
sábado, 29 de junho de 2019
terça-feira, 18 de junho de 2019
AINDA A KISS... - James Pizarro (DIÁRIO, pág.4, edição de 18.06.2019)
Carlinhos Costa Beber, grande amigo,
empresário, colega de docência na UFSM e colega de rádio nos debates da CDN
-Debate e depois Antena 1, me encaminhou um texto (datado de 12 de fevereiro de
2013), de autoria do médico paranaense Márcio Luiz Nogarolli, médico socorrista
do SAMU do Paraná. Como sempre faço, guardei nos meus arquivos.
Este médico esteve em Santa Maria como
voluntário trabalhando no SAMU da cidade e na UPA-24horas por ocasião da
tragédia ocorrida na Boate Kiss, que vitimou 242 jovens e comoveu o mundo
inteiro.
O texto deste médico paranaense que honra a sua profissão é comovedor. E por isso, reproduzo o mesmo abaixo.
SANTA MARIA - MISSÃO CUMPRIDA !
Fomos dar uma ajuda profissional, voltamos com o coração repleto de gente.
O texto deste médico paranaense que honra a sua profissão é comovedor. E por isso, reproduzo o mesmo abaixo.
SANTA MARIA - MISSÃO CUMPRIDA !
Fomos dar uma ajuda profissional, voltamos com o coração repleto de gente.
Fomos para tentar minimizar a
dor. Vocês nos maximizaram humanos.
O motorista de Taxi de Porto
Alegre se recusou receber o preço da corrida
só porque soube que estávamos indo
para sua cidade.
E disse que se ofenderia se
insistíssemos em pagar.
Sentei em uma escada para tomar
fôlego e a voluntária veio perguntar se eu precisava de ajuda.
Ela tinha uns 16 anos de
idade.
A moça da limpeza achou uma
medalha de algum santo. Uma jóia de 18 quilates.
Passou mais de hora perguntando
um a um se não lhes pertencia.
Depois deixou o ramal do chefe
onde a medalha estaria guardada.
Mas não foram essas as atitudes
que mais me surpreenderam.
O que mais me tocou é que vocês
de Santa Maria transformaram substantivo em verbo.
Eu e meus amigos do Paraná vimos
milhares de placas, adesivos, lacres de porta e fitas negras com a palavra
“LUTO”.
Por vários dias eu achei que
vocês estavam se referindo ao substantivo:
Conjunto de reações a uma perda,
geralmente pela morte de alguém.
Hoje entendi.
No meio de tanta dor e diante da
necessidade de não parar, “LUTO” em Santa Maria (RS) não é substantivo.
É verbo. EU LUTO!
Luto contra a dor, pra não
parar,
luto contra o injusto para não
repetir,
luto pelo menor para ninguém
perder e
luto contra a morte para o meu
irmão viver.
E é por isso tudo que eu quero
que saibam:
quando precisarem da gente para
conjugar verbos, aí na sua terra, podem nos chamar.
Vocês já tem o número!
sábado, 15 de junho de 2019
sábado, 8 de junho de 2019
608 HORAS PARA PENSAR - James Pizarro (8.junho.2015)
Fiquei 17 dias internado...17 dias x 24 horas = 608 horas. Medidas de sinais vitais a cada 4 horas. Taxas. Soros. Antibióticos potentes. Coleta de material para exames. Várias refeições e lanches. Óleo da canola na perna com erisipela. Curativo no cateter da subclávia. Insônia. Programas de rádio. TV. Piedosas visitas do padre. Consoladoras e simpáticas conversas com os paramédicos. Tempo que não passa. Pensamentos fervendo a mil. Visitas inesperadas de pessoas surpreendentes. Visitas prometidas de pessoas queridas e que não se concretizaram. Visitas de pessoas desconhecidas e que emocionaram um velho coração. Dramas humanos pungentes de doentes de quartos vizinhos. A solidariedade pela dor. Passeios de mãos dadas pelos corredores com jovens fisioterapeutas e seus exercícios aeróbicos nas janelas. Macas que cruzam com cadáveres cobertos com lençóis. Cadeiras de rodas com doentes baixando e outros dando alta. Pessoas abraçadas chorando um óbito. Outras sorrindo comemorando o nascimento de um neto. Eis a rotina de um grande hospital. Não é um local só de tristezas. E de Morte. É um local de coisas alegres. Renascimentos. De brindes à Vida. Nunca fiquei tão convicto na minha vida de que a coisa mais importante é a SAÚDE !!! Vou mover céus e terras, de hoje em diante, para investir na melhor qualidade de minha saúde (que já é muito boa). Mas que - por idiotice - não vinha lhe dando o devido valor.
segunda-feira, 3 de junho de 2019
DOIS DESTINOS - JAMES PIZARRO (crônica no DIÁRIO, Santa Maria, pág.4, edição de 4.6.2019)
Era um
menino bonito. Cheio de vida. Simpático.
Corria alegremente pelo pátio do
grupo escolar. Mais tarde era o centro das atenções no pátio do colégio
estadual. Para o qual galhardamente fora aprovado no difícil exame de
admissão. Estou falando sobre a década de 50 na pacata Santa Maria, RS.
No
entanto, o adolescente tinha um certo desvio comportamental. Gostava de abusar
com os colegas de famílias mais pobres. Os que não usavam roupas de grife. E
muito menos frequentavam os salões do Comercial. As reuniões dançantes do
Caixeiral.
E fazia
isso acintosamente. Jogando no ridículo os baixinhos. Os gagos. Os que tinham
deficiência visual. Os que usavam óculos de aros grossos. A quem ele chamava de
"quatro-olho".
Tinha
predileção por tirar sarro - "inticar" se dizia naquela época - com
um aluno tímido, calado, de boca pequena. A quem ele apelidou de
"boquinha-de-chupar-ovo".
Passaram-se
mais de três décadas.
E cada
aluno tomou seu rumo. Foi trilhar seu destino.
Por estes
estranhos desígnios, o galã, grande gozador de outrora e de futuro brilhante,
virou ascensorista.
E o
"boquinha-de-chupar-ovo" passou a subir pelo elevador onde seu
outrora algoz trabalhava. Porque tinha consultório naquele prédio.
Um dia o
encontrou deitado no elevador, bêbado, vomitado e urinado.
Foi
aposentado por alcoolismo o outrora gozador.
Abandonado
pela mulher, meses depois deu um tiro no ouvido.
Enquanto
o outro, tímido e pobre garoto de outrora, continua dar suas consultas.
E na hora
de folga come torrada com ovo no bar do prédio.
Deixando
cair alguns respingos de gema no avental imaculado.
Com sua
pequena boca de chupar ovo.
sábado, 1 de junho de 2019
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