Não existiam escolas de enfermagem no Rio Grande do Sul. Nem se pensava em cursos superiores na área. Eram os anos 1940 e 1950.
Meu pai, Alfeu Cassal Pizarro, fez muitos estágios em hospitais e em consultórios médicos. Aprendeu - na prática - a ser instrumentador de cirurgias. Aplicar injeções. Fazer curativos e suturas. Atendia acidentes com animais venenosos. Sempre supervisionado por médicos amigos, comprou bibliografia recomendada por eles. Assistiu centenas de palestras sobre temas médicos e paramédicos. Até que, uma vez avaliado pelos órgãos competentes da época, recebeu uma portaria assinada pelo Dr. Getúlio Dorneles Vargas que lhe conferia o título profissional de "Enfermeiro Prático Licenciado". Possuo este documento carinhosamente guardado nos meus arquivos.
Foi contratado pela Secretaria Estadual da Saúde do RS e efetivado, depois do competente estágio probatório. Serviu ao então chamado Centro de Saúde número 7, com sede em Santa Maria,RS, onde foi responsável pela sala de vacinações durante mais de 40 anos.
Também trabalhou, desde a fundação, no então SAMDU - Serviço Médico Domiciliar de Urgência, criado pelo presidente João Goulart. Com a extinção do SAMDU (pela revolução de março de 1964) foi transferido para o recém criado INPS, hoje INSS, onde exerceu a chefia do serviço de enfermagem até a sua aposentadoria.
Meu pai jamais recebeu uma advertência, nunca faltou ao serviço, nunca recebeu uma acusação de imperícia. Pelo contrário, recebeu uma medalha de "honra ao mérito" das mãos do presidente do INSS por ocasião da sua aposentadoria pelo fato de jamais ter tirado atestado médico ou faltado ao serviço.
Por que estou falando sobre essas lembranças todas ?
Porque estou estupefato com a quantidade de queixas contra enfermeiros profissionais. Queixas e denúncias que aparecem na TV e nos jornais quase que diariamente. E olha que são enfermeiros formados em curso universitário, grande número deles com especialização e mestrado.
Compulsando os dados do COREN - Conselho Regional de Enfermagem, de São Paulo, observa-se que entre 2005 e 2010 foram registradas 980 queixas contra estes profissionais. O que dá a impressionante média de um enfermeiro acusado a cada dois dias no estado de SP. Em 20 destes casos, o paciente morreu ou ficou com lesões definitivas.
Nas últimas semanas, uma enfermeira deveria aplicar soro numa adolescente e trocou o frasco, aplicando vaselina líquida, matando a paciente. Outra enfermeira decepou a extremidade do dedinho de uma criança de 1 ano de idade ao retirar um curativo.
O que está havendo, meu Deus ?
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AUTOR : James Pizarro
4 comentários:
Infelizmente, há mais gente escolhendo seu curso universitário pelo dinheiro do que pelo amor.
Trabalhar na área de saúde não é escolher uma profissão e, sim fazer uma opção de vida.
Fico pasma com esta falta de humanidade.
Beijo, Pizarro.
p.s: adorei o novo visual do blog.
RECEBIDO POR E-MAIL
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From: Luiz Adalberto Villa Real
Sent: Monday, February 07, 2011 11:18 PM
To: 'James Pizarro'
Subject: RES: "Não se fazem mais enfermeiros como antigamente ?" - Prof. JAMES PIZARRO
James:
Quem conheceu o a dedicação e a responsabilidade do teu pai para com as pessoas não só no ramo da saúde tem que ficar estarrecido com o que está acontecendo hoje. Excelentes as tuas referências. Um abraço,
Villa
gostei desse comentario.
Eh verdade da para contar os profissionais do ramo que se dedicam de corpo e alma na profissao.
Abraço amigao. A cantina da Universidade ta com saudades do Amigo..rss.
Qdo esses "invasores" sairem da praia me avisa..rss..
Muito bem lembrado o tema professor! Alguém citou aí acima que uma das causas poderá ser a escolha do curso de enfermagem apenas por necessidade de trabalhar e não por vocação; sou parcial nesta idéia pois não se explica tanta incompetência.Só que não é por aí também...e a responsabilidade como ser humano que lida com vidas? Não lhes foi passado ao longo do curso? Estamos vivendo num mundo de inoperantes. Lamentável!
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