Professor aposentado morando em Florianópolis há muitos anos vive uma crise. Apaixonado pela ilha da magia, escreve muito sobre ela. Pretende lançar um livro de crônicas sobre o seu cotidiano e o da ilha. Suas relações com os nativos, carinhosamente chamados de "manezinhos". E também com os alienígenas. Os turistas. Empresários. Moradores de rua. Sacerdotes. Comerciantes. Garçons. Bancários. Pescadores. Colegas de cafezinho. Enfim, muita gente que se move no universo de uma praia de 10.000 almas.
São dezenas e dezenas de crônicas, já que o professor está escrevendo horas por dia. E gastando horas para revisar o material que já tinha arquivado. Reescrever. Corrigir. Revisar. Cortar. Autocensurar. Tem sido um sofrimento com a regência e concordância. Além do enfrentamento com as novas regras ortográficas.
A tudo isso agregou-se mais uma dúvida cruel : que título dar ao livro ? O professor tem facilidade para criar coisas e, em poucos dias elaborou uma lista imensa de títulos. Todo dia riscava um ou dois títulos. Finalmente, chegou a dois títulos :
Primeiro : " Sou um Manezinho Adotivo "
Segundo : " Ensinei um Manezinho a Dar Bom Dia "
Mostrou a muitos amigos os dois títulos. Pediu opiniões. E as opiniões foram negativas. Por que ?
Disseram os amigos gaúchos : um gaúcho dizer que é um manezinho adotivo é um insuportável puxa-saquismo e uma agressão às suas origens gaúchas !
Disseram os amigos manezinhos : afirmar que manezinho não dá bom dia é uma crítica que não vai cair bem e muita gente vai ficar de cara virada !
O professor resolveu fazer uma novena para Nossa Senhora do Desterro, padroeira de Florianópolis, cuja festa se realiza dia 17 de fevereiro. Vai pedir inspiração à santa para escolher um título que não provoque discussão.
Nossa Senhora do Desterro vai ter trabalho. Conhecendo o professor como eu conheço, ele é bem capaz de criar um novo título. Incandescente. Polêmico. Viril. Ainda mais que pensa em publicar casos verdadeiros. Nomes. Endereços. Botar a boca no trombone sobre certas agressões gratuitas e burras.
Enquanto isso, as gaivotas continuam a voar mansamente diante da janela do professor...
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