quinta-feira, 29 de julho de 2010

CANTEI EM ESPANHOL EM PUNTA DEL ESTE...

A convite da Prefeitura (Intendência) e da Câmara de Vereadores da cidade uruguaia de Punta del Este, em companhia de Dom Arturo Vetuschi, cônsul do Uruguai em Santa Maria, estive fazendo a palestra inaugural do "Primeiro Encontro de Eco-turismo e Meio Ambiente de Punta del Este". No dia seguinte, 10 de outubro de 1985, às 15:00 horas, no Ginásio Municipal de Punta del Este completamente lotado por 4000 crianças da faixa etária entre 9 e 12 anos, fiz palestra sobre a fauna e flora do Cone Sul. No final da palestra, cantei diversas músicas ecológicas em espanhol, com um coral de 4000 vozes, o que me emocionou intensamente. O fato foi presenciado pelos vereadores de Santa Maria e pelos estudantes do Curso de Turismo da então chamada Faculdade das Irmãs Franciscanas (hoje UNIFRA), sendo transmitido ao vivo pela TV e pelas rádios da cidade uruguaia. Este fato motivou convite para fazer palestras em outras cidades uruguaias. Tenho em meus arquivos os recortes de um jornal uruguaio, com a manchete : "Maestro Pizarro, un fenomeno de comunicacion". O cônsul Dom Arturo Vetuschi, ainda residente em Santa Maria, possui a íntegra da gravação e da filmagem do fato. O Canal 16 - TV Câmara, de Santa Maria, vez por outra reapresenta este documentário.
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AUTOR : James Pizarro

LUTEI PELO FIM DOS BODOQUES

O mais antigo inimigo de incautos pássaros em nossa cidade, como de resto em todo território gaúcho, era o estilingue ou funda, o popular " bodoque ". No final dos anos 80, início dos anos 90, uma indústria de brinquedos de SP lançou na praça uma forma moderna de estilingue, com uma peça de metal em forma de letra Y e com duas tiras de borracha de uso cirúrgico, substituindo as velhas tiras feitas de câmara de pneus de automóvel. Ainda havia um melhoramento técnico : uma empunhadura que se encaixava no antebraço do atirador. Este tipo de artefato passou a ser vendido em Santa Maria, tendo eu recebido denúncia contra os Supermercados Trevisan (denúncia feita pela Associação Protetora dos Animais, através da ativa militante, professora Vera Resende). A rede Trevisan de supermercados era a mais importante da cidade e seu Presidente, meu amigo João Trevisan, era inclusive o presidente da Associação de Supermercados do RS. Fui falar com ele pessoalmente e fiz ver que, um daqueles bodoques modernos era capaz de atirar uma bola de gude (nossa tradicional "bulita") a 80 km/hora, cerca de 25 metros por segundo, com um alcance efetivo de 30 metros. Disse que, a essa velocidade, abriria um buraco na cabeça de uma criança. Falei sobre o instinto de violência desenvolvido nas crianças, a mortandade de pássaros em nossa região, etc...Imediatamente, na minha frente, João Trevisan chamou o gerente-geral da principal loja dos supermercados que dirigia (onde hoje está localizado o Supermercado Real) e ordenou que fosse retirada das prateleiras e gôndolas todos os bodoques e que fossem devolvidos à fábrica paulista e cancelados os novos pedidos. Depois disso, fiz uma série infindável de palestras nas escolas de ensino fundamental de nossa cidade, falando sobre a necessidade da gente ter mais pássaros, mais ninhos, mais vida. Foi um golpe de morte no uso de bodoques em nossa cidade, do qual me orgulho ter participado.
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AUTOR : James Pizarro

PRIMEIRA SEMANA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE EM SANTA MARIA,RS

Em 1983, a Secretaria Especial do Meio Ambiente, conhecida pela sigla SEMA, era uma subsecretaria colocada dentro do Ministério do Interior . Seu ativo titular era o Dr. Paulo Nogueira Neto, que foi cedido para o governo federal pela USP-Universidade de São Paulo, onde era fundador e titular da cátedra de Ecologia.
Por determinação da SEMA, em maio de 1983 foi decretado que todas as prefeituras brasileiras deveriam comemorar, de 1 a 7 de junho, a "Semana Nacional do Meio Ambiente". Em Santa Maria, fui convidado pelo prefeito Dr. José Haydar Farret para coordenar, planejar e fazer realizar este evento. Resolvi aceitar o desafio uma vez que certa parcela da comunidade e da imprensa acusava os ecologistas de apenas criticarem e jamais executarem algo de prático.Passei cerca de 20 dias arregimentando forças. Pretendo lembrar de todas aqui. Direção, funcionários e alunos do SENAC deram notável apoio, confeccionando belíssimo cartaz com a programação, horários, local e nome dos palestrantes. Ainda fizeram as vezes de recepcionistas no Centro de Atividades Múltiplas, local do evento, 12 moças elegantemente trajadas, alunas do Curso de Recepcionistas do SENAC. Os escoteiros da Tropa Henrique Dias distribuiram 10 mil folhetos convidando a população (folhetos pagos pela Prefeitura Municipal e distribuídos nas ruas, avenidas e nas escolas, de sala em sala de aula).
Meus alunos da disciplina de Ecologia dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e Engenharia Florestal ministraram dezenas de palestras nas escolas municipais e, junto com os escoteiros da Tropa Henrique Dias, plantaram dezenas de mudas de árvores ao longo do Parque Itaimbé, muitas delas transformadas hoje (25 anos depois) em frondosas árvores. Meus alunos dos cursinhos Master e Riachuelo também colaboraram na distribuição dos folhetos sobre o evento.
Todas as palestras foram gravadas pelos técnico Anacleto Brondani, da Rádio Universidade, com a colaboração indispensável do motorista Petry e do locutor Roberto Montagner, então diretor da emissora da UFSM, também responsáveis pela sonorização do Centro de Atividades Múltiplas durante sete noites consecutivas. O Departamento de Divulgação da UFSM também muito colaborou (distribuindo "releases") nas pessoas de Gaspar Miotto, Jane, Mariluza, Áurea, Ivone e Nicola Chiarelli Garófallo. Os colunistas de A RAZÃO, Humberto Gabbi Zanatta e Vicente Paulo Bisogno, assinaram matéria divulgando o fato. Também muito colaboraram : Pedro Freire Junior (Rádio Imembui), padre Potrilho e Hugo Fontana (Rádio Medianeira), José Luiz (Rádio Santamariense), Paulo Ceccin (FM Cultura), Jorge André (FM Atlântida), Ademar Ribeiro, Carlos Eduardo Pavani, Verinha Pinheiro e Sérgio Assis Brasil (todos pela TV Imembuí), professoras Romy Scalcon e Ceura Fernandes (pela Delegacia de Educação) e as direções de todas as escolas da cidade. As palestras também receberam cobertura das sucursais dos jornais de Porto Alegre.
Durante as sete noites de palestras, cerca de 1500 pessoas lotaram completamente as dependências do Centro de Atividades Múltiplas, o popular "Bom-Bril". Houve necessidade de que a Rádio Universidade instalasse caixas de som do lado externo do prédio para que cerca de 500 pessoas pudessem ouvir as palestrantes. O impressionante era o silêncio e a disciplina de todos.
O programa desenvolvido, temas e palestrantes foi o seguinte :
1/junho - James Pizarro - palestra inaugural "A Má Qualidade de Vida no Planeta"
2/junho - "Desertos e Áreas de Desertificação no Rio Grande do Sul" - Prof. José Salles Mariano da Rocha
3/junho - Gustavo Quesada - "Comunidades Agro-energéticas"
4/junho - Horst Oscar Lippold - "Aspectos da Fauna Silvestre do Rio Grande do Sul"
5/junho - Dr. Arnaldo Walty - "Câncer e Meio Ambiente"
6/junho - Amaury Silva - "A Verdade sobre as Drogas"
7/junho - Mesa Redonda com os professores João Radünz Neto, Brandão, Ilka Bossemeyer e Paulo Ary Moreira versando sobre "Piscicultura e Aspectos Ecológicos da Água"
Foi feito, como ato final, um plantio de árvores no centro da cidade, com a presença do prefeito municipal, José Haydar Farret e grande número de autoridades, escolares, universitários e populares.
As cerca de 2000 pessoas que assistiram as palestras e assinaram livro de presença ganharam, sem nada pagar, certificado de participação fornecido pela direção do SENAC.Registre-se também que a entrada durante toda a semana foi inteiramente grátis. Registro para a memória da cidade esta iniciativa, de intensa repercussão cultural, técnica, científica e popular. Lamento que, passados 25 anos, a comemoração da "Semana Nacional do Meio Ambiente" ficou apenas nesta primeira edição.
Por razões que desconheço e lamento, a semana nunca mais se realizou.
Coisas de Santa Maria..
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AUTOR : James Pizarro

PRIMEIRO ENCONTRO ESTADUAL DE ECOLOGIA NO RIO GRANDE DO SUL

Nos dias 8 e 9 de maio de 1984, realizou-se em Santa Maria, o pioneiro "EEEE", isto é, "Primeiro Encontro Estadual de Entidades Ecologistas", numa promoção conjunta da Associação Ecológica "Irmão Sol, Irmã Lua" (de Santa Maria) e AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (de Porto Alegre). A entidade santa-mariense era presidida por mim e a entidade porto-alegrense era presidida pelo professor Flávio Lewgoy, geneticista da UFRGS.A bem da verdade, a parte operacional que possibilitou a realização do encontro, tais como passagens, ônibus, estada, refeições, cartazes, verbas, etc...foi totalmente implementada por mim e pelo jornalista/ecologista João Batista Santafé Aguiar, secretário da AGAPAN, e que viajou a Santa Maria diversas vezes, hospedando-se na minha residência. O Dr. Armando Vallandro e o Dr. Walter Bianchini, que ocupavam altos cargos na UFSM em 1984, foram de vital importância para o encontro, pois cederam vales para refeições no Restaurante Universitário, apartamentos no campus para dezenas de ecologistas e também um ônibus da UFSM ficou à disposição de todos. Muitos ecologistas, principalmente os mais idosos, foram acolhidos em muitas casas de santa-marienses, que abriram suas portas e seus corações, sensibilizados pela luta ecologista.O deputado estadual Carlos Renan Kurtz, na época presidente da Assembléia Legislativa do RS, colaborou com um mil cruzeiros novos (moeda da época), verba alentada diante das precárias condições financeiras das entidades. Muitos políticos prestigiaram o pioneiro EEEE. Puxando pela memória, acho que lembro de todos : Dep. Estadual Renan Kurtz, Dep. Federal João Gilberto Lucas Coelho (PMDB), Dep. Estadual Vercidino Albarello (Presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa), vereador porto-alegrense Caio José Lustosa (PMDB), vereadora porto-alegrense Jussara Cony (PMDB), Dep. Estadual Cézar Schirmer (líder do PMDB), vereador santa-mariense Marcos Rolim (PMDB), vereador santa-mariense João Nascimento (PMDB), secretário municipal Nelson Borin (representando o prefeito José Haydar Farret). O deputado estadual Jo´se Ivo Sartori, da Comissão de Direitos Humanos, justificou sua ausência por telex.No início do congresso, aproveitando a presença dos políticos, foi realizado um demorado e, às vezes, ácido "pinga-fogo" com os políticos presentes , já que os mesmos, mercê de suas ocupações, não poderiam permanecer no encontro durante todo o tempo. Mas muitos compromissos foram assumidos pelos políticos, como por exemplo, a realização da "Semana Nacional do Meio Ambiente", de 1 a 7 de junho, em Santa Maria (o que se concretizou, como veremos em outro artigo dessa série). Consultando a lista de assinaturas e as atas do primeiro EEEE, todas em meu poder e guardadas nos meus arquivos, computei 110 ecologistas. Estiveram presentes representantes das seguintes entidades : AGAPAN (Porto Alegre), "Irmão Sol, Irmã Lua" (Santa Maria), APAN (Santa Rosa), APPAN (Pelotas), APNVG (Gravataí), ADFG (Porto Alegre), Quero-Quero (Canoas), NEE (Rio Grande), Deite na Grama (Porto Alegre), Em Nome do Amor à Natureza (Porto Alegre), Seriema (Alegrete) , ASPE (Santa Maria), ASCAPAN (Canoas) e os núcleos da AGAPAN das cidades de Lageado, Três de Maio e Cruz Alta. Também participaram e assistiram o encontro, na condição de ouvintes, sem direito a voto, professores da UFSM, alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Agronomia e Veterinária, jornalistas, radialistas, professores estaduais e de escolas particulares, donas de casa.Nos intervalos das discussões e apresentação/votação de moções, o duo musical "Quintal de Clofila", brindava a assistência com a execução de músicas com temas ecológicos. O duo era constituído por dois exímios artistas irmãos, Nejandre Arbo e Dimitri Arbo, filhos do poeta e jornalista Antônio Carlos Arbo, funcionário da UFSM e autor de uma obra poética intitulada "Tempoema".Cerca de 30 moções foram discutidas e aprovadas no pioneiro EEEE. A Irmão Sol, Irmã Lua, de Santa Maria, teve cinco moçoes aprovadas por unanimidade : moção sobre árvores imunes ao corte, moção sobre livros escolares de leitura em cumprimento da lei 4771, moção sobre depósitos fossilíferos em cumprimento ao decreto-lei 4146, de 1942, moção sobre a obrigatoriedade da inserção semanal de textos florestais nas estações de rádio e moção sobre as comemorações do "Dia da Ave", em 5 de outubro. Outras moções discutidas e aprovadas foram : severa fiscalização sobre os banhados do RS por parte do IBDF, solicitação à UNESCO que torne o Banhado do Taim "patrimônio comum da Humanidade", louvor à equipe do Globo Repórter sobre as matérias versando sobre desfolhantes químicos em Tucuruí, moção de repúdio à ELETRONORTE pela utilização do pentaclorofenol em Tucuruí, repúdio à matança de milhares de pintos em Lageado, exigência do cumprimento da portaria 1079, da Secretaria de Saúde e Meio Ambiente, que proibe qualquer dragagem do Banhado Grande, solicitando a construção de obras que regularizem a vazão do rio em Passo dos Negros, criação de um encarte ecológico de âmbito estadual, proibição imediata da caça às baleias, correspondência aos ministros e senadores dando apoio à aprovação da Lei 7747/82 (lei dos agrotóxicos), preservação dos locais de procriação das baleias, moção no sentido de que as plantas dos engenheiros civis devam vir acompanhadas de um estudo técnico de um engenheiro florestal no caso de terrenos arborizados, etc...Também foram aprovadas por unanimidade moções de louvor e agradecimento ao jornal A RAZÃO, Pró-reitoria de Extensão, Pró-reitoria de Assuntos Estudantis, Departamento de Divulgação da UFSM, Rádio Universidade, dep. estadual Carlos Renan Kurtz, empresário Werney Doeler, Direção do Instituto Master (pela cessão do local) e ecologistas João Batista Santafé Aguiar e James Pizarro, pelos relevantes serviços prestados à causa ecologista e à realização do EEEE.Quase 30 encontros ecologistas estaduais gaúchos já foram realizados, às vezes dois no mesmo ano. Mas nenhum deles (estive presente em quase todos) contou com tamanha representatividade de entidades/políticos/professores/militantes, como o primeiro encontro realizado nesta Santa Maria. Em nossa cidade, pois, nasceu a idéia pioneira da necessidade dos ecologistas/militantes/voluntários da causa se reunirem e discutirem pautas e estratégias do movimento. Já ouvi discursos de jovens militantes em encontros posteriores a esse argumentarem o pioneirismo, a maior importância, o maior número de participantes e outras coisas menores. Eu apenas sorri, porque em 1984 alguns deles nem haviam ainda nascido...
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AUTOR : James Pizarro

l988/1992 : QUANDO "ESTIVE" VEREADOR...

Enquanto radialista, produtor e apresentador do primeiro programa radiofônico de educação ecológica da radiofonia brasileira - "ANTES QUE A NATUREZA MORRA" - levado ao ar durante 26 anos pela Rádio Universidade (Santa Maria), fiz campanha contra a extração ilegal de areia das margens do chamado "Rio Verde". De fato, durante as décadas de 60/70/80 batalhei duramente contra a destruição da vegetação ribeirinha, das matas de galeria, o assoreamento do rio, etc...por mais de meia centena de areeiras ali instaladas. As mesmas feriam abertamente o disposto no Código Florestal em vigor no Brasil e praticamente nada se fazia contra as mesmas. Posteriormente, eleito vereador (legislatura 1988-1992) com um programa totalmente ecológico, sob o título de "O Guerreiro da Natureza", fiz do meu mandato uma trincheira de dura luta contra os agressores ambientais de qualquer tipo. Naquela legislatura, por força de dispositivo nacional, a Câmara de Vereadores discutiu, redigiu e aprovou a nova Lei Orgânica do Município de Santa Maria, que nada mais é do que a constituição municipal. Consegui, com o apoio dos demais vereadores, a inclusão de um capítulo inteiro somente sobre meio ambiente na carta magna municipal, o que foi uma novidade para os municípios gaúchos. Tanto é verdade que diversas palestras fiz em outras cidades gaúchas e mesmo fora do RS (Olinda, Florianópolis, Recife,etc...) sobre o teor deste capítulo ecológico. À época em que "estive" vereador, as denúncias que fiz contra a situação ilegal das areeiras obteve um notável aliado, que foi o promotor público daquele período (1984-1992). Por ação das denúncias da tribuna da câmara municipal e por apoio total da Promotoria Pública, veio a Santa Maria uma comissão técnica e jurídica do então IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal). Fizeram as inspeções, visitas e, finalmente, determinaram o fechamento das areeiras, até que as mesmas passassem a cumprir os dispositivos legais constantes no Código Florestal. Estipularam, inclusive, datas/prazos e pesadas multas para quem descumprisse o acertado. Evidente que comecei a sofrer represálias, que variaram desde vaias estrepitosas nas sessões da Câmara de Vereadores até ameaças na calada da noite, feitas por telefonemas anônimos contra minha minha pessoa e familiares. Denunciei as ameças ao Poder Judiciário e à Policia Civil, tornando público as mesmas pela tribuna e pela mídia local. Em certas sessões da Câmara, as galerias eram ocupadas por duas facções. Metade do público era constituído pelos estudantes universitários, estudantes do ensino médio, entidades ecologistas e simpatizantes da defesa do "Verde". A outra metade, era constituída pelos proprietários das areeiras, e seus empregados e familiares, cujo porta-voz e defensor entre os vereadores era o médico-veterinário José Manoel da Silveira, infelizmente falecido num desastre de automóvel em Goiás. Ele era meu amigo particular, a quem eu chamava carinhosamente de "Zé Manoel" e nossas discussões, por vezes violentíssimas, ficavam restritas ao plenário. Antes mesmo de descermos ao plenário, ele passava no meu gabinete, no primeiro andar, e me dizia : "Te prepara gordinho...que vou te meter o pau hoje porque o plenário tá cheio de areeiros". Eu apenas sorria e dizia : "Obrigado, Excelência". Depois das reuniões, a gente costumava ir ao melhor restaurante que essa cidade já teve em propostas gastronômicas e de ambiente, o saudoso "Fritz Krug", situado na rua Tuiuti, atrás do Itaimbé Palace Hotel. Estávamos lá, eu e o Zé Manoel, saboreando salsichas bock, com mostarda picante e chope, quando passavam pela nossa mesa pessoas que tinham assistido a sessão. Certa vez, tivemos de ouvir isso : "Esses vereadores são sem-vergonhas mesmo, quase se agarram a pau na sessão, entusiasmam meio mundo e depois vem tomar chope juntos ! " A mediocridade de certas pessoas da cidade não conseguia entender que "adversário" de idéias não é sinônimo de "inimigo" pessoal...Como as areeiras tiveram suas atividades suspensas durante quase 90 dias, é evidente que isso feriu interesses financeiros, particulares, pessoais, políticos. E a areia tinha de ser importada de outras cidades. O próprio prefeito da época, engenheiro Evandro Behr (que foi um ótimo prefeito, a meu juízo), dava entrevistas e me espinafrava : " O povo tá pagando caro pela areia e o único culpado é o vereador Pizarro, defensor de plantinhas e bichinhos". Máquinas extratoras de areia, tratores de elevada potência e de último tipo, começaram a tirar areia a apenas alguns metros das pilastras da recentemente construída ponte do Rio Verde. Denunciei o fato, levei a reportagem no jornal "in loco". Na edição do dia seguinte, A RAZÃO estampou como manchete :"Vereador denuncia : ponte do Verde vai ruir no futuro". Meus Deus do céu ! Meus adversários foram para as rádios e pediram minha cassação. Outros sugeriram minha internação no Hospital Psiquiátrico. Fui acusado de adepto do catastrofismo, de histérico. Pouco mais de dez anos depois, o vão central da ponte - conforme eu vaticinara - ruiu, causando enormes prejuízos à região toda por quase um ano, tempo que durou a reconstrução do vão da ponte.Em 1992, ano em que tentei a reeleição, sem dinheiro algum para bancar os gastos duma campanha dura, enfrentei uma feroz campanha de difamação, calúnia e perseguição patrocinada por pessoas que se sentiram lesadas pela minha ação contra a situação ilegal das areeiras naquela época. Algumas dessas pessoas já faleceram, razão pela qual - seguindo meu código pessoal - não lhes cito o nome. Perdi a reeleição por apenas 16 votos, ficando na primeira suplência. Tal fato me desgostou profundamente e, compelido pela esposa e filhos, abandonei definitivamente as atividades político-partidárias. Mas valeu a luta. Pois houve uma conscientização maior da cidade para os temas ecológicos. Eu fiz a minha parte. Está tudo documentado. Paguei um preço caro em incômodos e desgastes pessoais. Mas valeu a pena. Tenho coisas para contar a meus cinco netos.Agora, me assaltam algumas dúvidas... Existem planos de preservação atualmente ? A fiscalização existe com maior intensidade,passados 20 anos ? As margens do Verde foram reflorestadas ? O assoreamento do rio diminuiu ? Quantas pessoas pensam nisso hoje em Santa Maria, entre populares, políticos e autoridades em geral ? Existem ativistas da causa ecológica ainda em Santa Maria ? Onde estão aqueles que dão a cara pra bater ?
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AUTOR : James Pizarro

quarta-feira, 28 de julho de 2010

FUNDAÇÃO ZOOBOTANICA/RS ENTRE AS MELHORES INSTITUIÇÕES CIENTIFICAS DO MUNDO

A notícia que reproduzo abaixo enche meu coração de alegria pois dirigi a Fundação Zootânica do Rio Grande do Sul nos anos 1992/93, a convite do então governador Alceu Collares e na condição de professor cedido pela UFSM para desempenhar o cargo.
A FZB tem quatro unidades operacionais : Parque Zoológico do RS, Jardim Botânico do RS, Museu de Ciências Naturais do RS e Parque Estadual "Delta do Jacuí.
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"A Fundação Zoobotânica do RS integra o ranking mundial entre os melhores institutos de pequisa do planeta. Este resultado foi publicado na edição de julho passado, na revista do Laboratório de Cibernética do Conselho Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), que coloca a FZB entre os dois mil melhores institutos de pesquisa do planeta. O Ministério da Ciência e Tecnologia comemora a boa classificação dos brasileiros. A FZB também." (Coordenadoria de Comunicação Social/Fundação Zoobotânica do RS).
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FONTE : Jornal do Comércio, 28.07.2010, Coluna Edgar Lisboa/Editoria de Política.

terça-feira, 27 de julho de 2010

SONHO X PESADELO

Ouvi uma entrevista (das raríssimas que deu, porque é muito tímido) do Luiz Fernando Veríssimo, na qual ele afirmava que dezenas de textos circulam na internet como se fossem de sua autoria. O mesmo acontece com o Jabor e com outros autores.

Recebi um e-mail com o título de "Diferença entre sonho e pesadelo", dando autoria para o Luiz Fernando Veríssimo. Resolvi postar o texto aqui tamanha a qualidade e o senso de humor e de verdade que ele encerra, independente de seu verdadeiro autor. Ei-lo :

"Sonho é comer um churrasco preparado por gaúchos, numa praia do nordeste, com mulheres mineiras, organizado por paulistas e animado por cariocas.
Pesadelo é comer um churrasco preparado por mineiros, numa praia gaúcha, com mulheres nordestinas, organizado por cariocas e animado por paulistas."

Não é um primor ?

Se bem que no ítem "mulheres", ele poderia também incluir as gaúchas que, a meu juízo, estão entre as mais lindas do mundo, tchê ! Mas, bah...que barbaridade !

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AUTOR : James Pizarro

domingo, 25 de julho de 2010

AVÔ RÉPTIL SE DESPEDE DE NETOS ALADOS...

Tenho cinco netos. Os dois menores, Tiago (7 anos) e João (3 anos), são mineiros de Itajubá, sul de Minas Gerais.
Juntamente com minha filha Cristina e meu genro Gustavo, eles passaram oito dias conosco aqui em Canasvieiras. Claro, foi uma semana atípica, inesquecível. Passeios. Idas a parquinhos infantis. Almoços fora. Jantares aconchegantes em casa. Conversas colocadas a limpo. Passado rememorado. Futuro compartilhado em sonhos. Passeios aos shoppings. Compras na Havan.
"Scherek" (parte 4) e "Toy Story" (parte 3), ambos em 3D, nas barulhentas salas do CINEMARK. Pipoca. Dinossauros. Gritos. Olhos infantis sem piscar. Volta à nossa infância.
Hoje, domingo, acabam de sair para o aeroporto de Florianópolis, distante 45 quilômetros daqui da praia. Foram com nosso amigo Paulo, gaúcho de P. Alegre, aqui residente há 14 anos e dono de uma frota de carros de aluguel.
Impossível conter o choro.
Nunca sei - na idade em que estou - quando os verei de novo. Se os verei.
E essa dúvida aperta o coração. Esmaga o coração como a uma goiaba madura demais. Há muitos anos deixei de sopitar emoções, de controlar lágrimas.
Não importa que meus netos me vejam chorando. Nem que minha filha chore comigo abraçada. Nem que meus netos também se emocionem
Isso é sinal de bem querer.
Vou para a praia tomar chimarrão ao sol. Porque o avião deles passará por aqui dentro em breve. Conheço a hora e o roteiro.
Aquele enorme pássaro de metal carregando em seu útero de aço meus entes queridos. E deixando para trás - como se fosse uma nuvem - aquele gigantesco rastro branco. Vão cumprir seu destino de alados os meus netos. Pois eles têm muito céu pela frente, pelos anos a fora.
Eu dou as mãos nodosas para minha mulher. E como bicho antidiluviano fico olhando para o céu até o avião desaparecer.
Enquanto mais algumas lágrimas correm pela minha face de réptil.
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AUTOR : James Pizarro

sábado, 24 de julho de 2010

QUANDO A VIDA SE ESVAI EM SEGUNDOS...

Meu pai era enfermeiro. Trabalhava no Centro de Saúde número 7, em S. Maria, RS, durante o dia. À noite, trabalhava no SAMDU - Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, folgando entre uma noite e outra. E nas horas de "folga" ainda aplicava injeções a domicílio, geralmente em casas de famílias abastadas da cidade.
Minha mãe era dona-de-casa exemplar para os padrões exigidos à época... Cozinhava muito bem. Costurava e fazia nossas roupas. Fazia doces e bolos sob encomenda. E reclamava porque nunca tinha conseguido concluir seu curso de violino, iniciado no Colégio Santa Terezinha, interrompido pelo casamento.
Tive uma infância com educação severa. Apanhei muito. E cerca de 90 % das surras eram merecidas. Apanhava de vara de marmelo. De chineladas. E até de relho, desses de carroceiro bater em cavalo.
Também ficava muito de castigo. Quando eu dizia palavrões, me colocavam pimenta na lingua, providência pedagógica que se revelou ineficaz, além de me deixar viciado em pimenta... Costumavam me privar das coisas que eu mais gostava. Cortavam meu cinema. Aboliam a "Cyrillinha", refrigerante de fabricação local, feito à base de casca de laranja e que era minha bebida predileta. Eu era impedido de jogar bola. De brincar na sanga, hoje arroio Cadena.
Normalmente, depois da surra, eu era obrigado a tomar banho, vestir um abominável pijama de pelúcia e ficar no meu quarto, nariz esborrachado na vidraça, vendo meu amigos jogando bola na rua.
Existia uma espécie de sadismo, reconheço hoje. Mas era o sistema educacional vigente na década de 40/50.
Meu pai era onipotente. Mandava em tudo. Dirigia tudo. E tudo obedecia à sua vontade. Os parentes todos obedeciam. E o único que se rebelava, teimava e mantinha discussões acirradas com ele era eu. Minha psiquiatra diria décadas depois que eu consegui criar um "mecanismo reativo" e , adulto, me transformei num contestador em todas as áreas onde atuei. Nunca suportei mandonismos, chefias, opressões, ordens absurdas. Sempre fui da oposição politicamente. E de certa forma, acho que inconscientemente temo que meus candidatos assumam um dia o poder. Porque terei de ficar contra eles. Porque todos eles se corrompem e ficam sendo o inverso do que pregavam ser.
Na UFSM fui grevista militante. Sempre fiquei contra o governo. Contra a chefia. Contra o detentor do poder. Porque eu sei hoje que todos eles representavam a opressão paterna.
Mas meu pai era generoso. Eu tinha conta livre na Livraria do Globo para comprar todos os livros que quisesse. E todas as vezes que precisei de carona, de ajuda, de dinheiro...eu disse TODAS...ele nunca me falhou. E tinha uma peculiaridade : nunca me perguntou o porquê do pedido... o porquê da minha necessidade. Jamais usou este procedimento de humilhação, tão comum nos mais velhos que "ajudam".
Aos 84 anos, o cardiologista indicou-lhe uma cirurgia para correção de um defeito. Lembro que ele não queria fazer. Eu fui procurar o médico, meu ex-aluno no cursinho pré-vestibular décadas atrás. Ele me disse que, sem a cirurgia, meu pai morreria repentinamente e que tinha, no máximo, seis meses de vida. O médico me disse que esse diagnóstico não era só dele mas de toda a equipe que acompanhava o caso de meu pai.
Certa madrugada, meu pai me chamou prá tomar chimarrão com ele às 5 da manhã. E pela primeira vez me pediu um conselho :
- O que eu devo fazer ?
Eu disse a ele :
- Tu tens de te operar, o cirurgião é excelente e tu vais viver muitos e muitos anos.
Ele me disse :
- Vou me operar então...tomara que dê tudo certo porque eu quero ver a formatura dos meus bisnetos.
A operação em si foi um sucesso. Mas na sala de recuperação rompeu-se a aorta abdominal, que possuía um aneurisma, coisa que os médicos ignoravam. E ele morreu. Meu avô também morreu assim...de ruptura da aorta abdominal.
Fui ao necrotério. Vi meu pai nu, morto. Com cortes e suturas, porque precisaram fazer procedimentos no cadáver, devido à imensa hemorragia interna.
Começaram a chegar os amigos. Os clubes da Terceira Idade. O pessoal da funerária. Minhas filhas, uma de Itajubá, MG e outra de Panambi, RS, foram avisadas. Meu filho, que mora em Santa Maria, foi nosso companheiro e presença sempre.
Ele foi velado na sala de sessões da Câmara de Vereadores, pois tinha sido vereador na legislatura de 1958.
Eu aguentei tudo dentro dos limites do possível. Mas quando minha mulher me avisou que meus alunos estavam chegando eu desabei. Olhei e vi aquelas turmas todas, aquela gurizada toda de 15...16 anos, dos quais eu era professor orientador...aqueles olhos assustados com o choro do seu professor...eu desabei literalmente. A Carolzinha me disse : "Nós pedimos o cancelamento das aulas pra ficar com contigo, Pizarro...como tu ensinaste prá gente, que na hora da dor a gente fica junto".
Dia desses, aqui na praia, me surpreendi fazendo um ultrassom abdominal para pesquisa de anomalias na aorta abdominal. Ela está íntegra. Sem anomalias.
Por enquanto...

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AUTOR : James Pizarro

IDOSO É SUCATA PARA PLANOS DE SAÚDE

Que os planos de saúde colocam mil obstáculos para fazer contratos com idosos, eu estava cansado de saber. Que eles priorizam contratação de planos com jovens, isso também era sabido. Que cobram mensalidades escorchantes dos idosos e com período de carência estapafúrdios, também é realidade.
Mas uma coisa beira a criminalidade : quando um idoso tem condições e aceita as exigências da "empresa", paga religiosamente em dia, cumpre o período de carência, mesmo assim quando surge a necessidade de uma cirurgia, por exemplo, eles postergam a realização da mesma até que uma reunião de médicos decida pela autorização do procedimento.
Os corretores que vendem os planos de saúde têm ordem expressa de evitar a venda de planos para idosos, o que causa aos mesmos uma situação constrangedora. Mesmo assim, muitos efetuavam estes contratos. Os vendedores normalmente ganham de remuneração a primeira mensalidade do contrato que fazem.
Agora, para desestimular a venda do plano para idosos, a maioria das empresas tomou a providência nojenta de não pagar nenhuma taxa para o corretor quando o contratante é idoso.
Que país é este que - mesmo na iniciativa privada e com altos custos para um idoso - trata seus velhos como sucata humana ?
Um idoso agora é tratado como uma laranja que não tem mais suco, que virou bagaço ?
Virou uma caneta esferográfica que perdeu a carga ?
Uma lâmpada fluorescente que não brilha mais e começa a tremelicar ?
Depois de dar uma vida inteira em prol da construção do país, de educar e formar filhos, de lutar pelo patrimônio da familia...ele é tratado assim ?
Onde estão os clubes da terceira idade que não vão para as ruas e paralisam o trânsito, berrando com a voz tremida e arfante, pelos seus direitos ?
Onde estão os políticos asquerosos que só pensam aumentar seus salários e não têm a mínima piedade para com esses homens e mulheres de cabelos brancos que merecem um final de vida digno ?
Onde estão os jovens estudantes universitários, as lindas meninas das praias, a meninada que se entope de álcool e drogas nas baladas ? Pensam que não vão envelhecer ?
Onde está este nosso povo de vocação galinácea, que toma no rabo e sai cantando, pedindo desculpas ainda por ter ficado de costas ?
Onde estão todos ?
Escondidos atrás de seu comodismo ?
Protegidos em seus carros blindados ?
Escondidos em seus apartamentos de cobertura ?
Vivendo uma vida de faz-de-conta que é vida ?
Onde estão vocês, seus merdas ?
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AUTOR : James Pizarro

sábado, 17 de julho de 2010

OS GOLFINHOS E A NANOTECNOLOGIA

Sou do tempo de estudar Física nos três volumes do saudoso Aníbal Freitas,usados nas três séries do então chamado "Curso Científico" (hoje "Ensino Médio"). E lembro muito bem dos sistemas de unidades de medidas CGS e MKS. Já na universidade convivi com dois submúltiplos do segundo : o milissegundo (milésimo de segundo) e o microssegundo (milionésimo de segundo).

Nós últimos anos, pela leitura de revistas especializadas e jornais, aprendi sobre o nanossegundo, que equivale a um bilionésimo do segundo.
Já chegando perto dos setenta anos, imaginei que mais do que isso não chegaria a tecnologia humana. Mas errei !

Acabo de ler um artigo no "Estadão", assinado pelo Ethevaldo Siqueira,onde fiquei sabendo que existem o picossegundo, o femtossegundo (sim, com M antes do T) e o attosegundo valendo, respectivamente, um trilionésimo, um quatrilionésimo e um quintilionésimo do segundo.

Sou tão velho que aprendi que a letra M só podia vir antes das letras P e B e, decepcionado, vi que isso também não vale mais. O articulista explica que "o prefixo FEMTO é derivado do dinamarquês FEMTEN, que quer dizer 15...um quatrilionésimo de segundo é escrito, em notação científica, assim : 10-15(ou seja, 10 elevado a menos 15)".

Entre os 10 mais velozes computadores do mundo (7 nos Estados Unidos,2 na China e 1 na Alemanha), existem dois computadores que fazem um quatrilhão de cálculos por segundo e que por causa desses dois é que foi criada a unidade femtossegundo.

Isso tudo me deixou tão embasbacado que saí com meu chimarrão e fui ver os quatro golfinhos que diariamente passam aqui na praia de Canasvieiras em direção à praia Ponta das Canas. Nenhum computador terá um dia a beleza dos movimentos dos golfinhos.

E se um dia tiverem, eles que vão à FEMTON que o pariu !

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AUTOR : James Pizarro

PAUL, O POLVO ALEMÃO

Talvez o animal mais falado nos últimos tempos tenha sido Paul, polvo alemão que fez "previsões" corretas dos jogos da Copa do Mundo.
A humanidade é tão ávida de futilidades que o polvo até hoje ocupa manchetes de jornais e certamente vai continuar sendo usado para prever outras coisas.
A mim, como ecologista, me surpreende que o povo alemão - sabidamente amante da Natureza e de cultura biológica das mais elevadas do mundo - permita que um animal marinho fique preso dentro de um miniaquário daqueles.
O lugar ideal para aquele animal é seu habitat : o mar !
Desrespeito e palhaçada têm seus limites !
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AUTOR : James Pizarro

quarta-feira, 14 de julho de 2010

44 ANOS DE CASADOS HOJE, EM PLENA QUEDA DA BASTILHA

Às 17h do dia 14 de julho de 1966 eu esperava a chegada da noiva Vera Maria junto ao altar da Catedral Diocesana de Santa Maria, RS.
Impaciente, como todo noivo, eu me preocupava com a violenta chuva que caia.
Ela chegou no horário, como boa descendente de alemães, notórios pela pontualidade.
Quem celebrou nosso casamento foi o amigo padre Érico Ferrari que, alguns anos depois, foi escolhido bispo de Santa Maria. Infelizmente, foi bispo por pouco tempo. Em uma visita pastoral à região da Quarta Colônia, numa noite de forte temporal, capotou seu carro numa estrada e rolou despenhadeiro abaixo morrendo instantaneamente.
A festa foi na casa da noiva, à rua dos Andradas,1395, onde hoje é uma das delegacias de polícia da cidade. Tudo preparado por meus sogros, Braulio e Edith Souza.
Lembro dos padrinhos de casamento religioso : Rejane Lima Garcia (engenheira,já falecida), Rubem Noé Wilke (meu colega de turma na Agronomia da UFSM), Luiz Guilherme do Prado Veppo (médico e poeta, já falecido), Zélia Braga do Prado Veppo (administradora), José Dornelles (economista, meu ex-cunhado), Jane Terezinha Pizarro Dornelles (professora, minha irmã), Luiz Osvaldo Coelho (médico, meu concunhado) e Carmem Souza Coelho (advogada, minha cunhada).
E também lembro dos padrinhos do casamento civil : Zuil Correa Pujol (médico, Livramento,RS), Clara (então namorada do Zuil, professora), Tarso Genro (advogado, hoje Ministro da Justiça),Sandra Krebs (médica, esposa do Tarso Genro), Carlos Alberto Robinson (advogado, Santa Maria,RS) e João Nascimento da Silva (advogado, P. Alegre).
A vida é engraçada e curiosa, pois estas pessoas citadas eram colegas de UFSM, unidos pelo gosto à literatura, turma da noite no bar Moby Dick, amigos do peito. Depois a vida nos separou, cada um com seu gosto político, seu roteiro de vida, sua aposta no destino.
Viajamos naquela noite mesmo pelo chamado "trem noturno" para Porto Alegre.
Estávamos em plena Copa do Mundo e o Brasil foi desclassificado por Portugal.
Fomos ao Cine Cacique, na rua da Praia, assistir "Submarino Amarelo", filme dos Beatles.
Eu me formaria seis meses depois e ela também.
Parece mentira que se foram já 44 anos e que, nessa pílula cósmica de tempo, geramos três filhos : Nara (fonoaudióloga em Panambi,RS), Cristina (fisioterapeuta em Itajubá, MG) e James (assistente social em Santa Maria, RS).
E temos cinco netos : Amanda (17 anos, vestibulanda de Eng. Civil,na UFSM), Tarso (15 anos, cursando o Politécnico, nível médio da UFSM), Julia (9 anos, quarta série), Tiago (7 anos, primeira série) e João (3 anos, jardim da infância).
Nesta jornada de 44 anos perdemos meu pai (Alfeu Pizarro, 84 anos), meu sogro (Braulio Souza,90 anos) e minha sogra (Edith Grau Souza, 85 anos). Continua viva e forte minha mãe, Maria Pizarro,com 88 anos.
Enfim, 44 anos somados aos dois anos de namoro e um ano de noivado, totalizam 47 anos. Não é brincadeira.
Por generosidade de Deus continuamos vivos e saudáveis.
Esta postagem é para agradecer pela companheira que tenho. Pela família e pela saúde que temos.
Que Deus nos conceda a suprema graça de assistirmos a formatura dos cinco netos.
Depois, estaremos prontos para a nossa definitiva viagem espacial.

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AUTOR : James Pizarro

segunda-feira, 12 de julho de 2010

LULA "PANEM ET CIRCENSES" DA SILVA

Presentes de Natal, peru, cores, Papai Noel e toda parafernália da mídia e do marketing de final de ano para fazer o trabalhador torrar o seu décimo terceiro salário fazendo novas contas ao invés de pagar as contas que já tinha - eis uma faceta "bondosa" de final-de-ano da sociedade de consumo de mundo capitalista.
Depois as férias, balneários, praias, maiôs, biquinis, bronzeadores,campings.
Depois o carnaval, blocos, fantasias, Marques de Sapucaí ao vivo, escolas de samba, miseráveis vestidos de nobres, mulheres flácidas sacudindo suas celulites vestidas de pistoleiras, rede Globo transmitindo tudo.
Depois as reclamações contra o preço do material escolar dos filhos...
Mas logo a seguir chegam os campeonatos regionais de futebol.
E depois o campeonato nacional de clubes.
E mais Gugu. Hebe Camargo. Silvio Santos. Didi. Faustão. Caldeirão do Huk.
Márcia Goldsmith. Luciana Gimenez. Zorra Total. Novelas alienadoras.
E 2010 ainda teve a Copa do Mundo. Izabella Nardoni.
E agora o novo Jack, o estripador : o goleiro Bruno e seus asseclas.
E a galera, anestesiada, nem se preocupa em ler e saber das plataformas eleitorais dos candidatos à presidência da república.
O guru salvador Lula faz campanha eleitoral aberta pela TV para a sua candidata, é multado pela justiça e nada acontece. Quem deveria primeiro dar o exemplo é o primeiro a infringir a lei. Estimulando a certeza da impunidade no país.
Mas que importância tem isso se o Robin Hood tupiniquim cumprimenta com o chapéu alheio e fornece bolsa-familia com nosso dinheiro ?
E de-lhe vale-gás, e auxílio familia, e quinze reais por filho, e camisinha de vênus, e cotas na universidade, e embaixada em Funafuti, e perdão de dívidas para países africanos.
Lembro das aulas de latim do saudoso professor Albino Seibel, no Colégio Estadual Manoel Ribas, em Santa Maria. Foi com ele que, aos 12 anos, ouvi pela primeira vez a expressão "panem et circenses", uma forma de política romana que elevou os impostos e ajudou na ruína do império.
"Pão...e JOGOS circenses" passou até nossos dias com a singela idéia de pão e circo.
Se em Roma distribuíam pão gratuitamente durante as lutas sangrentas dos gladiadores, o governo faz hoje a coisa mais sutilmente, sob a forma de benesses.
Roma ruiu estrondosamente pelo mau uso do seu dinheiro.
Alguém duvida que apodreceremos também ?
Quem viver, verá.

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AUTOR : James Pizarro

sábado, 10 de julho de 2010

DOIS COLEGAS, DOIS DESTINOS

Era um menino bonito, vivo, simpático.
Corria alegremente pelo pátio do então Grupo Escolar João Belém. Mais tarde era o centro das atenções no pátio do Colégio Manoel Ribas.
Corria a década de 50 na pacata Santa Maria, RS.
No entanto, o adolescente tinha um certo desvio comportamental. Gostava de abusar com os colegas de famílias mais pobres. Os que não usavam roupas de grife. E muito menos frequentavam os salões do Comercial e Caixeiral.
E fazia isso acintosamente. Jogando no ridículo os baixinhos. Os gagos. Os que tinham deficiência visual e usavam óculos, a quem ele chamava de "quatro-olho".
Tinha predileção por tirar sarro ("inticar" se dizia naquela época) com um aluno tímido, calado, de boca pequena a quem ele apelidou de "boquinha-de-chupar-ovo".
Passaram-se vinte e cinco anos.
E cada aluno tomou seu rumo. Foi trilhar seu destino.
Por estes estranhos desígnios o grande gozador de outrora e de futuro brilhante, virou ascensorista.
E o "boquinha-de-chupar-ovo" passou a subir pelo elevador onde seu outrora algoz trabalhava. Porque dava aulas naquele prédio da universidade.
Um dia o encontrou deitado no elevador, bêbado, vomitado e urinado.
Foi aposentado por alcoolismo o outrora gozador.
Abandonado pela mulher, meses depois deu um tiro no ouvido.
Enquanto o outro, tímido e pobre garoto de outrora, continua dar suas aulas na universidade.
E na hora do recreio come ovo na cantina do campus.
Deixando cair alguns respingos de gema no avental imaculado.
Com sua boca pequena.

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AUTOR : James Pizarro

quarta-feira, 7 de julho de 2010

MORTE, UM TEMA RECORRENTE

Pessoas da minha faixa etária - e alguns até antes disso - costumam abrir os jornais e consultar direto os convites para enterro. Dizem que é por curiosidade. Querem ver se há algum amigo entre os que "partiram desta para a melhor". Aliás, quem disse que no post-mortem é tudo melhor ? Há controvérsias...

Dia desses li um artigo escrito por um psiquiatra sobre essa curiosidade mórbida. Resumo : ele diz que a pessoa que lê procura se certificar que o próprio nome não está nos convites. E que isso, inconscientemente, a deixa feliz e aliviada.

A verdade é que a perspectiva da própria morte não agrada a ninguém. Há todo um anedotário sobre esse tema e uma série de ditos populares. Quem não vai a hospitais visitar amigos ou não vai a velórios costuma dizer que "quem não é visto não é lembrado". Quando a gente faz exames periódicos para aferir a própria saúde, há aqueles que dizem "quem procura acha", condenando a racional medida de se fazer check-up. E assim por diante...

Mesmo as dezenas de amigos espíritas que tenho não costumam ver com bons olhos a morte. Um deles, mais chegado a mim e que se encontra severamente doente, está com muito medo de morrer. Pergunto cá para os meus botões : se a pessoa tem firme convicção de que vai nascer de novo, por que o medo ?

Há um e-mail humorístico que circula pela internet com sugestões para lápides segundo as crenças e profissões de cada um enquanto vivo. Para os adeptos do espiritismo, pelos quais tenho o maior respeito, há uma sugestão que achei muito pertinente : "Vou ali e já volto".

Já eu recebo lição diária de humildade, ao lembrar que sou pó e ao pó retornarei...

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AUTOR : James Pizarro