
quarta-feira, 20 de junho de 2018
segunda-feira, 18 de junho de 2018
NO TEMPO DA SENSIBILIDADE ECOPOLÍTICA - James Pizarro (crônica no Diário de S. Maria, pág.4, 19.6.2018)
O mais
antigo inimigo de incautos pássaros em nossa cidade, como de resto em todo
território gaúcho, era o estilingue ou funda, o popular " bodoque ". No
final dos anos 80, início dos anos 90, uma indústria de brinquedos de SP lançou
na praça uma forma moderna de estilingue, com uma peça de metal em forma de
letra Y e com duas tiras de borracha de uso cirúrgico, substituindo as velhas
tiras feitas de câmara de pneus de automóvel. Ainda havia um “melhoramento” :
uma empunhadura que se encaixava no antebraço do atirador. Este tipo de
artefato passou a ser vendido em Santa Maria, tendo eu recebido denúncia contra
os Supermercados Trevisan (denúncia feita pela Associação Protetora dos
Animais, através da ativa militante, professora Vera Resende). A rede Trevisan
de supermercados era a mais importante da cidade e seu Presidente, meu amigo
João Trevisan, era inclusive o presidente da Associação de Supermercados do RS.
Fui falar com ele pessoalmente e fiz ver que, um daqueles bodoques modernos era
capaz de atirar uma bola de gude (nossa tradicional "bolita") a 80
km/hora, cerca de 25 metros por segundo, com um alcance efetivo de 30 metros.
Disse que, a essa velocidade, abriria um buraco na cabeça de uma criança. Falei
sobre o instinto de violência desenvolvido nas crianças, a mortandade de
pássaros em nossa região e outros argumentos. Na minha frente, João Trevisan
chamou o gerente-geral da principal loja dos supermercados que dirigia e
ordenou que fosse retirada das prateleiras e gôndolas todos os bodoques e que
fossem devolvidos à fábrica paulista e cancelados os novos pedidos. Depois
disso, fiz uma série infindável de palestras nas escolas de ensino fundamental
de nossa cidade, falando sobre a necessidade da gente ter mais pássaros, mais
ninhos, mais vida. Foi um golpe de morte no uso de bodoques em nossa cidade, do
qual me orgulho ter participado. Faço este registro
para a posteridade sobre a sensibilidade do empresário João Trevisan. Que muito
me ajudou na luta contra os bodoques nesta Santa Maria.
A
convite da Prefeitura (Intendência) e da Câmara de Vereadores da cidade
uruguaia de Punta del Este, em companhia de Dom Arturo Vetuschi, à época cônsul
do Uruguai em Santa Maria, estive fazendo a palestra inaugural do
"Primeiro Encontro de Ecoturismo e Meio Ambiente de Punta del Este".
No dia 10 de outubro de 1985, às 15:00 horas, no Ginásio Municipal de
Punta del Este completamente lotado por 4000 crianças da faixa etária entre 9 e
12 anos, fiz palestra sobre a fauna e flora do Cone Sul. No final da palestra,
cantei diversas músicas ecológicas em espanhol, com um coral de 4000 vozes, o
que me emocionou intensamente. O fato foi presenciado pelos vereadores de Santa
Maria (Ady Forgiarini, Arnildo Martinez Muller e Mosar da Costa) e pelos
estudantes do Curso de Turismo da faculdade das Irmãs Franciscanas, sendo
transmitido ao vivo pela TV e pelas rádios da cidade uruguaia. Este fato
motivou convite para fazer palestras em outras cidades uruguaias. Tenho em meus
arquivos os recortes de um jornal uruguaio, com a manchete : "Maestro
Pizarro, un fenomeno de comunicacion". O cônsul Dom Arturo Vetuschi trouxe
a filmagem do fato que foi reproduzida pela TV Câmara de Santa Maria.
Bons
tempos de sensibilidade empresarial e política para o meio ambiente...
domingo, 17 de junho de 2018
sexta-feira, 8 de junho de 2018
608 HORAS PARA PENSAR - James PIzarro (8.6.2015)
Fiquei 17 dias internado...17 dias x 24 horas = 608 horas. Medidas de sinais vitais a cada 4 horas. Taxas. Soros. Antibióticos potentes. Coleta de material para exames. Várias refeições e lanches. Óleo da canola na perna com erisipela. Curativo no cateter da subclávia. Insônia. Programas de rádio. TV. Piedosas visitas do padre. Consoladoras e simpáticas conversas com os paramédicos. Tempo que não passa. Pensamentos fervendo a mil. Visitas inesperadas de pessoas surpreendentes. Visitas prometidas de pessoas queridas e que não se concretizaram. Visitas de pessoas desconhecidas e que emocionaram um velho coração. Dramas humanos pungentes de doentes de quartos vizinhos. A solidariedade pela dor. Passeios de mãos dadas pelos corredores com jovens fisioterapeutas e seus exercícios aeróbicos nas janelas. Macas que cruzam com cadáveres cobertos com lençóis. Cadeiras de rodas com doentes baixando e outros dando alta. Pessoas abraçadas chorando um óbito. Outras sorrindo comemorando o nascimento de um neto. Eis a rotina de um grande hospital. Não é um local só de tristezas. E de Morte. É um local de coisas alegres. Renascimentos. De brindes à Vida. Nunca fiquei tão convicto na minha vida de que a coisa mais importante é a SAÚDE !!! Vou mover céus e terras, de hoje em diante, para investir na melhor qualidade de minha saúde (que já é muito boa). Mas que - por idiotice - não vinha lhe dando o devido valor.
terça-feira, 5 de junho de 2018
UMA CENA INSÓLITA - James Pizarro (Crônica de 5.6.2018, pág.3, DIÁRIO, Santa Maria,RS)
Santa Maria teve três grandes cinemas. Cine-teatro Imperial. Cine Independência. Cinema Glória.
O Cine Independência virou um shopping popular, abrigando os camelôs que estavam pelas ruas da cidade. Ao invés do Gordo e o Magro, Hopalong Cassidy, Jesse James, Batman e Robim...mercadorias piratas do Paraguai.
O Cinema Glória virou uma filial da Universal de Deus e depois uma boate. Ao invés dos grandes musicais com Doris Day, Gene Kelly, Fred Astaire, Pat Boone e Elvis Presley...sermões, dízimos e milagres de veracidade duvidosa.
O Cine-teatro Imperial,na segunda quadra da rua Dr. Bozano, transformou-se numa filial da tradicional Casa Eny. Ao invés das grandes peças que o Edmundo Cardoso apresentava com sua Escola de Teatro Leopoldo Froes...tênis, sandálias, sapatos e hawaianas.
Foram mudanças boas para uma cidade que se jacta do cognome de "cidade cultura" ? Claro, hoje existem as salas de cinema dos shoppings da cidade, com cerca de 80 lugares cada uma. Nada semelhante aos 1200 lugares que existiam no Cine Independência, por exemplo.
Quem da faixa etária dos 60 ou 70 anos não se lembra do tradicional "matinê da 1,15" como era chamada a sessão dominical das 13,15 horas do Cine-teatro Imperial ? Passava sempre um "filme de mocinho" (nome dado aos filmes de faroeste americano), seguido de um "seriado" (cada domingo passava um capítulo de uma longa história de aventuras, que chegava a durar dois meses). Na frente do cinema, antes das sessões, ocorria o tradicional troca-troca de "gibis" (revistas em quadrinhos dos heróis da época). Ou então, troca de figurinhas do famoso "Álbum das Balas Rute".
O "Seu" Aurélio era o lanterninha do Cine-teatro Imperial, famoso pelo duro que dava na gurizada durante as sessões. Em sua homenagem existe hoje o "Cine-clube Lanterninha Aurélio". Certa vez fiz uma aposta com os meus colegas da rua Silva Jardim. Apostei que entraria no matinê com uma galinha e que o Aurélio não veria. Não só entrei com a galinha dentro do casacão (chamado de "sobretudo" na época) como fiz uma barbaridade. Fui sentar na primeira fila de cadeiras do mezanino (a parte superior da sala de exibição). E na hora mais romântica do filme, quando o mocinho pedia a mão da moça em casamento, eu atirei a galinha lá de cima. A coitada voou como podia e foi se estatelar na cabeça da piazada lá embaixo. O Aurélio interrompeu a sessão, no meio da algazarra da gurizada. Acenderam-se as luzes. E furioso ele foi ao mezanino. E queria saber quem tinha jogado o galináceo. Ninguém me acusou. E eu fiquei gelado de medo.
Mas ganhei a aposta : meia dúzia de Cyrillinhas, o refrigerante mais famoso da época, fabricado em Santa Maria mesmo.
Maconha, cocaína, rachas de automóveis, motos numa só roda, roleta russa, agressão a professores, brigas de gangues juvenis, pichações...Ao ler nos jornais sobre as "brincadeiras" da gurizada de hoje, fico estarrecido.
Perto dessa turma de hoje eu era um santo !
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