
sábado, 28 de março de 2020
terça-feira, 24 de março de 2020
QUARENTENA E QUARESMA - JAMES PIZARRO (DIÁRIO de S. MARIA, pág. 4, edição de 24.03.2020)
Se bem me lembro das aulas de catecismo,
depois alicerçadas na preparação ao batismo e confirmação no crisma,
sedimentadas em 16 disciplinas que tive a oportunidade fantástica de assistir como aluno especial no Curso de Teologia do Colégio Máximo
Palotino, a Quaresma é um tempo litúrgico que começa na Quarta-feira de Cinzas
e termina no Domingo de Ramos, totalizando 40 dias.
Desde pequeninos nos foi ensinado que
esse período deveria ser de reflexão profunda, de introjeção espiritual, de
arrependimento dos erros, da busca do perdão, do convívio fraterno.
Lembro que a saudosa e sempre amada vó Olina, que morava ao lado da minha
casa quando criança, depois da janta me convidava para rezar o terço na frente
do seu oratório, repleto de imagens com seus santos de preferência. Nem sempre
ía de boa vontade, mas jamais ousei magoa-la.
Mas o que realmente eu queria dizer é
que, ao longo dos anos, perdeu-se no seio da sociedade – pelo menos na maioria
das pessoas com as quais convivo – o sentido real da Quaresma. A prática do
jejum e da abstinência, levadas a sério na prática a partir do século IV
pela Igreja, foram abandonadas praticamente. O propósito firme de abandonar o
ódio, a inveja, o ciúme, o rancor, o exercício público do perdão, o
despojamento e a opção pelos pobres, etc...passaram a ser vistos como atitudes
piegas ou bizarras. Às vezes, dignas de chacotas e piadas.
Mas eis que surge o Coronavírus-19 ! E
com ele, a imposição da Quarentena ! Em plena Quaresma !
Que ironia ! Que mistério !
Um microrganismo desprezível faz a
humanidade toda se curvar, ficar de joelhos, deixar um pouco da sua onipotência
e se recolher à força para a intimidade das suas casas para tentar não morrer.
Senhores poderosos de todas as nações com olhos amedrontados, boca e nariz
cobertos por máscaras, dão entrevistas na TV. Artistas famosos cancelam
seus shows. Estádios de todos os esportes estão vazios. Olimpíadas de Tóquio
ameaçadas de cancelamento. Bares, boates, restaurantes, clubes, igrejas e
shoppings fechados.
Polícia tem de percorrer balneários,
praias, ruas e avenidas e retirar transeuntes que teimam em desobedecer as
ordens das autoridades da saúde pública. Escolas de todos os níveis e
universidades cancelaram suas aulas. Fronteiras de países são fechadas.
Rodoviárias, aeroportos, ônibus municipais e estaduais paralisados. Bancos e
lotéricas prejudicadas.
Hospitais, médicos, paramédicos e
autoridades ligadas à área da saúde pública preparando estratégias para os
infectados que virão e terão de ser atendidos. Que Deus abençoe todo esse
imenso exército de avental branco que estará expondo sua própria vida para
salvar a vida alheia. Particularmente, tenho imenso orgulho de um neto que está
no quinto ano de Medicina da UFSM e, mesmo sem aulas, está desde o
primeiro momento trabalhando de voluntário no hospital.
Nosso jornal ao longo dos últimos
dias, mercê do trabalho duro de toda a equipe, está oferecendo à população
santa-mariense uma cobertura completa sobre a epidemia em nossa cidade e
região, além dos vídeos veiculados pelas redes sociais.
Poderia fazer colocações críticas,
políticas, partidárias, descendo a lenha ou elogiando este ou aquele, ao sabor
da minha preferência pessoal. Não é do meu feitio e nem do meu estilo nesta
minha fase de vida. A meu juízo, o país precisa neste momento, de um cristão
espírito de união. Aquele espírito inicial que a Quaresma deve ter. Deixar
limpo nosso coração, livre de todos os ódios. Para que Deus possa nele agir,
operar, levar a tranquilidade.
A todos vocês que me dão a honra de sua
leitura quinzenalmente eu desejo – com todas as forças da minha alma – que Deus
lhes proteja e lhes dê muita saúde nestes dias difíceis ! Se não for pedir
demais, gostaria que vocês – em suas orações – pedissem saúde para meus seis
amados netos ! Obrigado !
segunda-feira, 9 de março de 2020
OS LOTÓFAGOS - JAMES PIZARRO (DIÁRIO, pág. 4, edição de 10.3.2020)
Existem palavras nunca usadas.
Ou poucos conhecidas. Ou totalmente ignoradas.
A palavra LOTÓFAGO é uma
delas. Ainda mais porque está relacionada à Mitologia Grega, tema que as novas
gerações ignoram ou nunca dela tomaram conhecimento, infelizmente.
Os LOTÓFAGOS constituíam um
povo, habitante de uma ilha da África Setentrional, que se alimentava de flor
de lótus. Estas flores tinham um princípio ativo de efeito sonífero,
narcotizante, produtor de um manso sono aos habitantes da referida ilha.
Na celebérrima ODISSÉIA, de
Homero, Ulisses aporta a essa ilha, desembarca e come lótus. Ele e toda a
tripulação, como consequência da ingestão do lótus, fica acometida de
permanente amnésia. Todos esquecem totalmente seu passado. E ficam
com desejo de renascer.
Ah...se existisse lótus em
quantidade suficiente em nosso meio, multidões fariam uso da flor de lótus como
alimento. Esqueceriam os amores frustrados. Os atos inconsequentes. As traições
e ofensas. As palavras ditas em momentos impensados. Os rancores. As invejas.
As ambições desmedidas.
Todos teriam - zerada a
memória - chance de renascer para a felicidade.
Fiquei a cogitar sobre este
assunto porque este é um ano eleitoral. E muito em breve nossos lares serão
invadidos por promessas mirabolantes através da mídia. Mesmo que a gente não
aceite os santinhos dos cabos eleitorais nas ruas, mesmo que desliguemos o
rádio e a televisão, o som dos autofalantes entrará por nossas janelas com
palavras melífluas. Promessas inebriantes. Anunciando o paraíso.
Eu tenho nos meus arquivos as
centenas de recortes de entrevistas, panfletos, santinhos, plataformas e
assemelhados das últimas eleições municipais e estaduais. Até lhes afirmo
que memorizei quase todas de quase todos os candidatos. Vou lembrar algumas...
“Meu primeiro ato de governo
será acabar com as filas nas unidades de saúde com a contratação IMEDIATA de 50
médicos, 50 enfermeiros e 50 técnicos de enfermagem.”
“Abertura IMEDIATA do Hospital
Regional, mutirão fila zero, programa Mãe santa-mariense de apoio pré-natal e
às crianças recém—nascidas.”
“Cercamento eletrônico da
cidade para controlar o fluxo de veículos que entram e saem no município.”
Mais inúmeras promessas sobre
segurança, guarda municipal, construção de creches, núcleo de atendimento ao
professor, recuperação das escolas, etc...
Quanto à remodelação e obras
do calçadão, por exemplo, nosso jornal anunciou com destaque o início das obras
para 8 de janeiro, portanto, há 60 dias. Um excelente período para obras porque
não choveu e a cidade estava vazia. Foram retiradas as mudinhas de flores e as
grades de ferro nesse período. Agora começaram as aulas. O que dizem os
proprietários das lojas comerciais ? Os usuários do calçadão ? Os vereadores ?
Será que a população da cidade
anda ingerindo em sua água extrato de flor de lótus ?
E ficou esquecida, zonza,
abobalhada e...”feliz” ?
sábado, 7 de março de 2020
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