terça-feira, 27 de agosto de 2024

RUMO À RESSUREIÇÃO, COM D*ALESANDRO ! - James Pizarro (crônica no DIÁRIO, S. Maria - 27.8.2024)

RUMO À RESSUREIÇÃO, COM DALESANDRO ! Sou colorado desde que me conheço por gente. Tive coleções de flâmulas e de bandeiras. De reportagens e de fotos dos grandes craques. Participei, na adolescência, de campeonatos de futebol de botão junto com colegas do MANECO (Paulo Gilberto Coelho, meu amigo “Paco”, do Banco do Brasil, era um deles). Lembro dos nomes dos jogadores do time : La Paz, Florindo e Oreco; Mossoró, Odorico e Lindoberto; Luizinho, Bodinho, Larry, Jerônimo e Chinezinho. Conheci o velho estádio dos Eucaliptus. Acompanhei a doação da área de água do Guaíba que o Inter recebeu para que ali pudesse construir seu estádio. Lembro da flauta e da gozação das charges das “bóias cativas”, pois os adversários diziam que iríamos jogar embaixo d’água apenas tendo como espectadores os peixes. Lembro das campanhas de doações de tijolos para construção do estádio. Depois, a grandiosa realização do sonho. Fui a alguns jogos da programação inaugural do Beira-Rio. Dezenas de vezes viajei a Porto Alegre para assistir jogos memoráveis. Fui testemunha da façanha única até hoje jamais conseguida por outro clube: ser campeão brasileiro invicto. Assim, minha família toda cresceu neste ambiente festivamente colorado. Minha mulher, formada em Educação Física, é torcedora fanática e faz álbum de coleções de figurinhas de futebol comigo e com os netos. Enfim, gostamos demais de futebol. Assinamos canais especiais de TV para que não percamos os jogos de nosso time favorito. No ano de 2016, devido a uma série de fatores – já exaustivamente examinados pela crônica especializada – nosso INTER foi pela primeira vez rebaixado para a Série B, local onde já estiveram valorosos coirmãos do futebol nacional. Ficamos chateados. Tristes. Não sou daqueles que ficam desesperados, que esbravejam, que ficam à beira de um colapso nervoso ou ficam irritados com a corneta dos adversários. Chegando aos 82 anos, encaro a vida como ela é. EM 2016 fizemos uma péssima campanha e não merecíamos permanecer na Série A. O goleiro do time foi lacônico ao ser perguntado sobre o rebaixamento : “Justíssimo”. O número de sócios começou a aumentar. Quem estava atrasado colocou as mensalidades em dia. A Oposição ganhou as eleições com 95 % dos votos. Lambemos nossas feridas. Fizemos nosso mea-culpa. E ressurgimos das cinzas. Caímos apenas a primeira vez. Estamos no Purgatório. Pois em 2024 a tragédia volta a rondar o Inter. Vamos lutar para não cair de novo. Seria ficar no Inferno. Onde outros já estiveram. Por mais de uma vez. A volta de Dalesandro ao Beira-rio enche de esperança a massa vermelha. E é certeza da nossa ressureição ! Que assim seja !

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

MEU ÓDIO CONTRA MARMELEIROS - James Pizarro (DIÁRIO - 30 de julho de 2024)

Tive a sorte de possuir uma infância com enorme pátio na minha casa. Que se continuava no pátio da casa dos meus avós, que moravam ao lado. As duas casas ficavam nos barrancos da Silva Jardim, em Santa Maria, entre as ruas Dutra Vila e Benjamin Constant. Logo abaixo ficava o arroio Cadena, enorme sanga com água corrente, com vegetação marginal formada por arbustos, ervas, grama, bananeiras, taquareiras e árvores de pequeno porte. Na água a gente ainda encontrava peixinhos. E no terreno que margeava o arroio a gente encontrava sapos. Rãs. Pererecas. Cágados. Insetos. Lesmas. De vez em quando aparecia uma cobra, que causava alvoroço entre a gurizada. Tudo isso hoje desapareceu. O Cadena, cujas nascente se encontram perto da antiga rodoviária - onde hoje existe um grande supermercado - se encontra canalizado. E tudo se transformou no que se chama hoje de "Parque Itaimbé". No pátio da minha casa tinha árvores frutíferas de várias "qualidades", como dizia minha avó. Algumas árvores de grande porte, como jacarandás, cinamomos, laranjeiras. Tinha bergamoteiras, abacateiros, limoeiros, figueiras e - coisa que nunca mais vi - até um pé de marmeleiro. Eu odiava este pé de marmeleiro porque várias surras eu tomei com os galhos arrancados dele, as populares "varas de marmelo". Eram finas, flexíveis e - depois de tiradas as folhas - ficavam saliências que produziam hematomas ardidos nas pernas. Numa enorme laranjeira, alta, frondosa, com dois galhos caprichosamente paralelos eu fiz a minha "casinha do Tarzã". Com tábuas pregadas nos galhos, tinha uma área para que duas pessoas pudessem sentar-se. E lá ficava conversando com meus amigos. Guardava algumas revistas de mulheres nuas, raridade naqueles tempos ingênuos. Trocava confidências. Ficava longe das amigas da minha irmã que costumavam bisbilhotar. Lá ficava deitado olhando nesgas de céu que apareciam por entre os galhos e folhas da laranjeira. E quando a árvore dava frutos, comia lá em cima mesmo as doces laranjas. Passaram-se os anos e vi meus netos brincando com geringonças eletrônicas. Vendo filmes e desenhos animados com monstros, brigas, assassinatos, pauladas, facadas, guerras. Eles nem sabem o que era ver um "filme de mocinho" ou de outros heróis, como Roy Rogers, Hopalong Cassidy, os irmãos Jesse James, Durango Kid, Capitão Marvel, Batman e Robim, o Homem Submarino, o mágico Mandrake. Tarzã já morreu há muitos anos. E eu nem me dei conta disso.