quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A banda do Maneco



James Pizarro

por James Pizarro em 26/11/2015
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A história da banda do Maneco está indelevelmente ligada ao nome do ex-aluno Roberto Binato, depois formado médico e professor universitário do Curso de Medicina da UFSM, no Departamento de Biofísica, onde ministrava aulas juntamente com o Dr. Irion. Mesmo cursando Medicina, continuava sendo o responsável pela banda do Maneco, nas funções de “mestre”, uma espécie de maestro que cuidava tanto da coreografia e da disciplina como também dos arranjos musicais e repertório. Era carinhosamente chamado de “Binatão”.
A banda do Maneco chegou a desfilar com quase 200 figurantes, fazendo as chamadas “evoluções” durante o desfile. A evolução que mais agradava e que arrancava delirante aplauso do público era copiada da Banda de Fuzileiros Navais, do Rio de Janeiro : a banda desfilava formando uma gigantesca âncora, que ocupava uma quadra inteira de rua. A banda viajava muito por todo o RS, a convite de escolas e prefeituras. Em Santa Maria, era convidada a abrilhantar todo tipo de solenidade. Certa feita, no campo de futebol do Riograndense Futebol Clube, completamente lotado, a banda formou - pela primeira vez - a palavra MANECO, numa evolução que comoveu a pais, alunos, professores, funcionários e público em geral.
O Padre Rômulo Zanchi, férreo disciplinador na direção do colégio, exigia que os integrantes da banda apresentassem seus boletins todo santo mês em seu gabinete. Quem estivesse mal de notas era sumariamente banido da banda. O padre Rômulo dizia : “É uma honra tocar na banda e aluno vadio não veste aquele uniforme para representar o Maneco pelas ruas da cidade ! “ Assim é que, nos desfiles da Semana da Pátria ou nos deslumbrantes “Jogos da Primavera”, quando a banda chegava ao centro da cidade, capitaneando os quase dois mil alunos do Maneco, toda o público sabia que ali naquela corporação musical marchava a elite cultural do colégio, representada por seus melhores alunos. Durante duas ou três noites que antecediam ao desfile, alunos e alunas voluntariamente faziam bolhas nos dedos cortando papel laminado para fazer “picadinhos” que eram acondicionados em dezenas e dezenas de sacos de estopa. No dia do desfile, estes alunos e seus familiares postavam-se estrategicamente nas sacadas dos edifícios mais altos da avenida Rio Branco e da rua do Acampamento (o Taperinha era um dos preferidos) e, quando o Maneco começava sua esperada apresentação, os céus do centro da cidade eram tomados por aqueles milhares de “picadinhos” laminados que produziam um efeito espetacular refletindo a luz do sol. Torcidas organizadas berravam sem parar :”Maneco ! Maneco !” Aquelas músicas, marchas e dobrados em furiosa harmonia marcial. O Tadeu com seu garbo de mor da banda. As graciosas balisas (Carmem Helon Mariosi e a Zara Ehlers, além de outras). Aquela multidão. Aqueles papéis picados. Os foguetes. Os gritos. Os aplausos. A cadência. Aquilo tudo era emocionante ! E eu ali no meio da banda, tocando pifaro, E ali fiquei durante seis anos tocando naquela banda. Passando por aquelas emoções que enchiam meu coração adolescente de felicidade e orgulho. Até hoje, aos 73 anos, quando a banda do Maneco passa, eu choro.


James Pizarro

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O Tênis


James Pizarro

por James Pizarro em 23/07/2015
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Nos anos 70 aprendi a jogar tênis nas quadras do ATC - Avenida Tênis Clube, de Santa Maria. E durante os anos 80/90, praticamente todos os dias, passava as minhas horas de folga nas dependências do clube, ora fazendo sauna, ora jogando tênis, ora fazendo churrasco, ora jogando bocha. E os familiares juntos.
Na quadra número 1 jogavam somente os tenistas veteranos. Na quadra 2, os “Seniors A”. Na quadra 3, os “Seniors B”. Nas quadras 4, 5 e 6, os juvenis, as mulheres e os demais tenistas que não disputavam o ranking. Grande número disputava por puro lazer, entretenimento, e pouco estavam se importando para o resultado da partida. Já outros, principalmente entre os veteranos, se concentravam, dormiam cedo, e entravam na quadra como se fossem disputar uma final em Winblendon. Lembro de dezenas daqueles queridos amigos.
Anterinho Scherer (médico, ex-prefeito de Cacequi, famoso por suas folclóricas histórias); Máximo Knackfuss (professor do Curso de Engenharia da UFSM,que se emburrava por qualquer motivo); Ênio Ferraz (representante de laboratório médico, apelidado de “Nonô”, que teve a capacidade aeróbica tirada pelo tabagismo); Leitão (de pavio curto, principalmente nos jogos de duplas, pois já no primeiro erro do seu companheiro começava a reclamar); Arno Böhrer (era o alvo predileto das brincadeiras do Jarbas Cunha e, ignorando sua idade, jogava várias horas por dia)
Lembro especialmente do Abdo Achutti Mothecy,farmacêutico,ex-jogador de basquete, dono de uma loja de aviamentos militares - e também de cortinas - na praça Hector Menna Barreto (ex- praça da República), mais conhecida por “pracinha dos Bombeiros”. De origem libanesa, Abdo foi casado com Tereza dos Santos Mothecy, mais conhecida por “Terezinha” ou “Tereca”. Lembro que o térreo da loja do amigo Abdo era quase uma extensão do ATC, pois ali se reuniam para tomar cafezinho os veteranos do clube, às vezes atrapalhando as atividades comerciais do dono. O Abdo sempre foi generosamente um pacificador, um aglutinador. Adorava pescarias e histórias antigas da cidade.
Lembro de outros companheiros tenistas da época : Adaí Bonilha, Olga Bonilha, Álvaro Pfeifer, Arno Werlang, juiz, diretor do Fórum de Santa Maria, hoje desembargador em Porto Alegre, Arlindo Mayer, Armando Vallandro, Alnei Prochnow, Claudio Morais, Dalmo Kerling, Dalton Kortz, Darkson Cunha, Evaldo Morais, Gerson Morais, Heitor Silva, Jorge Merten, José Carlos Pithan, Luiz Carlos Lang, Luiz Carlos Pistóia Oliveira, Luiz Carlos Morales, Luciano Rocha, Manoel Argentino Sissy,Manoel Vianna, Paulo Roberto Oliveira, Cel.Sampedro, Roberto Bisogno, Roberto Leitão, Eng. Lang, Cel.Bins, James Souza Pizarro (meu filho e mais de uma centena de amigos, impossíveis de nominar a todos).
Infelizmente, a morte vai levando os companheiros. Ou se mudam de cidade ou de clube. Ou deixam de jogar. Ou se distanciam. É a vida.

Moby Dick

James Pizarro
por James Pizarro em 30/07/2015
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Quase na esquina da Avenida Rio Branco com a Andradas, onde hoje está a Galeria Seibel, funcionou nos anos 60/70 o mais famoso bar dessa cidade : “Bar Moby Dick”. Era um bar pequeno, com cerca de 12 mesas, inicialmente de propriedade de dois queridos amigos : Claudio e Olmiro Vargas. Desfeita a sociedade, o bar ficou administrado anos a fio apenas pelo Claudio.
A mais assídua turma de frequentadores, que acompanhou o bar desde a inauguração até a última noite de funcionamento, foi a nossa, batizada de “Geração Moby Dick” por um dos integrantes do grupo, de nome Zuil Pujol.
Nossa turma era constituída pelos seguintes membros titulares, todos estudantes na época (frequentadores diários) : Freire Junior (teatrólogo e advogado), Zuil Pujol (médico em Livramento), Tasso Trevisan (médico em Porto Alegre), Tarso Genro (advogado em Porto Alegre), João Nascimento da Silva (advogado em Porto Alegre), Carlos Alberto Robinson (advogado em Porto Alegre), Luiz Alberto Silva (advogado em Porto Alegre), Adalberto Villareal (advogado em Florianópolis), Eliezer Pacheco (historiador e político), Dartagnan Agostini (engenheiro em Santa Maria), Luiz Entges (advogado) e James Pizarro (agrônomo e professor da UFSM). Outros apareciam esporadicamente, eram errantes, nômades, pulavam de mesa em mesa...
Todos os citados eram frequentadores diários, de varar madrugada, de jantar duas vezes.
Nossa turma era servida por um garçom amigo de todos, cara fechada, aspecto truculento, mas coração mole, de apelido “Mato Grosso”.
O garçom tinha uma amante e, certa madrugada, para surpresa de todos nós, ele veio a falecer na casa da mesma. A esposa verdadeira (que não sabia da existência da amante) provocou enorme confusão porque queria fazer o enterro do marido e a amante não queria entregar o corpo querendo ela o privilégio de enterrar o “Mato Grosso”.
Confesso que – por mais cretino que isso possa parecer – nossa turma ficou orgulhosa e repleta de admiração pelo nosso garçom amigo. Um dos membros do grupo, que foi importante autoridade anos depois, disse : “O Mato Grosso morreu no cumprimento do seu dever de macho. E nenhum de nós, metido a intelectual e a besta um dia vai ter seu cadáver reclamado por duas mulheres. Isto é a glória”.
Mas o grupo não vivia só de festas. Editou revistas culturais. Editou mais de 10 livros. Produziu peças teatrais. Recitais de poesias. Enfim, fomos um grupo de universitários que marcamos época na históri da cidade.
James Pizarro

Memorialística

James Pizarro
por James Pizarro em 06/08/2015
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CORINTIANS - Os mais jovens talvez ignorem, mas Santa Maria já foi famosa no cenário nacional do basquetebol e, durante muitos anos, deteve a hegemonia deste esporte em nível estadual. E tudo graças ao desempenho fantástico da famosa equipe que a diretoria do Corintians conseguiu formar nos anos 60 e 70. Lembro do MAIR, jogador de basquete da seleção brasileira, técnico do Corintians, na época áurea dos campeonatos estaduais de basquete. Era um verdadeiro ídolo na cidade.Os jogos eram no “Alçapão”, quadra de basquete que ficava atrás do Clube Caixeiral, onde hoje existe um estacionamento.
Mair inovou o basquete, juntamente com outros vários técnicos, dos quais lembro Maquiline, Nascimento, Lenk, Fumanchu (trazido do Vasco da Gama), etc...Foi a época de ouro do basquete santa-mariense, com inesquecíveis jogadores : Deroci, Queijo, Balaio, Paulinho, Liminha, Nilton Nieves, Mair, Tassinho, Pati, Bibi, Jau e tantos outros. Lembro, emocionado, que o “Alçapão” lotava aos sábados à noite e a torcida enlouquecia. Que fase! Que época !
EXCELSIOR - No início dos anos 60, um grupo de jovens estudantes vestibulandos se reunia todos os sábados no porão da casa da avenida Presidente Vargas, 2067, residência do Dr. Hélvio Jobim, advogado famoso na comarca santa-mariense.
Ali se reuniam : Nelson Jobim e Walter Jobim Neto (filhos do dono da casa, que viriam a se formar em Direito, como o pai), Antônio Rossatto (“Padre”, que se formou em Direito), Antônio Carlos dos Santos (“Tonico”, que se formou em Medicina), Luiz Alberto Belém Leite (“Betinho”, que se formou em Medicina), Carlos Horácio Hertz Genro (que se formou em Medicina) e eu (que me formei em Agronomia).Motivo das reuniões: estudar literatura, discutir política, declamar poemas, recitar crônicas. Eu fico me perguntando se haverá, nos dias atuais, algum grupo semelhante em algum recanto do Brasil ?
OS BENTOS – (a)- Bento do Carmo Machado (“Bentinho”),envelhecido, casacão surrado, sempre carregando cadernos com anotações, vivia arrumando jogos entre nossas equipes de futebol amador. Escrevia textos e noticiário completo sobre esporte amador nas páginas de A RAZÃO e tinha um programa esportivo na Rádio Imembui. Era membro da então atuante Liga de Futebol Santa-mariense;
(b)- Ir. Bento José Labre, o segundo Bento do qual me lembro hoje, era padre. Foi diretor da Escola Hugo Taylor e dirigente da Tropa de Escoteiros Tupanciguara, cuja sede era ao lado da agência central do Banco do Brasil. Tradicionalista ferrenho, sempre desfilava no dia 20 de setembro com o CTG Ponche Verde.
James Pizarro

Não mate, governador!

James Pizarro
por James Pizarro em 13/08/2015
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A Fundação Zoobotânica do RS, órgão da Secretaria da Agricultura do Estado do RS, é constituída de quatro unidades operacionais: Jardim Botânico/RS (em Porto Alegre), Parque Zoológico/RS (em Sapucaia do Sul), Museu de Ciências Naturais/RS (em Porto Alegre) e Parque Estadual Delta do Jacuí (composto pelas 30 ilhas do Guaíba).
Durante o governo do Dr. Alceu Collares e a pedido deste, a Reitoria da UFSM efetivou minha cedência para o governo do RS com ônus total para a UFSM para que eu assumisse o cargo de Diretor-Superintendente da FZB/RS, uma vez que a presidência da mesma se tratava apenas e tão-somente de um cargo honorífico.
Assim, assumi durante três anos a real administração da FZB/RS para ordenar despesas, sanear finanças, estabelecer prioridades, editar revistas/jornais/livros, atualizar biblioteca científica/periódicos, proporcionar excursões/viagens/coletas científicas, realizar exposições públicas/palestras/entrevistas, regularizar situação trabalhista de funcionários, produzir eventos (concertos musicais, venda de mudas, exposição de selos, exposição de animais taxidermizados), proporcionar dezenas de estágios para alunos universitários de Veterinária e Ciências Biológicas, etc...
Colaborei intensamente com milhares de mudas para o jovem Jardim Botânico da UFSM chegando a doar de uma só vez um caminhão de mudas raras para a instituição santa-mariense. Implementei um programa chamado “Um domingo no parque”, através do qual recebi no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul mais de 200 ônibus de excursões de escolas de dezenas de cidades gaúchas que, além da entrada gratuita, ganhavam lanche. Enfim, interiorizei a FZB/RS, pois a mesma até então era praticamente desconhecida no interior gaúcho.
Periodicamente, percorria todos os programas de grande audiência da mídia porto-alegrense (rádio e TV) dando entrevistas, explicando com detalhes a vida da FZB, distribuindo livros/camisetas/panfletos e estabelecendo com os comunicadores uma excelente parceria de divulgação.
Foi profissionalmente um período fértil e feliz em minha vida. Saí da FZB deixando um amigo em cada um dos mais de 300 funcionários existentes à época, com muitos dos quais me comunico até hoje.
Agora, o governador Sartori quer matar a FZB/RS. Que gasta apenas 0,4 % do orçamento estadual. Uma insignificância diante dos excessos de gastos não prioritários que existem! Não faça isso com a FZB/RS, governador! Não faça esse serviço selvagem de predador!
James Pizarro

Dona Nídia


James Pizarro

por James Pizarro em 20/08/2015
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Corriam os anos 50 e 60. Na esquina da minha casa, cruzamento das ruas Silva Jardim e Dutra Vila, em Santa Maria, existia uma fábrica de café. Eram dois os cafés fabricados. Café Planeta e Café Cometa. O proprietário era um senhor de origem alemã chamado Osvaldo Eggers, casado com a dona Georgina. Eram pais da Maria Helena, Norma e William. Maria Helena casou com um famoso engenheiro civil, responsável por centenas de construções na cidade, de nome Altair Celestino Alves. Muito nosso amigo, foi ele quem fez a planta da casa de meu pai.
Norma era casada com um agrimensor de nome Arnaldo Rechia. Possuíam um belo automóvel Simca Chambord, que serviu para transportar a mim e a Vera Maria para a catedral no dia do nosso casamento. Onde casamos no religioso tendo como celebrante o monsenhor Érico Ferrari, nosso grande amigo, poucos meses depois elevado à condição de bispo da diocese de Santa Maria.
Tínhamos um vizinho alto, magérrimo, telegrafista da Viação Férrea do RS, de nome Orlando Eggers, irmão do Osvaldo Eggers. Casado com dona Nídia. Moravam na rua Senador Cassiano, paralela à Silva Jardim. O pátio nosso e deles eram lindeiros na parte posterior e as famílias eram tão amigas que existia um portão que comunicava os dois pátios. Seu Orlando era asmático e muitas vezes lembro de meu pai, que era enfermeiro, atravessar o portão correndo para socorrer e debelar com injeção de aminofilina (usada à época) a crise de falta de ar do vizinho. Seu Orlando e dona Nídia, ambos falecidos, tinham quatro filhos : Orlane (falecida em Florianópolis, formada em Letras), Tida (médica ginecologista, vive em P. Alegre), Deco (funcionário público estadual em Santa Maria) e a Nildinha (funcionária estadual da FASE, ex-FEBEM, em S. Maria).
Dona Nídia tinha um carinho especial por mim e foi uma das pessoas mais bondosas que conheci em minha vida. Todos os parentes dela e do marido que moravam em outras cidades, principalmente em Dilermando de Aguiar, hospedavam-se em sua casa, onde recebiam dedicado atendimento. Ela trabalhava incessantemente para atender a todos, lavando roupas em casa, fazendo comidas gostosas e doces que faziam a alegria da gurizada. Nas festas de aniversário ela fazia uma espécie de bolinho de massa recheado de guizado bem temperado e guardava numa bacia esmaltada coberta por pano de prato alvo e úmido. Quando restava metade da bacia ela não deixava mais ninguém pegar e dizia : “estes são para o James porque ele adora e faço para ele”. Ela chamava esses bolinhos de “bombinhas”.
A última vez que vi dona Nídia foi num apartamento do Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, onde ela estava internada há três meses. Ela exultou de alegria com minha visita. Fiquei de mãos com ela e com aquele sorriso bondoso, de quem aceita a doença e a morte com naturalidade, ela me disse : “Agora nunca mais poderei fazer aquelas tuas bombinhas...” Infelizmente, tinha razão. Dois dias depois da minha visita, ela morreu.

James Pizarro