quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

COMO POR MILAGRE, MAIS UM ANO...

Como por milagre eu vi procissões.
E vultos através da vidraça.
E maçãs maduras caindo do pé.
E um sol que se levanta.
Como por milagre eu senti cheiros antigos.
E revi faces amigas.
E lembrei de rostos mortos.
E aprendi a dizer não.
E aprendi a dizer sim.
Como por milagre eu salvei náufragos.
E eu mesmo - como por milagre - cheguei à praia.
E escutei discussões sem delas participar.
E ouvi queixas.
E fiz queixas.
E se queixaram de mim.
Como por milagre fiz um poema.
E ergui paredes.
E fixei quadros de crianças.
E sonhei com mulheres adormecidas.
Como por milagre - metamorfose inexplicável - fui segunda-feira.
E me transformei em sábado também.
E consegui ser domingo.
Como por milagre busquei - alcancei - o Norte.
E busquei o leste.
E fugi para o Oeste.
E como por milagre não pressenti o sul.
Como por milagre passei por tardes loiras.
E conheci o amor.
E acompanhei cardumes.
E me perdi com eles.
E achei um cavalo-marinho.
E recolhi conchas.
E me transformei em faca.
E anzol.
E rede.
Como por milagre uma sereia falou comigo.
E gaivotas drogadas voavam por sobre meus cabelos.
E estive em terras longínquas.
E ouvi morteiros ao entardecer.
E o napalm queimou minha pele de pecador.
E toquei tambores de guerra.
E como por milagre fumei o cachimbo da paz.
Como por milagre andei por estepes desoladas.
E descampados verdes.
E desci ao fundo das minas.
E naveguei por mansos canais azuis.
Como por milagre meus netos aprenderam a ler.
E não morri este ano como por milagre.
Assim como - por milagre - um novo ano nascerá.
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AUTOR : James Pizarro

sábado, 26 de dezembro de 2009

O HOMEM-TRONCO

Nunca soube seu nome. Sabia apenas que era pobre. Mendigo. Aleijado.
Ficava na esquina da Floriano Peixoto com a rua 24 horas. Coração de Santa Maria,RS.
Arrastava-se. Pernas viradas para trás. Braços partidos. Cabeça pequena. Chapéu velho.
Peito arqueado para a frente. Visível deformação nas costelas. Lembrava um lagarto.
Nunca soube seu nome. Sabia que era pobre. Várias vezes reparei em suas mãos.
Mãos grossas. Deformadas. Inchadas. Calejadas. Mãos de atrito com o asfalto quente.
Pois era com a palma das mãos que se apoiava no asfalto. Dava um impulso.
E numa coreografia macabra gingava o corpo para a frente.
Não era corpo. Era meio corpo. Era um homem-tronco.
Nunca soube seu nome. Sabia que era pobre. Mendigo.
Costumava observá-lo todo dia. Do terraço da Rádio Universidade. Prédio da Antiga Reitoria.
Ele era pontual. Quando o o relógio marcava 16,30h, ele partia. Atravessava a rua.
Mas ficava longo tempo com o meio corpo encostado na calçada.
E agarrava-se na lixeira presa ao poste. Para manter o equilíbrio.
Nunca soube seu nome.Sabia que era mendigo. Aleijado.
E que demorava  para atravessar a rua. Dependia  do fluxo de automóveis.
Ele era muito pequeno. Roupa escura. Não seria notado por motorista apressado.
Corria o risco diariamente de ser atropelado.
Ele que já tinha o corpo atropelado pela fatalidade embriológica.
Nunca soube seu nome. Sabia que era pobre. Mendigo.
Depois de atravessar a rua ficava quieto.
Encostado na parede do prédio da ex-Faculdade de Direito da UFSM. Na parada do ônibus.
Nunca vi ninguém ajudá-lo a atravessar a rua.
E também sem ajuda ele fazia a penosa subida no ônibus.Erguia os dois tocos de braços.
Agarrava-se como podia. E com formidável força erguia o meio corpo.
E se arrastava pelo corredor do ônibus.
Nunca soube seu nome. Sabia que era pobre. Aleijado.
Sempre ficava olhando o ônibus descer a Floriano Peixoto.
Levando no seu ventre de lata aquela criatura. Meia criatura.
Sacolejando no corredor aquele meio corpo. Carregando a féria do dia. Que servia de sustento.
Naquela tarde eu observava tudo. Escorado no beiral do terraço da Rádio Universidade.
O chuvisqueiro  havia parado. Um sol ainda tímido fazia buraco entre as nuvens.
As pombas da Antiga Reitoria iniciavam a revoada.
Pombas brancas. Normais. Inteiras. Asas abertas. Serenas.
Elas planavam. E íam pousar do outro lado da rua. No prédio do Colégio Santa Maria.
Lá embaixo as pessoas passavam. Apressadas. Com pastas pretas.
Um senhora loira carregava um ramo de flores. O bilheteiro estendia seus bilhetes.
As pessoas passavam. Cumpriam seu destino de passar.
No outro dia o homem-tronco estaria de volta.
E na semana seguinte. E no outro mês. E no próximo ano.
E ficaria no mês lugar. Olhando as pernas normais. Os passantes apressados.
Um dia ele não voltou nunca mais.
E ninguém  notou a sua falta.
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AUTOR : James Pizarro

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

SALOMON, AQUELE DO DENTE DE OURO

Corria o mês de setembro de 1978. Lembro bem. Há 38 anos, brilhava na zaga do Inter de Porto Alegre o chileno Figueroa, um dos maiores ídolos colorados de todos os tempos.
Figueroa sabia falar bonito. Juntava direitinho as palavras. Tinha bela voz. Cabelos ondulados. Cotovelos de ouro. Fazia uma bela imagem na televisão.
Figueroa conquistou a alma colorada. Jogava muito bem. Declamava poemas de Pablo Neruda. Era um emotivo. Que mais poderia desejar a torcida colorada ? O capitão do time era inteligente. Craque. Bonito.Figueroa fez nome. Foi legenda. E partiu...
Para seu lugar - vindo da Argentina - a direção do Inter contrata Salomon.
Um tipo enorme. Desengonçado. Braços pendentes e bamboleantes. Cara de cavalo.
Salomon com dente de ouro. Sim, um resplandecente dente de ouro bem na frente da arcada. Um belo dente de ouro. Um lindo trabalho odontológico.
Mas a torcida do Inter não gosta de homem com dente de ouro na boca. Ao invés do carismático sorriso do másculo Figueroa, a direção presenteia a torcida com Salomon do dente de ouro.
E a torcida não perdoa. A torcida não ama Salomon.
A própria imprensa - que ajudara no endeusamento de Figueroa - tem má vontade com Salomon. E os fotógrafos exibem o pé de Salomon. Um pé número 50.
Salomon não acerta. Não joga. Pelo menos não joga aquilo que a torcida esperava de alguém que tinha o topete de substituir Figueroa.Lembro bem da data. Corria o mês de setembro de 1978.
Salomon chegou. Viu. E não venceu.
Era uma contratação bombástica do Internacional de Porto Alegre. Salomon foi contratado para tentar apagar a imagem do chileno Figueroa. Mas Salomon não convenceu.
E assim Salomon ficou. Jogando mal. Até que o Penharol apareceu para comprá-lo. Chegou a ser inscrito pelo time estrangeiro para disputar o campeonato do país vizinho. Afinal, era uma solução boa para todos. O Inter se livrava de Salomon. E o Salomon se livrava do Inter.
Aí veio o último jogo de Salomon pelo Inter. Um Grenal. Disputado numa quinta-feira, lembro bem. Uma partida que não deveria ter sido jogada. Uma partida mal gerada. Um aborto satânico. Um campeonato teratológico. Uma partida que não mereceu nem a presença dos titulares. E nem da torcida.
Diante de poucos torcedores e jogando com reservas, o Inter venceu o Grenal.
Mas Salomon - que se despedia da torcida que nunca chegou a amá-lo - foi violentamente agredido por um jogador do Grêmio. E Salomon fraturou a tíbia e a fíbula (naquela época ainda chamada de perôneo).
O Salomon-do-Dente-de-Ouro tinha virado agora Salomon-da-Perna-Quebrada.
Todos os jornais falaram de Salomon. Lembro bem. Era setembro de 1978.
A mídia disse que Salomon ficaria afastado, no mínimo, seis meses. Todos falaram em amparar Salomon. Um jogador de 28 anos. Mas ninguém amparou Salomon.
Ele ficou solitário.Com sua perna torta. Sem amigos.
Tudo virou neblina na v ida de Salomon. Opacidade. Escuridão.
Apenas seguiu brilhando seu solitário dente de ouro.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

SADISMO

Sempre criei cachorros. Tive dezenas deles durante a vida.
Jamais tive pássaros em gaiola. Como muitos dos amigos e vizinhos meus.
Nunca suportei a idéia de manter um bicho de asas preso. Asas foram feitas para voar.
O canário é um dos pássaros mais usados como ave ornamental. É famoso pelos dotes de cantor.
Mas a pérfida mente humana inventou uma "novidade". Surgiu da maldade do cérebro humano a "rinha de canários".
Alguns "especialistas", chamados de tratadores, administram antes das brigas um comprimido de Melhoral dissolvido em água. Também dão sementes de maconha e produtos afrodisíacos, como o jiló e uma vitamina  chamada de "tic-tac".
As rinhas chegam a durar 30 minutos. O perdedor  morre algumas horas depois vitimado por hemorragias internas, olhos furados, corpo todo dilacerado a bicadas.
Milhares de reais são apostados. O dono do canário perdedor algumas vezes esmigalha o canário na palma da mão.
Os vizinhos dessas casas clandestinas contam que é comum ouvirem em coro os berros : "Mata ! Mata este desgraçado!"
A luta termina quando o canário mais ferido, ensaguentado, desatinado, começa a fugir das bicadas do outro.
Aí começa o pagamento das apostas. E entre comentários excitados, passa o copo de cachaça.
A essa coisa sádica chamam de..."esporte".
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AUTOR : James Pizarro

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

TENISTAS/AMIGOS DO ATC, SANTA MARIA,RS

Nos anos 70 aprendi a jogar tênis nas quadras do ATC - Avenida Tênis Clube, de Santa Maria. E durante os anos 80/90, praticamente todos os dias, passava as minhas horas de folga nas dependências do clube, ora fazendo sauna, ora jogando tênis,ora fazendo churrasco, ora jogando bocha. E os familiares juntos.
Na quadra número 1 jogavam somente os tenistas veteranos. Na quadra 2, os "Seniors A". Na quadra 3, os "Seniors B". Nas quadras 4, 5 e 6, os juvenis, as mulheres e os demais tenistas que não disputavam o ranking. Grande número disputava por puro lazer, entretenimento, e pouco estavam se importando para o resultado da partida. Já outros, principalmente entre os veteranos, se concentravam, dormiam cedo, e entravam na quadra como se fossem disputar uma final em Winblendon (lembro de dois exemplos : o falecido Jarbas Cunha e o médico Heitor Silva, coronel do Exército, apelidado de "Fofo", pois assim o chamava sua jovem esposa).
Muitos deles já são falecidos :
1)- Anterinho Scherer (médico, ex-prefeito de Cacequi, famoso por suas folclóricas histórias);
2)- Máximo Knackfuss (professor do Curso de Engenharia da UFSM,que se emburrava por qualquer motivo);
3)- Ênio Ferraz (representante de laboratório médico, apelidado de "Nonô", que teve a capacidade aeróbica tirada pelo tabagismo);
4)- Alberto Leitão (de pavio curto, principalmente nos jogos de duplas, pois já no primeiro erro do seu companheiro começava a reclamar);
5)- Arno Böhrer (era o alvo predileto das brincadeiras do Jarbas Cunha e, ignorando sua idade, jogava várias horas por dia).
Daquela época em que eu freqüentava o clube, ainda lembro de muitos :
1)- Abdo Achutti Mothecy,farmacêutico,ex-jogador de basquete, dono de uma loja de aviamentos militares - e também de cortinas - na praça Hector Menna Barreto (ex- praça da República), mais conhecida por "pracinha dos Bombeiros". De origem libanesa, Abdo é casado com Tereza dos Santos Mothecy, mais conhecida por "Terezinha" ou "Tereca". Lembro que o térreo da loja do amigo Abdo era quase uma extensão do ATC, pois ali se reuniam para tomar cafezinho os veteranos do clube, às vezes atrapalhando as atividades comerciais do dono. O Abdo sempre foi generosamente um pacificador, um aglutinador. Adorava pescarias e histórias antigas da cidade;
2)- Adaí Bonilha, dentista, esposo da também tenista, Dona Olga, que por muitos anos também foi professora de tênis das crianças iniciantes;
3)- Álvaro Pfeifer,corretor de imóveis, professor de Matemática,fumante inveterado,dotado de notável espírito de humor;
4)- Arno Werlang, juiz, diretor do forum de Santa Maria, hoje desembargador em Porto Alegre, pai do Gerson Werlang (integrante da banda "Poços e Nuvens" e professor universitário de música);
5)- Arlindo Mayer (engenheiro, professor do Centro de Tecnologia da UFSM);
6)- Armando Vallandro (grande jogador de basquete do passado, apelidado de "Picolé", ex-reitor da UFSM);
7)- Alnei Prochnow (também professor da UFSM, sempre alegre e disposto a uma brincadeira);
8)- Claudio Morais (coronel do Exército);
9)- Dalmo Kerling (engenheiro, dono da Construtora Dikrel, hoje morando em SC);
10)- Dalton Kortz (ex-funcionário da Livraria do Globo,vendedor autônomo, hoje pastor, talvez o mais brincalhão de todos);
11)- Darkson Cunha (professor do Centro de Educação Física da UFSM, filho do falecido tenista Jarbas Cunha);
12)- Evaldo Morais (coronel do Exército, morador da faixa velha de Camobi, gostava de tocar violão e cantar músicas de seresta);
13)- Gerson Morais (funcionário da agência central do Banco do Brasi, à avenida Rio Branco);
14)- Heitor Silva (campeão de tênis do Exército Nacional, cheio de estilo até no caminhar, tinha consciência exacerbada de que era um grande atleta);
15)- Jorge Merten (médico traumatologista);
16)- José Carlos Pithan (dentista e professor da UFSM);
17)- Luiz Carlos Lang (dono de um reputado escritório de contabilidade, apreciador de vinhos chilenos);
18)- Luiz Carlos Pistóia Oliveira (engenheiro e professor da UFSM, casado com a professora de Química, Ana Jamile Mothecy);
19)- Luiz Carlos Morales (advogado, casado com Jane Morales);
20)- Luciano Rocha (cearense, professor da UFSM, dentista especializado em Odontopediatria, casado com Neuza Mothecy, também dentista);
21)- Manoel Argentino Sissy (oriundo de São Borja, de apelido "Fanha", notável contador de casos);
22)- Manoel Vianna (dentista, professor da UFSM, também de pavio curto)
23)- Paulo Roberto Oliveira (professor de Química da UFSM, ex-jogador de basquete);
24)- Simão Sampedro (coronel do Exército, irmão do também tenista, Renan Sampedro, professor de Educação Física da UFSM);
25)- Roberto Bisogno (dentista, radialista, professor da UFSM);
26)- Roberto Leitão (engenheiro, professor da UFSM);
27)- Lang (engenheiro, professor da UFSM e dono das piscinas "Golfinhos");
28)- Bins (coronel da Aeronáutica, comandante da Base Aérea de Santa Maria);
29)- James Souza Pizarro, meu filho, que foi um talentoso tenista da categoria infanto-juvenil e disputou alguns torneios no RS defendendo o nome do ATC, na companhia de Álvaro Pfeifer,Máximo Knakfuss, Roberto Bisogno e Arnaldo Valty (médico mineiro, oncologista, que trabalhava no Serviço de Cobaltoterapia da UFSM).
Foram anos e anos felizes, com jogos diários,seguidos quase sempre de churrascos. Infelizmente, com o passar dos anos e no "curso natural dos acontecimentos" (como diria meu amigo e colega Joel Abílio Pinto dos Santos, já falecido), a morte vai levando os companheiros. Outros se mudam de cidade ou de clube. Outros simplesmente deixam de jogar. Outros, premidos pelas exigências profissionais, se distanciam. É a vida...
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AUTOR : James Pizarro

UM POVO FELIZ

Catadora 1 :
- Graças a Deus, ganho meu vale-gás !
Catadora 2 :
- Verdade, Comadre ! E a minha filha ganha camisinha-de-vênus no Carnaval !
Catadora 3 :
- Ah, mas eu tenho mais sorte que vocês...cada um dos meus filhos rende 15 reais por mês.
O diálogo se desenvolvia no lixão do Morro da Caturrita entre três brasileiras felizes.
A cena era completada por alegres urubus. Lépidos e fagueiros.
Que catavam comida. Entre pedaços de bolo.
Carcaças podres de frangos.
E preservativos usados.
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AUTOR : James Pizarro

OUTRA HISTÓRIA DE...AMOR

Julio Soares, 31 anos, morador de Florianópolis foi preso e levado para Cuiabá, em Mato Grosso. E lá ficou preso durante um ano e seis meses.
Não adiantou dizer que era casado, emprego fixo, sem antecedentes e que nunca tinha ido a Mato Grosso.
Só agora, depois de preso 18 meses, a verdade veio à tona. O irmão dele, Josiel Eliel Soares, depois de ter cometido um furto a banco em Barra do Garças, a 500 quilômetros de Cuiabá, identificou-se à polícia como sendo Julio Soares. Com este nome foi condenado a quatro anos de cadeia.
Julio Soares foi posto em liberdade em Mato Grosso.
Não tem dinheiro para voltar para Florianópolis.
Ficou sem emprego.
Seu irmão, atualmente preso em Camboriu, por outros crimes já o ameaçou de morte.
Apesar disso, se dizendo evangélico, Julio diz que perdoa o irmão e não guarda mágoa.
E como desgraça pouca é bobagem, logo depois de sair da cadeia, tratou de telefonar para a mulher. E ouviu essa resposta :
- Não quero mais saber de ti.
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AUTOR : James Pizarro

FLORIPA : SÍNTESE DO MEU AMOR

Fada. Fábula. Faceira.
Fábrica. Face. Fado.
Fagulha. Fagote. Faísca.
Fala. Falcão. Familiar.
Fama. Famosa. Fanfarra.
Farinha. Farra. Farofa.
Farrista. Fascinio. Fauna.
Fazer. Febre. Fécula.
Fecundo. Feitiço. Felicidade.
Feminina. Fenômeno. Fértil.
Fervor. Festa. Festejo.
Figueira. Fragrância. Floresta.
Folha. Flor. Fruto. Floral. Folhagem.
Flutuante. Fogo. Fôlego. Folclore.
Folia.Formosa.Frenesi.
Floriano...
Floripa...
FLORIANÓPOLIS !!!
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AUTOR : James Pizarro

UM CÃO QUE DIZ DE PERTO AO MEU CORAÇÃO

Fico irritado quando falam em cão "vadio". Desses que existem às dezenas pela praia e ruas de Canasvieiras. Vadio é o dono irresponsável que o deixou na rua. Que não o esterilizou. Que jogou o filhote ao abandono.
O nome técnico é cão "errante". Que erra, isto é, que vagueia sem rumo. Sem paradeiro. Sem norte. Destino. Dono. Afeto. Que luta pela sobrevivência no inverno, na baixa temporada. Pois na ausência de turistas, os restos de comida se tornam escassos.
À noite, na época das baixas temperaturas, eles se recolhem sob as marquises. Onde são acolhidos pelos mendigos. Que também tremelicam. Perdem peso. Adquirem sua bronquite. Pneumonia. Entranhas cheias de vermes. Pelos com ectoparasitas.
Como moro a trinta metros do mar e caminho diariamente na praia, levo restos de comida para os cães. Para um deles em especial.
Parece um lobo. Lindo animal. A miséria não lhe tirou a dignidade. O porte altaneiro.
Ele espera a mim e minha mulher. Levamos a comida em sacos plásticos. Depois que ele come - e também outros comem - recolhemos os sacos e colocamos nas lixeiras. Os outros cães se vão.Passam. Cumprindo seu destino de passantes.
Mas este, em particular, costuma caminhar conosco. Faz festa. Ele não possui músculos da mímica, como os homens. Logo, não podem fingir.
Então ele sorri como pode.... sacode a cauda.
Parece um lobo. Pelo lindo, embora sujo, tem meu cão predileto.
Eu não posso trazê-lo para casa. Adotá-lo. Como seria meu desejo. Pois moro num apartamento.
Mas ele - nos enigmas tortuosos lá do seu genoma - "sente" que temos uma ligação de afeto.
Cada manhã que piso na areia vislumbro a praia em toda a sua extensão, não sem certa ansiedade. E eis que lá vem ele, como surgido do nada.
Mas já experiente na vida, sei que um dia ele não virá. Ele poderá ter partido para sua definitiva viagem espacial, rumo ao Grande Deus dos Cachorros.
E ninguém mais, a não ser eu, sentirá falta dele.
Mas também poderei eu partir antes dele. Quantos, além de minha mulher, sentirão falta de mim ?
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Autor : James Pizarro

NA BABANOLÂNDIA CIÊNCIA NÃO VENDE JORNAL

No meio deste mar de denúncias de roubos e escândalos, propaganda eleitoral, campeonato nacional, gugus, hebes camargos,faustões e outras abobrinhas, uma notícia mereceu apenas quatro linhas na imprensa nacional, quando deveria ser manchete.
Os pesquisadores do nosso respeitado Instituto Osvaldo Cruz, em parceria com a Universidade Federal Fluminense, anunciaram a descoberta de três substâncias obtidas de algas do litoral do Brasil que evitam a replicação viral da AIDS. Isto é, substâncias que são candidatas a anti-retrovirais para a AIDS. Além dessa propriedade, as três substâncias apresentam baixíssima toxicidade. As substâncias usadas atualmente no combate a AIDS apresentam altíssima toxicidade.
Como o vírus da AIDS está apresentando notável resistência aos tratamentos convencionais, estas substâncias representam a inclusão de mais uma alternativa para a terapia anti-retroviral.
Mas jornais e revistas preferem noticiar sobre os travestis que sairam com o Ronaldinho, o nome do novo namorado da Adriana Galisteu, a enésima plástica de fulano, o divórcio de sicrano, etc...
Cultura, ciência, educação não vendem. Não chamam atenção. E noticiá-las é perder dinheiro.
Pobre país, relegado a ser uma Uganda tupiniquim...uma Bananolândia dos trópicos...
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AUTOR : James Pizarro

IDOSO É SUCATA PRA PLANOS DE SAÚDE

Que os planos de saúde colocam mil obstáculos para fazer contratos com idosos, eu estava cansado de saber. Que eles priorizam contratação de planos com jovens, isso também era sabido. Que cobram mensalidades escorchantes dos idosos e com período de carência estapafúrdios, também é realidade.
Mas uma coisa beira a criminalidade : quando um idoso tem condições e aceita as exigências da "empresa", paga religiosamente em dia, cumpre o período de carência, mesmo assim quando surge a necessidade de uma cirurgia, por exemplo, eles postergam a realização da mesma até que uma reunião de médicos decida pela autorização do procedimento.
Os corretores que vendem os planos de saúde têm ordem expressa de evitar a venda de planos para idosos, o que causa aos mesmos uma situação constrangedora. Mesmo assim, muitos efetuavam estes contratos. Os vendedores normalmente ganham de remuneração a primeira mensalidade do contrato que fazem.
Agora, para desestimular a venda do plano para idosos, a maioria das empresas tomou a providência nojenta de não pagar nenhuma taxa para o corretor quando o contratante é idoso.
Que país é este que - mesmo na iniciativa privada e com altos custos para um idoso - trata seus velhos como sucata humana ?
Um idoso agora é tratado como uma laranja que não tem mais suco, que virou bagaço ?
Virou uma caneta esferográfica que perdeu a carga ?
Uma lâmpada fluorescente que não brilha mais e começa a tremelicar ?
Depois de dar uma vida inteira em prol da construção do país, de educar e formar filhos, de lutar pelo patrimônio da familia...ele é tratado assim ?
Onde estão os clubes da terceira idade que não vão para as ruas e paralisam o trânsito, berrando com a voz tremida e arfante, pelos seus direitos ?
Onde estão os políticos asquerosos que só pensam aumentar seus salários e não têm a mínima piedade para com esses homens e mulheres de cabelos brancos que merecem um final de vida digno ?
Onde estão os jovens estudantes universitários, as lindas meninas das praias, a meninada que se entope de álcool e drogas nas baladas ? Pensam que não vão envelhecer ?
Onde está este nosso povo de vocação galinácea, que toma no rabo e sai cantando, pedindo desculpas ainda por ter ficado de costas ?
Onde estão todos ?
Escondidos atrás de seu comodismo ?
Protegidos em seus carros blindados ?
Escondidos em seus apartamentos de cobertura ?
Vivendo uma vida de faz-de-conta que é vida ?
Onde estão vocês, seus merdas ?
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AUTOR : James Pizarro

GENESIS

E se fez a luz.E a sombra.
O céu. E o mar.
E os peixes.
Ostras. Mexilhões.
Polvos. Botos.
Areia.
E homens apressados.
Que só pensam em cifrões.
Homens enforcados na própria gravata.
Mulheres de etiqueta. Crônica social. E futilidades.
Uns e outros perdidos à busca do poder.
Centralizados na meta do ter. Ter a qualquer custo.
Ter. Ter. Ter.
Até o definitivo ter : um túmulo com um anjo de mármore...
Ah...como Deus é generoso quando nos ensina, ainda a tempo,
que o segredo de tudo está em ser.
Ser despojado. Tranquilo. Descondicionado.
Ser agradecido. Humilde. Delicado.
Ser ... FELIZ !!!
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AUTOR : James Pizarro

É PRECISO SONHAR

É preciso sonhar. Sempre.
Insistir. Persistir.
Jamais desistir.
Mesmo que ardam os olhos.
Que as retinas fiquem embaçadas.
Olhos esfumaçados pela catarata.
É preciso sonhar. E ver com a alma.
Mesmo que os ouvidos percam sua percepção.
Que o som fique distante. Conturbado.
É preciso sonhar. E ouvir com o coração.
Mesmo que as pernas fiquem cansadas.
Os passos claudicantes. E os tropeços iminentes.
É preciso sonhar. Prosseguir andando. Com a musculatura da fé.
É preciso sonhar. Quem perdeu a capacidade do sonho está morto.
Está podre. Fede.
E atrapalha os vivos.
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AUTOR : James Pizarro

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A FARRA DOS PRECATÓRIOS

Luiz Adalberto Villa Real foi meu contemporâneo de MANECO, em S. Maria, na década de 60. Diplomou-se em Direito, na UFSM. Durante 30 anos foi promotor em Florianópolis, SC. Depois de aposentado exerce o Direito em movimentada banca no centro da capital catarinense. Foi um feliz reencontro ! Pois voltamos a conviver em passeios, jantas, comemorações. Na qualidade de Assessor Jurídico da Associação dos Credores de Precatórios do Estado de Santa Catarina – ACREPESC, Villa Real escreveu o texto abaixo, sob o título "A FARRA DOS PRECATÓRIOS". (James Pizarro)
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"A Carta Política de 1934 inaugurou a imoralidade tupiniquim do precatório para pagamento dos débitos fazendários. A Constituição Federal de 1988 convalidou a legalidade daquela iniciação desastrosa. E a rapinagem da PEC 351/09 mutilou o instituto do leilão que passa a ser realizado às avessas – iniciando o arremate pelo maior lanço em direção ao menor, e não pelo mínimo até atingir o máximo – em acachapante violação ao direito do credor.
Quanto maior o desconto oferecido por quem espera pelo recebimento há mais de 15 anos, em média, maior a facilidade para vender o crédito, beneficiando o sonegador de carteirinha. A indústria dos compradores de precatórios paga não mais do que 30% dos valores de face e utiliza 100% do crédito para resgatar dívidas tributárias, estimulando a continuidade da prática ilícita de fraudar o fisco.
Em 2004 o STF calculou o montante de precatórios devidos no país em R$60 bilhões, e em 2007 a OAB estimou em R$120 bilhões. Com a crescente inadimplência é possível que no estertor de 2009 este valor esteja duplicado.
O débito do governo catarinense ultrapassa R$520 milhões, e pelo andar da carruagem, com o pagamento mensal de R$2 milhões – que vinha sendo feito e foi suspenso – levará, no mínimo, 22 anos para resgatar o atrasado. Enquanto isso, o Estado e o Município de Florianópolis se divertem saqueando escandalosamente o bolso do contribuinte com uma exuberante árvore natalina e a voz maviosa de Andrea Bocelli, mediante gastos exorbitantes reveladores de que as burras públicas não estão murchas como apregoam os alcaides. É claro que a população barriga-verde merece festividades, mas não aos preços excessivos que estão sendo anunciados, enquanto os entes públicos, estes devedores contumazes, não honrarem seus compromissos pecuniários.
O calote institucionalizado e aviltante que perdura por três quartos de século, pelo que se vê, está longe de ser extirpado. É hora da sociedade dizer basta através do voto."

sábado, 5 de dezembro de 2009

EU AMO ESTA ILHA

Eu e a Vera Maria merecemos morar aqui porque tivemos a OUSADIA de recomeçar a nossa vida no peito, raça e coragem, longe de tudo e de todos, numa terra estranha ! Muitos amigos jamais acreditaram que viríamos de verdade !
Hoje somos conhecidos de todos aqui na praia, estamos integrados à comunidade e colaboramos com ela !
Entendemos agora porque Florianópolis se chama "a ilha da magia"... porque ela enfeitiça a gente e - no nosso caso - nos encantou definitivamente.
Não sairemos nunca mais de onde estamos : a 10 metros apenas do mar, dentro do qual passo muitas horas do dia.
Dormimos com o barulho das ondas.
Acordamos com o sol forte a nos chamar para vida.
Aqui nos despimos de tudo...vivemos a vida na sua essência...
Dia desses me dei conta que estou quase negro, pele curtida do sol e do sal. E que durante 20 meses passei 99% do tempo de bermuda e descalço.
Só coloco tênis, calça de abrigo e uma camiseta quando vou à missa.
Assumi meu lado simplório.
E virei um feliz bicho do mar.
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AUTOR : James Pizarro

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

UM SONHO QUE APODRECEU


Era início da década de 60. E ele participava de todas as palestras sobre socialismo. Ouvia tudo sobre socialismo. Sempre na primeira fila, absorvia tudo.
Estava presente nas mostras de filmes alternativos sobre política.
Ajudou a carregar a mala do Padre Alípio, padre nordestino " subversivo", quando ele esteve em Santa Maria,RS, para fazer palestras sobre as "Ligas Camponesas" (uma espécie de "Movimento Sem Terra" dos anos 60, mais organizado e menos parasitário, pois eles continuavam trabalhando duro na terra).
Não perdeu um só filme da Semana do Filme Polonês, no famoso Cine-Teatro Imperial, rua Dr. Bozano, hoje transformado em loja de calçados.
Encomendava livros de teoria política para o Seu Bráulio, na Livraria do Globo.
Sabia todos os detalhes da revolução russa de 1917.
Foi quando casou e teve de trabalhar de verdade, em mais de um emprego. Enquanto seus amigos continuavam teorizando nos bares. Alguns ainda continuam nos bares. Cirróticos e solteirões.
Veio a revolução de março de 64. E os seus grandes líderes políticos fugiram para o exterior.
Ele ficou estático quando viu ruir a URSS. A decadência do sonho igualitário.
Com espanto, custou a se dar conta que o ciclo do comunismo - iniciado em 1917 - tinha terminado, quase cem anos depois, com a queda do muro de Berlim.
Nunca mais viu filmes políticos.
Nunca mais viu seus ex-amigos, hoje todos figuras importantes da República Lulista.
Quase todos ricos. Empresários. Assessores. Deputados. Ministros.
Alguns envolvidos em escândalos financeiros que,na mocidade, tanto combatiam.
Hoje, ele gosta muito de ouvir antigas músicas no seu computador.
Tarde chuvosa de sexta-feira outonal. Sombria. Em pé, à janela, olhando para as nuvens negras.
Um dos seus netos perguntou que música era aquela que tocava. Uma espécie de marcha solene. Com coral de centenas de vozes.
Ele respondeu secamente, disfarçando a voz embargada :
- É a Internacional Socialista.
O neto se contentou com a resposta. E saiu da sala.
Não viu as lágrimas que escorriam pelo rosto alquebrado do avô.
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AUTOR : James Pizarro

PRAÇA GUADALUPE : ASPIRAÇÃO COMUNITÁRIA

A implantação de uma praça ao lado da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe em Canasvieiras é uma aspiração com mais de vinte anos.

Quando Vilson Pedro Kleinübing era Governador do Estado de Santa Catarina, a Sociedade Pró-Canasvieiras pleiteou a área delimitada pelas ruas Madre Maria Villac, Vasco Gondin, Apóstolo Pascoal e Afonso Cardoso da Veiga para implantação de uma praça. Solicitação feita, solicitação atendida. O comodato da área foi concedido, porém, caducou por falta de cumprimento da proposta.

A área delimitada pelas ruas Madre Maria Villac, Vasco Gondin, Apóstolo Pascoal e Afonso Cardoso da Veiga foi transferida pelo Governador Luiz Henrique da Silveira para o município de Florianópolis na primeira gestão de Dário Berger.

Há cerca de cinco anos, Ação Social Nossa Senhora de Guadalupe - ASONSEG, ACIF-Canasvieiras, AMOCAN, CONSEG Baia de Canasvieiras, entre outras instituições, elaboraram ante projeto e submeteram ao Prefeito Dário Berger e sua equipe. Devido ao alto custo envolvido, o projeto não vingou.

Em 2008, a ASONSEG pleiteou junto a FLORAM a adoção do espaço e foi-lhe concedida por três anos. A equipe técnica da Secretaria Municipal de Obras

, com orientação do próprio Secretário, está encarregada desde maio de 2009 de desenvolver projeto, para implantação gradual, dos equipamentos definitivos para a Praça dentro dos próximos três anos.
Nesse espaço físico, foi realizado um show de Ivete Sangalo na virada do ano de 2005 para 2006. A praça nada ganhou com esse show, atividade meramente comercial.

Durante a temporada de verão de 2008, aconteceu ali o Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia. Além das cestas básicas arrecadadas para famílias assistidas pela Ação Social Nossa Senhora de Guadalupe, duas canchas esportivas permaneceram.

Em uma dessas canchas, moradores habituais de Canasvieiras praticam futebol de areia. Na outra cancha, funcionou durante o ano de 2008 uma escolinha de vôlei graças à cessão de um treinador pela Fundação Municipal de Esportes e materiais cedidos pelo Banco do Brasil, via Federação Catarinense de Vôlei. Cerca de 30 crianças e 10 idosos foram beneficiados.

A campanha pela Praça recebeu muitos apoios: site do Programa Stammtisch, blogs de James Pizarro, site do FloripAmanhã.

No início de setembro de 2009, houve uma reunião com o propósito de destinar a área da Praça para estacionamento de ônibus turísticos no verão. As pessoas presentes se manifestaram contrárias à ocupação do espaço destinado a Praça Guadalupe. Na oportunidade, a comissão montada para tratar desse assunto definiu como local de estacionamento o terreno público atrás do Super Imperatriz, sendo essa informação dada a público na reunião.

Em suma, algumas vitórias e também tentativas de acabar com a Praça. Porém, permanece a esperança de que a Praça Guadalupe se torne realidade. Querer é poder.
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AUTOR : Otávio Ferrari Filho, lider comunitário em Canasvieiras.