segunda-feira, 31 de julho de 2023

VAMOS REZAR POR JESUS ? _ James Pizarro (DIÁRIO - 01.08.2023)

No capítulo 11 de João, encontramos o versículo 35, um dos mais curtos de toda a Bíblia: “E Jesus chorou”. Não vou pontuar aqui o momento histórico que suscitou este versículo. Mas, contextualizando para os dias de hoje e num esforço de síntese, poderia resumir dizendo que Jesus chorou - e chora até hoje - por compaixão. Jesus chorou quando, a cada dois ou três dias, uma pessoa foi assassinada nas ruas de Santa Maria com balaços na cara pelos motivos mais torpes e vis. Jesus chorou quando crianças foram abusadas sexualmente dentro de suas próprias casas ou em suas escolas, por pessoas que teoricamente deveriam protegê-las. Jesus chorou quando mulheres fragilizadas e doentes foram abusadas por religiosos em templos onde ingenuamente foram em busca de socorro. Jesus chorou quando uma jovem mulher grávida foi, em plena luz do dia, estuprada no Bairro do Rosário sem que ninguém visse ou pudesse lhe auxiliar. Jesus chorou pelo número de doentes que não puderam ter o atendimento merecido porque aparelhos estavam quebrados e nem leitos suficientes existiam, tendo de sofrer o martírio e a humilhação da espera nas macas dos corredores dos hospitais. Jesus chorou diante de funcionários desesperados que tiveram seus salários há anos sem reajuste, suas contas atrasadas, seu crédito cortado, sua comida racionada e o pior – muitos deles chegaram ao suicídio. Jesus chorou diante do aumento das doenças sexualmente transmissíveis, algumas tidas como controladas, devido ao comportamento descuidado e a falta de respeito das pessoas para com seu próprio corpo. Jesus chorou pelos animais abandonados, torturados, mortos à míngua, explorados, envenenados, agredidos sem que nenhuma autoridade constituída tenha deles a mínima piedade. Jesus chorou pelos trilhões de reais roubados por alguns políticos que só pensam em amealhar dinheiro para si e só têm olhos para seus próprios umbigos. Jesus chorou pelas viúvas que ganham pensões ridículas, aposentados doentes que são submetidos a perícias numerosas para seguir ganhando tostões, doentes que precisam de remédios pagos pelo governo e estes sempre faltam nas farmácias oficiais. Jesus chorou pelos mortos na Ucrânia e pelas milhares de toneladas de grãos que deveriam saciar a fome do mundo e que acabam apodrecendo ou sendo queimados pelas bombas inconsequentes. Jesus chorou pelas crianças atingidas pelas balas perdidas nos morros cariocas e por aqueles que tiveram suas casas desruidaspelas enchentes. Sim, Jesus tem chorado muito. Talvez esteja quase “desidratado” devido à insanidade dos homens. E à insensibilidade dos políticos e autoridades. Jesus chorou pelos hospitais não concluídos, pela falta de leitos, pelos doentes amontoados em macas, pelas mães implorando por creches, pelos mortos em acidentes automobilísticos em estradas cheias de buracos, pela falta de remédios de uso continuado para pacientes carente, pelas crianças atingidas por balas perdidas. Jesus chorou pela fúria comercial e mercantilista em que se transformou a cabeça de muitos “religiosos” que agem em seu santo nome.. E que se empanturram de comida e bebida em demasia. Vamos cair de joelhos, fazer um “mea culpa” e rezar por Jesus antes de dormir ? Ele deve estar triste demais. E precisando do nosso acolhimento. Assim como nós precisamos do Seu perdão.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

AQUELA OLHADA POR CIMA DO OMBRO EM 1963 - JAMES PIZARRO (crônica DIÁRIO, 18.7.2023)

Naquele entardecer de 14 de julho de 1966 fazia muito frio em Santa Maria. E chovia muito. Tempo feio para uma data tão importante. Que certamente não era a data nacional da França. Com a tomada da Bastilha. Mas era uma data de outra tomada de posição. Diante dos familiares. Dos amigos. Da vida. E do mundo. Já no altar da Catedral de Santa Maria, ao lado dos padrinhos e testemunhas, o noivo espera. Pela noiva. E pelo monsenhor Érico Ferrari, oficiante do casamento, que pouco tempo depois seria bispo. E naqueles cinco ou dez minutos de espera, pela sua mente inquieta, desfilaram em imagens aceleradas dois anos de namoro e um ano de noivado. Tudo começou com aquela olhada por cima do ombro que ela lhe deu na “Primeira Quadra” – hoje calçadão Salvador Isaia – depois da saída da sessão de cinema no Cine Glória em 23 de janeiro de 1963. O que ensejou que ele lhe telefonasse naquela noite mesmo na cara e na coragem indagando “sutilmente” se a olhada tinha sido para ele mesmo. Depois de um silêncio soturno, a confirmação que iniciou o romance. O namoro iniciou no último dia do vestibular dele. Ele já trabalhava – com 21 anos – como auxiliar administrativo concursado do SAMDU e dava aulas de Biologia no Santa*Anna e cursinho. Todo dinheiro que ganhava era parte empregado no sustento pessoal e parte investido na compra de móveis e demais objetos para montagem de uma casa, o que enchia de espanto os familiares dela. Pois tinha recém começado o namoro e com pouco mais do que 16 anos, ainda fazendo o Curso Normal no Olavo Bilac. Três anos se passaram e o destemido e teimoso moço alugou uma casa e montou toda a estrutura para morar um casal. E passou ele mesmo a morar sozinho nela. Pediu a moça em casamento quatro meses antes mesmo da formatura dele. Os mais velhos da família, de ambos os lados, viam com temor aquela pressa e achavam uma ousadia. Mas nada podiam objetar porque o moço era estudioso, trabalhador e a moça o queria. Ele trabalhou quase meio século como professor universitário. E também em rádio, TV e jornal. Ela é e formada em Educação Física. No dia 14 último ambos comemoram 57 anos de casados. Levando-se em conta que a média de duração dos casamentos no Brasil atualmente é de 4,5 anos apenas, segundo dados do IBGE. Há necessidade nas relações a dois de muita resiliência, companheirismo, paciência, capacidade de perdão, maleabilidade e ductibilidade. Daquela olhada por cima do ombro naquela distante noite de 1963 em plena “Primeira Quadra” brotaram hoje três filhos, seis netos, genros, nora. E a certeza cada vez maior de que não existe nada mais importante no mundo do que a família. Eu te amo, Vera Maria ! Obrigado pela paciência e companheirismo. Parabéns pelo nosso dia !

segunda-feira, 3 de julho de 2023

UM HOMEM DO BEM - James Pizarro (DIÁRIO - 4 de julho de 2023)

Meu querido amigo e ex-aluno Cláudio Morgental sempre me falou com muito orgulho de seu avô José Morgental. Era dotado de uma inteligência privilegiada. E por isso, seu pai seu pai o mandou aprender o ofício de ferreiro com os alemães em AGUDO. Trabalhou na confecção da torre da Igreja de Santo Antônio, em Silveira Martins . Fabricou a cruz no alto da torre. Também forjou o portão do cemítério de Vale Veronês, até hoje existente. Claudio conta que seu avô era requisitado em todas as ocasiões importantes a saudar visitantes ilustres que chegavam ao berço da IVª Colônia devido à sua grande capacidade para a oratória. Em todas as festas, casamentos e aniversários pediam para ele fazer uma alocução. Era uma de suas marcas registradas. Da Itália veio grande quantidade de livros ,que formaram seu acervo particular. Autodidata, ele devorava enciclopédias. Estudou e construiu uma usina Hidrelétrica, desviando o curso d'água do rio Guarda-Mór que passava nos fundos da sua casa e produziu sua própria energia elétrica. Nenhuma casa possuía este benefício, mas ele já dispunha deste avanço. Só muitas décadas depois a luz elétrica chegou àquela região. Também o pai de Claudio, Alcides Morgental, foi um grande lutador e empreendedor. Montou uma famosa oficina mecânica, de grande conceito na cidade Atendia clientes como o bispo dom Luis Victor Sartori e o advogado Dr. Hélvio Jobim, entre outros. Vendeu tratores DAVID BROWN importados da Inglaterra. Vendeu também BUCK ,URSUS ,VALMET. E para melhor assistência à oficina mantém anexo uma TORNEARIA com serviços de solda a eletrogênio e oxigênio. Mas a saga da família Morgental ocuparia muito espaço, tão rica que foi. E o personagem central desta crônica de hoje eu pretendia que fosse Claudio Morgental. Eu o conheci nas salas do Curso de Agronomia, onde foi meu aluno e teve de interromper o curso para trabalhar e por outras obrigações familiares.. Acabou se formando no Curso de Administração da UFSM em 1975. Trabalhou em empresas norte-americanas de saúde natural. Também atua no setor imobiliário, na construção de pavilhões pré-moldados e na locação de Imóveis. Foi escoteiro. Trabalha em obras de benemerência. É católico fervoroso, praticante, atuando na paróquia da Ressurreição. Claudio é muito ligado às coisas da terra, à agricultura, árvores frutíferas e à Ecologia. O que nos aproximou muito. Gosta muito de estar bem informado e por isso lê muito, pesquisa, está sempre atento à mídia. É muito atento ao passado santa-mariense, monumentos, figuras que fizeram a história da cidade. Dia desses me contou que se preparava para matar uma lesma que atacava as flores do jardim de sua esposa. Mas que se tomou de misericórdia por aquele ser vivo e desistiu, deixando ela viva. Quando quiseram aplicar agrotóxicos para terminar com as ervas daninhas da sua calçada, preferiu arrancar as mesmas e aplicar um poderoso cimento-cola para evitar que as mesmas nascessem entre as pedras e ladrilhos. Enfim, um homem empreendedor e criativo, a exemplo de seu avô e de seu pai. Profundamente ligado à família, sua esposa e filhos. Recentemente perdeu sua mãezinha, que era minha assídua leitora. Um homem temente a Deus e dedicado às obras da igreja. Com sensibilidade rara pelos seres vivos. E portanto, digno de ser conhecido pela sua comunidade. Por isso, fi-lo meu personagem dessa singela crônica. Para lhe mostrar o quanto seu velho professor fica comovido quando percebe que suas aulas foram aproveitadas. E ajudaram na formação de um homem de bem. Claudio : que Deus seja generoso contigo e que te dê glória alta e compreensão entre os homens !