terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O PAÍS DO DEIXA PRÁ DEPOIS QUE DEUS VAI DAR UM JEITO ! - crônica do dia 16.1.2018 pág. 4 Diário de Santa Maria

Um dos meus primeiros professores de Biologia no Colégio Estadual Manoel Ribas vivia repetindo que "a gente começa a morrer no dia em que nasce". 

Uma coisa óbvia, mas que a nossa meninice custava um pouco a atinar. A cada dia que passa, realmente, nos aproximamos mais da morte. E menos tempo nos sobra de vida. Meu avô materno dizia a mesma coisa usando um ditado que ninguém mais conhece : "Tempo e hora não se ata com soga".

Anos depois, estudei quatro anos de latim com o querido e saudoso professor Albino Seibel, nos quatro livros  : Ludus Primus, Ludus Secundus, Ludus Tertius e Ludus Quartus. E nas aulas de latim aprendi uma célebre frase de Virgílio (Georgicas, livro III, v.284) que se referem a este tema do tempo.

"FUGIT IRREPARABILE TEMPUS"...o tempo foge, perdido para sempre.

Virgílio estava a nos avisar o que outros também perceberiam : o tempo voa.  Portanto, não devemos desperdiçar o tempo em frivolidades.

Lembro disso quando vou visitar pessoas e elas estão vidradas em novelas da Globo. Eu mesmo me surpreendo perdendo tempo escutando discursos de políticos em redes de TV, apesar de saber que aquilo tudo é grotesca mentira.

Muitos namorados e noivos perdem tempo em brigas inúteis, em mágoas que vão matar o amor, ao invés de ocupar a boca e a língua em beijos intermináveis.

Muitos casais perdem  tempo pegando seus travesseiros e, aferrados estupidamente a seus pontos-de-vista e pisando duro, vão dormir em quartos separados. O que é de uma burrice oceânica, principalmente quando a discussão é no inverno e poderiam dormir abraçadinhos, empernados, como mamíferos felizes.

Quanto tempo os proprietários de apartamentos perdem em exaustivas e intermináveis reuniões de condomínio ? E muitas vezes os motivos são fúteis, um gatinho que miou, um cachorrinho que escapou para o corredor, um ar condicionado pingando, um som  que tocou  mais alto, a desconfiança sempre presente de estar sendo logrado por todos...

Dia desses na missa dominical da manhã na catedral de Santa Maria assisti a uma cena felliniana e que me tirou a concentração durante toda a celebração ministrada pelo meu amigo Pe. Ênio. Uma moça teclou seu celular e “falou” com alguém durante todo o tempo, alheia ao que se passava na igreja. E na hora da comunhão, botou o celular no bolso, levantou, comungou, voltou, sentou e voltou a teclar ao celular. Sem fazer juízo de valor, mas já fazendo, que valor teve a missa para essa jovem ? Essa moça perdeu tempo, certamente.

Imagino que também os estudantes que façam uso do celular na sala de aula fiquem ausentes do processo educativo. Não estão nem aí para o conteúdo que o professor está tratando. Para não se incomodar muitos professores não reclamam do aluno. Então, o aluno faz de conta  que aprende. O professor faz de conta que ensina.  O governo faz de conta que paga bem. As famílias fazem de conta que os filhos vão  ter emprego depois da formatura.

É o país do faz de conta. Do talvez. Do quem sabe. Do jeitinho. Do nunca mais. Do deixa prá depois. Do Deus vai dar um jeito.

Até quando, insensatos ?



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