CLÁUDIO CANDIOTA : o repórter da façanha inédita
O jornalista gaúcho Cláudio Candiota
relembra, 56 anos depois, a incrível
história do peão que laçou um avião
numa rica fazenda de Santa Maria, RS.
Uma tarde de janeiro de 1952, o jornalista Cláudio
Candiota, então diretor de A Razão, de
Santa Maria, encontrava-se em sua sala quando
foi procurado pelo comandante do aeroclube da
cidade, Fernando Pereiron. O visitante trazia
uma notícia de impacto, mas não para ser
divulgada. Pelo contrário, queria escondê-la. Temia causar
prejuízo à imagem do estabelecimento sob sua responsabilidade.
Quando soube do que se tratava, a reação de Candiota foi em
sentido oposto: “Deixa comigo. Vou tornar este aeroclube
famoso em todo o mundo. É a primeira vez que acontece uma
coisa como essa”, disse de imediato. Como também era correspondente
no Rio Grande do Sul de O Cruzeiro, o jornalista
telefonou para a direção da revista, no Rio, que mandou, já no
dia seguinte, para Santa Maria, o seu melhor fotógrafo, o gaúcho
Ed Keffel. Uma semana depois aparecia, com exclusividade, a
reportagem em cinco páginas, amplamente ilustrada.
Um peão de estância tinha simplesmente laçado um avião em
pleno vôo. E como houve dano na hélice do aparelho, o piloto
estava ameaçado de demissão, por ter agido de forma imprudente
e provocativa, e por não ter comunicado o fato às autoridades
aeronáuticas.
TIRANDO RASANTES
O autor da façanha de “laçar um avião pelo focinho” foi o
peão Euclides Guterres, 24 anos, solteiro, descrito na época
como vivaz , fazedor e contador de proezas. Tudo começou
quando o jovem piloto Irineu Noal, 20 anos, pegou o
“Paulistinha” Manuel Ribas e decolou rumo à fazenda de
Cacildo Pena Xavier, em Tronqueiras, nas proximidades da base
aérea de Camobi, e passou a tirar repetidos rasantes sobre as
coxilhas.
No alto de uma delas, Euclides cuidava de uma novilha com
bicheira e não gostou do que viu. Achando que aquilo era alguma
provocação, não teve dúvidas: armou o laço de 13 braças e quatro
tentos e atirou em direção ao bico do teco-teco, acertando o alvo.
Por estar preso na cincha do arreio sobre o cavalo, o laço, com o
impacto, arrebentou na presilha e seguiu pendurado no avião. O
piloto, assustado, tratou de pousar. Ainda na cabeceira da pista,
longe do hangar, retirou o laço e o escondeu no meio das
macegas.
49º prêmio ari de jornalismo
"Eu não fiz por maldade. Foi pura brincadeira.
Para falar a verdade, não acreditava que
pudesse pegar o aviãozinho pelas guampas
num tiro de laço."
O peão Euclides Guterres
"Nada nos pode parecer mais estranho do que
a notícia de que um homem tenha laçado um
avião. A vontade que a gente sente é mesmo de
duvidar. Mas, a verdade é que a extraordinária
façanha aconteceu no pampa gaúcho, em
Tronqueiras, na rica fazenda de Arroio do Só, no
município de Santa Maria."
Abertura da reportagem publicada por O Cruzeiro,
em 23 de fevereiro de 1952, assinada por Cláudio Candiota.
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FONTE : ANTÔNIO GOULART (texto) e LÉO GUERREIRO (fotos)
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