Todas as vezes que vim à Canasvieiras e mesmo agora, que aqui me radiquei , sempre estive hospedado nas vizinhanças do cruzamento da rua Madre Maria Villac e rua Antônio Prudente de Morais. É uma esquina "sui-generis", que tratei de batizar de "Esquina Democrática", a exemplo da congênere existente na capital gaúcha.
Ali existem duas sorveterias. Várias lojinhas de roupas. Existe a "Pousada Central". Uma casa de câmbio. Uma loja superpopular, que vende de tudo, de propriedade do "Seu" Luiz, simpático gaúcho de numerosa prole. A maior revistaria de Canasvieiras também está ali, de propriedade do simpático carioca Juarez, advogado e torcedor fanático do Fluminense. Ali se reunem ou passam as mais diversas pessoas, pedindo informações ou esticando o tempo para conversas, troca de noticias e piadas. "Foguinho" é um artesão de Porto Alegre, já radicado em Canasvieiras há 23 anos. Tem uma filha pedagoga, noiva de um médico de Santa Maria. "Baiano", outro frequentador do local, sempre com sua bicicleta, é prestador de serviços gerais. O popular santa-mariense "Bigode", que possuía um estabelecimento comercial em frente ao Regimento Mallet,em Santa Maria, agora está estabelecido aqui com um restaurante. Marinho, pernambucano gozador, é dono de uma loja de informática. O uruguaio Jorge, casado com Mirta, uma professora gaúcha de Livramento, é frequentador assíduo.O gaúcho Neno tentou reestabelecer sua Rádio Comunitária, faz quase um ano que não o vejo.Um gaúcho de Erechim trabalha com câmbio. Um argentino tem uma lan house. O "Seu" Sérgio, paulistano que tinha negócios na CEASA de SP, atraído pela sua filha e genro que aqui moram, transferiu-se para cá, onde trabalha com transporte de passageiros para aeroporto e rodoviária, assim como dezenas de pessoas que trabalham com os chamados "rent a car" e "remix".
Mas a figura mais folclórica do local, onde é encontrado das 9h até às 18h, é o "Zé da Banda", provavelmente uma das pessoas mais populares de Canasvieiras. Paranaense natural de Jandaia,afrodescendente, músico, radicado em SC há muitos anos, era o regente da banda escolar de um colégio estadual de Florianópolis. Promoveu o primeiro concurso de bandas marciais em SC. Trabalha o ano inteiro alugando seus carros, transportando turistas para o aeroporto e rodoviária ou para passeios em toda a ilha, torcendo pelo seu Figueirense. Presta informações a todos com notável simpatia. Indica apartamentos para aluguel. É conhecido de praticamente todos os turistas argentinos.No mês de janeiro de 2008 sofreu uma tentativa de assalto em plena esquina, com milhares de pessoas na rua. Reagiu ao meliante. Foi atingido por vários disparos, escapando como por milagre. Recebeu a solidariedade de todos. "Zé da Banda" foi a pessoa com a qual travei conhecimento imediato tão logo aqui cheguei. Inclusive o primeiro apartamento que aluguei, de propriedade da Dona Chica, gaúcha de Livramento, foi indicação dele. É uma pessoa alegre,educada, caracterizada por um sentimento raro nos dias que correm : a solidariedade. Faz questão de ajudar a todos. E tem a simpatia de todas as crianças que passam pelo local. Usa um bordão para cumprimentar todos que passam ou chegam : "Como vai, sarado ?"
Claro que, como gaúcho, sou gozado o dia inteiro por aqui, sobretudo com lembranças referentes à Pelotas e à masculinidade dos pampas, gozado sobretudo quando o Colorado perde algum jogo.
Mas aceito tudo com a vontade verdadeira de entender o povo daqui, de me integrar a esta comunidade que escolhi para viver. Talvez pelo comportamento soberbo ou boçal de algum gaúcho que por aqui passou, alguns sejam preconceituosos. E tenham a imagem distorcida de que todo gaúcho queira se mostrar superior. Ou que venha lograr. Ou que venha fugido do RS por um passado não muito limpo. Já recebi algumas mensagens subliminares a respeito disso...Mas a tudo ouço e procuro entender.
Até que, agora, os manezinhos entenderam que não vim para tirar o lugar de ninguém, nem competir com nada. Vim para viver feliz com minhas aposentadorias à beira-mar e fazer novas amizades.
Eu amo SC e sempre fui fascinado pelas belezas naturais desta ilha mágica. Ja estive na na fase de namoro com seu povo. Noivei e casei,quase quatro anos depois, pois cheguei aqui em no início de 2008.
Pretendo ser um manezinho adotivo, um gaúcho que ama a ilha e quer vê-la preservada, cuidada, ecologicamente sadia.
Em Canasvieiras, me sinto como se já morasse aqui há dezenas e dezenas de anos, tal o número de amizades que já fiz.
Sinto paz em morar aqui.
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