travei conhecimento em Canasvieiras. Simpático. Gozador. Piadista. Um homem de bem com a vida. Que adora tirar sarro com todo mundo, sobretudo com gaúchos.
Ele veio morar na praia de Canasvieiras em 1992. Deixou sua esposa e filhos estabelecidos com uma mini-mercearia. Trabalhou duro como garçon. Juntou alguma economia. E a agregou ao dinheiro da venda da mercearia. Pode então trazer a esposa com os filhos. Alugaram um quiosque na praia para fazer comércio. E passou a vender sorvete. Salada de frutas. Coco verde. Fiscais da Prefeitura alegaram local impróprio. Fizeram-no abandonar o quiosque.
E Severino - mais conhecido em Canasvieiras por Marinho - sem local para o trabalho e sem dinheiro, teve de se mudar para outro local. Que era um mero projeto de vila. Foi se juntar a dezenas de outras famílias que se encontravam no mesmo local em idêntica situação de vida.
A favela ali formada não era um aglomerado de vagabundos. Eram dezenas de trabalhadores. Garçons. Copeiros. Cozinheiros. Garis. Catadores de material reciclável. Pedreiros. Carpinteiros. Auxiliares de serviços gerais.
E a liderança natural desse recifense chamado Severino aflorou em toda a intensidade. Passou a fazer reuniões. Arregimentou aliados. Ocupou espaços na rádio. Jornais. TV. Sofreu todo tipo de pressão. Ele e seus liderados eram tratados como "os sem terra do Balneário de Canasvieiras". Além da incompreensão por parte da maioria dos políticos da época, sofriam todo tipo de pressão e menosprezo de muitos comerciantes, políticos e pessoas importantes do balneário. Viam naqueles trabalhadores uma ameaça à sociedade. Uma mancha. Um borrão na paisagem.
Severino insistiu. Persistiu. Jamais desistiu. E levou a luta adiante pelos anos seguintes.
Quem mora nessa praia há muito tempo, lembra-se das 16 famílias que começaram esta luta. Lembram do outrora chamado "Loteamento Pinheirinho". Lembram de Severino.
Finalmente, por permuta, estes homens ganharam uma área na Cachoeira do Bom Jesus, bairro vizinho a Canasvieiras. Uma área com 7 quadras. terrenos de 120 metros quadrados. E mais uma área verde de 8 mil metros quadrados.
Operários construtores de suas próprias casas, lá se estabeleceram. E Severino, escondendo a emoção, sempre lembra a "Festa da Cumieira", nos primeiros meses de 1996, hábito comum no setor da construção civil. A segunda parte do conjunto habitacional foi concluída também com muita luta em 1999. As novas unidades habitacionais abrigaram as famílias da famosa enchente de 1995. E também aos que moravam em condições precárias na faixa de domínio da BR-282.
Hoje existem creches. Centro educacional.Área de lazer. Mais de 300 famílias lá estabelecidas. Na hoje chamada, VILA UNIÃO.
Enquanto este nordestino, a quem hoje posso chamar já de meu amigo, me contava estas coisas todas...eu imaginava a luta de todos os trabalhadores brasileiros marginalizados. Sem casa. Sem emprego fixo. O esforço dos desvalidos. Da divisão infame existente no Brasil. Entre aqueles que têm tudo. E os que nada têm. Entre os que têm sede. E os que são donos da água. Os que têm fome. E os que são donos dos grandes supermercados. Os que têm frio. E aqueles que moram nas coberturas com calefação central. Enquanto Severino falava eu ficava a me lembrar do também nordestino Ariano Suassuna. Da sua grande obra "Vida e Morte Severina".
Meu amigo Severino, nordestino radicado nessa praia catarinense, nesse pedaço de paraíso que nem mesmo os nativos daqui sabem dar o devido valor, é feliz. Pegou as rédeas de sua vida na mão. E generoso, viril, tomou as rédeas nas mãos da vida de dezenas de favelados. E conduziu este comboio de carne, sangue, suor e lágrima rumo à vitória da VILA UNIÃO.
Hoje estabelecido no centro de Canasvieiras com uma moderna loja de equipamentos eletrônicos e de computação, me servindo um cafezinho, Severino lembra os anos de luta.
É um homem que poderia ter tirado dividendos políticos de sua luta. Ter tentado a politica. Ou ter virado um prepotente, um vaidoso, um boçal por ter sido um vencedor.
No entanto, Severino é modesto. Humilde. Sorridente. Gentil.Trabalhador.
Porque ele tem o carater dos generosos.
Daqueles que levaram uma vida severa...uma vida severina. E nem por isso se deixaram abater.
Severino olha pra frente. E pro alto.
E eu, como seu amigo, recém aportado aqui nesta praia maravilhosa, desejo que Deus dê a ele e aos seus familiares o que ele merece :
Glória alta ! Vida longa ! E compreensão entre os homens !
**************************
AUTOR : James Pizarro

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ACORDA PARA VIDA REAL, NEYMAR !

Caro Neymar :

Tu ganhas num mês o que a maioria da população brasileira não ganha durante toda uma vida. Tens assistência médica, odontológica, jurídica, psicológica. Tens massagista, nutricionista, fisioterapeuta. Tens advogados e familiares para cuidar do teu dinheiro e contratos. És cobiçado por grandes clubes de todo o mundo e, se vendido, ganharás milhões de dólares de participação na venda. Tens divulgação gratuita pela midia como cientista de renome jamais terá. Viajas de avião e te hospedas nos melhores hotéis do mundo gratuitamente.

Ofereces em troca brincadeiras de mau gosto pelo Twitter. Deboches em campo contra os adversários. Demonstrações de onipotência pelo Orkut e pela Web Cam. Ofensas e brincadeiras de mau gosto contra os adversários. Atrasos nos treinos. Indisciplina de toda ordem. Agressões verbais públicas contra teu técnico.

Foste multado em dinheiro. Teu técnico, que sempre te protegeu, foi demitido. Ganhaste a antipatia dos teus colegas de equipe. Parte da crônica esportiva já te olha com desconfiança. O preço de venda do teu passe para clubes do exterior já ficou depreciado. O Santos saiu perdendo com isso, pois és patrimônio do clube. O técnico da Seleção Brasileira, Mano Menezes, já disse claramente que indisciplinados não terão vez e não te convocou. E o Tribunal de Justiça Desportiva ainda vai te julgar. Provavelmente vais pegar vários jogos de suspensão, prejudicando tua ficha profissional e o clube ao qual tu serves.

Se queres ser tratado com respeito e como adulto, não podes te comportar como criança mimada. Alguém precisa te ensinar limites, que pareces desconhecer. Corres o risco de destruir teu futuro. Não podes botar fora com a cabeça o dinheiro que ganhas com os pés. Convenhamos que, com 18 anos, já não és mais uma criancinha. És um homem. Trata de te comportar como tal. As pessoas estão te perdoando por enquanto. Mas não te perdoarão sempre.

Portanto, trata de acordar para a vida real !

****************************
AUTOR : James Pizarro

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"JOVEM GUARDA", UMA DOCE LEMBRANÇA

"O futuro pertence à jovem guarda porque a velha está ultrapassada".
Os ligados à política e à História devem conhecer a frase. Que é de autoria de Lenin.
Baseada na expressão "Jovem Guarda" é que a TV RECORD, no ano de 1965, lançou um programa de auditório que iria revolucionar e influenciar uma geração inteira. A minha geração.
Nas célebres reuniões dançantes do Clube Comercial, de Santa Maria, a gente dançava de rosto colado ao som das baladas românticas do "rei" Roberto Carlos.
Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa comandaram o programa. E se encarregavam de, além de cantar, apresentar todos os artistas que comungavam com eles o mesmo ideal.
O programa teve a duração de três anos (terminou em 1968) e lançou dezenas e dezenas de cantores. Devem ser lembrados (além de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa) os seguintes cantores : Celly Campelo, Vanusa, Eduardo Araújo, Silvinha, Martinha, Arthurzinho, Ronnie Cord, Ronnie Von, Paulo Sérgio, Wanderley Cardoso,Bobby di Carlo, Jerry Adriani, Rosemary, Leno e Lilian, Demétrius, Os Vips, Waldirene, Diana, Sérgio Reis, Sérgio Murilo, Trio Esperança, Ed Wilson e Evaldo Braga.
Faziam parte do movimento as bandas : Os Incríveis, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys e The Fevers.
Não existia violência. Drogas. Rachas. Gangs. E o máximo que ocorria era se tomar uma ou duas doses de vodka com Cirillynha, um refriferante famoso feito na cidade mesmo.
Rostos colados. Corações disparando. Dançar abraçadinho. Tudo às escondidas. Porque mães vigilantes estavam sentadas às mesas cuidando todos os movimentos. Dezenas de namoros começaram ali. Ao som da "Jovem Guarda".
Muitos dos cantores já morreram. Outros cairam no ostracismo. Outros sumiram sem dar notícia.
Roberto Carlos - num extraordinário exemplo de vitalidade e talento - continua sendo o "rei". Não mais agora da minha geração. Mas de todos os românticos do país.
Assim também, muitos casamentos acabaram. Sonhos. Carreiras. Vidas. Amores.
Muita coisa acabou.
Teimosamente sigo lembrando duma época em que o amor nascia ao som de uma canção. O romantismo existia. E o amor perseverava. Através de poemas. Cartas. Telefonemas. Doce espera nas portas dos colégios.
Hoje tudo mudou.
As pessoas fazem amor pelo computador. Chats. E-mails. Messenger. Web cam.
Quando se ama através de uma máquina é sinal que algo está errado.
Ou então eu - que já fui da "jovem guarda" - estou ultrapassado. E não me dei conta que há anos já faço parte da "velha guarda".
É bem possível.
E melancólico.
**************************
AUTOR : James Pizarro

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ADEUS, MARCELO !

O único irmão homem da Vera Maria, minha mulher, reside em Rio do Sul (SC) onde, há 40 anos, exerce a profissão de veterinário e tem participação comunitária grande. Lá teve seus filhos com a esposa Magda : duas mulheres e um homem, nossos 3 sobrinhos, todos casados e lá trabalhando.
Quis a fatalidade que Marcelo, nosso querido sobrinho, filho de Nelson e Magda, morresse no domingo último (19/setembro) - depois de uma pneumonia seguida de falência múltipla dos órgãos, aos 31 anos de idade, deixando 2 filhos pequenos. Tudo isso ocorrido de forma fulminante em apenas 3 dias, o que deixou todos os parentes e amigos abalados, uma vez que Marcelo era um rapaz alegre, pacifico e pacificador, com vasto circulo de amizades, principalmente na comunidade luterana de Rio do Sul, na qual atuava fazendo parte da juventude. A família foi consolada por um número incontável de pessoas da cidade, de jovens luteranos e recebeu assistência espiritual constante dos dois pastores luteranos. Marcelo foi velado no necrotério situado atrás da Igreja Luterana e foi sepultado no cemitério luterano situado também no pátio da igreja. Imediatamente eu e a Vera embarcamos para Rio do Sul, depois de esperarmos demais parentes no aeroporto de Florianópolis. Minha filha Nara e meu genro Carlos vieram de Panambi, RS; minha filha Cristina (Piti) veio de Minas Gerais; Carmem (irmã da Vera Maria), Luiz Osvaldo (marido) e Carlinhos (filho) vieram de Porto Alegre. Outros parentes, por parte de Magda vieram de Brasília e muitos amigos da família vieram de várias cidades de SC e RS.
Meu cunhado Nelson e esposa Magda, pais de Marcelo, se encontram por demais abalados, inconsoláveis, necessitando de orações de todos nós, razão pela qual redigi esta postagem. Humildemente rogo a ti - seja qual for teu credo - que reze ao Senhor Jesus Cristo, implorando sua misericórdia pela alma de Marcelo e pela saúde de sua esposa Sirlei, seus pais,filhos,irmãos e demais parentes.
Fraternalmente, agradecemos !

James e Vera Maria

Florianópolis, 21 de setembro de 2010.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

TARZAN MORREU

Tinha eu uns 9 ou 10 anos. Nem para os escoteiros eu havia entrado.
E já lia sofregamente. Livros de aventuras.

Devorei toda a coleção do Tarzan publicada no Brasil.
Histórias fantásticas escritas por Edgar Rice Burroughs.
Livros de papel jornal. Capa colorida e ilustrada.
Todos publicados pela Editora Nacional. Eram livros já antigos, do tempo de menino do meu pai.

Lembro de alguns títulos. "Tarzan, o Rei da Selva".
"Tarzan e as Jóias de Opar". "Tarzan e o Império Perdido".
"Tarzan, o Magnífico". "Tarzan e a Legião Estrangeira".

Não perdia também nenhum filme de Tarzan.
Todos exibidos aos domingos, no matinê, das 13,15h no Cine-Teatro Imperial.
Chamado pela gurizada de "sessão da uma e quinze".
Nos filmes mais antigos Tarzan era representado pelo ator Johnny Weissmuller. Mas o Tarzan mais famoso da minha infância era representado pelo ator Lex Barker.

Eu ficava emocionado com Tarzan. Com a macaca Chita. Com Jane, a namorada de Tarzan. Com as mil peripécias enfrentando os caçadores de animais.
Depois dos livros e dos filmes de Tarzan, vieram os "gibis" (histórias em quadrinhos) publicadas pela Editora EBAL. E os "comics" (tirinhas de jornal).

Até que os editores inventaram um filho para Tarzan.
E passaram a surgir os livros da série "Korak, o Filho de Tarzan".
Fiquei tão decepcionado que me recusei a ler.
Tarzan nunca poderia ter tido filhos.
Ou ter casado com Jane.
Foi uma traição à minha infância.

Nas sessões da madrugada, quando por acaso passa um velho filme de Tarzan, eu desligo a televisão. E vou prá cama.
Custo a dormir.
Porque fico resmungando uma certa mágoa.

*********************************
AUTOR : James Pizarro

ANTES QUE A NATUREZA MORRA - James Pizarro

Este é o primeiro artigo da série
"Antes que a História Morra", série escrita
por mim na revista digital da UFSM, RS, chamada
"Conexão UFSM" (14/08/2010), a convite do jornalista
Miltom Oliveira, webmaster da Rádio Universidade
Conferir no link : http://coralx.ufsm.br/radio/conexaoufsm/numero01/pizarro.html
*****************************************
ANTES QUE A NATUREZA MORRA

Entre as minhas dezenas de arquivos, encontro um recorte da extinta Folha da Manhã, de Porto Alegre, datado de 22 de agosto de 1978, contendo matéria com o seguinte título : "Há um ano, emissora fala em Ecologia". Reproduzo um trecho da matéria do jornal porto-alegrense : "O primeiro programa radiofônico do Brasil sobre Ecologia, comemora este mês um ano
de existência. ANTES QUE A NATUREZA MORRA é apresentado todos os sábados pela rádio da Universidade Federal de Santa Maria, sendo considerado pelo Ministério de Educação e Cultura e pela RADIOBRAS como o programa pioneiro no país no sentido de conscientizar ecologicamente o povo. O programa é produzido e apresentado pelo professor James Pizarro, docente do Departamento de Biologia da UFSM".

Registro que alguns colegas de rádio e da própria UFSM duvidavam que um programa deste tipo ficasse meio ano no ar. Pois ele ficou 26 anos no ar, ininterruptamente, sendo apresentado inclusive durante os meses de férias e durante os períodos de greve. Somente saiu do ar com a minha aposentadoria da UFSM.

Durante meus anos de serviço na UFSM e na rádio da instituição, sempre recebi apoio de todos os reitores. Sempre me permitiram usar o aparelho de telex instalado no gabinete da reitoria (era coisa moderna na época). Remexendo meus guardados, encontro cópia do telex datado de 12 de agosto de 1982, de número 0735, dirigido ao meu amigo pessoal Dr. Paulo Nogueira Neto, então titular da SEMA-Secretaria Especial do Meio Ambiente, órgão existente dentro do Ministério do Interior. O telex diz o seguinte : "Receba V. S. total apoio dos alunos da disciplina de Ecologia da UFSM e meu apoio pessoal, enquanto docente universitário, à carta enviada por V. S. ao Dr. Henrique Bergamin Filho, diretor do INPA-Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica. O público gaúcho é dotado de notável consciência ecológica e repudia experiências e estudos para a utilização de desfolhantes na Floresta Amazônica. Se tal se concretizar, coisa que espero não ocorra,o dedicado trabalho de V. S à testa da SEMA ficará totalmente desfigurado diante da opinião pública. Embora encravado no centro do Rio Grande do Sul, distante dos centros decisórios do país, este modesto professor universitário da área da Ecologia, tenta por todos os meios dar sua parcela de colaboração à causa do meio ambiente, certo de que o ecologismo é a única guerra santa deste final sombrio de século vinte".

Por três vezes, tempo depois, o Dr. Paulo Nogueira Neto me convidou para ir à Brasília para participar de mesas redondas e seminários, pois ele sempre foi admirador da minha proposta de rádio ecológico educativo. A criação das "Estações Ecológicas" é idéia dele, sendo que a primeira delas a ser criada, em homenagem ao movimento ecologista gaúcho, foi a Estação Ecológica do Taim. Numa época de verbas curtas na UFSM, com dificuldade para a aquisição das famosas fitas de rolo para a gravação do Antes que a Natureza Morra, me socorri do Dr. Paulo Nogueira Neto, tendo ele prontamente me atendido. Recebi em tempo recorde cerca de 500 fitas de rolo, marca BASF, de uma hora de duração, o que valia naquela época uma pequena fortuna.

OS MORROS DE SANTA MARIA VÃO DESLIZAR - James Pizarro

Este é o segundo artigo da série
"Antes que a História Morra", série escrita
por mim na revista digital da UFSM, RS, chamada
"Conexão UFSM" (14/09/2010), a convite do jornalista
Miltom Oliveira, webmaster da Rádio Universidade.
Confira no link : http://coralx.ufsm.br/radio/conexaoufsm/numero02/pizarro.html
**************************************************

OS MORROS DE SANTA MARIA VÃO DESLIZAR

A cidade de Santa Maria, RS, onde nasci e me criei, é cercada por lindas montanhas. Muitas com áreas de degradação e desmatamento, além de pedreiras que consegui paralisar na justiça quando estive vereador, em 1988/1992. E com o apoio da Rádio Universidade, através de entrevistas e denúncias.

Morro da Televisão, Morro do Cechella, Vila Bilibio, etc...têm ocupações irregulares que começaram naquele período, ao arrepio do código florestal e sob a complacência dos políticos. Dei dezenas de entrevistas e escrevi um longo artigo para o jornal "A Razão", que intitulei "A favelização de Santa Maria já começou". No artigo eu previa os deslizamentos, as mortes, etc... A cidade caiu de pau em cima de mim, enquanto colegas de docência da UFSM me chamavam de catastrófico. Outros me chamaram de histérico. Os colegas da Rádio sempre ficaram do meu lado.

Li dia desses nos jornais de Santa Maria que no Morro do Cechella já houve erosão e alguns pequenos deslizamentos, felizmente sem mortes (por enquanto).

Retorno ao tema por causa do desmoronamento e das mortes da Favela do Morro do Bumba, em Niterói, com dezenas de mortes e famílias inteiras soterradas.

Quem são os responsáveis pelo uso do solo em Santa Maria, a não ser a Prefeitura Municipal?

Existe uma espécie de plano diretor para as áreas de risco da cidade?

Essas áreas estão sendo monitoradas? Se positivo, por quem, quando e onde estão os relatórios do monitoramento?

Existem autoridades, secretários, vereadores ou políticos sob qualquer título que estimularam - principalmente em anos eleitorais - a ocupação ilegal de áreas de risco? Existem loteamentos clandestinos? Áreas de preservação permanente estão sendo ocupadas? Os mananciais do município estão sendo protegidos?

Nesta catástrofe de Niterói, o ilustre prefeito daquela cidade, Jorge Roberto Silveira (PDT) teve a cara de pau de fazer uma ridícula comparação, ao dizer que "ninguém culpou os governos da Ásia pelos tsunâmis". Sem ao menos ficar vermelho, o prefeito culpou São Pedro pelas chuvas excessivas e pelos desmoronamentos.

Agora mesmo, em Goiás, a justiça liberou da prisão um psicopata de bom comportamento e que tratou logo de matar e estuprar seis adolescentes. As autoridades apenas disseram aos parentes indignados que ocorreu um "lamentável equívoco na avaliação psiquiátrica". E tudo ficou por isso mesmo.

Se futuramente ocorrerem desmoronamentos e mortes nos morros de Santa Maria, o que dirão as autoridades?

Que a culpa é do "El Niño"? De Nossa Senhora Medianeira e do diácono Pozzobon que não velaram pela cidade?

Ou culparão o Pizarro e me acusarão de ave de mau agouro?

O que dirão?

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"CIC - CENTRO INTEGRADO DE CULTURA" DE FLORIANÓPOLIS : VAI PERMANECER FECHADO ATÉ QUANDO ?

Reproduzo abaixo o flyer de divulgação de ato/manifesto de amor ao CIC (Centro Integrado de Cultura) de Florianópolis que está abandonado há quase dois anos. Espero que todos os leitores/seguidores deste blog divulguem a matéria. Abaixo, na íntegra, o manifesto que me foi enviado assinado pelo grupo "ARTISTAS INDEPENDENTES DE FLORIANÓPOLIS".
**************************************
Não era sem tempo. Um ato em protesto ao fechamento do Centro Integrado de Cultura da Capital (CIC) deverá reunir mais de 100 artistas, além de servidores. A data ainda não foi divulgada, mas sabe-se que ocorrerá nos próximos 20 dias. A mobilização será pacífica e cultural, incluindo ações artísticas e exibição de vídeos, em frente ao CIC, fechado há quase dois anos para as intermináveis reformas. Até que demorou essa reação. O governo do Estado e a Fundação Catarinense de Cultura jogaram com a “infinita” paciência e a falta de iniciativa da classe para se mobilizar. Está na hora de dar um basta neste “blefe”.

A situação degradante do maior equipamento cultural do Estado é reflexo da política esquizofrênica e risível empreendida nos últimos oito anos pelas gestões encasteladas no governo do Estado. Durante esse tempo, o CIC passou por infindáveis reformas, todas inconclusas. Imaginem o quanto se enterrou de dinheiro ali nestes oito anos sem que os resultados fossem notados. A atual reforma já consumiu R$ 8 milhões, sendo não estão incluídos aí os gastos com o Teatro Ademir Rosa e o Cinema (estes ainda em licitação). Não seria assunto para uma Comissão Parlamentar de Inquérito?

Sabendo da precariedade e da urgente necessidade de uma readequação do local, o governo anterior resolveu investir o dinheiro do contribuinte na construção de um outro teatro, anexo ao Centro Administrativo, na rodovia de acesso ao Norte da Capital. Espaço este menor e que vive com constantes problemas de infiltração. Convenhamos, aquilo não é um teatro, é apenas um auditório construído para atender ao capricho do “rei nu” da época.

ass. ARTISTAS INDEPENDENTES DE FLORIANÓPOLIS

Bis da apresentação "Música para o Cinema" da Camerata Florianópolis.
Dia 23/11/07 no teatro do CIC, Florianópolis, SC.
Claro, isso quando o CIC funcionava e cumpria seu papel...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

AH, OS VENTOS DA ILHA...

Lembrei das aulas de geografia logo que vim morar na beira do mar. Das lições aprendidas quando fui escoteiro da Tropa Henrique Dias, em Santa Maria, RS. Quando era imprescindível saber os pontos cardeais. Norte. Sul. Leste. Oeste.

Pois aqui na praia, décadas depois, isso tudo me foi útil. Afinal, estou numa ilha. A ilha da magia de Florianópolis. Na praia de Canasvieiras tive logo de saber onde era o leste e o oeste. Foi fácil. Pois o sol nasce no Leste e se põe no Oeste.

E logo pude aprender sobre os dois ventos básicos : o "terral" e o "maral" (também chamado "lestada") O vento terral sopra de oeste para leste, isto é, da terra para o mar, quase sempre quente. O vento maral ou lestada sopra de leste para oeste, quase sempre frio e anunciando chuva.

Os surfistas da Praia Brava e da Praia da Armação me passaram também a lição : vento terral não deixa a onda explodir rapidamente, ela fica perfeita e ótima para a prática do esporte (vento chamado "offshore wind"). Já o vento maral deixa o mar mexido, impróprio para o esporte, com ressaca (vento chamado "onshore wind").

E o Nilzo Ivo Ladwig, professor universitário da UNISUL, nascido em Restinga Seca (na Grande Santa Maria) complementou as explicações sobre ventos numa das conversas pós-almoço no Bar do Chico, na beira da praia. O "alemão Nilzo" - como é carinhosamente chamado - é casado com a Diuris, santa-mariense formada em Geografia na UFSC. Estão em Florianópolis há muitos anos e são, junto com outros amigos, nossos grandes "orientadores" sobre como decodificar o "modus vivendi" na ilha. Como entender a história e geografia daqui. Como compreender o simpático povo manezinho. Que tão bem recebe a quem chega para somar.

Quando um homem quer aprender até sobre os ventos da nova terra é porque ele veio para construir. E ficar.

Para sempre !

*****************************
AUTOR : James Pizarro

Mar de lestada com mais de dois metros de tamanho. Altas ondas no começo do verão na praia do Matadeiro, no sul da ilha de Floripa-SC. (Vídeo :http://www.youtube.com/user/surftownn)

sábado, 11 de setembro de 2010

EL VINO - Alberto Cortez

Dedico este poema aos meus amigos argentinos
que residem em Canasvieiras e também
às centenas de turistas argentinos que se tornaram meus amigos,
sobretudo aos residentes em Rosario (Santafe) e Buenos Aires.
Um carinho especial para Suzana e Lorena Orieta, Daniel Simo e família, Daniel Anania e Agustina Anania, Graciela Anania, Horacio Oscar Giordano e família, Mónica Montanaro e esposo.
*****************************

EL VINO

Composição e interpretação : Alberto Cortez

"Sí señor... el vino puede sacar
cosas que el hombre se calla;
que deberían salir
cuando el hombre bebe agua.

Va buscando, pecho adentro,
por los silencios del alma
y les va poniendo voces
y los va haciendo palabras.

A veces saca una pena,
que por ser pena, es amarga;
sobre su palco de fuego,
la pone a bailar descalza.

Baila y bailando se crece,
hasta que el vino se acaba
y entonces, vuelve la pena
a ser silencio del alma.

El vino puede sacar
cosas que el hombre se calla.

Cosas que queman por dentro,
cosas que pudren el alma
de los que bajan los ojos,
de los que esconden la cara.

El vino entonces, libera
la valentía encerrada
y los disfraza de machos,
como por arte de magia...

Y entonces, son bravucones,
hasta que el vino se acaba
pues del matón al cobarde,
solo media, la resaca.

El vino puede sacar
cosas que el hombre se calla.

Cambia el prisma de las cosas
cuando más les hace falta
a los que llevan sus culpas
como una cruz a la espalda.

La puta se piensa pura,
como cuando era muchacha
y el cornudo regatea
la medida de sus astas.

Y todo tiene colores
de castidad, simulada,
pues siempre acaban el vino
los dos, en la misma cama.

El vino puede sacar
cosas que el hombre se calla.

Pero... ¡qué lindo es el vino!.
El que se bebe en la casa
del que está limpío por dentro
y tiene brillando el alma.

Que nunca le tiembla el pulso,
cuando pulsa una guitarra.
Que no le falta un amigo
ni noches para gastarlas.


Que cuando tiene un pecado,
siempre se nota en su cara...
Que bebe el vino por vino
y bebe el agua, por agua."

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"O ROM-ROM DO GATINHO"

O que vale no artista é a sua capacidade de captar o cotidiano.
E transforma-lo numa obra-de-arte.
Quantas pessoas teriam condições de ouvir o rom-rom de um gato e fazer uma música como Adriana Calcanhoto fez para o poema do Ferreira Gullar ?
Escrita originalmente para um público infantil, esta música ganhou também o coração dos adultos.
Eu sou um cachorreiro assumido, amo cães.
Como sempre fui honesto nos meus textos, confesso que gatos não conquistam meu coração. Embora jamais tenha tratado mal algum deles, não consigo manter relações de afeto com os mesmos.
Porque meu coração é dos cachorros.
Mas essa música da Adriana (que casou dia 9/de setembro em Paris, com Suzana Moraes, filha do poeta Vinicius de Moraes) é linda demais.
Só uma artista como Adriana poderia fazer poesia do rom-rom dos gatos.
Não interessa que esta música não esteja na mídia.
Ela está no meu coração.
Só por isso quis repartí-la com vocês.
***************************
AUTOR : James Pizarro

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho

terça-feira, 7 de setembro de 2010

" EL AROMO "

Registro aqui, com grande alegria, este precioso texto assinado por DIEGO BARONI GUTERRES (Alegrete, RS). Este texto me foi repassado pelo grande amigo de tantas décadas MAURO MENEZES, de Santa Maria, RS. Mauro foi Juiz de Direito na comarca de Santa Maria e reside em Florianópolis, há 15 anos. Ele e a Beth, sua esposa, nos receberam de braços abertos aqui nesta ilha da magia. Para melhor ilustrar o texto faço a postagem da gravação de Athaualpa Yupanqui declamando e cantando "El Aromo".
***************************************

"Nas minhas andanças rotineiras entre a Campanha e a Fronteira Oeste, parei um dia para apreciar uma árvore que existe no costado de um cerro na margem da BR-290. Voltava numa tarde de domingo para Alegrete, cidade onde atualmente resido, e chamou a minha atenção uma pequena árvore enraizada na fenda de uma pedra, com o caule contorcido e com a copa verdejante. Parei o carro e fiquei contemplando ela e o cenário à sua volta. Depois, tirei uma foto para guardar como recordação daquele momento e daquele iluminado ser. Sendo mais preciso, o local está situado na metade do caminho entre Alegrete e Rosário do Sul, perto de onde tem uma placa que indica faltarem 55 km para chegar em Alegrete. A árvore está ao norte da estrada.

Pois bem, enquanto contemplava aquele “arbolito”, lembrei do tema “El aromo”, de Romildo Risso (o mesmo autor de Los Ejes de mi Carreta) e de Atahualpa Yupanqui. O Aromo, como é chamado na Argentina, é o mesmo Espinilho (Acacia caven (Mol.) Molina) que temos aqui no RS, leguminosa da família Mimosaceae. Embora não tenha relação alguma com a árvore que relato, pois se tratam de espécies diferentes, o contexto de vida do Aromo do poema é o mesmo da árvore que lá na costa do cerro passa os seus dias:

Hay un aromo nacido
en la grieta de una piedra.
Parece que la rompió
pa’ salir de adentro de ella.

Está en un alto pelao
no tiene ni un yuyo cerca
viéndolo solo y florido
tuíto el monte lo envidea.

Lo miran a la distancia
árboles y enredaderas,
diciéndose con rencor
¡pa’ uno solo, cuánta tierra!

En oro le ofrece al sol
pagar la luz que le presta
y como tiene de más,
puñao por el suelo siembra.

Salud, plata y alegría
tuíto al aromo le suebra
asegún ven los demás
desde el lugar que lo observan.

Pero hay que dir y fijarse
cómo lo estruja la piedra,
fijarse que es un martirio
la vida que le envidean.

En ese rajón el árbol
nació por su mala estrella,
y en vez de morirse triste
se hace flores de sus penas.

Como no tiene reparo
todos los vientos le pegan,
las heladas lo castigan,
l’agua pasa y no se queda.

Ansina vive el aromo
sin que ninguno lo sepa
con su poquito de orgullo
porque justo es que lo tenga.

Pero con l’alma tan linda
que no le brota una queja
que no teniendo alegrías
se hace flores de sus penas.
Eso habrían de envidiarle
los otros si lo supieran.

Pero con ‘l alma tan linda
que no le brota una queja,
que no teniendo alegrías
se hace flores de sus penas.

Essa poesia diz muita coisa, transmitindo uma grande mensagem de vida. Muitas vezes julgamos as pessoas a partir das nossas pressuposições, sem conhecer a realidade das suas vidas. Atrevemo-nos a concluir que determinadas pessoas são “isso” ou são “aquilo”, mas não nos preocupamos em tentar entender o porquê das coisas. Sem saber a história da vida dos outros, sem saber das suas experiências, não há como entender aquilo que eles externam através das suas atitudes. Por essa razão, estamos sujeitos a confundir timidez com antipatia, extroversão com insegurança, entre tantos outros comportamentos. E o que nem sempre fazemos é admirar as virtudes. Às vezes, uma pessoa está fazendo o melhor de si, e, por um defeito seu, rotulamo-la por essa falha, desconsiderando os tantos valores que ela talvez possa possuir. Esse tipo de julgamento está expresso na mensagem do Risso: “Lo miran a la distancia / árboles y enredaderas, / diciéndose con rencor / ¡pa’ uno solo, cuánta tierra!”.
Todavia, sabemos que existem muitas pessoas que possuem circunstâncias de vida difícil, árdua, de sofrimento, mas que procuram ser alegres, bondosas, justas, honestas, educadas, etc. E é isso que devemos apreciar e buscar praticar no nosso dia-a-dia. Quantas vezes nos encontramos em meio a lamentações por coisas tão simples, das quais fazemos um problemão, esquecendo de tudo de bom que temos? Quantas vezes reclamamos da vida e sem uma verdadeira razão? Talvez devêssemos levar bem clara na alma a história do Aromo: “Ansina vive el aromo / sin que ninguno lo sepa / con su poquito de orgullo / porque justo es que lo tenga. // Pero con l’alma tan linda / que no le brota una queja / que no teniendo alegrías / se hace flores de sus penas. / Eso habrían de envidiarle / los otros si lo supieran”.
Nesse contexto, podemos perceber a grandiosidade de Romildo Risso e também de Atahualpa Yupanqui e entender o motivo da imortalidade das suas obras: deixaram mensagens universais através da arte, da poesia, da música, do sentimento. A brilhante analogia do Aromo enraizado na fenda da pedra, fazendo flores das suas dores, faz refletir sobre a vida, sobre as atitudes do cotidiano, faz olhar para a natureza com mais profundidade. Vale parar para apreciar esta árvore ao passar naquele lugar, vale muito ouvir o tema “El Aromo” (do disco “A que le llamaman distancia” de Atahualpa Yupanqui), vale parar para observar a natureza e pensar na vida.

Diego Baroni Guterres
Alegrete, 22 de agosto de 2010."
*******************************

domingo, 5 de setembro de 2010

VALDIR AGOSTINHO : "Sereia Manezinha" ou "Reggae da Tainha "

Letra : Julio Cesar Cruz
Cantor : Valdir Agostinho
Música : Gazu e Luiz Maia
Os músicos (todos da banda "Coletivo Operante) são :
Guitarra e backing vocal : Ulysses Dutra
Baixo e engenharia de som : Luiz Maia
Bateria : Guilherme Ledoux.

Ouça/veja este belo vídeo e preste muita atenção na talentosa letra, cheia de inteligentes trocadilhos que só podem ser percebidos em toda sua plenitude por quem convive e adora a população nativa da ilha, entre os quais me incluo.
Para melhor curtir esta linda música, ouça e acompanhe a letra :

“Sereia manezinha”
(Letra: Júlio César Cruz / Música: Gazu e Luiz Maia)

Eu quero você na minha
Minha sereia manezinha
Vou te fisgar na minha linha
Enquanto isso eu cantando
O Reggae da Tainha

Eu quero beijar a sardinha do teu rosto
E me perder nas curvinas do teu corpo
Hoje nem que enchova eu vou fazer
Um beijo de linguado vou robalo de você

Ser seu namorado, peixe-espada só pra ver
Tirar tua garoupa e um sargo pra valer
Pra amariscolhi você e vou te prometer
Serei o primeiro dos que camarão você

Eu quero você na minha
Minha sereia manezinha
Vou te fisgar na minha linha
Enquanto isso eu cantando
O Reggae da Tainha

Elagosta muito é de aparecer
Para aquele polvo que trabalha na TV
Mas uma cavala assim como você
Eu não dou de badejo pra ninguém que aparecer

Não penso em ostra coisa que não seja você
Até arraia o dia eu quero te ter
Mas se ta tu irada não fique assim mais não
Pois foi de cara peva que eu fiz essa cação

Eu quero você na minha
Minha sereia manezinha
Vou te fisgar na minha linha
Enquanto isso eu cantando
O Reggae da Tainha
****************************************
AUTOR : James Pizarro

sábado, 4 de setembro de 2010

A VIDA QUE SE ESVAI...

A turma entrou na UFSM em 1963. Quase todos pobres. Ou de classe média baixa. Dois ou três de famílias bem postas financeiramente.
Mas todos amigos. Alegres. Parceiros de caminhada.
Cheios de vontade de mudar o mundo.
Nunca alguém sentiu qualquer diferença de classe social.

Veio a formatura. Ano de 1966. Cinema Glória cheio. Reitor Mariano da Rocha e seu discurso costumeiro. Enaltecendo a UFSM. Fazendo profissão de fé nos formandos. Tocando no sentimento dos familiares.

Passaram-se os anos. A turma tomou por hábito fazer encontros periódicos.
De cinco em cinco anos era certo o almoço e janta no Restaurante Augusto.
Todos vinham de todos os rincões do país.
Alguns casados. Com filhos. Felizes. Assim foi nos dez anos de formatura.
Vinte anos. Trinta anos. Quarenta anos.

Na reunião dos quarenta anos de formados quinze já haviam morrido. Uns estavam aposentados. Outros haviam abandonado a profissão. Outros estavam doentes. Uns viraram alcoólatras. Outros estavam no segundo ou terceiro casamento. Um tinha assumido sua homossexualidade. Outro não tinha dinheiro para pagar o galeto e a bebida. Pediu emprestado para os colegas. O mais pobre da turma tinha se transformado em prefeito e defendia o Maluf. Logo ele que, quando estudante, era ardoroso defensor do Brizola. Ficou calado durante o encontro. Engravatado. Empertigado. Solene. Logo ele, que assistia as aulas no campus da UFSM de sandálias.

Chegou a época da festa dos cinquenta anos de formatura. Ninguém mais entrou em contato. O mentor das festas, organizador dos encontros, morreu.
Os ideais morreram. A juventude se foi. O carater mudou. O quadro de formatura na parede do prédio da faculdade está cheio de mofo.

E pelos corredores apenas o silêncio.

********************************
AUTOR : James Pizarro

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ADEUS, JB !

Morreu ontem (31 de agosto de 2010),
aos 119 anos de idade,
depois de insidiosa moléstia econômica
o "Jornal do Brasil".
Mais conhecido pela alcunha de "JB",
alquebrado e esquecido,
finou-se aos poucos
sem receber auxílio de ninguém.
As patricinhas de outrora
- hoje vetustas senhoras que sacodem suas graxas
e que disputavam a tapa uma fotografia
na coluna do Zózymo Barroso do Amaral -
se lembraram do velho "JB" ?
Os políticos - que bajulavam a condessa Pereira Carneiro, sua proprietária -
mandaram uma miserável coroa de flores baratas e murchas ?
Os cursos de jornalismo terão lembrado ?
As belas estagiárias das redações saberão sua história ?
Talvez Carlos Drummond de Andrade,
nosso poeta maior,
- que durante décadas publicou seus poemas nas páginas do "JB" -
tenha chorado pela sua morte
em algum canto do céu.
O mais triste de tudo
é que Drummond não acreditava em céu.
O que torna a morte do "JB"
ainda mais melancólica...

**********************
AUTOR : James Pizarro

domingo, 29 de agosto de 2010

AS MINHAS NOITES DE TERROR

Compreendo quem tem insônia. Relevo quem tem sono agitado. Quem é atormentado por pesadelos. Porque dos meus nove aos treze anos comi o pão que o diabo amassou. Porque sofria de insônia. Noites mal dormidas. Temores noturnos. Quando o sol ia se pondo e a noite se avizinhava, eu já sentia verdadeiro pavor.

Meu pai me levou a médicos. Que me perguntavam coisas. Ouvi pediatras dizerem para meu pai que eram distúrbios da pré-adolescência. Que eu era sensível. Um deles disse que eu era "precoce". Lembro como se fosse hoje que eu fiquei estarrecido quando o médico disse isso. Porque eu não conhecia a palavra. Na minha mente agitada imaginei que fosse um tumor, uma moléstia grave. Fiquei tranquilo quando, ao chegar em casa, consultei o único dicionário que existia na época, de autoria do Fernando Fernandes. E fiquei sabendo o que queria dizer "precoce".

A medicina não resolveu meus problemas noturnos. Eu continuava a ouvir ruídos. Ouvia gente cochichando. E via coisas. Principalmente fogueiras. Nunca vi pessoas e nem animais. Tudo que eu via era relacionado com fogo.
Minha mãe me levou então a centros espíritas. A sessões de umbanda. Tomei passes de descarga. Sessões de descarrego. E toda uma terminologia que eu não entendia direito. Numa sessão dessas o médium receitou "Kola Fosfatada Soel", um medicamento feito de ervas muito popular naqueles tempos. E disse que eu teria de comer muita alface na janta. Também não adiantou nada.

Até que minha vó Olina me levou na romaria de Nossa Senhora Medianeira. A primeira romaria das dezenas que eu iria comparecer depois durante toda minha vida. Lembro que fui todo de branco, com enormes asas de anjo. Carregando uma vela de quase um metro de altura. Minha avó me dizia que eu rezasse com fé. Que aquelas vozes, aquelas visões de fogo iriam desaparecer. E que eu jamais iria sentir medo da noite.

As vozes realmente sumiram. Nunca mais tive medo. E quando me perguntavam se eu ainda enxergava fogueiras, labaredas, eu mentia. Porque eu continuei a ver aquele fogo durante alguns anos. Eu não queria decepcionar minha avó e nem a santinha. E nem queria que me chamassem de louco.

Até que um dia nunca mais enxerguei nada...

********************************
AUTOR : James Pizarro

sábado, 28 de agosto de 2010

UMA CRIANÇA PODRE

O feto estava no alagadiço. Resto de mangue na praia dos Ingleses.
Misturado a galhos da vegetação. E folhas em decomposição.
Cheiro de maresia. Misturado à carne humana em decomposição.
Deveria ter uns sete meses aquela criança.
Loira. Sexo feminino. Lindinha.
Aborto feito primitivamente. Assassinada por uma mãe desesperada.
Dois ou três furos na cabeça do feto. Provavelmente com agulha de tricô.
Pelos orifícios corria massa encefálica.
Pedaços de um cérebro que não veio a ser.
Parecia fio de ovos escorrendo.
Mais um vítima da miséria.
Do medo.
Da ignorância.
Na TV políticos nojentos sorriem.
E prometem segurança. Trabalho.
Saúde. E educação.
Mentem sem pudor algum. São mortos em vida.
E fedem muito mais do que aquele feto.

******************************
AUTOR : James Pizarro

CENA NO "CHE CAFÉ"

Levou a vida toda de terno e gravata. E sempre odiou isso. Aposentou-se.
Veio para a praia de Canasvieiras em busca da simplicidade total. Onde anda de bermuda, chinelo e camiseta.

Às 10 horas compra seus dois jornais preferidos na banca do Juarez. E vai para o "Che Café" tomar seu tradicional café preto. Servido pela Sandra ou Vorlei, irmãos gaúchos. Ou pela paranaense Elis. Café forte, moído na hora, ao melhor gosto argentino.

Excepcionalmente, naquela quinta-feira, estava de sapato social, meia, camisa nova. Um dos clientes, surpreso com a nova indumentária do aposentado, lhe faz esta observação preconceituosa :

"- Finalmente, bem arrumado...bem vestido, como um homem, um gaúcho que se preza..."

O velho aposentado ignorou a observação. Mas a gaúcha Sandra, espirituosa e rápida nas respostas, falou :

"- Ué, por ser gaúcho tem agora de andar com uma espora enfiada no cu ?"

O aposentado sorriu, satisfeito. Pagou o cafezinho.

E foi embora em silêncio.

*******************************
AUTOR : James Pizarro

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A EREÇÃO PÓS-APOSENTADORIA

Enquanto universitário, tive de dar duro para me sustentar. Trabalhava no SAMDU - Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, como auxiliar administrativo (concursado). Aos domingos vendia "poules" no Jockey Club da cidade. E dava aulas no Colégio Santana e cursinho pré-vestibular durante a semana.

Na hora do cafezinho, pelas manhãs, sempre aparecia no SAMDU um ferroviário simpaticíssimo, cabelos brancos, rengueando de uma das pernas. Era pai do músico Paulinho Cruz, que tinha um conjunto musical em Santa Maria, "Paulinho e seus Rapazes", que animava as reuniões dançantes no Clube Comercial. Anos depois foi assassinado com um tiro na faixa nova de Camobi, que estava em construção.

Pois o pai do Paulinho sempre tinha uma história para contar ou uma anedota para divertir a todos. Certa vez, o assunto era sério na roda do cafezinho : os médicos falavam sobre impotência masculina. Instado a falar sobre o tema, o "Seu" Cruz disse que "a gente não fica broxa de uma hora para outra, as coisas vão acontecendo esporadicamente, até que as ereções se tornam bastante raras...e quando a gente menos imagina, nos locais mais impróprios, a gente fica de pau duro".

O administrador do SAMDU, Diogo Dante Zanetti, disse ao "Seu" Cruz :

- Buenas, nestas horas o senhor certamente corre prá casa para aproveitar com a sua senhora...

O sincero "Seu" Cruz rebateu de imediato :

- Que nada...pego o primeiro taxi que está passando e vou lá na praça Saldanha Marinho mostrar para os meus amigos aposentados...

A risada foi geral.

***************************
AUTOR : James Pizarro

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PSICOPATA INGLESA EM AÇÃO !!!

Na Inglaterra, esta mulher foi flagrada pelas câmeras de vigilância colocando o pobre bichano no lixo, onde ele ficou aprisionado por 15 horas conforme notícias nos jornais. Ela foi descoberta, denunciada,presa e teve de pagar fiança para ser liberada e responder processo em liberdade por crueldade contra animais.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

MARIA SILVEIRA PIZARRO, MINHA MÃE

Minha mãe se chama Maria, conhecida por todo mundo pelo nome de Iria...Dona Iria. Minha avó materna,vó Olina, contava que o nome dela era para ser Maria Iria e que meu avô, na hora do registro, esqueceu e registrou apenas como Maria.
Ela cresceu como filha biológica única, mas com três irmãos adotivos : José, Moisés e Carmelita. Foram três irmãos adotados pelos meus avós, diante da morte dos pais biológicos deles, amigos da família.
Minha mãe estudou todo o Curso Elementar (depois chamado Ginásio e hoje chamado Ensino Fundamental) no Colégio Santa Terezinha (hoje prédio do MANECO), internato e semi-internato mantido pela Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul em sua época áurea. No turno da manhã, minha mãe tinha as disciplinas pertinentes a esse tipo de curso (Matemática, Português, Ciências, Geografia, História, Música, etc...). Pela tarde aprendia bordado,tricô, tocar violino,educação física, etc...Minha mãe sempre dizia que as freiras do Santa Terezinha usavam a frase : "De manhã se educa a mente e a alma, pela tarde se educa o corpo".
Aos 16 anos conheceu Alfeu, meu pai, e pouco tempo depois casaram. Foram morar na rua Silva Jardim, onde hoje está minha casa (número 2447) e a casa de minha mãe (2431).
Minha mãe ajudou na árdua luta de sustentar uma família com dois filhos, construir uma casa própria com o ordenado de funcionário público de meu pai, que trabalhava em dois empregos. Exímia na arte de fazer doces, durante anos fez e vendeu doces sob encomenda para casamentos e aniversários. Nunca teve empregada doméstica. A família sempre recebeu ajuda providencial, quando necessário, de meu avô materno, Seu Fredolino. Como ferroviário, ganhava muito bem à época e podia prestar este auxílio e o fazia de bom grado.
As únicas diversões das quais me lembro eram freqüentar todos os circos que chegavam a Santa Maria. Ir aos bailes mensais do Clubes de Atiradores Santamariense. E não perder as esporádicas festas do Grupo de bolão 7 de setembro, de cuja equipe meu pai era o "capitão", pois era exímio bolonista.
Depois de idosa, minha mãe freqüentou aulas na UFSM como aluna especial. Engajou-se na luta política da terceira idade na cidade, sendo uma das fundadoras do grupo "Mexe Coração", com sede no Centro de Atividades Múltiplas, no Parque Itaimbé. Participou de aulas da caratê. Foi atriz de vários espetáculos do grupo teatral da terceira idade, onde se revelou notável comediante. Viajou pelo interior gaúcho para apresentações teatrais. Fez parte do coral dos idosos. Frequentava as aulas recreativas de natação na piscina térmica da UFSM. Enfim, teve uma vida socialmente participativa
Esteve casada com meu pai durante 63 anos de feliz união, pois ambos se completavam. Ficou viúva em 9 de maio de 2004, quando meu pai morreu vitimado por complicações pós-operatórias advindas de uma cirurgia cardíaca.
Vive na mesma casa ainda, ao lado da casa onde reside meu filho e a poucos metros da casa onde reside minha irmã. Acompanhada por duas atendentes. Amparada por um excelente plano de saúde. Ela tem grande afinidade com minha mulher, sua nora. Insisti até à exaustão para trazê-la para a praia de Canasvieiras para gozar do sossego de uma praia maravilhosa no final de sua vida. Já estava em meus planos alugar um apartamento maior, onde ela teria a privacidade de seus aposentos. Insisti então para que ela viesse aqui viver nem que fossem alguns meses durante o ano. Não consegui fazê-la mudar de ares. Parto agora para uma última tentativa : trazê-la para passar uma semana aqui na praia.
Os percalços, os problemas, a viuvez, a distância...tudo isso poderia ser resolvido se ela aceitasse vir em definitivo.
Mas conheço minha mãe... depois de dizer não, é não.
Contento-me, então, com conversas telefônicas semanais. E com visitas esporádicas a Santa Maria (no mês de novembro de cada ano trago minha mãe para passar trinta dias aqui comigo). Porque, infelizmente, a minha opção de vir morar na praia, desejo acalentado há anos, não coincidiu com a opção de minha mãe.
Lamento pela opção que ela fez. Mas que sou obrigado a respeitar.

**************************
AUTOR : James Pizarro